ABRINDO A PORTEIRA.
O Galo Velho.
O artista camaquense, Mauro Rocha, realizou uma bela pintura, extraída da imagem do Galo Velho que estampa a lateral dos boletins, obra esta que foi comprada pela Câmara de Vereadores da cidade de Tapes, e que enfeita uma de suas paredes. Recebi a ligação de um vereador de lá, pedindo título para a obra, quando disse que meu Galo Velho simboliza o trabalho na pecuária gaúcha. Como queriam saber detalhes daquele campeiro, relatei:
Cristino era filho de um paraguaio, tanto que para muitos o seu apelido era "paraguaio". Seu pai foi aprisionado quando da Guerra do Paraguai, na tomada de Uruguaiana pelos brasileiros, e veio para a Fazenda do Cristal, dos filhos do General Bento Gonçalves, como escravo, onde casou e constituiu família. Ainda jovem, Cristino foi comprado pelo meu bisavô, Ignácio Xavier Azambuja, vindo para a sua fazenda da Invernada. Posteriormente ele veio para a Fazenda da Quinta, onde trabalhou como posteiro, recebendo casa, lavoura fechada, cavalos e seus arreios, um rancho mensal das primeiras necessidades (*), podendo ainda criar junto como o gado do patrão. Era desta criação que tirava o seu sustento, já que não recebia salários. Aliás, naquele tempo ninguém recebia salário, todos se alimentavam fartamente da cozinha da fazenda, recebiam roupas dos patrões, e viviam livres sem escravaturas. Jamais existiu escravos em nossas fazendas, eles foram amigos dos fazendeiros, mesmo porque estavam armados de uma faca para courearem, e cavalo campo à fora, fácil de fugirem! O trabalho do posteiro consistia, além da lida campeira, em cuidar para que o gado do patrão não passasse para o campo do vizinho (não havia aramados), mas não se importando que o gado do vizinho passasse para o seu campo. Isto porque havia uma lei, que consistia em ser do proprietário, todo o animal que ali nascesse e recebesse marca. Quando das reculutas (consistia na busca dos animais alheios à propriedade) as vacas que ainda alimentavam os terneiros marcados, só seriam recolhidas na próxima, com seus terneiros já desmamados.
Cristino era filho de um paraguaio, tanto que para muitos o seu apelido era "paraguaio". Seu pai foi aprisionado quando da Guerra do Paraguai, na tomada de Uruguaiana pelos brasileiros, e veio para a Fazenda do Cristal, dos filhos do General Bento Gonçalves, como escravo, onde casou e constituiu família. Ainda jovem, Cristino foi comprado pelo meu bisavô, Ignácio Xavier Azambuja, vindo para a sua fazenda da Invernada. Posteriormente ele veio para a Fazenda da Quinta, onde trabalhou como posteiro, recebendo casa, lavoura fechada, cavalos e seus arreios, um rancho mensal das primeiras necessidades (*), podendo ainda criar junto como o gado do patrão. Era desta criação que tirava o seu sustento, já que não recebia salários. Aliás, naquele tempo ninguém recebia salário, todos se alimentavam fartamente da cozinha da fazenda, recebiam roupas dos patrões, e viviam livres sem escravaturas. Jamais existiu escravos em nossas fazendas, eles foram amigos dos fazendeiros, mesmo porque estavam armados de uma faca para courearem, e cavalo campo à fora, fácil de fugirem! O trabalho do posteiro consistia, além da lida campeira, em cuidar para que o gado do patrão não passasse para o campo do vizinho (não havia aramados), mas não se importando que o gado do vizinho passasse para o seu campo. Isto porque havia uma lei, que consistia em ser do proprietário, todo o animal que ali nascesse e recebesse marca. Quando das reculutas (consistia na busca dos animais alheios à propriedade) as vacas que ainda alimentavam os terneiros marcados, só seriam recolhidas na próxima, com seus terneiros já desmamados.
(*) - Naquela época se plantava na sede da fazenda café e algodão.
Eram de pouca produção e má qualidade, mas servia para o sustento, principalmente o algodão na confecção de roupas. Ainda não criavam ovelhas nos nossos campos, por serem dominados pelos banhados. Como o alimento principal era a carne, e havia uma pequena produção de arroz no início do século XX, buscavam na foz do Rio Camaquã, num local chamado Pacheca, os demais gêneros que vinham de Pelotas. Os barcos ali aportavam para carregar a lenha (o único combustível da época), oriunda da grande mataria do Rio Camaquã. Lembro-me das "bolachas éguas" embaladas em barricas de madeira, certamente para não molharem no transporte.
Eram de pouca produção e má qualidade, mas servia para o sustento, principalmente o algodão na confecção de roupas. Ainda não criavam ovelhas nos nossos campos, por serem dominados pelos banhados. Como o alimento principal era a carne, e havia uma pequena produção de arroz no início do século XX, buscavam na foz do Rio Camaquã, num local chamado Pacheca, os demais gêneros que vinham de Pelotas. Os barcos ali aportavam para carregar a lenha (o único combustível da época), oriunda da grande mataria do Rio Camaquã. Lembro-me das "bolachas éguas" embaladas em barricas de madeira, certamente para não molharem no transporte.
Desculpe a extensão da escrita, o que não é meu costume. Inflamei-me com a beleza de um passado puro e limpo. Não vou galponear, nem contar histórias, deixando tudo aberto para um até breve.