sábado, 15 de setembro de 2012

Boletim 108

ABRINDO A PORTEIRA.
A vida é bela.
Quem viu o filme sabe o quanto a vida é bela. Tão bela, que só os loucos querem ir embora, antes do tempo. Aquele filme se sustenta numa linda e difícil virtude - resignação - que o dicionário define como "coragem para enfrentar a desgraça". Até o distante budismo (para mim), define a vida como sofrimento, e certamente que ele não menciona o maior de todos os sofrimentos - a vida de Jesus Cristo na Terra. O quanto já recebemos de Deus? Será que Ele não tem direito de nos tomar alguma coisa? Quando se chega a idade avançada passamos a perceber, que estamos perdendo muito, daquilo que recebemos lá atrás. Mas, a vida continuará bela.


GALPÃO.
Chão batido.
"Sala grande chão batido, onde passei minha infância. Querido galpão de estância, que foste um dia meu lar. Hoje aqui venho rezar..." (Jayme Caetano Braun). Aquele chão de estância, que hoje não é mais batido, era confeccionado com os cupins dos campos, que não se vê mais, pois os campos foram todos lavrados, para matar a fome de uma população, que se multiplica quase geometricamente. Pois se a humanidade aprendeu a matar a fome do corpo, esqueceu de como se mata a fome da alma.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O malho.
Outro dia ofertei um malho (martelo) ao Sérgio Scherer. Já escrevi lá atrás, que os Scherer são uma legenda em Camaquã, e o que busco é dar continuidade a história. Pois foi numa loja de São João, repleta de mercadorias "do bom viver", onde fiz a dita entrega. Um momento lindo, quando falei, que por ele sentar na coluna da força, cujo símbolo é um malho, eu lhe ofertava um, feito pelas mãos de seu tataravô, Senhor Emílio Scherer, mais conhecido como Tio Emílio. Assim tudo ficará justo e perfeito.

FECHANDO A PORTEIRA.
Pois ela continua aberta...


sábado, 1 de setembro de 2012

Boletim 107

ABRINDO A PORTEIRA.
A Liga da Defesa Nacional.
Núcleo de Camaquã.
É hora de reverenciarmos a grandeza e a liberdade da Pátria Brasileira. Semana da Pátria é para trazermos o Brasil junto do peito, orgulhosos do solo puro que nos viu nascer, e que um dia nos acolherá para o descanso final. Participemos, levando as bandeiras de nossas instituições, irmanadas com a Bandeira Brasileira, a Bandeira do Rio Grande do Sul, e a Bandeira do Município. Busquemos pela Bandeira Brasileira nas instituições federais e estaduais, onde certamente não a encontraremos, mas contemplemos a sua majestade nas instituições municipais, da nossa querida Camaquã.

O Presidente da Câmara Municipal, o Prefeito Municipal, o Presidente da Liga da Defesa Nacional e a Secretária da Educação, no desfile da Pátria em Camaquã.

GALPÃO.
O tamanho de nossos mundos.
A comparação do tamanho de nossos mundos é que faz a diferença entre as pessoas. Mundo que é interno, e dádiva sagrada de Deus, que não sabemos administrar. Muitos querem mais do que já tem, sem medirem o tamanho do seu querer. Mediram a grandeza de suas famílias? Administraram suas saúdes? Cuidaram da oferta social, àqueles menos privilegiados? E as preces agradecendo o muito que recebemos de Deus? Outras perguntas continuariam nos embaraçando, mas devemos continuar batendo no peito, buscando o "mea culpa", sem encontrar o verdadeiro sentido da vida. 

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A história da cachaça.
(O Companheiro Fábio Tavares, do NPHC nos contou esta linda história, fruto de sua pesquisa – Museu do homem do nordeste.)

“No Brasil de antigamente, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana de açúcar em um tacho, e o levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer, até que uma consistência cremosa surgisse. Um dia, porém, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam, e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe da vista do feitor.
No dia seguinte encontraram o melado azedo e fermentado. Não pensaram duas vezes, e misturaram o tal melado azedo com o novo, e levaram os dois ao fogo. Resultado, o ‘azedo’ do melado antigo era álcool, que aos poucos foi evaporando, e formou no teto do engenho umas gotículas, que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada, que pingava. Daí o nome ‘PINGA’. Foi quando entrou no engenho um escravo com as costas cortadas dos lanhos da chibata do feitor, que recebendo alguns pingos da canha, disse que ardia muito. Então lhe deram o nome de ‘AGUA ARDENTE’.
Algum tempo depois entrou outro rapaz, que passou a aparar com a boca algumas gotas da “pinga”, dizendo que era gostoso. Notaram que o rapaz continuou bebendo da pinga por algum tempo, passando a dançar e a se alegrar. Os escravos sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo da ‘pinga’ tomando daquela ‘água ardente’.”
Só um dos muitos versos do Jayme Caetano Braun, de Canha.
"Mas porém já não me iludo, com teu líquido sereno, porque na essência és veneno, maldito licor gaudério, destruidor sem critério, que na armada do gargalo, vai enchendo pealo a pealo, os bretes do cemitério".


FECHANDO A PORTEIRA.
Ando muito esquecido, e vai ficando aberta...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Boletim 106

ABRINDO A PORTEIRA.
O perdão.
Outro dia tentando perdoar alguém encontrei dificuldade. Quanto tempo levei? Não consigo precisar, mas custei, e isto me fez mal. A vida é uma longa e bela trilha, onde alguns atiram pedras dificultando nossos passos. Só nos cabe afastar as pedras, limpando o caminho para os que virão atrás. Odiar é estragar a nossa trilha. Claro que nenhum vivente conseguirá proceder como aquele Cidadão, que levando um tapa na cara, ofertou o outro lado! Isto é perdão imediato, que a minha mente vil não consegue entender.

O GALPÃO.
Ainda os Scherer.
Um deles, graças a Deus ainda vivo, é o Negro Velho, que nasceu Wilson Scherer Dias. Todos os Scherer que conheci e conheço, nasceram com ternura nos corações. A melhor coisa que existe é alemão com ternura na alma, como também a pior coisa é alemão ruim! Convivi com o Dadá (Dilson) e com o Hilson, ambos irmãos do Negro Velho, que peço bênçãos às nossas velhas amizades. Não sou de lamentar coisas boas que passaram, pois a vida me ensinou que elas são o alimento para minha alma.  

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Sady Scherer.
Ele foi como um irmão de meu Papai e do meu tio Lauro Azambuja, e construtor de suas fazendas, como já contei em outro boletim. Também foi meu vizinho de lavoura de arroz, quando a firma Luiz & Azambuja possuía cerca de 30 parceiros. Sady tinha um trator marca Ursus, de fabricação russa. Uma verdadeira tralha. Um só cilindro, e para "pegar" era na manivela. Um sofrimento. Sady quando conseguia fazer a tralha funcionar, jogava o chapéu na frente do radiador. Se grudasse era porque estava certo, mas se caísse era porque havia "pegado" ao contrário. Tinha que desligar e começar tudo novamente. Vejam como as coisas hoje andam fáceis, e mesmo assim, a turma não para de se queixar.

FECHANDO A PORTEIRA.
Podem entrar, ela não está fechada...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Boletim 105

ABRINDO A PORTEIRA.
O Rancho de leivas.
A contemplação desta figura, para poucos viventes  como eu, dá saudade triste na lembrança das pobrezas que ali viveram. Entretanto, era um tempo em que o dinheiro não tinha o valor de hoje, e o homem conseguia desfrutar sua felicidade, com comida farta, e a família no seu convívio diário. Causa curiosidade como era feita esta rústica habitação, e por tal pesquisei, encontrando um belo trabalho da Dra. Raquel Morgado, da URCAMP de Bagé. Um longo e proveitoso artigo, que transcrevo apenas alguns parágrafos.

"A técnica de construção dos ranchos, trazida pelos primeiros imigrantes europeus da península ibérica (notadamente portugueses e espanhóis) misturou-se ao conhecimento dos povos indígenas (charruas, guenoas e minuanos) e adaptou-se ao clima e à cultura local. Sua expansão na região atravessou o Uruguai e veio para a fronteira com o Brasil.

Analise dos ranchos de torrão de leiva, situados na região da Lata e do Minuano, no município de Aceguá, fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Trata-se de moradias erguidas com blocos maciços de vegetação rasteira, onde o solo cumpre com a característica de resistência à compressão e as raízes e folhas fortalecem a resistência à tração. Meses depois da construção, o torrão deixa vazios com ar que contribuem para o isolamento térmico e acústico da construção. A cobertura tradicionalmente é feita de capim Santa Fé, vegetação de áreas úmidas típica da pampa.

Aceguá ou Yace Guab em guarani, provavelmente já foi utilizada pelos povos autóctones da região como cemitério. A palavra significa “local de descanso eterno” indica o lugar que os indígenas escolhiam para viver seus últimos dias. A topografia proporcionava uma visão panorâmica da região e a proximidade com o céu. A essa origem quase alegórica, reúne-se o resultado do comércio informal, assentado numa fronteira seca, entre a banda oriental (Uruguai) e a banda ocidental (Brasil). Deste lado, foi emancipada do município de Bagé em 1996.

A vegetação rasteira estabelece uma malha, tanto interna (raízes) como superficial, contribuindo para a compacividade desse bloco, denominado leiva. O rancho de torrão faz uso do solo superficial horizonte A, com matéria orgânica, diferentemente da maioria da outras técnicas de construção em terra onde o solo indicado é do horizonte B, com um solo mais mineral e sem matéria orgânica. O torrão conta com vegetação rasteira, e preferencialmente úmido, cortado com a pá de corte, ferramenta de metal com as dimensões de 20 cm por 30 cm. Assim é colocada uma linha ou tabua e as leivas são cortadas de forma linear com 40 cm de comprimento longitudinal da peça.

O rancho está distribuído em sala e dois dormitórios, separados por divisórias de madeira que estão localizadas embaixo das tesouras do telhado. O sanitário e a cozinha estão localizados próximos da casa. Não há revestimento no piso, os três cômodos da casa são de chão batido." 

GALPÃO.
Ainda o rancho.
Este rancho aí de cima se parece com aquele do Zé Grande, velho empregado da Fazenda da Quinta, que permaneceu na Sant´Anna, com seu desmembramento. Lembro dele como tapera, e meus pais me assustando que ali era local de cobras venenosas. Já contei que o Zé Grande, por ser bom de pontaria, era quem matava éguas ao comando de meu Papai, numa época em que os cavalares, que foram as grandes riquezas das fazendas, passaram a perder seu valor, devido o fim das revoluções gaúchas. A última batalha a cavalo aconteceu em 1923, depois veio a mecanização.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Zé Grande.
Papai contava, que o Zé Grande era "meia-língua", pronunciando mal as palavras, mas se destacando por ser, além de bom e confiável empregado, o melhor assador dos churrasco na fazenda. Quando chegava na hora de servir, era seu jargão: Tá "plonto", mais "clú" come o "tigue" e "veve" "goldo".

FECHANDO A PORTEIRA.
Esqueci aberta...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Boletim 104

ABRINDO A PORTEIRA.
O Partido Libertador.
Meu Companheiro, Amigo e Correligionário Luiz Carlos Félix de Oliveira, libertador das essências, que como nossos ancestrais aprendeu a lutar pelos verdadeiros ideais políticos, e não pelos atuais interesses políticos particulares, mandou-me o texto abaixo, que publico com a sua devida permissão. Ele faz parte da história gloriosa da política do Rio Grande do Sul.


Este é o distintivo do Partido Libertador, com o Barrete Vermelho, simbolizando no gorro ajustado a cabeça, as idéias libertárias que levam na mente.
Foi fundado na cidade de Bagé, em 1928, por um grupo de dissidentes do Partido Republicano Riograndense. Sempre lutou pela democracia e defendeu o sistema Parlamentarista de Governo. No Rio Grande do Sul, combateu sem trégua o Governo Chimango de Julio de Castilhos, e depois Borges de Medeiros. Considerado por eles um Governicho, assim perpetuado no livro "Poemeto Campestre" do satírico Antônio Chimango (Ramiro Barcellos). Arregimentava voluntários, lutava contra o poder e muitas vezes foram massacrados. Mas gritavam, "idéias não são metais que se fundem" e voltavam aos campos de batalha. Assis Brasil foi Ministro da República, Embaixador, destacado político, e grande estancieiro, deixando ainda uma formidável obra literária. Foi introdutor de muitas inovações no campo e introdutor de raças nobres importadas da Inglaterra. Foi um visionário. Suas estâncias em Alegrete, Bagé e São Gabriel eram modelares. Os inimigos diziam que era o responsável, pelas pragas dos pardais, pombas urbanas e lebres, que trouxera da Europa. Criou porteiras fáceis de abrir, mata-burros, para estradas movimentadas, Introduziu a lareira nos galpões e nas salas das moradias, e foi o precursor de muitas técnicas na agricultura e pecuária. Deixou sua biblioteca no Castela de Pedras Altas, hoje aberto a visitação pública. Criou a frase. "Enquanto houver um Libertador, o partido existirá"

GALPÃO.
Uma visita ilustre.
Vou contrariar o dicionário, que diz ser ilustre, o intelectual, o famoso, o célebre. João da Silva Vigano não é nada destas coisas, mas é um ilustre. Ilustre cidadão de respeito, de honra, de família, de princípios de moral e ética. Foi capataz da Sant´Anna por mais de trinta anos, quando mostrou RESPEITO, e hoje goza da merecida PAZ de uma consciência tranquila, desfrutando do meu carinho, e de toda minha família. O que dirá então a sua Companheira Noeli de tantos anos, o seu filho Jones, a nora Jussara e tantos lindos netos. Pois dia sete passado comungamos, junto com uma indiada perdida da Estância Grande de Cima, de um dia galponeiro, juntando nossos abraços no aperto de nossos corações emocionados, rogando a Deus que nossos encontros sejam mais frequentes. Abaixo a nora Liandra, filha de outro saudoso empregado o Hercílio de Castro, o neto João Pedro, o filho Jones no violão, a esposa Noeli, e ele, João Vigano, como o "cerra fila".


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Um baile na Pacheca.
Pacheca, Distrito de Camaquã, no início do Século XX era muito mais desenvolvida, que a própria sede do Município, então chamada Vila de Camaquã. Além da extração de madeira, da mataria do Rio Camaquã, única fonte de energia na época, e da riqueza das fazendas, o senhor Hildebrando José Centeno construiu uma grande charqueada ali, que chegou a contar com 500 empregados. Então aquela rica sociedade mandou buscar de Pelotas uma orquestra (típica e jazz), para um baile de fim de ano. O salão repleto, com os casais dançando animadamente, de repente, calou-se a orquestra, na constatação que um dos músicos sofrera um ataque cardíaco fulminante. Inicialmente armou-se aquela confusão, até que os ânimos serenassem, na constatação que nada poderiam fazer, para transladar de imediato o corpo para Pelotas. Colocaram então o morto sobre uma mesa, cruzaram suas mãos no peito, acenderam quatro velas, e o baile virou em velório. Como não era conhecido, até mesmo de seus colegas de profissão, pois havia se incorporado na orquestra no último momento, não houve nenhum lamento, e enquanto transcorria a solenidade fúnebre, aqueles que permaneceram no salão, sentaram e se recostaram, adormecendo profundamente em suas cadeiras. Nestas horas sempre surge um ou dois gaiatos, que aproveitando a dormida geral, sentaram o morto, recostando-o numa cadeira, colocando até um chapéu em sua cabeça, óculos escuros, um cigarro acesso "nos queixos", e após sentaram entre os presentes, cutucando aqueles do lado, e apontando para o morto. Contam que até hoje tem gente disparando lá pela Pacheca.
Esta história me foi contada por meu Pai, que jurou ser verdadeira.

FECHANDOA PORTEIRA.
Ainda vai ficando aberta...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Boletim 103

ABRINDO A PORTEIRA.
Os aborrecimentos.
O que seria do açúcar se não houvesse o sal. O que seria da vida se não houvesse aborrecimentos. Não posso entender pessoas reclamarem de seus aborrecimentos. Primeiro porque eles existiram, existem e existirão. O que dizer daqueles por um simples pires quebrado, um café derramado, uma mancha na calça! O dicionário diz que resignação é "coragem para enfrentar a desgraça", ora, aborrecimento não é desgraça, mas exige certa dose dela. Vamos medir as coisas, e termos consciência de só usarmos resignação, quando o teto começar a cair. Só há crescimento nas vicissitudes.

GALPÃO.
A mística.
Sempre gosto de consultar o dicionário. Ele sabe mais que a gente. Assim Silveira Bueno descreve Místico - "o que procura, pela contemplação espiritual, atingir o estado extático de união direta com a divindade". Gostei, pois é assim que busco construir o Galpão do Galo Velho, cultuando ali meus antepassados, e a eles ofertando minhas preces de Paz e Respeito. Abaixo uma visão dele, destacando meu velho Pai, Mário Silva Azambuja, encimado pelo glorioso barrete libertador, a prece, e a Nossa Senhora da Conceição, iluminada pela chama divina.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A Colônia do Sacramento.
Esta história foi contada por Balbino Marques da Rocha, descrevendo a luta de nossos ancestrais portugueses, buscando firmar raízes nas margens do Rio da Prata. Prestem atenção, o nosso Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã (nucleodepesquisashitoricas@yahoo.com.br) em agosto fará uma excursão para lá, com guia histórico. Extraímos três versos, dos mais de quarenta do Balbino, de sua poesia intitulada Colônia do Sacramento, de 1965:
"A terra é como a criança, que só o carinho transforma. Se abandonada é norma, cria inço e desfigura... É assim como a criatura que vem a luz, ao calor, que só a ternura e o amor, são capazes de engendrar. Desenvolve as exponências... pois são de vidro as essências, onde o talento viceja. Só vence o que mais almeja, mas quando existe plasmada, têmpera cristalizada, ao calor de mil anseios... são os pilares da glória, ternura e zelo na história, e o mais é burla e floreio".
"Sem amor não se constrói, e a coragem multiplica. Quando um morre e outro fica, guardando a gleba sagrada, a história é linha quebrada, onde os mortos se agigantam, as renúncias se levantam, mais alto do que os anseios... Quem morre não tem mais freios, porque é um gesto sublimado. Há mais força no passado, que no presente e futuro. A morte é um porto seguro em que a opinião valoriza. O vivo segue um conselho, e a morte é como um espelho, onde a imagem se eterniza".
"Por isto, que a nossa história tem um ponto sobre o Prata... É um nó que ninguém desata, é um momento do passado, que ficou cristalizado, na formação de um Império... É a área de um cemitério, que nos chama na distância... É a a catacumba da estância, que ficou no corredor, na esperança de um translado... Cinzas do nosso passado, pedaço da nossa História, estrelas da nossa glória, que brilham em céu distante, sobre a Bacia do Prata... Há ossos que não descansam, se a compreensão não alcançam, no exílio da Pátria ingrata."

FECHANDO A PORTEIRA.
Ficará aberta para entrar mais luz...

terça-feira, 19 de junho de 2012

Boletim 102

ABRINDO A PORTEIRA.
Os Sacrifícios.
Sei que não prego ao vento, mesmo não sendo Pregador. Sigo o rastro do Criador dos Mundos, e neste longo caminhar vou buscando o "sentido da vida", pois aqui não vim inutilmente. Minha missão não foi só a de reproduzir! Então pergunto: Quais são os meus sacrifícios? Não quero ser nenhum Jó (creio mesmo que só houve um, pois não conheço outro cristão com esse nome), mas certamente os sacrifícios são fatos naturais, considerando, que  em minha  vida recebo muitas alegrias, possuindo ela o direitos de me cobrar sacrifícios.

GALPÃO.
A Querência dos Poetas Livres.
É um movimento campeiro e artístico, diferente de qualquer outro. Primeiro, não temos eleições, que é coisa que assusta qualquer vivente. O Patrão é sempre o mesmo, que é trocado só quando morre. Mas atenção, não é imperialismo! Lá só impera a IGUALDADE. Tanto que nem Tesoureiro temos. Assim como não possuímos mensalidades, e a única jóia que carregamos é o AMOR GAÚCHO. Todos sabem, que onde entra o dinheiro, os ideais se acabam, e nosso único ideal é preservar a TRADIÇÃO GAÚCHA. O melhor de tudo é que só nos reunimos em CTGs ou em Galpões Campeiros, ao redor do fogo de chão, sorvendo o bom mate, a gostosa comida campeira e, apreciando a Tertúlia Galponeira. Somos sofrenados por um simples Regulamento, que foi tenteado artigo a artigo, pelo mais nobre dos campeiros, meu Amigo, Irmão e Companheiro, João Moacyr Ferreira. Vai uma simples fotografia de um simples momento, pois as coisas simples é que nos dão felicidade.
  

 O Patrão apadrinhando o jovem Parceiro Marcone Lima. Quando eles entram na Querência recebem do Padrinho, em suas iniciações, o Abraço, símbolo da hospitalidade gaúcha.  A pilcha é a única obrigação dos associados. Para apreciarem a arte deste Parceiro Marcone, basta sua estampa na foto abaixo. 




FECHANDO A PORTEIRA.
Descobri que o bom é deixá-la aberta. Qualquer um pode entrar.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Boletim 101

ABRINDO A PORTEIRA.
O amor.
Nada é mais fácil do que falar do amor. Ele está aí no nosso dia à dia, hora à hora, minuto à minuto, na maioria das vezes, sem nos darmos conta dele. Habita em todas as criaturas humanas, e também em todos os animais. Amamos os que estão perto, como também amamos os que já partiram. Mas se sabemos o que é o amor, deixo a pergunta: "como amar?". Ele se porta das maneiras mais diversas, pois muitos já mataram por amor. Julgo que minha consideração poderá dar origem a contradições - "O amor não nos pertence. É um sentimento além de nós. Devemos amar o outro, para o outro, não para nós. Ele pertence a 'alguém' muito além de nós, a quem devemos ofertar o amor que produzirmos".

GALPÃO.
Procurando um estribo. (um texto encontrado...)

 O cavalo já está encilhado, e nem apertei a cincha no peito, já que a jornada vai ser ao tranco, apreciando a noite calma, e buscando pela boieira que guiará meu rumo. Vou procurando por um estribo para a última recorrida, e mal vislumbro a estrada, pois o Sol se esconde, e a bruma escura vai tapando o meu horizonte distante. Sei que um luar irá surgir, e as estrelas brilharão, descortinando uma estrada comprida, florida e desconhecida. De rumo feito vou reboleando o rebenque pelo dever de casa cumprido, sabendo que nada mais resta fazer, por estar tudo justo e perfeito.
Recolutando o tempo me dou conta que parei um belo rodeio. Não por grande, mas por bem trabalhado. Escolhi uma boa coxilha da minha existência, e nela não dei descanso pro pingo, sem esconder as rodadas e os bons tiros de laço. Quebrei muita geada fria, e não escondi a cara dos minuanos brabos. Por solto nos bastos consegui estender pelego, para muito índio xucro e necessitado. Bebi café de cambona, e sorvi a fumaça pura dos cernes das plantas, que beberam a seiva do chão dos meus ancestrais. Ergui tetos de abrigos, e levei curativos de amor aos ranchos sofridos. Engraxei a cara com costela gorda, e bebi o líquido alegre da vida, ou da morte se não souber ser bebido. Dancei “arroz com feijão” ajudando a levantar poeira, na felicidade dos entreveros de paz, e acompanhei jornadas ao último palanque do pingo, fincado 7 palmos do chão, dividindo lágrimas com a peonada.
Assim me “prancho” no estendido do chão, olhando as estrelas vivas, buscando novos espaços no etéreo divino, e no esparramar amor e respeito a quem amei e fui amado.

FECHANDO A PORTEIRA.
Vai continuar aberta...

domingo, 20 de maio de 2012

Boletim 100

ABRINDO A PORTEIRA.
O Campo.
Não é só por amá-lo, mas por buscar entendê-lo, que meditei nesse texto. Em minha infância gravei a cena de minha Mamãe tricotando um pulôver, por dias e dias, numa paciência infinita. Na época não havia indústria para confeccioná-los, nem comércio para vendê-los, e se houvesse não se podia chegar lá. Nas cidades habitava 10% de população, enquanto no campo vivia o resto. Se causa espanto o "fervilhar" das grandes metrópoles nos dias de hoje, vocês deveriam ver o fervilhar nas grandes fazendas nos dias de ontem.  Antes do Sol nascer era uma azáfama danada, igual a de vocês hoje nos conturbados tráfegos. O tirar leite, o botar fogo nos fogões, prender os cavalos do potreiro para o serviço do campo, o fazer pão, derreter toucinho para fazer banha, bater manteiga, cozinhar o feijão. Olha, só o feijão é uma história, pois ele era feito com a graxa do tutano dos ossos, e não podia ser requentado, o que sobrava era para os cachorros, mas como era gostoso. Vai hoje quebrar ossos e cozinhá-los, para extrair a graxa! A lã era cardada, para passar nos teares, na fabricação dos fios de lãs. Os colchões eram confeccionados com as crinas dos cavalares, os travesseiros com pena de ganso, isso para os ricos, pois aos empregados era ofertado a lã de ovelha para processá-los. O algodão era plantado antes da chegada dos ovinos em nossas várzeas, e mesmo sendo de fraca produção e qualidade, atendia a necessidade dos tecidos. Esta minha história não vai ter fim, como não terá fim a história das metrópoles de hoje, então, volto à cena da Mamãe tricotando seu pulôver. Sabem por quê? Porque ela é a expressão da CALMA. A expressão de um tempo, em que se vivia com tempo. Exatamente o que não existe hoje. Aprecio meu neto na frente de uma TV, se enervando com jogos violentos, e inimagináveis. O espírito não sabe conviver com a pressa. O corpo humano também não, mas de certa forma se adapta. Nossa existência é longa, tão longa que não é necessário correr, cansar, preocupar, irritar, brigar. Não há razão para antecipar o amanhã. É uma questão de saber esperar, ter calma, mas acima de tudo ter confiança em Deus, que é a nossa única certeza.
Esta história mereceria outro capítulo, contando o que ocorre atualmente no campo, já que vocês sabem o que está ocorrendo nas cidades. Seria falar pouco, já que apenas 10% dos viventes habitam por lá. As coisas inverteram! Seria escrever quase nada, tão pouco como dizer que, em busca do conforto, as fazendeiras abandonaram o campo, e com elas também foram os maridos...
Escrevi tanto, que nem vou FECHAR A PORTEIRA. Deixo-a aberta, como  meu coração à vocês. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

Boletim 99

ABRINDO A PORTEIRA.
Buscando a perfeição.
Concluo: "Ela não existe na Terra". Quem sabe vamos encontrá-la em outro lugar. Aqui por mais que os técnicos se esforcem, não a encontram. Nem mesmo nossa Natureza é perfeita. Por tal fico triste quando encontro, ou pior, convivo com perfeccionistas.  São criaturas infelizes, por insatisfeitas com seus esforços. Por mais que arrumem, sempre algo estará fora do lugar. Por mais que arrumem, alguém irá desarrumar. Perfeição só iremos encontrar no Encontro Final, junto do Criador de Todas as Coisas.

GALPÃO.
Apresentando o Galpão do Galo Velho.
O Galpão do Galo Velho está envolvido em uma mística muito profunda. Julgo que isto se deve as muitas orações que faço àqueles que amei e me amaram, e partiram para a Invernada do Esquecimento. Como ali passo muitas horas meditando, acredito que sou "escutado", e que os fuidos benéficos daqueles que partiram, derramam-se sobre o chão  rústico e limpo do Galpão. Publico uma foto do fogo de chão, encimado pela marca de fogo da Fazenda Sant´Anna, originária da Fazenda da Invernada; uma cabeça de bode, que costuma afastar a maldade; a imagem da Santa Rita de Cássia, que atrai a bondade; um queimador de incenso; uma cuia de chimarrão, o elo da amizade gaúcha, e o lume eterno, de um fogo que não apaga, símbolo da Luz de Cristo.


 HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Vivendo e aprendendo.
Esta é para quem dirige. Ainda me considero um bom motorista. Outro dia aguardando uma fila para entrar numa preferencial, vi quando o carro da frente entrou, então olhei para a esquerda para fazer meu cálculo, já com a primeira em marcha. O carro da frente errou seu cálculo e freou. Entrei nele. Lição: deixem o carro da frente entrar no fluxo, para só depois fazerem seus cálculos. Vivendo e aprendendo.

FECHANDO A PORTEIRA.
Meus erros.
Construi minha vida em cima de meus erros. Primeiro foi um caminho longo para desenvolver minha consciência. Não é bem desenvolver, é identificar, pois todos nós a possuímos na mesma quantidade, já que ela é a presença de Deus, que habita em cada um de seus filhos. Cada erro que cometo é uma longa meditação. Os mais difíceis são aqueles do pensamento. Eles parecem estar distante da gente, e é fácil descartá-los. Aprendi então a repassá-los, "mastigá-los" em minhas meditações. Não dói e faz bem para o dia seguinte.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Boletim 98

ABRINDO A PORTEIRA.
Aniversariando.
Outro dia fazendo 78 outonos (os invernos que fiquem esperando) fiz uma recoluta no tempo. Onde ficaram os meus 15 anos? Não lembrei nada. Então quem sabe meus 21, que era a maioridade naquele tempo? Também não lembrei nada. Meus 30, 40, 50, 60, 70. Nada! Só ficou os 75, porque minha neta Fernanda fez uma linda gravação de toda a família, uma verdadeira obra de arte. Mas acho que está na memória, porque foi recente, pois quando chegar o inverno, cem anos, também ficará esquecido.
Conclusão: O que vale é o presente, o que passou, passou. Feliz próximo aniversário para todos nós.
Todos os aniversário serão iguais. Buscamos pelo presente, esquecendo o passado e temendo pelo futuro. Quando se tem saúde física, mental e espiritual, até mesmo a saúde financeira não interessa, assim como não interessa o que passou. Interessa o Presente.

GALPÃO.
Pedindo desculpas.
Postar um comentário, e ele não ser publicado, é muito ruim. Assim peço desculpas à vocês. Achei um monte de comentários "pendurados", pois as "faces" mudaram. Modernizaram-se. Agora consegui publicar. Até mesmo os xingamentos, os interrogativos, erros de português, que não estraga o conteúdo, assim como um bebedor de conhaque, pirado em filosofia e astrologia. Agora sei onde eles se encontram, esperando minhas autorizações. Não ficarão mais perdidos. Mais desculpas, porque usei da tecnologia, e só entra e-mail de quem está nos meus contatos.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Os joelhos. (Deixa-me contar).
Pois o joelho esquerdo doeu e inchou. Logo pensei no doutor, mas eles andam "tecnológicos", mandando uns para os outros, e mais exames que não tem fim. Onde está o "braço" do médico? Pensei comigo: minha saúde vai me curar! O tempo passou e ele vai ficando bom aos poucos. Conto a historia com a finalidade de deixar um alerta à vocês - cuidem ao saírem dos vossos carros! Saiam com as duas pernas. Este foi meu erro, quando torci o joelho.

FECHANDO A PORTEIRA.
Aniversariando.
Preciso concluir o "Abrindo a porteira". Quem faz 78 anos, ou mais, com saúde física, mental e espiritual estará sempre feliz. Deus nos fez à sua semelhança, exigindo uma conclusão sadia para esta existência terrena, merecendo assim o Descanso Eterno. Que assim seja.  

domingo, 15 de abril de 2012

Boletim 97

ABRINDO A PORTEIRA.
Tecnologia.

Ouvi dizer que tecnologia é a ferramenta que nos ajuda a resolver problemas. Nada contra ela, até pelo contrário, pois meu filho Magrinho se alimenta dela, na sua Tecnotag, lá na TecnoPuc. Acontece que sou do tempo da única ferramenta, "malho e cinzel", e creio que a tal ferramenta moderna está resolvendo os problemas dos homens, de tal maneira que eles já não tem o que fazer. Vejam. Fui assistir o Grande Prêmio de Fórmula Um, da China, alta madrugada, e não consegui chegar na metade dele. Eu que fui apaixonado por ela e por meus ídolos, alguns já mortos. Parei quando me perguntei: onde está o "braço" do piloto? Será que a habilidade, ou reflexo, foi substituída pela máquina? Certamente um dia a força espiritual irá prevalecer sobre a mente humana.



O GALPÃO.

A não tecnologia.

Pois amigos eu afirmo, aqui no Galpão do Galo Velho não há tecnologia, além daquele velho rádio e algumas lâmpadas elétricas. Grito mais alto ainda, ela não está fazendo falta alguma, pois aqui estamos estagnados no tempo, e não necessitamos vencer obstáculos. Não tendo problemas, não precisamos de máquina maior, do que a nossa força espiritual.



HISTÓRIA QUE ME CONTARAM.

O avanço da tecnologia.
Em uma das mais belas palestras de Divaldo Pereira Franco está assim gravada: "O homem com a mais alta das tecnologias subiu ao espaço, conquistando a Lua, mas não conseguiu ainda conquistar a si mesmo, vencendo as suas paixões". Então esta história de Divaldo nos faz meditar, que existe outra força maior, quem sabe residindo no espaço sideral, iluminando nossas mentes, para num dia não distante, nos ensinar a vencer nossas paixões. Esta força é Deus.



FECHANDO A PORTEIRA.

Porta aberta.

Como cantou um dia Vicente Celestino - "Esta porta não se fecha..." Esqueci o resto da letra. Também, quanto tempo! Pois se estou fechando a porteira é por ora, logo estarei de volta, e como as postagens para os "comentários" são difíceis, usem o meu e-mail - lfaz@terra.com.br







quinta-feira, 5 de abril de 2012

Boletim 96

ABRINDO A PORTEIRA.
A oferta sem a procura.

Interessante como existem pessoas que não sabem se ofertar. Não estou me referindo à oferta material, e sim à solidariedade. Posso afirmar, pela quilometragem percorrida, que só é feliz quem tem, ou adquiriu a capacidade de ofertar solidariedade. Ela pode ser traduzida por servir, ofertar, tolerar, suportar, auxiliar, enfim: amar. Participo de um clube de serviço chamado Rotary, e lógico que nosso lema é SERVIR, onde cantamos: "Mais se beneficia, quem melhor serve", e queremos chegar na PAZ MUNDIAL. Todos são felizes naqueles clubes de SERVIÇOS.



GALPÃO

O Cavalo.

Certamente o gaúcho não existiria, se não existisse o cavalo. "Aqui ele chegou em 1536 trazidos pelos espanhóis, tornando-se selvagem no pampa gaúcho (Rio Grande Uruguai e Argentina), somando 40 milhões de cabeças". (dados do Portal Gaúcho, assinado por Evaldo Muñoz Braz).

Devemos uma reverência aos nossos índios charruas e minuanos, os primeiros cavaleiros que logo se identificaram com o cavalo, que é o maior símbolo da liberdade.

Balbino Marques da Rocha escreveu: "No teu tranco soberano, na espuma dos teus ardores, compassaste o sonho humano, de estandartes e tambores. Nos teus ímpetos violentos, tuas patas como metralhas, escreveram nas batalhas, a sinfonia dos ventos, e a epopéia da vitória... Marcando de cicatrizes, as mais profundas raízes dos velhos troncos da história".



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

O escravo cavaleiro.

Imaginem agora o negro escravo, chegando no Rio Grande e sendo vendido para as grandes fazendas. A riqueza da época, antes da entrada do charque, era o couro vacum, pois tudo que se possa imaginar feito com plástico, era feito de couro, naquela época. Matava-se o vacum apenas para tirar seu couro, deixando a carne aos abutres. Foi necessário colocar o negro escravo no lombo de um cavalo, (símbolo da liberdade) e colocar na cintura deste homem uma faca, ferramenta indispensável para aquela operação. Poderia ser ele inimigo de Patrão? Poderia ser agrilhoado sobre o animal? Poderia apanhar? Daí a proximidade, a amizade e o respeito entre um e outro. Esta amizade só foi quebrada com as atuais leis sociais, não adaptadas ao campo, jogando o empregado contra o patrão.



FECHANDO A PORTEIRA.

O Espírito de Luta.

Quantas vezes estivemos na lona? Quantas vezes nos levantamos? O Sol continuou o mesmo, nossas famílias e amigos, os mesmos. Se restou algum arranhão foi porque nossas vaidades foram feridas. A vaidade nada constrói, só a humildade nos eleva. O espírito de luta é a representação da FÉ. Na Páscoa é momento de meditarmos naquilo que representa a maior de todas as humildades - "se ofertar na cruz por seus irmãos". Mas o espírito de luta fez com que três dias depois Ele renascesse!

domingo, 18 de março de 2012

Boletim 95

ABRINDO A PORTEIRA.
A Competição.

O homem nasceu competindo com o outro. Hoje é a mulher que entrou nesta luta. Lembro bem de um tempo recém passado, quando ela competia por sua beleza e habilidades domésticas. Ao que se sabe só peleou uma Joana D´Arc, e uma Anita Garibaldi, mas hoje elas estão em todas as lutas, e os homens encantados, se curvam ante suas musculaturas das pernas, braços e "glúteos". Receio que com o passar do tempo, e só espero estar "fora" deste tempo, elas passem a se vingar das surras que receberam dos homens.



GALPÃO.

Sady Sherer.

Sady era filho do Tio Emílio, e isto há muito tempo passado (imaginem que hoje sou amigo de seus tataranetos). Ainda buscarei as datas. Ele deixou em Camaquã uma linda descendência, assim como uma obra desconhecida de muitos. Além de homem ético, bom chefe de família, trabalhador, distinto e bonito, como todos os Scherer, era pedreiro, carpinteiro, ferreiro, encanador, pintor, eletricista e agricultor. Sua história de construções ficou no esquecimento, assim como aquelas do André Lempek. Sady construiu a casa do Adriano Scherer, seu tio, e muitas outras em Santa Rita do Sul, como o prédio do engenho de arroz e os depósitos. Construiu a seda das fazendas Santa Tereza e Sant`Anna, sendo que o fato marcante é que todas suas obras, ainda estão "de pé", passado quase cem anos.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

O Cel. Sylvio Luiz Pereira da Silva.

Certa feita, no bar do Preto Hotel, em Porto Alegre, estava formada a roda dos beberrões, sob o comando do "folclórico" Cel. Sylvio. Ainda cedo da noite chega o Dr. Montenegro Barbosa, juiz de Direito em Camaquã e fazendeiro em Tapes, mas conhecido abstêmio. Ali chegava para tratar de assuntos de negócios com o Coronel, na compra de reprodutores herefords. Após os cumprimentos, o Coronel lhe oferece uma bebida qualquer, ao que ele agradece, dizendo que não iria beber nada. O Coronel caudilho lhe retruca: "Na minha frente ninguém fica sem beber. PH (era o nome do garçom) traz um copo de leite para o Montenegro".



FECHANDO A PORTEIRA.

O Galo Velho.

Ano passado, um artista, pintor, Mauro Guelmo Rocha apreciando a fotografia do Galo Velho, o Cristino Gonçalves, a mesma que enfeita o cabeçalho desse blog, fez uma bela pintura em Pastel Seco, no papel alemão, que foi premiada em exposição de artes na cidade de Tapes, e que terminou em uma das paredes da Câmara de Vereadores daquela cidade. O blog circulou, terminando por parar nas mãos do vereador Nelson Pinzon, da mesma cidade, que ao se comunicar comigo, perguntou quem era aquele negro velho, como pedindo uma justificativa para sua "aparição" naquela casa de edis. Respondi: "A presença deste negro é a expressão da FORÇA, único elemento de sustentação da existência humana na época, quando a população rural era de 90%, sem o comércio e a indústria dos dias de hoje, que inverteu, fazendo o campo ficar com apenas 10% da população. Ele ali está numa mangueira de gado, junto a um brete com uma aguilhada à mão direita, e uma faca carneadeira atravessada na "passarinha", a ferramenta que alimentava o homem do seu tempo".

domingo, 11 de março de 2012

Boletim 94

ABRINDO A PORTEIRA.
O Carnaval.

Passou mais uma grande folia. Os clubes sociais já não funcionam. Todo mundo na rua, naquele "desprendimento social". A família e os amigos se dispersaram, e parece mesmo que o melhor é passar incógnito. Lembram quando a gente "pulava" sob o olhar dos pais? Agora nada melhor, pois não haverá cobranças. Ninguém liga para ninguém, enquanto a TV mostra maravilhas, verdadeiras loucuras construídas com dinheiro que nem se imagina de onde. A quarta-feira de cinzas também já passou, e poucos jejuaram, e um menor número ainda, sequer pediu perdão dos pecados. Mas não vamos nos preocupar, pois já tem muitos preparando o próximo carnaval.

GALPÃO.
O Calor.

O verão tem dessas, nos corre da beira do fogo. Outro dia para tomar meu mate, e olha que era cedo da manhã, tive de me afastar do fogo de chão. A verdade é que as fazendas já não são as mesmas. Lembro do tempo do meu velho Pai, quando na madrugada, podia fazer um calor insuportável, a carne assava no fogo de chão. E o quente das bombachas? Certamente com o passar do tempo irão "arrumar" umas bombachas-short.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A moderna plantadeira.

Certamente de todas as histórias que me contaram do meu saudoso e querido Tio Fay, esta é a melhor, e me foi contada por Papai. Ele era o tratorista, que naquele tempo tinha de ter carteira de motorista. Imaginem! Lavrava na primeira das lavouras da Fazenda da Quinta, lá na Capão do Trago, primeira morada do meu Tio Lauro. Tio Fay chegou e sentou numa valeta observando. Lá pelas tantas atacou o trator, aquele Fordson, que enfeita a Fortral hoje. Papai se aborreceu, pois teria de desligá-lo, para ouvir o que o outro dizia, e olha que para pegar era na na manivela. Tio Fay perguntou em que marcha ele estava lavrando, ao que Papai respondeu que em segunda, tendo ele retrucado: "Então está sobrando força Mário. Vamos colocar aquela grade de boi atrás do arado, assim irás ganhar bom preparo de solo". Ao que Papai retrucou: "E eu irei colocar um banquinho na grade, e tu irás semeando o arroz". Saiu verdadeiramente aborrecido. Agora meu testemunho: Conheci uma máquina italiana, chamada Cantoni, que fazia tudo isto que meu Tio Fay havia previsto, além de colocar o adubo e inseticida. Meu querido Tio Fay andava na frente do tempo!

FECHANDO A PORTEIRA.
A Páscoa.

Para muitos a Páscoa poderá ser carolice. Antigamente os coronéis caudilhos, acreditavam apenas na força física, mas hoje queremos a força do espírito. Quem não acreditará n´Ele, que criou todas as coisas? Então vamos nos preparar para a Páscoa, que logo chegará à nós. A grande mensagem ali contida é de alegria. Verdadeira festa, que eu mesmo não havia entendido. Não se celebra a morte, mas a vida, no renascer de Cristo. Então não percamos nossas alegrias, todos renascerão um dia.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Boletim 93

ABRINDO A PORTEIRA.
Felizes são aqueles que assim se sentem...

Recebi do meu filho Magrinho, que nasceu Luiz Fernando Azambuja Júnior, um e-mail lembrando esta frase, que era uma das filosofadas de meu Velho Pai, Mário Silva Azambuja. Certamente convivendo com a "real" pobreza daquele outro tempo, nos ranchos de leivas, cobertos de santa-fé, ele se espantava com a felicidade morando com aquela gente. Então vejam a foto que o Magrinho me mandou anexo ao e-mail, me fazendo pensar nas tacadas do mestre Cláudio da Silva Ribeiro, na sua mesa oficial da Fazenda da Palmeira.




GALPÃO.
Madrugada.

Seis horas da madrugada escura, e o fogo atiçado nas brasas da noite estrelejava no silêncio do galpão, enquanto meu cusco enrodilhado buscava se aquentar do frio. Nestas horas a solidão faz bem, no sorvo daquele mate do "solito", quando a gente se pára a sismar - Apparício Silva Rillo escreveu: "Quando a garoa do inverno me atropela pro galpão, chego a chaleira ao tição, corto um crioulo a preceito, e abrindo as varas do peito, me ponho triste a sismar. E logo vejo apontar, furando a garoa mansa, da tropilha da lembrança, que eu nunca soube amansar." É como uma oração que brota do chão, daqueles que o amaram como eu, e se alimentaram de sua seiva. Na vida só não há tristeza quando vivemos o amor, e fico me perguntando, como pode haver ódio em certos corações...



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

Dia de São Bartolomeu.

Dia 24 de agosto é comemorado o Dia de São Bartolomeu, ou do "Massacre da Noite de São Bartolomeu", quando em Paris, os reis da França, em 1572, mandaram matar os protestantes e huguenotes. Dizem que morreu de 30 a 100 mil nos quatro meses de matança. Pois esta foi a noite que Getúlio Dornelles Vargas escolheu para botar uma bala em seu coração, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. O "Derruba Presidentes", Carlos Lacerda, não aceitava as suas reformas, e vejam quantas e boas ele criou: Ministério do Trabalho; Ministério da Indústria e Comércio; Ministério da Saúde e Ministério da Educação e Cultura. Estabeleceu o primeiro Código Eleitoral do Brasil; a OAB; o Correio Aéreo Nacional; o Departamento de Aviação Civil; a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; a Carteira do Trabalho; o IBGE e a Petrobras. Uma reverência ao mais importante político do século XX. Gaúcho Tchê, e que não foi meu correligionário.



FECHANDO A PORTEIRA.

A curiosidade.

Outro dia conversando com um amigo, passamos a falar das virtudes humanas, quando ele me perguntou se eu identificava alguma em minha pessoa. Respondi de pronto - não sou curioso! Parece estranho, que esta virtude tenha vindo em primeiro lugar na minha mente. Minha amada companheira de 54 anos, não perde o programa "TV Fama", no canal 22, que explora a vida íntima de todo mundo, e ainda bem que ela não assiste o BBB! A mim parece que falta de curiosidade é manter o RESPEITO - lema do Galpão do Galo Velho.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Boletim 92

ABRINDO A PORTEIRA.
O tempo.

O tempo nos consome, ou nós consumimos o tempo? Já pedi para pensarem no assunto em boletim anterior. Julgo que quem for consumido pelo tempo não terá entendido sua vinda à Terra. Conheço muitos que não gostam do tempo, sentindo-se velhos, ou no fim do tempo. O tempo não tem fim, já que afirmo que o fim não existe. Outros tempos virão. Só resta entendermos este egoísmo de sermos donos de alguma coisa, que é o que nos prende ao tempo. Também já disse em boletim anterior, que nada nos pertence. Apreciemos o "bater das asas da borboleta" e vivamos o perfume das flores. Tenham certeza que estas não são palavras de quem se aproxima do fim da vida, mas de quem chega no seu princípio - ao encontro com Deus.



GALPÃO.

Ainda o mate.

Enquanto fico pensando na quinta lei do mate vou contando velhos ensinamentos. Meu tio José Olavo Fay era realmente meu amigo. Tanto, que quando eu caçava nos banhados de sua fazenda da Capoeira, ele interrompia minhas atiradas nos marrecões, para me levar um café com leite, pão e manteiga. Lindo de viver. Pois entre tantos ensinamentos que recebi dele, o de cevar o mate foi mais um. Coloquem a erva de pauzinhos no bojo da cuia, tapem a abertura com a palma da mão, virem de borco (ao contrário), sacudam bastante, depois retornem à posição inicial, armando e cevando o mate. Acontece que os pauzinhos foram parar o fundo da cuia, e o mate ficará mais "solto". Dica para que não usa "camisinha" no bojo da bomba...



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

A salinização da Lagoa dos Patos.

A segunda Grande Guerra Mundial quebrou o empresário Adriano Scherer, que plantava dois mil hectares de arroz na Fazenda da Quinta, então município de Camaquã, hoje Arambaré. O Banco do Brasil, grande credor, assumiu a administração da granja, sendo chamado o agrônomo Dr. Pasquieur para gerenciá-la. Ocorreu então a salinização da grande lagoa, como está querendo acontecer neste ano. As bombas de irrigação tomam água da Lagoa do Guaraxaim, que está ligada à Lagoa dos Patos por um canal chamado Barrinha. Adriano, já residindo no Rio de Janeiro, teve o nobre de gesto e fazer uma ligação telefônica à Pasquieur, pedindo que ele fizesse o fechamento da Barrinha, mas não foi atendido. A grande lavoura de arroz foi perdida



FECHANDO A PORTEIRA.

Eu me vi livre de ti!

Certamente esta é a mais dolorida das frases. Dói nas profundezes de quem ama aquele que a pronunciou. Algumas separações são sofridas, outras não, e as que mais nos fazem sofrer são aquelas em que há cobranças. Então cuidem, quando se separarem de alguém que amam, ou que amaram, não fazendo cobranças. Toda separação é um ponto final, e não há como corrigir os erros passados. Amor não tem preço, nem medida.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Boletim 91

ABRINDO A PORTEIRA.

A política.

Sou dos "silenciosos". Aprendi a ouvir os adversários políticos, por mais estapafúrdios que sejam seus argumentos. Sou fiel ao meu partido, na hora de depositar meu voto, que escolho com precisão. Isto devo a minha infância, quando meus tios me levavam balas, ao visitar meus pais, lá na fazenda. Eles eram meus ídolos, pois por balas, a gente só conhecia os torrões de açúcar Usina. Acontece que após dez minutos, um passava a gritar com outro, quando então eu corria para minha Mamãe dizendo que eles estavam brigando. Ela afagava meu cabelo: "Não liga aquilo é política".



GALPÃO.

Vamos tomar um mate!

Esta frase é o estribo da hospitalidade gaúcha. Não vou dizer que o uruguaio seja mais gaúcho que nós, mas por manterem uma população "estável", parece manterem melhor nossas tradições. Não há lar, galpão ou rancho que tu chegues, em que não ouças a frase - vamos tomar um mate? É o dia inteiro, parecendo até que não apagam o fogo, mantendo o lume do gauchismo aceso.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

As caçadas.

Claro, naquele outro tempo havia muitos erros, mas também havia pouca gente errando. Hoje é um amontoado de gente, e se deixarem caçar, a caça termina mesmo. Uma vez por ano, juro, uma só vez faço uma caçada de tatu lá na fazenda, onde pego apenas um, e meus outros dois amigos, mais um cada. Lá tem aos montes. Bueno havia programado para o próximo abril, uma caçada de tatu com meus amigos, quando a gente mais galponeia do que caça. Ontem recebi um e-mail da minha neta Fernanda, pedindo que não matasse mais os bichinhos, me mandando uma fotografia que anexo abaixo. Foi uma judiaria comigo e meus amigos, mas suspendi as caçadas...






FECHANDO A PORTEIRA.

A mulher.

Só ouço falar na evolução da humanidade, com a sua tecnologia. Pouco se ouve da maior de todas as evoluções - a mulher. Quem escreve assistiu a mulher serviçal, ou chefe das domésticas. Eram tratadas sem respeito, preparadas apenas para criar os filhos e administrar a casa. Verdade que hoje elas não teem tempo nem para uma coisa, nem outra. Mesmo assim, acho melhor, pois acabou a discriminação. Em outros tempos a mulher não podia participar de Rotary, e hoje vejo meu Rotary Club Camaquã composto de 36% de mulheres. Deus abençoe as mulheres!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Boletim 90

ABRINDO A PORTEIRA.
O Terno de Reis.

Dia cinco passado, a Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros, levou as bênçãos do Menino Jesus ao lar do amigo Odir Deantoni, lá na cidade de Arambaré. Uma tradição que recebemos de nossos ancestrais açorianos, e que o Rio Grande do Sul não pode deixar morrer. Anualmente nossa querência marca ponto, entre os dias 25 de dezembro e 6 de janeiro. Então meus amigos, ali a gente sente a verdadeira hospitalidade gaúcha. A foto abaixo dá uma idéia do lindo momento.


GALPÃO.
Ainda o mate.

Qual a hora e o local do mate? Esta não é uma lei, mas um costume, que está sendo quebrado. Quanta gente com o mate na mão, caminhando entre o povo. E dentro dos carros, quando só se faz lambuza. Matear é um momento de descontração, meditação, conversação, introspecção. Matear é antes de tudo um momento de respeito, quando até mesmo aqueles que amamos, e que já partiram "se chegam pra roda do mate", formando a egrégora superior. Muitos dizem: "mateio para matar minha sede". Não é verdade, a gente mateia é para matar o "estresse", e tem gente mateando, dentro do estresse do povo.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

A história dos Três Reis Magos.

Herodes era um rei mau, muito mau. Pediu aos Magos - Melquior, Baltazar e Gaspar, que após encontrarem o Menino Jesus, voltassem dizendo onde ele se encontrava, pois também queria "adorá-lo". Claro que os Magos levaram ouro, incenso e mirra, na representação material, mental e espiritual ao Santo Menino, que é a dádiva levada ao lar, que acolhe o Terno de Reis. Bueno, depois da prosa naquela manjedoura, os Magos retornaram às suas casas, "esquecendo" de contar à Herodes, onde estava o Rei dos Reis.



FECHANDO A PORTEIRA.
Nossas pressas.

Realmente não sabemos mais esperar. Aquelas filas nos caixas dos bancos, que parecem não chegar nunca nossa vez. E nos caixas dos supermercados numa sexta feira? Outro dia marquei no relógio quando começou. Ao ser atendido conferi, e foi apenas 8 minutos, que me pareceu uma eternidade! Como é que se fica calmo numa hora dessas? Quem sabe se compra um jornal, ou se brinca com o celular. Verdade é que não temos tempo para mais nada, eu que sou do tempo de se perguntar: "o que vou fazer hoje?" Hoje se pergunta o que vou deixar para fazer amanhã?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Boletim 89

ABRINDO A PORTEIRA.
Só erra quem faz!

Quem optar por ficar o dia inteiro sentado na sala, lendo ou olhando uma porqueira de TV, não irá errar nunca. Agora, quem acumular as funções de rotariano, maçom, citiano, tradicionalista, historiador, bloguista vai errar aos montes. Antes de tudo é necessário desenvolver a consciência, de que erramos, procurando o bem do outro, ou até mesmo a satisfação interior de buscar a verdade. A única verdade, verdadeira, é Deus, o que faz desta busca a maior das realizações terrenas. Então, erremos...



GALPÃO.

O mate.

É um hábito. Não é vício. Faz parte do gaúcho, desde o acordar ao deitar. É revigorante, companheiro do meditar e do conversar. É o elo de aproximação entre as pessoas. Além destas imagens temos de manter as suas Leis. Assim vou para a quarta lei: "É proibido mexer na bomba". Já assisti alguém da roda dizer ao cevador: "Dá licença de mexer na bomba?". Só o cevador tem este direito. Um amigo meu certa feita "palanqueou" a bomba na cuia, pois era costume de uma Comadre sua, "engrenar primeira e ré" ao beber do seu mate. Vamos preservar nossas tradições.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

O fogo.

Meu Pai costumava dizer que o fogo é como o amor. Não que ele nos queime ou faça mal., pois se referia ao dar começo à ele. Outro dia acampei no mato, e tentei iniciar um fogo. Da primeira vez coloquei pouco graveto e ele não "prendeu". Da segunda, coloquei graveto demais, ele "abafou", também não acendendo. Lembrei então do meu Velho, ao dizer que com o amor é a mesma coisa, se a gente coloca muito "afago" ele abafa, mas se colocarmos pouco, ele também não "prende". Poderemos sintetizar que se trata de equilíbrio, o que devemos manter em todos os gestos da vida.


FECHANDO A PORTEIRA.

O fim do ano.

Vamos fechando a porteira do 2011. Não posso me queixar, pois ele não me levou nenhum ente querido, mas não gostei dele. Aliás, não gosto do onze, e não é pelo onze de setembro. Agora o doze vai ao meu gosto. Quem sabe pela saga dos doze apóstolos. A ceia, com eles, os doze, e mais Ele perfazendo o treze, que é melhor ainda. Quem sabe pelas doze badaladas, marcando o dia, e o "início dos trabalhos". O Galo Velho está desejando a vocês o melhor do início dos trabalhos no próximo ano, com muita SAÚDE, SAÚDE, SAÚDE.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Boletim 88

ABRINDO A PORTEIRA.

Eu não existo.

Parece estranho, e mesmo difícil meditar nesta afirmativa. Mas será que esta existência me pertence? Quanto mais deixamos Deus tomar conta do nosso íntimo, mais espaço se criará em nosso interior, e mais espaços se fechará para a matéria, compreendendo que tudo que aqui adquirirmos não nos pertencerá. Não iremos levar nada conosco. Apenas o AMOR. Assim é que toda a humanidade, ao se aproximar o Natal, passa a valorizar o AMOR, como se ele só existisse no Natal. O Menino Jesus nos habita 365 dias por ano. Um feliz 365 dias a vocês.



GALPÃO.

Sempre o mate.

Claro que ele faz parte do nosso dia a dia. É o primeiro gesto, e muitas vezes o último. Ele é nossa alegria, e por vezes a tristeza, principalmente quando é mate do "solito", no descambar do Sol no horizonte distante, lembrando o ocaso da vida, na contemplação de um passado lá muito atrás. Mas vamos para as Leis do Mate. Assim como não se pede o mate, ele não pode ser negado, quando na "roda do mate". Seja para quem for, até para um "mal lavado", cabendo, entretanto, agradecer o mate, e se excluir da roda. Esta é a terceira Lei do Mate.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.


O Posteiro Galo Velho.

Convivi com o Galo Velho até meus trinta anos, quando ofertei a ele uma chácara na cidade de Camaquã, onde morreu, já "destronilhado" (não mais certo do juízo). Meu Pai costumava contar sua história. Posteiro era mais do que um empregado da fazenda, era um "guardador das fronteiras dos campos", numa época em que não existiam aramados, e os campos eram demarcados pelos "marcos de sesmarias". Assim o posteiro recebia casa, uma lavoura cercada, um rancho mensal, podendo criar, junto do gado do patrão, possuindo sua própria marca de fogo. Seu maior trabalho era cuidar que o gado do fazendeiro não saísse para o campo do vizinho, permitindo, entretanto, que o gado do vizinho entrasse na sua área de serviço, já que havia uma lei na época, que o animal nascido na fazenda, e recebido marca, era de propriedade daquele fazendeiro. Quando das recolutas, que era a busca de animais alheios, o fazendeiro permitia que levassem aqueles que não tivessem a sua marca, ficando, entretanto, a vaca que amamentasse o terneiro marcado, que só seria retirada na próxima recolutada.



FECHANDO A PORTEIRA.

Tu reclamas?

Conheço muitas pessoas, que passam o dia reclamando. Quando não é o calor é o frio, quando não e a falta de luz é de água, ou quando não é o barulho é o silêncio profundo. Parece que as reclamações lhes alimentam. Certamente estas pessoas foram privilegiadas por Deus, que nunca lhes deu uma doença grave, um acidente forte, a perda de um ente querido, nenhum sofrimento. Deus aqui nos colocou para desenvolvermos o AMOR em nossos corações, e cumprirmos com nossos destinos, sem reclamações.

domingo, 20 de novembro de 2011

Boletim 87

ABRINDO A PORTEIRA.
Os passarinhos e os insetos.
Pois não irei matar mais as moscas e mosquitos, insetos que infernizam a vida da gente. Creio mesmo que irei alimentá-los, perpetuando as suas espécies. Sabem por que? Bem, é uma curta história: - O Grupo dos Fisgados de Camaquã, pescadores, mas não mentirosos, que dentre eles tem três médicos, foi pescar no Amazonas, mais precisamente no Rio Negro. O primeiro fato a chamar suas atenções foi de não encontrarem por lá qualquer passarinho. Imaginem este fato em toda aquela exuberância florestal. Pergunta daqui, pergunta dali, quando lhe explicaram que as águas daquele rio são escuras, honrando o próprio nome de Rio Negro, e também muito alcalina, o que não permite a proliferação de insetos. Não tendo insetos, não tem pássaros! Entenderam? Vai ser brabo, mas estou a fim de convidar vocês a não matarem mais as moscas e os mosquitos.


GALPÃO.
Ainda o mate.
Tenho recebido alguns comentários sobre o mate, mas a maioria se refere a maneira de como fazer o mate, entretanto, já expliquei que não podemos interferir neste hábito, pois muda de uma região para outra. No boletim anterior falei da primeira Lei do Mate, e agora me refiro a sua segunda Lei: Ao se devolver o mate ao cevador, ele deve "roncar". Sei que muitas vezes ele está pesado, e fica difícil, entretanto, esta é a maneira de se "dizer", que não estamos devolvendo resto na cuia.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O Ferreiro.
Outro dia conversando com meu amigo Chapotão, advogado, veterinário, gaiteiro e campeiro, que nasceu Hamilton Santos de Paula Couto, ouvi dele a seguinte história: "Era uma vez um Ferreiro 'solto das patas', irrequieto e irreverente, um verdadeiro 'estrabulega', que não gostava de obedecer leis sociais. Pulava cercas em rodeios alheios, e era festas sobre festas. Mas, tanto fez que certo dia, ou por cansado ou iluminado, 'mudou de trilho', passando a orar e frequentar o Templo do Senhor. Aconteceu também, que daí para frente, seus negócios pioraram, perdeu um ente querido, adoeceu, se vendo em constantes apuros. Certo dia, um amigo não se conteve: 'Mas Ferreiro, desde que abandonaste 'a vida fácil', as coisas passaram a se complicar contigo. Onde estão as tuas orações?'. O Ferreiro lhe respondeu: Meu amigo, passei a vida malhando o aço, que da forja ia para a bigorna, passando aos golpes da água fria, se transformando no final, nesta linda e pura espada. Assim somos nós perante o Senhor, que depois dos sacrifícios, nos transforma em lindas e puras almas. Certos aços não resistem ao fogo e ao choque da água fria, e racham, ficando naquelas sucatas, que observas no lado de fora da oficina, e são jogadas fora, como as almas desprezadas pelo Criador.


FECHANDO A PORTEIRA.
Nosso ego precisa de alimento?
Outro dia certo amigo extravasou: "Estou com meu ego alimentado". Pensei muito na sua afirmativa. Que alimento será este? Pensem bastante antes da resposta. Eu já pensei vinte vezes, e acho que ainda é pouco. Certamente a maioria precisa de elogios, ou seja, reconhecimentos por seus feitos, suas habilidades, seus predicados físicos. Antecipo minha resposta, na afirmação do que sempre repito - tudo é de dentro para fora! O que vem de fora para dentro, além daquele arroz com feijão, não me alimentará, e qualquer destes alimentos não me fará bem. O único alimento que me fará bem será o AMOR que eu possa ofertar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Boletim 86

ABRINDO A PORTEIRA.
Qual o sentido da vida?
Sei que será difícil para muitos lerem estas coisas "pesadas", mas creio que fazem parte da vida. Para aqueles que gostam de pensar, procurando outro caminho, que não seja o da "boa vida", peço me acompanhar num raciocínio simples: "o que levamos desta vida?" Poderão até mudar o sentido da frase: "o que buscamos nesta vida?" Antecipo-me à vocês: "busco amar a todas as criaturas, e só fazer o bem, desejando Paz e o Respeito, lema do Galpão do GaloVelho". Você crê em alma? Então Roberto Shinyashiki diz: "Escute sua alma, ela tem a orientação sobre qual caminho seguir".

GALPÃO.
Voltando ao mate.
Outro dia na beira de um fogo forte, no Galpão do Galo Velho, voltou a conversa do mate. Não gosto de comentar como se faz um mate, pois já tomei mate com um gringo, que fez uma "batida" da erva dentro do porongo, depois armou o mate, e que baita mate! Então, cada um que faça seu mate como melhor lhe prover, entretanto, nosso dever é manter as Leis do Mate. A primeira delas: "Mate não se pede". Tempos atrás recebi na Sant´Anna um amigo, que lá fora comprar uns terneiros. Trazia uma térmica de baixo do braço, e uma cuia de bom mate na mão. Terminou com a água, e pediu que esquentasse mais uma térmica para ele. Fiz, e entreguei a ele, sem que me ofertasse um só mate. Não me ofendi, pois mate não se pede, se oferta. Aquele amigo podia muito bem se sentir doente, buscando matear sozinho. Agora, se ele chegasse em minha morada, logo lhe ofertaria um mate, que é símbolo da hospitalidade gaúcha. Normalmente a gente agradece, quando nota que é mate de família. Numa roda de mate, entretanto, não se recusa o serviço a quem quer que seja, cabendo agradecer, em se notando que tem algum gaúcho "mal lavado".

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A faca e o computador.
Observem a faca na "passarinha" do campeiro Galo Velho, estampada neste boletim. Ela era a ferramenta de ontem, que hoje foi substituída pelo computador. Não riam. Naquele tempo tudo era feito com a faca, "instrumento" do dia a dia, que cada um queria ter a melhor, como os computadores de hoje. Quando não era para carnear, depois de sangrar, era coureando, já que naquele tempo, morria muito bicho nos campos. Quem sabe para picar um fumo em rama, sovar uma palha de milho para o cigarro, abrir uma manta de charque, pelar o couro de um porco, para picar um bom toucinho, cortar um palito para os dentes, pelar um espeto, cortar uma guanxuma para uma vassoura. Churrasquear então, que era o que mais se fazia, as facas não descansavam. Hoje se vê pouco gaúcho com faca na cintura, pois os serviços acima referidos não existem mais. Até mesmo quando morre algum animal no campo, ele é enterrado como os defuntos, evitando as "carniças" e os urubus, animais "transmissores" das doenças. Viva os bons tempos modernos, como diz um amigo meu, mas jamais esqueçamos o passado, que nos construiu os dias de hoje.

FECHANDO A PORTEIRA.
O fim de mais um ano.
Pois entrando em um shopping de Porto Alegre, deparei com um verdadeiro Natal, o que me reportou ao fim de 2011. Ainda me parece sentir o gosto daquele espumante, quando da entrada deste novo século. Felizes de nós, que estamos assistindo, e que possamos ser agradecidos ao Senhor dos Mundos, que por ser Criador de Todas as Coisas, nos diz que nada nos pertence. Nem mesmo aprendemos a cultivar o verdadeiro amor em nossos corações, único bem que poderemos carregar para o além.

domingo, 6 de novembro de 2011

Boletim 85

ABRINDO A PORTEIRA.
Uma simples pescaria.
O poeta já escreveu, há muitos anos passados, que é nas simples coisas da vida que está a verdadeira felicidade. Pois numa simples pescaria vivemos momentos de intensa felicidade. Não por pescarmos muitos peixes, pois todos foram soltos no Rio Paraná. Vivemos o companheirismo e vivemos a natureza. Existe algo mais simples do que a natureza? Claro, ela por vezes também se violenta, mas não quero me deter neste aspecto. Um rio, uma água cristalina, os pássaros, os animais, a vida correndo como as correntes das águas calmas. Um neto ao meu lado, e a emoção do primeiro dourado. Maior emoção ainda, quando o soltou nas águas do rio.





Os dois momentos. A alegria da captura e a outra grande alegria a da soltura.
Junto a ele uma natureza viva, tão ativa em nosso Pampa, que cada dia nos afasta mais, neste "entrechoque de guampas".







GALPÃO.
A solidão.
Nada mais triste que a solidão. Assim fico imaginando meu Galpão do Galo Velho "solito", apenas iluminado pelas chamas de um fogo mixe, alimentado por outras mãos que não sejam as minhas. Fico alegre apenas pela irmandade que lá habita, na "fumaça" dos negros velhos que partiram, deixando na terra o "suor" de suas labutas, quando rezo a preçe ao Senhor Criador dos Mundos, que permita a PAZ entre os homens.

HISTORIAS QUE ME CONTARAM.
O taura Belarmindo (última parte)
Revólver trinta e dois de cano longo fincado por cima da guaiaca, com mais de cem balas espalhadas pelos costados, "em riba" uma faca com cabo de prata reluzindo contra a escuridão. Ao longe, escutava-se uma rancheira bem campeana, relinchando pelos campos e matos da serra. "O homem", veio pé, entre-pé, pelos fundos da casa, deixou a viola pendurada na travessa do galpão, junto ao cavalo crioulo enfrenado para a uma fuga rápida.
Apenas Deus por testumunho...
Agora, um xote bem lasquiado, retumbava nas tábuas do velho salão, pé, entre-pé... Como um gato Belarmino voou até a janela da cozinha, lá estava ela, cabelos negros escorridos frente a uma lampião esfumaçado, sozinha, contemplando a noite, com seu vestido de chita, todo enfeitado de fita... Ah! já sentia o seu perfume e o seu grito assustado...
Foi um bote só, o vestido esparramava-se no vulto da noite, a presa estava segura, o cavalo já pronto, e a china crinuda esvoaçava os cabelos junto ao rosto do valente Belarmino campeador que se jogou no sumiço da noite...
Interessante, pensou, de repente, nenhum grito... a prenda deve ter desmaiado e já se foi em direção ao rancho. Já com um ponta pé derruba a porta de tramela, e atira a carga preciosa sobre a cama...
Silêncio. Nada. Nenhum grito.
De repente deu por falta do revólver, havia caído no pulo e, agora...
Porta entramelada, faca na mão, nada! A noite gemia em solidão total.
Pé, entre-pé, Belarmino acende o lampião para acorar a "presa", leva na mão esquerda uma caneca de água fria, mas quando chega a luz no rosto da mulher amada... Houve-se um grito e mais um grito...
Um grito de pavor do próprio Belarmino
Dona Esmerenciana, a Senhora aqui!!!!!!!
E ela, a coitada, atira-se nos braços do seu raptor e lhe murmura:
Belarmino meu amor! Vem para os meus braços!!!
O homem dá mais um salto para trás... Pula, porta afora quem nem um gato. Olha prôs céus e grita: - e agora, meu Deus...?
Tinham preparado mais esta para o Belarmino... Dona Esmerenciana, ali estava, esparramada, cheia de amor prá dar, já nos seus setenta e tantos anos de idade, carcomida pelo tempo de trabalho com os malditos Demencianos, gritando por seu amado...???
Ah! Dizem que até hoje, ninguém mais soube do taura Belarmino, entrou noite mais uma vez, saiu sem se despedir de ninguém, sumiu e, lá, na tapera, alguém ainda grita na assombração da noite:
Belarmino vem cá, Belarmino, estou cheia de amor prá dar!

FECHANDO A PORTEIRA.
O artificialismo.
Parece que hoje tudo é artificial. Não estou falando nas bebidas e comidas, falo de nós mesmos. A vaidade nos transforma, e quando vejo os jovens taparem seus corpos com tatuagens, afirmo que é para chamar a atenção dos outros, quando a verdade nos diz, que devemos chamar a atenção para nossos interiores. Tudo é de dentro para fora, nada é de fora para dentro.

domingo, 9 de outubro de 2011

Boletim 84

ABRINDO A PORTEIRA.
Ontem, hoje e amanhã.

O presente, o passado e o futuro. Sempre meditei muito sobre o tempo dos verbos, mas como sou o sujeito da história fico buscando o complemento das coisas. Ainda não consegui descobrir se é o tempo que me consome, ou se eu consumo o tempo. Tudo está no tempo do verbo. O ontem, ou o passado, é que nos alimenta, enquanto o amanhã, ou o futuro, só nos preocupa. Quem vive o presente, e qual é o tempo deste presente? Ele dura uma hora, um minuto, um momento, e já é passado! Então o que é o presente? É contemplar o bater das asas da borboleta, apreciar seu colorido, e seu reflexo nos raios de Sol. Não, não é poesia, é apenas o viver, sem pensar ou programar o amanhã, pois ele não nos pertence, e nós não o faremos acontecer. Deixemos acontecer. Deus nos ofertou apenas o presente, e é nele que vamos acontecer.



GALPÃO.

O amanhã!

Recebi da Internet, sem assinatura do autor. Como gostaria de conhecer este Desconhecido!

"No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro:

-Você acredita na vida após o nascimento?

-Certamente que sim. Algo tem de haver após o nascimento! Talvez estejamos aqui, principalmente, porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

-Bobagem, não há vida após o nascimento. E como verdadeiramente seria essa vida, se ela existisse?

-Eu não sei exatamente, mas por certo haverá mais luz lá do que aqui... Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comamos com a boca.

-Isso é absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: a vida, após o nascimento, está excluída - o cordão umbilical é muito curto!

-Na verdade, certamente, há algo depois do nascimento. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui...

-Mas ninguém nunca voltou de lá, para falar sobre isso. O parto apenas encerra a vida. E, afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada da escuridão.

-Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

-Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?

-Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e, através dela, nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria!

-Eu não acredito. Eu nunca vi nenhuma mamãe. Por isso, é claro, que não existe mamãe nenhuma!

-Bem , mas às vezes quando estamos em silêncio, podemos ouvi-la cantando; ou sentimos como ela afaga nosso mundo... Saiba, eu penso que só depois de nascidos nossa vida será mais "real", pois ela tomará nova dimensão. Porque aqui, onde estamos agora, apenas estamos nos preparando para essa outra vida..."



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

O taura Belamino. (IIº Capítulo)

"Vários gaudérios tinham prometido a ela, até mesmo, uma tropa de gado, o melhor prêmio dos rodeios, ainda que fosse só para sorver-lhe uma gota só, do precioso líquido perfumado e misterioso de um beijo seu, e nada... ingrata como ela, todos morreram de sede.

Muita bota, já havia sido gasta pelos salões das redondezas, mas ninguém até agora, conseguira, a não ser por uns minutos, tê-la ou vê-la, em seus braços endiabrados e fugazes pelos salões. A sua beleza era tanta que já havia ultrapassado fronteiras e, muitos, vinham de longe, só para vê-la. Outros, ficavam de tocaia, ao redor do rancho do Seu Demenciano, descobertos, passavam muitos dias, a curar as feridas, dos tiros de garrucha-de-sal, dados nos traseiros dos gaudérios em fuga, pela pontaria certeira do velho Demenciano.

O nome da rapariga tornou-se lendário e, com o tempo, o Salão dos Demencianos, passou-se a chamar-se o Salão da Ana Maria. Nome dado a ela, por seu velho pai, em homenagem aquela mulher de outrora, grande guerreira, linda e meiga como ela só, a mais valente das catarinenses-gaúchas: Anita Garibaldi.

Belarmino sabia da existência da bela prenda e havia prometido tê-la com ela um dia, custasse o que custasse, houvesse o que houvesse e disse consigo mesmo: é hoje, o tempo chegou.

Encilhou o cavalo, arrumou os aperos, jogou mais alguns trastes sobre os pelegos, enroscou nos bastos do arreio uma viola afinada, acariciou o pelo negro do cavalo crioulo, e foi dando de rédeas lá prá direção dos Demencianos.

A noite, parecia que também conspirava. Havia um silêncio no ar, onde cada passada do cavalo, prenunciava-se como algo nunca acontecido. O quero-quero altaneiro do rincão, de repente jogou-se no ar do poente, a fim de dar passagem a um cavaleiro que parecia levar o destino. Lá longe, um cachorro perdido, acuava para a solidão do além, numa noite pachorrenta e enfumaçada.

Passo a passo, cavalo e cavaleiro, formavam uma coisa só, indo em direção a grande encruzilhada da vida, no movimento incerto dos dias que ainda não aconteceram. Belarmino, "cuera de sete costados" havia bolado um plano, a seu ver, infalível, porque naquela época, "mulher roubada" era de pleno consentimento social, era o jeito, o que fazer, nem que quisesse não poderia haver devolução. Mulher roubada, era mulher usada! E Belarmino já ajeitava os bigodes dos doces beijos que levaria."

(continua no próximo capítulo)



FECHANDO A PORTEIRA.

Apenas enviando as bênçãos de PAZ E RESPEITO do Galo Velho, a todos vocês, rogando que saibam beber as gotas preciosas do presente, presente de Deus.

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”