ABRINDO A PORTEIRA.
O GALPÃO
Foi publicado lá atrás, e parece não custar nada repassar, pois se trata de versos do grande Balbino Marques da Rocha, intitulado “Galpão do Rio Grande”, que transcrevo.
“Meu santuário de fumaça, onde as vezes desencilho... Faço um altar de
lombilho, do fogo à reminiscência, e cultuo a dor da ausência no oratório do
passado. Galpão onde eu fui fedelho, tirando raspa de tacho, corpeando tala de
relho... Templo de fogo vermelho, onde os avós se reuniram e donde a cavalo
partiram pra um cruzada de macho.” Certo que isto é uma ode ao gauchismo, para se guardar no fundo
do coração. A poesia é muito longa, muito linda, pena que o espaço é pequeno.
GALPÃO
A morte da eguada.
Esta história me foi contada pelo
Cristino, o nosso Galo Velho.
"Menino, fica difícil de entender meu
tempo, pois está muito longe de hoje. A cavalhada dominava os campos, e eram
valorizadas por sua grande utilização nas guerras e várias revoluções gaúchas. A última guerra à
cavalo foi em 1932, e daí em frente a motorização substituiu a cavalhada.
Imagina agora, que na Fazenda da Quinta eram 500 éguas, fora os potros, potras
e cavalos. Os bovinos passaram a ter valor, e tinham de tomar o lugar dos
cavalares. Então o patrão Mário Azambuja, que administrava a fazenda, chamava o
Zé Grande para montar a cavalo ao lado dele, levando o mosquetão, com a ordem
de "limpar campo". Égua velha, animal doente, quebrado, imprestável,
aporreados, recebia a ordem do patrão - "bala nele". A corvalhada,
mais faceira que ganso em taipa de açude, se banqueteava”.
Sei que é difícil de acreditar, mas lembro
do causo ser contado pelo Galo Velho e confirmado por meu Papai.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM
No início do Século XX começaram
a desenvolver o tráfego aéreo no Rio Grande. Primeiro porque não tínhamos
estradas, e as distâncias a serem percorridas eram grandes. Como não havia
aeroportos como temos hoje, passaram a usar hidroaviões, que desciam e decolavam
nas águas da Lagoa dos Patos, próximo das grandes cidades. Assim a Varig
inaugurou uma linha aérea ligando Porto Alegre à Pelotas e Rio Grande. Também é
necessário esclarecer que entre estas cidades não havia linha férrea. O
primeiro hidroavião tinha desenhado em sua fuselagem o prefixo BAAA. Contam até
mesmo, que dois gaúchos estavam pescando serenamente na beira da lagoa, quando
passou baixo aquele bruto “pássaro voador”, tendo um deles gritado: Baaa! Daí
surgindo o nosso dito tão diário do gaúcho – Baaa!
A história ainda não termina aí. Dois dias depois meu avô providenciou uma
carroça, e gente para levar os pilotos até o avião, já tendo despachado um
“próprio” até a vila do Duro para avisar por telegrama a Varig. Susto tiveram
os dois pilotos, que chegando onde haviam deixado o avião, não o encontraram.
Aconteceu que a Varig já o havia rebocado, após darem falta do mesmo.
Mas a história é outra. Certo dia um desses hidroaviões navegadores, voava de
Pelotas para Porto Alegre, quando teve uma pane num dos motores, descendo na
Lagoa do Guaraxaim. Os pilotos, que eram alemães puros, amarraram o dito numa
figueira, e saíram campo a fora. Deram numa casinha, e mesmo falando mal a
língua, conseguiram saber que perto havia uma grande casa de fazenda. Era a
Fazenda da Quinta, propriedade de meus avós, Centeno Pereira da Silva. Ali
chegando foram bem recebidos e alojados no “quarto de fora”, onde era costume
se hospedar estranhos. Eles perguntaram ao empregado que fora convidá-los para
jantar, onde seria servido o mesmo, e informados que seria na casa principal,
ali bateram na porta, e para surpresa da família estavam trajando smoking, ou
seja, uma roupa de gala. Dá para se imaginar o susto daquelas pessoas, que
mesmo ricos, eram dotados de grande simplicidade.