quarta-feira, 31 de maio de 2017

Boletim 339.

ABRINDO A PORTEIRA.
O GALPÃO
         Foi publicado lá atrás, e parece não custar nada repassar, pois se trata de versos do grande Balbino Marques da Rocha, intitulado “Galpão do Rio Grande”, que transcrevo. “Meu santuário de fumaça, onde as vezes desencilho... Faço um altar de lombilho, do fogo à reminiscência, e cultuo a dor da ausência no oratório do passado. Galpão onde eu fui fedelho, tirando raspa de tacho, corpeando tala de relho... Templo de fogo vermelho, onde os avós se reuniram e donde a cavalo partiram pra um cruzada de macho.” oje HoHo        Certo que isto é uma ode ao gauchismo, para se guardar no fundo do coração. A poesia é muito longa, muito linda, pena que o espaço é pequeno. 

GALPÃO
 A morte da eguada.
Esta história me foi contada pelo Cristino, o nosso Galo Velho.
"Menino, fica difícil de entender meu tempo, pois está muito longe de hoje. A cavalhada dominava os campos, e eram valorizadas por sua grande utilização nas guerras e várias revoluções gaúchas. A última guerra à cavalo foi em 1932, e daí em frente a motorização substituiu a cavalhada. Imagina agora, que na Fazenda da Quinta eram 500 éguas, fora os potros, potras e cavalos. Os bovinos passaram a ter valor, e tinham de tomar o lugar dos cavalares. Então o patrão Mário Azambuja, que administrava a fazenda, chamava o Zé Grande para montar a cavalo ao lado dele, levando o mosquetão, com a ordem de "limpar campo". Égua velha, animal doente, quebrado, imprestável, aporreados, recebia a ordem do patrão - "bala nele". A corvalhada, mais faceira que ganso em taipa de açude, se banqueteava”.

Sei que é difícil de acreditar, mas lembro do causo ser contado pelo Galo Velho e confirmado por meu Papai. 

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM 

                       No início do Século XX começaram a desenvolver o tráfego aéreo no Rio Grande. Primeiro porque não tínhamos estradas, e as distâncias a serem percorridas eram grandes. Como não havia aeroportos como temos hoje, passaram a usar hidroaviões, que desciam e decolavam nas águas da Lagoa dos Patos, próximo das grandes cidades. Assim a Varig inaugurou uma linha aérea ligando Porto Alegre à Pelotas e Rio Grande. Também é necessário esclarecer que entre estas cidades não havia linha férrea. O primeiro hidroavião tinha desenhado em sua fuselagem o prefixo BAAA. Contam até mesmo, que dois gaúchos estavam pescando serenamente na beira da lagoa, quando passou baixo aquele bruto “pássaro voador”, tendo um deles gritado: Baaa! Daí surgindo o nosso dito tão diário do gaúcho – Baaa!

            Mas a história é outra. Certo dia um desses hidroaviões navegadores, voava de Pelotas para Porto Alegre, quando teve uma pane num dos motores, descendo na Lagoa do Guaraxaim. Os pilotos, que eram alemães puros, amarraram o dito numa figueira, e saíram campo a fora. Deram numa casinha, e mesmo falando mal a língua, conseguiram saber que perto havia uma grande casa de fazenda. Era a Fazenda da Quinta, propriedade de meus avós, Centeno Pereira da Silva. Ali chegando foram bem recebidos e alojados no “quarto de fora”, onde era costume se hospedar estranhos. Eles perguntaram ao empregado que fora convidá-los para jantar, onde seria servido o mesmo, e informados que seria na casa principal, ali bateram na porta, e para surpresa da família estavam trajando smoking, ou seja, uma roupa de gala. Dá para se imaginar o susto daquelas pessoas, que mesmo ricos, eram dotados de grande simplicidade. 
            A história ainda não termina aí. Dois dias depois meu avô providenciou uma carroça, e gente para levar os pilotos até o avião, já tendo despachado um “próprio” até a vila do Duro para avisar por telegrama a Varig. Susto tiveram os dois pilotos, que chegando onde haviam deixado o avião, não o encontraram. Aconteceu que a Varig já o havia rebocado, após darem falta do mesmo. 

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”