domingo, 6 de novembro de 2011

Boletim 85

ABRINDO A PORTEIRA.
Uma simples pescaria.
O poeta já escreveu, há muitos anos passados, que é nas simples coisas da vida que está a verdadeira felicidade. Pois numa simples pescaria vivemos momentos de intensa felicidade. Não por pescarmos muitos peixes, pois todos foram soltos no Rio Paraná. Vivemos o companheirismo e vivemos a natureza. Existe algo mais simples do que a natureza? Claro, ela por vezes também se violenta, mas não quero me deter neste aspecto. Um rio, uma água cristalina, os pássaros, os animais, a vida correndo como as correntes das águas calmas. Um neto ao meu lado, e a emoção do primeiro dourado. Maior emoção ainda, quando o soltou nas águas do rio.





Os dois momentos. A alegria da captura e a outra grande alegria a da soltura.
Junto a ele uma natureza viva, tão ativa em nosso Pampa, que cada dia nos afasta mais, neste "entrechoque de guampas".







GALPÃO.
A solidão.
Nada mais triste que a solidão. Assim fico imaginando meu Galpão do Galo Velho "solito", apenas iluminado pelas chamas de um fogo mixe, alimentado por outras mãos que não sejam as minhas. Fico alegre apenas pela irmandade que lá habita, na "fumaça" dos negros velhos que partiram, deixando na terra o "suor" de suas labutas, quando rezo a preçe ao Senhor Criador dos Mundos, que permita a PAZ entre os homens.

HISTORIAS QUE ME CONTARAM.
O taura Belarmindo (última parte)
Revólver trinta e dois de cano longo fincado por cima da guaiaca, com mais de cem balas espalhadas pelos costados, "em riba" uma faca com cabo de prata reluzindo contra a escuridão. Ao longe, escutava-se uma rancheira bem campeana, relinchando pelos campos e matos da serra. "O homem", veio pé, entre-pé, pelos fundos da casa, deixou a viola pendurada na travessa do galpão, junto ao cavalo crioulo enfrenado para a uma fuga rápida.
Apenas Deus por testumunho...
Agora, um xote bem lasquiado, retumbava nas tábuas do velho salão, pé, entre-pé... Como um gato Belarmino voou até a janela da cozinha, lá estava ela, cabelos negros escorridos frente a uma lampião esfumaçado, sozinha, contemplando a noite, com seu vestido de chita, todo enfeitado de fita... Ah! já sentia o seu perfume e o seu grito assustado...
Foi um bote só, o vestido esparramava-se no vulto da noite, a presa estava segura, o cavalo já pronto, e a china crinuda esvoaçava os cabelos junto ao rosto do valente Belarmino campeador que se jogou no sumiço da noite...
Interessante, pensou, de repente, nenhum grito... a prenda deve ter desmaiado e já se foi em direção ao rancho. Já com um ponta pé derruba a porta de tramela, e atira a carga preciosa sobre a cama...
Silêncio. Nada. Nenhum grito.
De repente deu por falta do revólver, havia caído no pulo e, agora...
Porta entramelada, faca na mão, nada! A noite gemia em solidão total.
Pé, entre-pé, Belarmino acende o lampião para acorar a "presa", leva na mão esquerda uma caneca de água fria, mas quando chega a luz no rosto da mulher amada... Houve-se um grito e mais um grito...
Um grito de pavor do próprio Belarmino
Dona Esmerenciana, a Senhora aqui!!!!!!!
E ela, a coitada, atira-se nos braços do seu raptor e lhe murmura:
Belarmino meu amor! Vem para os meus braços!!!
O homem dá mais um salto para trás... Pula, porta afora quem nem um gato. Olha prôs céus e grita: - e agora, meu Deus...?
Tinham preparado mais esta para o Belarmino... Dona Esmerenciana, ali estava, esparramada, cheia de amor prá dar, já nos seus setenta e tantos anos de idade, carcomida pelo tempo de trabalho com os malditos Demencianos, gritando por seu amado...???
Ah! Dizem que até hoje, ninguém mais soube do taura Belarmino, entrou noite mais uma vez, saiu sem se despedir de ninguém, sumiu e, lá, na tapera, alguém ainda grita na assombração da noite:
Belarmino vem cá, Belarmino, estou cheia de amor prá dar!

FECHANDO A PORTEIRA.
O artificialismo.
Parece que hoje tudo é artificial. Não estou falando nas bebidas e comidas, falo de nós mesmos. A vaidade nos transforma, e quando vejo os jovens taparem seus corpos com tatuagens, afirmo que é para chamar a atenção dos outros, quando a verdade nos diz, que devemos chamar a atenção para nossos interiores. Tudo é de dentro para fora, nada é de fora para dentro.

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”