quinta-feira, 25 de julho de 2013

Boletim 136

ABRINDO A PORTEIRA.
Simplicidade gaúcha.
Como simplicidade é a postura do Papa Francisco, vamos nos reportar à simplicidade do gaúcho. Recordemos de nossos antepassados, que se vestiam com simplicidade, com seus aperos, cuias e bombas sem os enfeites de prata e ouro, como se vê comumente no gaúcho da fronteira. por serem certamente mais ricos que os da nossa região Centro Sul. Fui criado em Camaquã numa fazenda muito rica, a Invernada, de meu avô Ney Xavier de Azambuja, que guardava o dinheiro sob o colchão, pois as porqueiras dos bancos ainda não haviam chegado por aqui. Também não se tinha onde gastar, salvo nas carreiradas, ou nas poucas pulperias, já que a vila ficava distante. Vivíamos a família. A aproximação entre seus membros ocorria não só nas refeições, mas durante todo o dia. O respeito era pela ordem hierárquica, e até mesmo as velhas empregadas eram respeitadas. Se tudo aquilo era bom, caberá estudo em outro capítulo, mas posso afirmar que se vivia em harmonia, pelo respeito, que é lema do Galpão do Galo Velho. Alguns “mascavam o freio”, mas para mim serviu como exemplo de dignidade.

GALPÃO.
Fico contemplando o fogo forte do Galpão do Galo Velho, para que eu possa acalmar o frio aqui da cidade, sem um fogo por perto, só com estas "labaredas" elétricas. Então a calma da cadela preta se aquentando nele, me faz reconhecer que Galpão sem cusco não é galpão.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Teimosia dos Azambuja.
Por certo esta também já saiu, mas vou repetir.
O causo me foi contado pelo Tio Fay (José Olavo, casado com a irmã mais velha de meu Papai Mário, chamada Marieta), que por inteligente e criativo, gostava de descrever "floreando" as teimosias dos Azambuja.
A fazenda mãe dos Azambuja foi a Invernada, aqui em Camaquã, junto às margens do Banhado do Colégio, com seus campos alagados inverno e verão, estabelecendo a grama boiadeira nos banhadais, que engordava o gado no inverno. Daí originando o nome da Fazenda da Invernada.
Era um dia quente de verão, que fazia silenciar os pássaros, e tremer o horizonte da grande várzea. Na fazenda junto à sombra de um cinamomo, corria o mate de mão em mão, na esperança de aplacar as sedes. O açude refletia o brilho do Sol forte, moldado pelos muitos galhos dos salsos chorões, plantados em uma pequena ilha. O Cel. Ney contemplando o calmo das águas, disse:
- Olhem que grande jacaré bóia ali no açude.
- Aquilo não é jacaré. É toco Papai. Retrucou o filho Neyzinho.
Armou-se o grande circo. É toco, não é toco. É jacaré, não é jacaré, é toco. Entrou mais gente na teima e ferveu o angú. Tio Neyzinho desrespeitando o calor, de mansinho foi ao galpão, retornando montado no seu tordilho, já com o laço armado, dando um certeiro tiro na “coisa”. Tal o calor que ninguém chegava para perto do açude. De arrasto para a beira do aramado, veio a coisa para admiração e espanto de todos. 
Tio Neyzinho berrou.
- Então Papai não disse que era toco!
Empilhando mais desconforto na roda, o velho caudilho sacou do seu nagão 44 descarregando-o, sobre o “pobre e indefeso” toco, aos gritos.
- Tira este bicho daqui.” A

FECHANDO A PORTEIRA


Vou apresentar dois amigos, pois dizem que aos filhos devemos ensinar o temor, depois o respeito, para serem nossos amigos por toda a vida. O de óculos é o “Magrinho”, que nasceu Luiz Fernando Azambuja Júnior (1958), e o de bigode é o “Castiano”, que nasceu Luis Mário Azambuja (1961). Outra hora mostrarei meus netos. Desculpem, mas não há nada mais lindo na vida, e sei que na de vocês também ocorre o mesmo, entretanto, como eu é que estou com “a pena” na mão, terão de me entender. Os dois se declararam meus “colegas”, um se formou agrônomo, e o outro veterinário, pela ordem, e isto aconteceu quando ensinei que fazendeiro não é profissão, pois perdida a terra eles não sabem o que fazer na vida. Ainda não perdi a terra toda, resta um bom “naco”, mesmo assim lá eles não se “viram” mais, pois não dá sustento para as três famílias. Imaginem agora um infeliz "sem terra", com um "naquinho" de 25 hectares. É só comprar um 'fusquinha', e não sustentam nem a gasolina, o governo que se vire...

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”