quinta-feira, 18 de julho de 2013

Boletim 135

ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.
Creio que esta longa história já foi contada, mas é coisa de velho andar repetindo. 
Perdi minha Mamãe quando criança, nos meus 14 anos de idade. Poucos meses depois ao me preparar para viajar a POA onde iria estudar no Colégio Farroupilha, morando no Hotel Metrópole, em um quarto sombrio e solitário, recebi a visita de uma tia, Mariá Azambuja Paranhos, irmã de meu Pai e amiga íntima de minha Mamãe. Uma carola que mandava na Igreja Matriz São João Batista, mandando mais que o padre. Então esta tia veio me dizer, que eu necessitava rezar muito por Mamãe, porque ela não estava no céu, pois havia morrido em pecado mortal. A terra se abriu aos meus pés, faltou ar nos meus pulmões e o sangue coagulou no meu corpo. Deus passou a não existir, pela maldita rejeição a quem era minha própria vida. Meu erro foi crer nas palavras da tia carola. Algum tempo depois ao interrogá-la descobri, que o pecado mortal da Mamãe fora “evitar filhos”. Pecado mortal cometia a própria Igreja Católica. Passei a ser um ateu. Pior, blasfemador. Não permitia que alguém me falasse em nome de Deus. Quando casei dez anos depois, as famílias fizeram com que me “confessasse” para tomar a santa comunhão. A confissão ao padre Barlen foi um desastre. Aconteceu assim: “Padre não roubei e não matei, o resto o senhor pode debitar na minha conta”. Quase fui expulso da igreja. O homem só acalmou quando contei a história da minha heresia, e da “pouca prática” da tia carola. Ele terminou me abençoando e me ofertando o corpo de Cristo, mas não me converti. Continuei ateu. Em 1964 entrei para a Maçonaria, ocasião em que fiz contato com a mais linda das ritualísticas, no primeiro contato com a frase: “Conhece-te a ti mesmo”. Depois aquela pergunta: “Nos momentos de maior perigo em sua vida, em quem mais confias?”. Respondi que em Deus! Aí acendeu minha VERDADEIRA LUZ. Lembro que alguns dias após, num domingo, estando sob uma ramada de minha casa em Camaquã, olhei para minha bela esposa Jane, e meus dois filhos sadios, me interrogando: “Mas que Deus malvado é este, que depois de todas minhas blasfêmias, me oferta a família que tenho, e a vida feliz que levo?”. Naquele momento convidei minha Jane para irmos à missa, e desde então sou eu quem a convida para nosso recolhimento espiritual. Depois desta longa e cansativa história, desejo fazer um arremate, me transportando aos dias de hoje, sessenta anos passados. É necessário focarmos duas ou três gerações passadas, para concluirmos, que felizmente não existe mais aquele “tacão” sobre as cabeças das crianças. Para quem não sabe, tacão é o salto de uma bota, comprimindo um inocente pescoço infantil. Era a força do braço, único e indispensável sustento para a sobrevivência da época. Depois, a outra força mais destruidora, a da autoridade eclesiástica. Só quem viveu naquele tempo, para dar um testemunho de vida.
Hoje observo a personalidade de meus netos, e os mais jovens poderão observar dos seus filhos, na conclusão indiscutível que as coisas melhoraram, e em muito, pois apesar do medo da violência, e do desequilíbrio social, estamos nos encaminhado para um futuro promissor, onde a ciência e a técnica conduzirá o homem a um estágio mais elevado na civilização.
Ainda tememos pelo nosso pouco preparo cultural, o desmantelo da família pela falta da presença dos pais em seus lares, o descaso das autoridades públicas com o analfabetismo e a saúde pública. Nem tão difíceis, estes males terão solução, pois mais difícil será solucionarmos o “medo psíquico”.


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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”