quinta-feira, 26 de julho de 2012

Boletim 105

ABRINDO A PORTEIRA.
O Rancho de leivas.
A contemplação desta figura, para poucos viventes  como eu, dá saudade triste na lembrança das pobrezas que ali viveram. Entretanto, era um tempo em que o dinheiro não tinha o valor de hoje, e o homem conseguia desfrutar sua felicidade, com comida farta, e a família no seu convívio diário. Causa curiosidade como era feita esta rústica habitação, e por tal pesquisei, encontrando um belo trabalho da Dra. Raquel Morgado, da URCAMP de Bagé. Um longo e proveitoso artigo, que transcrevo apenas alguns parágrafos.

"A técnica de construção dos ranchos, trazida pelos primeiros imigrantes europeus da península ibérica (notadamente portugueses e espanhóis) misturou-se ao conhecimento dos povos indígenas (charruas, guenoas e minuanos) e adaptou-se ao clima e à cultura local. Sua expansão na região atravessou o Uruguai e veio para a fronteira com o Brasil.

Analise dos ranchos de torrão de leiva, situados na região da Lata e do Minuano, no município de Aceguá, fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Trata-se de moradias erguidas com blocos maciços de vegetação rasteira, onde o solo cumpre com a característica de resistência à compressão e as raízes e folhas fortalecem a resistência à tração. Meses depois da construção, o torrão deixa vazios com ar que contribuem para o isolamento térmico e acústico da construção. A cobertura tradicionalmente é feita de capim Santa Fé, vegetação de áreas úmidas típica da pampa.

Aceguá ou Yace Guab em guarani, provavelmente já foi utilizada pelos povos autóctones da região como cemitério. A palavra significa “local de descanso eterno” indica o lugar que os indígenas escolhiam para viver seus últimos dias. A topografia proporcionava uma visão panorâmica da região e a proximidade com o céu. A essa origem quase alegórica, reúne-se o resultado do comércio informal, assentado numa fronteira seca, entre a banda oriental (Uruguai) e a banda ocidental (Brasil). Deste lado, foi emancipada do município de Bagé em 1996.

A vegetação rasteira estabelece uma malha, tanto interna (raízes) como superficial, contribuindo para a compacividade desse bloco, denominado leiva. O rancho de torrão faz uso do solo superficial horizonte A, com matéria orgânica, diferentemente da maioria da outras técnicas de construção em terra onde o solo indicado é do horizonte B, com um solo mais mineral e sem matéria orgânica. O torrão conta com vegetação rasteira, e preferencialmente úmido, cortado com a pá de corte, ferramenta de metal com as dimensões de 20 cm por 30 cm. Assim é colocada uma linha ou tabua e as leivas são cortadas de forma linear com 40 cm de comprimento longitudinal da peça.

O rancho está distribuído em sala e dois dormitórios, separados por divisórias de madeira que estão localizadas embaixo das tesouras do telhado. O sanitário e a cozinha estão localizados próximos da casa. Não há revestimento no piso, os três cômodos da casa são de chão batido." 

GALPÃO.
Ainda o rancho.
Este rancho aí de cima se parece com aquele do Zé Grande, velho empregado da Fazenda da Quinta, que permaneceu na Sant´Anna, com seu desmembramento. Lembro dele como tapera, e meus pais me assustando que ali era local de cobras venenosas. Já contei que o Zé Grande, por ser bom de pontaria, era quem matava éguas ao comando de meu Papai, numa época em que os cavalares, que foram as grandes riquezas das fazendas, passaram a perder seu valor, devido o fim das revoluções gaúchas. A última batalha a cavalo aconteceu em 1923, depois veio a mecanização.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Zé Grande.
Papai contava, que o Zé Grande era "meia-língua", pronunciando mal as palavras, mas se destacando por ser, além de bom e confiável empregado, o melhor assador dos churrasco na fazenda. Quando chegava na hora de servir, era seu jargão: Tá "plonto", mais "clú" come o "tigue" e "veve" "goldo".

FECHANDO A PORTEIRA.
Esqueci aberta...

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”