terça-feira, 5 de abril de 2011

Boletim 70

ABRINDO A PORTEIRA. Fundação da Várig. No dia 27 de janeiro de 1927 surgia no Rio Grande do Sul, o sonho de um transporte mais rápido na zona sul do Estado, onde não tínhamos a linha férrea, a qual foi o marco de desenvolvimento da zona norte. Foi mais fácil vencer as montanhas, do que o monte de rios de nossa várzea sulina. Este sonho foi concretizado com a compra do hidroavião Dornier Wal, o "Atlântico", quando Otto Ernst Meyer, ex-oficial da Força Aérea Alemã na I Guerra Mundial, viajou à Alemanha, firmando acordo com a Condor Syndikat no fretamento do Atlântico. Naquele dia 27 de janeiro ele amerissou (a gente sabe que o Guaíba não é mar, mas vai assim mesmo) no estuário do Guaíba, para espanto dos portoalegrenses. Sete dias depois, ou seja, no dia 3 de fevereiro o Atlântico fez sua primeira viagem à Rio Grande, com apenas dois passageiros, Guilherme Gastal e João Oliveira Goulart, e algumas malas postais. O voo consistia numa escala em Pelotas. A equipe consistia de um mecânico e segundo piloto, Franz Nuelle e um engenheiro Max Sauer. * Dados colhidos no "Almanaque Gaúcho" do jornal a Zero Hora de 15.o3.2011.

GALPÃO.
A história do "Baaaa!" gaúcho.
Vou repetir lá de um boletim passado, afinal velho está sempre repetindo... Aquele hidroavião Atlântico àcima descrito, fazia a rota Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande, que eram na época as cidades mais populosas do Estado. Considere-se ainda que a região é muito alagada, além da Lagoa dos Patos, outras pequenas lagoas e vários rios, onde o Atlântico facilmente desceria. Por uma questão de segurança e economia de voo, o Atlântico voava a pouca altura, sempre sobre a Lagoa dos Patos. Contam então, que dois gaúchos pescavam tranquilamente à margem da lagoa, quando passou baixo aquele bruto "pássaro voador", portando o prefixo BAAA, tendo um deles gritado "Baaaa!". Desde então a gauchada se acostumou a usar o "baaa!".

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Mais histórias do Atlântico. Também é repetição, hoje estou impossível! Certo dia o Atlântico voava de Pelotas à Porto Alegre, quando sofreu uma pane no seu motor, descendo na Lagoa do Guaraxaim. Os dois pilotos alemães o amarraram numa árvore, saindo a procura de gente. Deram num rancho, onde foram informados, que havia uma grande fazenda ali perto, para onde foram conduzidos numa carroça. Era a Fazenda da Quinta, propriedade de meus avôs maternos, Centeno Pereira da Silva. Depois da recepção e identificações num "portukes" medonho, foram alojados no "quarto de fora", onde era costume se hospedar estranhos. Quando um empregado chegou convidando-os à jantarem, perguntaram onde seriam servidos, e informados que seria na Casa Grande, ali bateram à porta, e para a surpresa da família estavam trajando smooking. Imaginem o susto daqueles meus parentes, que mesmo sendo ricos eram dotados de grande simplicidade. Mas a história só terminou dois dias depois, quando foram conduzidos ao local que haviam deixado o Atlântico, e para espanto de todos ele lá não se encontrava mais. Roubo! Só se acalmaram, quando o "próprio", que fora enviado à Vila São João de Camaquã, retornou com a notícia que a Varig havia rebocado o avião para Porto Alegre, após darem falta do mesmo.

FECHANDO A PORTEIRA. Deixo a porteira aberta... É tanta história, que vou deixar a história da Fazenda Sant´Anna para o próximo boletim.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Boletim 69

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda Sant´Anna - Formação.
Com a morte de minha avó materna, Anna América Centeno Pereira da Silva, no ano de 1929, viúva de Adolfo Luiz Pereira da Silva, a Fazenda da Quinta foi dividida entre seus quatro filhos - Thereza, minha mãe já casada com meu pai Mário, Sylvio Luiz, Maria e Francisco Luiz. Minha avó paterna, Faustina Pereira da Silva Azambuja, e irmã de Adolfo Luiz, recebeu a metade, ou seja, cinco mil hectares, que compuseram a Fazenda da Santa Tereza. Meu Pai separou a sua parte de aproximadamente um mil e duzentos hectares, iniciando suas atividades rurais, justamente no ano de 1930, no auge da grande crise econômica mundial, com o "crack" da bolsa americana.

GALPÃO.
Cópia antiga - Reverência ao passado.
"Sala grande chão batido, onde passei minha infância. Querido Galpão de Estância, que foste um dia meu lar. Hoje aqui venho rezar, saudoso do teu afago, catedral xucra do pago, de joelhos em teu altar". Assim poetizou o grande Jayme Caetano Braum. Assim me justifico na reverência ao Galpão do Galo Velho, como um templo de RESPEITO, onde acendo lumes para clarear a bruma do tempo, perfumando espaços, no deleite e descanso dos que partiram, ofertando orações na busca de aplainar o longo caminho do ocaso eterno. O gesto final de depositar flores do campo, junto à foto da Mamãe é símbolo da natureza, expressão do Criador dos Mundos, e a imensidão da várzea que a criou, junto da família Centeno Pereira da Silva, da Fazenda da Quinta.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda meu alegre tio Lauro.
O guasqueiro surdo mudo, Ato Azambuja Barbosa, costumava passar vários dias na Santa Tereza, trabalhando as cordas dos campeiros, mas também os "correames" das jardineiras, carroças e carroções de granja. Era muito serviço. Certo dia meu tio preparou uma brincadeira. Sabendo do quarto onde ele dormia, com a cama junto da parede da casinha, que era então de tábua, mediu exatamente a posição do rosto do mudo, e fez um furo com a pua na parede, preparando ainda um tampão da mesma cor da madeira. Quando o guasqueiro deitou após o almoço para a sesta (ela era tão sagrada naquele tempo, que alguns usavam até pijama para o ato) tio Lauro espiou a cara do mudo dormindo e se utilizando de um canudo, encheu a boca d´água, e esborrifou na sua cara, tampando o buraco. Foi um "deus nos acuda", com o Ato correndo porta à fora, e pronunciando a única palavra que conseguira aprender na vida: "ivigonha", ou seja, sem vergonha. Mas o que mais lhe aturdia era saber como fora molhado. Meu tio nunca contou da sua "engenharia".
Sou testemunha do fato.

FECHANDO A PORTEIRA.
A alegria do "outro tempo".
Quem viveu os "dois tempos" pode fazer uma comparação. A mim parece que o mundo de hoje perdeu a alegria. Poderia me atrever dizendo que perdeu o conteúdo de vida. Materializamos demais. O desenvolvimento da tecnologia fez o homem se fechar em casa, além de procurar abrigo da violência das ruas. Não temos tempo para visitar os amigos, e até mesmo os parentes. Escrevo relembrando as brincadeiras do meu Tio Lauro, e tantas outras, naquela tranquilidade de antanho. Costumo receber críticas verbais de um amigo, que não permite comparar as coisas, dizendo que hoje é muito melhor. Concordo. Hoje se vive melhor, mas só materialmente. Antigamente tínhamos muito pouco, mas muito mais de calor humano. Espiritualmente as igrejas de hoje estão vazias, comparando com o outro tempo, quando tínhamos 20% da população de agora. Sim, eu sei que as igrejas dos gritões desesperados estão repletas, mas aquilo não é fé, é desespero por um milagre, que jamais acontecerá. Só fará milagre no bolso dos seus "donos". Cada um cuida só de sí, ou do seu dinheiro. Deixamos de amar o próximo, enquanto nossos próximos irmãos de São Lourenço do Sul estão necessitando de muito calor humano.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Boletim 68

ABRINDO A POREIRA.
Fazenda Sant´Anna - 1
Mesmo antes de falar da minha Fazenda Sant´Anna quero fazer um "mapa", da situação atual daquela área, que foi a Fazenda da Quinta. Os irmãos Bezerra, Luiz Antônio, José Augusto e Ana Maria, são proprietários da sede antiga, e deteem aproximadamente 800 hectares de terra no entorno da mesma. A Fazenda Sant´Anna, com sua sede e as duas casas dos filhos, mantém aproximadamente 400 hectares. A fazenda Santa Tereza, do primo Ney Artur Azambuja, com sua sede, possui cerca de 2.500 hectares de campo. A Fazenda do Posto, do primo Cesar Augusto Luiz Pereira da Silva, com sua sede, tem aproximadamente 800 hectares de terra. A prima Rosa Maria Carmona, ex-esposa do falecido primo, Marco Antônio Luiz Pereira da Silva, possui uma área de campo de aproximadamente 300 hectares, e o primo Luiz Alberto Azambuja possui uma sede, com a área de 100 hectares aproximadamente. Somando os herdeiros da Quinta temos mais ou menos 3.200 ha, pouco menos de 1/3 daquela área de dez mil hectares. Os outros 2/3 estão com a Pontal Agropecuária, Eduardo Corbeta, Evandro Verza, Leopoldo Bartz, Adão Cláudio da Silveira e outros. Estes dados forneço de "ouvido", e espero contestações.

GALPÃO.
Pois o tempo passou, ou melhor, as férias passaram, quando os netos retornaram às suas atividades normais. Não é normal a Sant´Anna ficar sem as suas presenças. Não posso me queixar, pois até eu mesmo pouco ali parei. Verdade que por motivo de uma cirurgia de hérnia inguinal. Vamos considerar que as sedes das fazendas tendem a desaparecer, salvo se o fazendeiro não tiver residência na cidade, e morar definitivamente no campo. Lembro de meu avô Ney dizer: "Gaúcho tem de ter apenas uma cama". Sei que a referência era para não terem "filiais", mas pergunto: Quantas camas vocês teem? Só a renda do campo comporta isso? Atrevo-me a responder que não.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Meu Tio Lauro era um homem muito alegre, antes de adoecer, e me contavas as brincadeiras que fazia com os amigos, pregando "peças" à eles. Sady Scherer, por seu espírito também alegre, era o que mais sofria. O "guasqueiro" das fazendas era um parente nosso, Ato Azambuja Barbosa, surdo-mudo, que "parava" em um quarto da "casinha", aquela anexa à sede principal da Fazenda Santa Tereza, e o Sady, assim como outros convidados, parava no quarto maior dela. Certa noite, Tio Lauro pediu ao Sady que fizesse cócegas nos pés do Ato. Brincalhão, ele topou, e chegando na cama do Ato, procurando por seus pés, disse - Lauro, o surdo não está na cama, não acho os pés dele. Acontece que Tio Lauro o havia avisado, que Sady iria lhe coçar os pés, no que o surdo pegou de um "rabo-de-tatu", encolhendo os pés, e ficando na espera. Tio Lauro insistiu com o Sady, para que continuasse, pois o Ato estava na cama. Não deu outra, o Ato sabendo da coisa esperou o momento certo para aplicar uma chicotada nas suas costas. Sady nem gritou, e muito quieto retornou ao quarto. Tudo estava no lusco-fusco, pois não havia luz elétrica, e tateando no escuro, no ardido de suas costas, ele encontrou a cama, mas ao deitar nela, uma bacia cheia d´água esperava por ele.
Naquele "tempo" havia tempo até para se brincar...

FECHANDO A PORTEIRA.
As perguntas...
Sou um homem mal informado. Ponto final. Não costumo fazer perguntas, e quando as faço, tenho o máximo de cuidado. Considero que perguntando estou me intrometendo na intimidade do outro. Quanto maior a amizade, maior o respeito com a intimidade do outro. Claro, que se um amigo me confidenciar algum problema, serei atento e sigiloso. Na maioria das vezes, quando alguém nos confidencia um problema, é no éco de suas próprias palavras, que encontrará a sua solução. Dificilmente o confidente dará o conselho acertado, pois, por mais amigo que seja não conhece o "íntimo" do outro. Agindo assim, serei mais "eu", deixando o outro mais "tu".

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Boletim 67

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza - 4.
Permitam que comece com Balbino Marques da Rocha, no seu poema "Laço de quatro tentos", que diz lá no meio: "Do arreio fez o seu trono, da crença xucra o destino, abarbarado e teatino, mais teimoso que um gavião. Foi mais solto do que os ventos, mais livre que os pensamentos, mais sem dono do que o chão". Assim foi o grande gaúcho Lauro Azambuja, que em 1958 sofria um AVC, um edema pulmonar agudo e, mais uma embolia, tudo em menos de uma semana. Pois resistiu, e ao se recuperar, com o carinho da enfermeira Lili, encontrou nela a sua segunda esposa. Impossibilitado de trabalhar, felizmente encontrou no irmão e sócio, Cel. Dário Silva Azambuja, o amigo na hora difícil, passando a Fazenda da Santa Tereza à sua administração, e quando de sua morte, em 27 de novembro de 1973, não tendo deixado herdeiros diretos, Dário assumiu a posse da fazenda, após a partilha dos seus bens, entre os herdeiros colaterais.

GALPÃO.
Tio Dário no Galpão.
Esta visita está registrada lá num dos livros do Galo Velho, em data que já se perde no tempo. Ele entrou com um rebenque na mão direita, seguro pelo dedo "Pai de Todos", dizendo que assim seu pai, e meu avô Ney o carregava. Presenteou-me aquela peça preciosa, feitio do velho Ato Azambuja Barbosa, e que hoje faz parte do acervo das peças campeiras do meu filho, Luis Mário. Naquela mesma oportunidade contou-me no galpão, que o primeiro aramado construído no município de Camaquã, foi na Fazenda Flor da Praia, propriedade de Bellinho Netto, filho do caudilho Zeca Netto, e construído por um tal de Taborendengui.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Malaquias 3:3 - Uma história da Bíblia.
"E assentar-se-á como o fundidor e purificador da prata..."
Uma mulher de um grupo de Etudos Bíblicos dispô-se a descobrir aquele processo de refinamento da prata. Fez então contato com um ouríves, e foi assisti-lo a trabalhar.
Pegando um pedaço de prata, ele deixou-o a esquentar, explicando que deveria mantê-lo no centro da chama, onde é mais quente. Ela pensou em Deus, que muitas vezes nos expõe a situações quentes. Perguntou ainda ao artesão se ele precisava mesmo ficar sentado todo tempo na frente do fogo. Ele disse que sim, que além de segurar a prata, tinha que manter os olhos nela todo o tempo, pois poderia ser destruída. Ela fez nova pergunta: "Como você vai saber que a prata está totalmente refinada?" Sorrindo ele disse: "Ah, isso é fácil. É quando eu vejo a minha imagem refletida nela."
Lembre-se, que os olhos de Deus estão sobre você, e que Ele vai ficar cuidando de você, até que Ele veja a Sua imagem em você.

FECHANDO A PORTEIRA.
Segurando o amor.
É preciso que vocês prestem atenção no que vou escrever.
-Ele a ama. Ama profundamente, mas não lhe entrega aquele imenso amor que carrega dentro do peito. Pode? Eu vi, pois presto atenção na vida. Coisas de velho. Não é só ele. É um monte de gente, e espero que vocês não se encontrem entre elas. Certas pessoas julgam "preservar" dentro delas, aquilo que sabem ser "ouro alquímico", e que julgam sua propriedade. A diferença é que o amor não tem dono. Não nos pertence. Vejam que estou falando do verdadeiro amor, aquele sem egoísmo, portanto, de algo que é propriedade do outro, pois por direito, deve ser recebido por ele, que "construiu" aquele amor dentro de nós. Quem escreve viveu no tempo do "puro machismo", quando a arrogância e o egoísmo predominavam nas relações humanas. Sejam humildes, pois a entrega de nossos sentimentos não nos fará falta. Quanto mais se dá, mais se recebe. Uma lição de Cristo, que a humanidade está esquecendo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Boletim 66

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza - 3 -
Após a finalização da II Guerra Mundial, com o mundo desabastecido e destruído, os produtos primários tiveram bons preços, e a agropecuário gaúcha desenvolveu-se no cenário nacional e mundial. Corria o ano de 1946 quando a firma Luiz @ Azambuja absorvia o passivo de Adriano Scherer, e em 10 de julho de 1948 criava a grande firma Arrozeira Camaquense, juntamente com outros sócios. Então, acompanhei meu tio Lauro, a quem chamava de Pado, desenvolver seus negócios, principalmente da criação do gado hereford, marca principal da Fazenda Santa Tereza, que ainda hoje meus primos, Ney Artur e Paulo Azambuja, aprimoram cada vez mais. A vida, entretanto, com suas surpresas, no ano de 1949 tirava a vida da sua esposa Maria, com a idade de 44 anos. O casal, que não tinha filhos, residira sempre na Santa Tereza, naquela faina diária de um fazendeiro exponencial, e uma companheira dedicada ao lar. Lauro viúvo estabeleceu residência em Camaquã, já contando com a participação do irmão Dário, que comandava na época a 1ª Divisão de Levantamento em Porto Alegre, no posto de Coronel.

GALPÃO.
Dentro de mim.
Sei que o tema não é galponeiro, mas só tenho este espaço. Acabo de ler um livro, cujo título é oposto ao meu, e ali vi o estrago interior em uma pessoa, que não sabe amar. A autora inclusive questiona a definição do que seja o amor, e diz claramente que não consegue atingir a essência do amor. Perdoem que este "imberbe" dê sua opinião sobre o amor entre duas pessoas, já que existem outros, e muitos outros amores.
Da maneira mais material possível, o que já é um erro, amor é uma sociedade entre duas pessoas. São 100 cotas, onde cada um deve colocar 50 cotas. Mantendo este equilíbrio viverão felizes por toda a vida. Quando um tiver colocado 75 cotas, deixando ao outro só as 25 restante, acenderá uma luz vermelha.
Parece fácil, mas não é. Parto do princípio que Deus habita em mim, e eu não poderia desmerecer o seu amor, doando a quem quer que seja, mais do que a minha metade. Creio mesmo que a Ele pertencem todas as minhas 100 cotas. Será por esta razão, que os padres católicos devem permanecer em celibato?

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
"Férias hospitalares".
Esta eu conto, pois aconteceu comigo. Operei uma hérnia inguinal no Hospital Mãe de Deus. Mãe de Deus, que atendimento de primeiro mundo! Posso dizer que é um hotel de muitas estrelas. Claro, é necessário vencer aquele "medinho", que nos assalta, quando pelados sob aquele avental mal fechado. Mas afirmo, não há risco, quando a coisa é pequena. Mas conto. Na entrada muitas perguntas e questionários a serem respondidos, como fazem os hotéis. Depois da operação vamos à peça de "recuperação", muito movimentada e até divertida, se estivermos acordados com uma raquianestesia. Claro que se passa fome nas primeiras 24 horas, comendo só gelatina. Gelatina se come? Depois é descansar, logicamente, se nos sentirmos à salvo.

FECHANDO A PORTEIRA.
Cada um, cada um!
Sobre este título deveria começar falando em RESPEITO, mas vou me referir àquilo que acontece no nosso dia a dia. Quantas e quantas vezes nos defrontamos com nossos semelhantes, principalmente nossos parentes e amigos mais próximos, querendo que eles sejam diferente daquilo que se nos apresentam. Quantas vezes, um gesto ou uma opinião, nos faz entrar em conflito com o outro. Acontece comigo, não deve ser diferente de vocês. Será que se RESPEITARMOS aquele gesto ou aquela opinião, as coisas não ficariam mais fáceis? Muitos me retrucarão - e a minha personalidade onde fica? Meu silêncio pode representar concordância. Pois creio que exatamente podemos dizer - não concordo contigo, mas te respeito. Isto irá fazer bem ao outro, mas muito mais a nós mesmos.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Boletim 65


ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza nº 2 - A sede.
Lauro Azambuja, pouco antes da 2ª Grande Guerra Mundial, construiu a atual sede da Fazenda Santa Tereza, beneficiado pela parceria agrícola com Adriano Scherer, e a firma Luiz & Azambuja, da qual detinha 1/3 de suas cotas. Foi seu construtor André Lempek, contando com o trabalho de dois amigos, Sady Scherer, e um alemão, que só lembro ser chamado de Becker. Enquanto a obra evoluía, morou com a esposa Maria, na "casinha", que ainda hoje existe, no mesmo alinhamento da Casa Grande. Lauro caracterizava-se por ser um homem sensato. Tanto, que o pai, Cel. Ney, deixou com ele a administração da grande fazenda. Era um exímio cavaleiro, como todo o Azambuja, principalmente no "pealo", arte campeira de grande utilidade, pois não havendo bretes, era nele que se imobilizavam os animais nas saídas das mangueiras. Minha formação moral deve muito a este homem, com quem convivi por muitos anos, lado a lado, e seus ensinamentos foram riquezas muito maior, do que toda herança que me aquinhoou.

Esta é a sede da Fazenda Santa Tereza, única que possuo, quando de uma reunião do Cite 9 - Cel. Dário Silva Azambuja, em 2001.


GALPÃO.
A visita do "Dono do chão".
Assim ele foi apelidado por não arredar pé do Galpão do Galo Velho, e amá-lo tanto quanto eu - João da Silva Vigano, meu capataz por 30 anos, e meu amigo pra vida inteira. Pois "veraneou" por lá, abrigado na casa do Ercílio, que agora passou a se chamar casa do João e Noeli. No seu costado a companheira amiga de sempre, Dona Noeli Rocha Vigano, acarinhados pelos netos - João Vitor, Jéssica e Bruna. Faltaram as crianças grandes - Jones, Liandra, Jussara e José Luiz, mas ficaram de voltar. João virou num engenheiro, inventando um banco desarticulado, que presenteou o galpão, e mais um queimador de incenso, verdadeiro presépio do Menino Jesus.
- João, o Galo Velho te abençoa, junto de teus familiares.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Férias.
Pois me contaram, que a maior incapacidade do homem é não descansar. Isto quer dizer não tirar férias. E agora José? Como tirar férias numa "roseta" dessas? Ainda não podemos nos queixar, pois as chuvas têm sido razoavelmente distribuídas, e nossas lavouras, mesmo com alguns problemas, ainda nos dão esperanças. "Só se perde tudo, quando se perde a esperança". Então, vamos tirar férias, mas o problema é que não se descansa "em cima" do serviço, temos que sair para o mais longe possível. Distante dos problemas, certo? Que seja! O resto que se dane, em primeiro lugar a saúde e a família.

FECHANDO A PORTEIRA.
Não vou reclamar!
Ultimamente esta tem sido minha mais difícil missão. Não vou reclamar de mais nada! Dei-me conta, que as minhas reclamações faziam mal apenas para mim. Meu interior sofria, sem produzir resultado algum em meus contendores. Vou fazer algumas considerações:
1- Com minha esposa, de 53 anos de felicidade conjugal. "As minhas reclamações produziam fortes argumentos por parte dela, acabando sempre em discussão".
2- Com meus filhos de forte amizade, de mais de cinquenta anos. "Por estar velho e considerado fora do tempo, minhas reclamações não têm fundamentos, pois os filhos estão sempre com a razão".
3- Com meus netos. "Aí não existe nenhuma reclamação. Não entendo como tudo é tão fácil"!
4- Com meus amigos de velhas amizades. "Perdi alguns por minhas reclamações fortes, e alguns também me perderam pelo mesmo motivo".
5- Com os gerentes de bancos. "Minhas reclamações nunca surtiram efeito,nunca surtem e nem nunca surtirão. Nunca resolvi, e eles nunca terão soluções".
6- No trânsito com uma carteira de mais de cinquenta anos. "Só ouvi desaforo, e ainda agradeço não ter recebido nenhum tapa, ou tiro".
Agora objetivamente:
Fiz um trato com minha esposa - Os erros serão por culpa de nós dois. Um irá assumir o erro do outro. Não façam perguntas, estamos nas preliminares...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Boletim 64

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza - nº1
A Fazenda da Santa Tereza foi desmembrada da Fazenda da Quinta, por herança de Faustina Pereira da Silva Azambuja, casada com o Cel. Ney Xavier Azambuja, proprietário por sua vez, da Fazenda da Invernada. Ela se compunha originalmente de dez mil hectares de campo, sendo que Anna América, viúva de Adolfo Luiz Pereira da Silva ficou com a metade, e a outra metade com o Cel. Ney. A Quinta foi dividida por uma linha reta, no prolongamento do canal de irrigação, que alimenta o levante d´água da Búfalo Agropecuária, denominado levante da Sant´Anna.
Quando da morte de Adolfo Luiz Pereira da Silva em 1920, aproximadamente, a fazenda passou a ser administrada pelo cunhado, Cel. Ney, pois os quatro filhos - Sylvio Luiz, Francisco Luiz, Maria e Thereza eram menores, sendo ela se manteve indivisível. Para capataz do campo chamou o filho mais velho, Mário, e para iniciar na incipiente lavoura de arroz, chamou o segundo filho mais velho, Lauro, que se instalou no Guaraxaim Velho, no local que hoje chamam de Capão do Trago, junto a ponte do arroio Guaraxim, divisa com a Fazenda do Brejo, de propriedade de Eduardo Corbetta. Sua primeira morada foi uma "bolanta" de granja, onde viveu os primeiros anos de seu casamento com Maria, a rica herdeira da Fazenda da Quinta.

GALPÃO.
O Terno de Reis.
No último dia 4 de janeiro, nossa Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros, organizou um Terno de Reis, denominado "Os Devotos", para "tirarmos um reis", na residência do amigo Odir Deantoni, na cidade de Arambaré. Noite enluarada e estrelada, com o brilho da Estrela Guia, levamos Belchior, Baltazar e Gaspar, e a presença do Menino Jesus, à residência daquele amigo, na mensagem de fé e esperança, no Ano Novo que se inicia, com prenúncios de Paz e Amor. Abaixo deixamos a imagem do Terno Os Devotos e o acolhimento dos familiares Deantoni. Já foi dito em outro boletim, que esta é a verdadeira tradição gaúcha, trazida pelos nossos ancestrais açorianos, e que deve ser cultivada para sempre. Eles não aceitam dinheiro, somente alimento e um "bom trago", para afinarem a voz, pois cantam por mais de uma hora.












Deixo alguns versos dos mais de duzentos que compõe o cancioneiro.

Saímos lá de tão longe, por ver a noite bonita.
Pra cantar o Santo Reis, e fazer uma visita".

Ao chegar no seu terreiro, com gaita e tambor na mão,
este Terno é dos amigos, cantamos por devoção.

Viemos lhe cantar o Reis, e também lhe visitar,
onde mora o Bom Jesus, onde Deus veio habitar.

Meu senhor dono da casa, escorado no portal,
mande-nos entrar pra dentro, licença peço ao casal.

Há certo improviso, já que perguntam se tem aniversariante, o nome das pessoas, e outros fatos para rimarem, naquele linguajar simples e campeiro.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda os Reis Magos. - (Wikipédia).
Belchior era um velho de setenta anos, cabelos e barba branca, da terra dos Caldeus. Gaspar,
era moço, de vinte anos, robusto e partiu da região montanhosa do Mar Cáspio, e Baltasar, era um negro mouro, de barba cerrada com quarenta anos, árabe. Eles não eram reis, talvez astrólogos ou astrônomos, pois seguiram a Estrela Guia até o Menino Jesus, aonde chegaram no dia 6 de janeiro. Ao entrarem em Jerusalém procuraram pelo Rei Herodes, perguntando pelo Menino Jesus, que seria o Rei de Israel. Herodes se assustou, e disse que assim que o encontrasse, dissessem do local, pois queria "adorá-lo", quando na verdade, sua intenção era matá-lo. Chegando ao estábulo, Belchior lhe presenteou com ouro, símbolo da realeza; Gaspar ofertou-lhe incenso, símbolo da fé e espiritualidade, e Baltasar deu-lhe mirra, uma resina, que foi usada no embalsamento do corpo de Jesus, simbolicamente representando a eternidade da alma.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o dia 6 de jeneiro.
Não gosto das tais "correntes", mas tenho vontade de formar uma, perpetuando a data dos Reis Magos. Muitos dirão que é fantasia, mas pergunto: "Essa nossa incessante troca de presentes no Natal, não é uma fantasia"? E essa fantasia não nos reporta ao dia 6 de janeiro, quando os Reis Magos ofertaram presentes ao Menino Jesus? Cultuamos os nossos parentes e amigos, e muitos se esquecem de orar pelo Menino Jesus. No dia 25 de dezembro deveríamos ofertar preces. Apenas preces, no presente de ouro, insenso e mirra à Jesus. Então no dia 6 de janeiro, "fantasiados" de Reis Magos, sem neve e sem trenó, deveríamos presentear os amigos e parentes. Sonho meu ...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Boletim 63

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 10ª - A grande divisão.
A Fazenda da Quinta fez parte da grande sesmaria da Flor da Praia, herança de Faustina Maria Centeno, filha do Sargento Mór Boaventura José Centeno. Por morte de Anna América Centeno Pereira da Silva, em 1930, viúva de Adolfo Luiz Pereira da Silva e neto de Boaventura, ela foi dividida entre seus filhos: Thereza, casada com meu pai Mário Azambuja; Sylvio Luiz; Francisco Luiz, e Maria, casada com Lauro Azambuja. Ela constava de dez mil hectares, pertencentes a Adolfo e sua irmã Faustina, casada com Ney Azambuja. Por morte de Anna América, sua sogra e tia, meu Pai separou seu quinhão, de aproximadamente 1.200 ha. constituindo a Fazenda Sant´Anna, enquanto Sylvio, Francisco e Lauro, criaram a firma Luiz & Azambuja, mantendo seus campos indivisíveis e contínuos, no qual Lauro incorporou os campos da esposa Maria. Retrocedendo no tempo, quando da morte de meu avô materno, Adolfo Luiz, meu avô paterno, Ney Azambuja, casado com a sua irmã Faustina, recebeu de herança a Fazenda Santa Tereza, com aproximadamente cinco mil hectares, administrada pelo filho Lauro Azambuja, casado com a prima Maria. Eram os casamentos entre primos, realizados com muito gosto pelos fazendeiros, por manterem seus campos "em família".


GALPÃO.
A inauguração do "matadouro".
Na grande reforma do Galpão do Galo Velho, o Luis Mário construiu um verdadeiro "matadouro". O quarto da carne já existia, peça indispensável em todo o galpão de fazenda, mas a coisa evoluiu, e mesmo faltando alguns detalhes, ele foi inaugurado na véspera deste Natal, quando nosso "Castiano" matou um boi preto de 470 quilos, com apenas dois anos de idade. Um colosso, quando trabalhamos aquela carne na divisão de seus cortes, e na limpeza dos mesmos. Foi uma "baita" lida, mas nada de pesada, pois é tradição, e tradição nunca cansa.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Esta eu conto: Fazendeiro poeta.
De certa feita, conversando com meu vizinho Eduardo Corbetta, ouvi dele a seguinte frase: "Fernando o campo não tem mais lugar para fazendeiro poeta". Foi uma bofetada no lado da minha cara, e humildemente ofertei o outro lado, tamanha a assertiva de sua afirmação. O campo hoje é uma "casa de negócios", e quem não souber negociar está frito. Eu trago ainda experiência de um outro tempo, quando o campo tinha rendas. Tanta renda que mesmo errando a gente ganhava. Os tempos mudaram, quando os bancos descobriram o nosso filão, e ficaram com a maior parte dele. Só sobreviverá quem não desfrutar do "ar condicionado" dos bancos. Afirmo e assino.

FECHANDO A PORTEIRA.
Um novo Ano Novo.
Termina mais um ano dos muitos já vividos. Mas logo ali, como um dia novo nascendo, surge um novo Ano Novo, alimentando nossas esperanças de dias melhores. Dias melhores? Mas o que queremos? O que nos falta, se Deus nos dá de graça, tudo aquilo que o dinheiro não compra! -"Que mais tu queres Quero Quero louco? Achas que o que tu tens é pouco, bichinho gritador? Já não te basta esta fralda de coxilha, onde se aviva o verde da flechilha, na quarela dos bibis em flor, por onde o Sol se embreta, enciumado, quando a Estrela Boieira pisca o olho pra noite que vem vindo logo ali. Que mais tu queres Quero Quero triste? Que mais te falta para ser feliz? Porque ainda neste grito insistes, se ninguém sabe o que este grito diz? -Amigos, este coração que a gente traz dentro do peito, não riam se eu vos disser - é outro Quero Quero insatisfeito, que nunca sabe o que ele quer". Da poesia Quero Quero, de Apparício da Silva Rillo.
Um feliz Ano Novo aos amigos e amigas.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Boletim 62

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 9ª.
Francisco Luiz ao participar da vida social de Camaquã iluminou sua intelectualidade, investindo na Gráfica Camaquense, fundadora do jornal "O Camaquã", tonando-se ali um de seus cronistas, com textos fortes na área política. Este é o jornal onde o NPHC busca a história de Camaquã, e que na época era o único da cidade. Já o Coronel Sylvio Luiz, com seu espírito aventureiro, projetou-se nas "canchas retas" de todo o Estado, onde nas patas de seus cavalos e no "perfume" de suas potrancas, jogou boa parte da fortuna da Fazenda da Quinta. Entretanto, homem de personalidade forte, e correto no trato de seus negócios, se fez amar por seus amigos e conterrâneos, projetando-se também na política municipal, tendo sido prefeito por duas gestões. Enquanto a Quinta era administrada por gerentes, eles se deslocavam regularmente até ela, por caminhos que ainda não eram estradas, buscando rumos que ainda hoje os fazendeiros não encontraram.


GALPÃO.
Meus ancestrais.
Já escrevi, que no Galpão do Galo Velho cultivamos a imagem da nossa ancestralidade, pendurada no quarto do "Vô Mário". Assim deixo a foto de meus quatro avós, e abaixo um poema de Apparício da Silva Rillo.










Vovô Ney Xavier Azambuja e vovó Fustina Pereira da Silva Azambuja, meus avós paternos. Na outra foto, vovô Adolfo Luiz Pereira da Silva e vovó Anna América Centeno da Silva, meus avós maternos.

Sucessão.
Ser não é ter sido, ou perceber-se na estampa dos retratos dos avós.
É estar além do vidro das molduras, numa projeção muito além do próprio ser.

Guardo armas no meu íntimo armorial, brasões de sangue do meu velho clã.
Minhas batalhas são as vésperas de hoje, na projeção imprevisivel do amanhã.

Ter sido não é ser, ou apegar-se ao veio e as raízes dos avós.
É ser a rama que brotaram deles, para dar sombra aos que virão de nós.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A morte do Compadre Tigre.
Das histórias do Compadre Tigre havia esquecido dessa.
-Uma certa feita, o Compadre Tigre, que só tinha violência no corpo procurou a Comadre Cobra, sua grande amiga e lhe disse: "Sabe Comadre achei uma maneira de pegar o maldito do Compadre Macaco. Tu vai espalhar na mata que eu morri, e que estou sendo velado aqui na minha gruta." Ele então se deitou num grande banco de pedra, enquanto a Comadre Cobra com a Comadre Hiena passaram a espalhar a notícia entre a bicharada. Os bichos não gostavam dele, mas por curiosidade foram ao velório. Convidaram então o Compadre Macaco, que chegando na entrada da gruta, muito desconfiado, mas muito inteligente perguntou alto: "Ele já deu o último pumm?" O Compadre Tigre ao ouvir a pergunta passou a se espremer. O Compadre Macaco concluiu: "Se ele não deu o último pumm é porque ainda está vivo", no que foi apoiado pela bicharada presente. Então, depois de muito esforço, o infeliz e burro do Compadre Tigre, soltou um grande pumm. Minha gente, foi uma correria porta à fora, e o Compadre Tigre saiu pega que te larga no bafo da bunda do Compadre Macado, que saltando numa árvore fez figa para ele dizendo: "Olha bandido e malvado, tu nunca vais me pegar". E o Compadre Tigre soltava fogo pelas ventas de tão brabo.


FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o Natal.
Com meu votos de SAÚDE, SAÚDE, SAÚDE, deixo para vocês a poesia de Apparício da Silva Rillo, intitulada "Natal".

-Fui apresentado à Papai Noel quando tinha três anos,
e já me considerava um cidadão do Mundo. Do meu Mundo, que era quintal com laranjeiras,
galo, galinha carijó, cachorro e uma reboleira de mato onde brincava com terra.

Papai Noel foi meu primeiro medo. O segundo, imenso, foi o de cair
pelo burraco de acento da casinha, e me afundar naquela massa escura lá no fundo.
Outros vieram depois, e muitos ainda me acompanham
com um diabo de guarda, comigo pelo Mundo.

Mamãe dizia que Papai Noel era bonzinho. Gostava muito de minha Mamãe,
mas não podia acreditar. Para me dar um aviãozinho vermelho duas asas,
Papai Noel passou-me um sermão maior do que suas barbas,
só porque eu matara um pinto, afogado na bacia d`água.

O aviãozinho despertou-me, pois foi depois dele que associei Natal,
pinheirinho, presépio, missa do galo, peças de um estranho ritual,
que se armava a cada ano, quando as cigarras, do meu céu de laranjas maduras,
rechinavam ao meu ouvido: Verão... Verão...

Missa do Galo nunca me sentou. Primeiro porque nunca vi o galo na Igreja,
depois era aquela vontade enorme de dormir, principalmente naquela noite,
para acordar no outro dia cedinho, com aquela bola de couro,
que me encantara por seis meses de espera na vitine.

Numa certa noite envelheci. Acordei com meu Pai entrando em meu quarto, pé entre pé,
mais sério que frade de filme, e pela fresta minguinha do olho,
vi quando deixou sob minha cama alguns pacotes.

No outro dia, meu Pai, minha Mãe e minhas Tias mentindo. Que lindos presentes
Papai Noel te trouxe. Aos oito ou nove anos recebia minha primeira lição de cinismo.
Porque meu Pai não me dissera que os havia comprado com seu dinheiro,
que mal e mal dava para pagar o armazém da esquina?

Então, compreendi que Natal consiste nesta mentira, de fazer as crianças entenderem,
que os presentes caem do céu, como as laranjas maduras, os passarinhos mortos.
Mas já era muito tarde.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Boletim 61

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da quinta 8ª - O grande salto 4.
Tenho boa lembrança de quando, por volta de 1950, já estudando em Porto Alegre vinha nas férias para a Sant`Anna, e apreciava o Padrinho, assim chamava meu tio Francisco Luiz, calçando seus tamancos, e diariamente num belo carro "rabo de peixe", que só lembro ser da marca Ford, dirigir-se ao Guaraxaim na administração das grandes empresas, Arrozeira Camaquense e Luiz @ Azambuja. Já contava com o auxílio do "guarda livros" Albino Júlio Gollo, vindo de Caxias, e também morador do Guaraxaim. Vocês mais jovens, não poderão mesmo acreditar - não havia inflação! A não inflação real, não esta de hoje, escondida atrás de números "oficiais". Era um mar de tranquilidade, onde as famílias moravam nas fazendas. Foi então que aconteceu, assim como em todas as fazendas - as crianças necessitaram de escolas. Afirmo sempre, que meu único título adquirido, o de datilógrafo, e a formação de professora de minha irmã, custaram 1.000 hectares de campo ao meu Papai. Lá da Quinta a Glades foi a primeira, depois o Cesinha e o Marco Antônio. Tio Sylvio e o Padrinho compraram casas na cidade, montaram escritório no centro de Camaquã, passaram a viver comunidade. Tio Sylvio na política, foi prefeito por duas gestões, e o Padrinho na comunidade fundou o Rotary Club de Camaquã, o Sindicato Rural, o Camaquã Tênis Clube. E o campo? Bem não vão me dizer que o velho ditado: "O olho do dono é que engorda o boi" acabou...

GALPÃO.
A Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros.
No último dia 15 de novembro, o Galpão do Galo Velho recebeu esta Querência, que é sui gêneris em nossa tradição campeira. Primeiro porque não temos tesoureiro, eliminando assim a droga do dinheiro, que sempre atrapalha o passo do gaúcho. Depois nosso princípio é AMIZADE, elemento de união e fraternidade. Três parceiros custeiam a "bóia" que é prato campeiro. Depois da refeição é lida a ata, elemento indispensável em qualquer entidade, para preservar sua história, e logo após, vem a Tertúlia Galponeira, o ponto alto do encontro, quando a palavra roda pela esquerda. Temos verdadeiros artistas, e quem não é artista é poeta, porque tão poeta como o que faz a poesia, é aquele que gosta de ouvir a poesia.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Adriano Scherer. Esta eu presenciei.
Foi na década de quarenta, quando ainda não haviam pontes nos arroios do município. O pior cruzo era o do Jacaré, por sua forte correnteza e grande volume d`água. Então Adriano não se conformava em depender do demorado transporte dos barcos. Ele já possuía um Ford "club-coupê" (confesso que nem sei mais como se escreve) e então construiu sobre o arroio duas calhas. Cravadas as estacas, sobre elas pregou tábuas de 30, e nas laterais protegeu com guias de 15, fazendo com que as calhas ficassem no alinhamento das rodas de seu carro. Meu amigo Negro Velho, que nasceu Wilson Scherer Dias, sobrinho de Adriano, filho de sua irmã Mocinha, conta que muitas vezes pescando no Jacaré, assistiu Adriano passar com seu Ford "a mil", sem descer do carro para "alinhar". Tenho buscado fotografias destas calhas, para adicionar ao acervo do Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, mas não tenho conseguido.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o Natal.
O Espírito do Natal não morre, assim como nosso próprio espírito, que será eterno. Ele representa Deus, que nos fez a sua semelhança, e habita em nós. Representa o nascimento do Menino Jesus, que cultuamos há mais de dois mil anos. Já escrevi em algum lugar, que Natal deveria ser expressão de alegria, pelo nascimento de Cristo, mas para mim é tristeza. Por que nos aproximamos dos necessitados, ofertando neste dia nossa benemerência? Ela não deveria ser ofertada todos os dias? Mais ainda, porque aquele nascimento numa manjedoura é o símbolo da pobreza, e nos dias de hoje nos afastamos deste simbolismo, buscando e nos matando pela riqueza. Um bom Natal a todos, na simplicidade de Jesus Cristo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Boletim 60

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 7ª - O grande salto 3.
No dia 10 de julho de 1948, sob a liderança de Francisco Luiz Pereira da Silva, a firma Luiz & Azambuja, e mais uma plêiade de homens de negócios, criou a firma Arrozeira Camaquense S.A., com sede na então Vila do Guaraxaim, hoje Santa Rita do Sul. Esta firma veio a assumir o passivo de Adriano Scherer junto ao Banco do Brasil, depois deste banco tentar por três ou quatro anos administrar aquela lavoura, na direção do Dr. Pasquier. Um dos fatores relatados por meu Papai e tios, é que Adriano, residindo no Rio de Janeiro, alertava o Dr. Pasquier para fechar a Barrinha, canal que liga a Lagoa do Guaraxaim à Lagoa dos Patos, evitando o perigo da água salgada. Este conselho não foi seguido, e o banco viu uma safra inteira perdida pela salinização da Lagoa do Guaraxaim, fato que fez o banco a se retirar do negócio de plantio de arroz. Assim a firma Luiz & Azambuja constituiu 37 parceiros agrícolas para o plantio do arroz, sendo ela própria um dos plantadores, sob a gerência do Senhor Pedrinho Castro, cunhado de Sylvio e Francisco Luiz. Assistimos então o período áureo daquela região, quando o mundo num pós-guerra necessitava repor seus estoques de arroz.


GALPÃO.
A cachaça.
Não há como negar que esta bebida sempre "habitou" nos galpões gaúchos. Num clima frio como o nosso, não podemos proibir, que o campeiro esquente o corpo num trago de canha, ao chegar do campo por vezes todo molhado e "encarangado". Assim o Galpão do Galo Velho ainda mantém um pequeno barril de 5 litros, do puro carvalho, com cachaça, e o seu conteúdo só é proibido no horário de serviço. Está escrito lá no livro do galpão: "Cachaça é o líquido alegre da vida, ou da morte, se não souber ser bebido".
Assim Jayme Caetano Braun descreve em sua poesia "Canha". Apenas dois versos:


Remédio de uso caseiro, sempre a jeito noite e dia.
Milagrosa anestesia, de muito guasca doutor.
Foste disfarce pra dor, de tanto caudilho macho,
e mamadeira de guacho, nas orfandades do amor.


Mas porém já não me iludo, com teu líquido sereno,
porque na essência és veneno, maldito licor gaudério,
destruidor sem critério, que na armada do gargalo,
vai enchendo pealo a pealo, os bretes do cemitério.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Senhor Adriano Scherer.
Ouvi esta história de meu próprio Papai. Adriano residindo no Rio de Janeiro, e lá tentando o plantio de arroz na Baixada Fluminense, hoje parte do Grande Rio, foi procurado por um importante escritório de advocacia aqui do Rio Grande do Sul, levando uma proposta para entrarem com uma ação reivindicatória de perdas e danos contra o Banco do Brasil. Entre muitas alegações, uma era não terem considerado os prejuízos causados pela II Grande Guerra Mundial. Entabularam as negociações, que durou certo tempo, quando num certo dia Adriano fez a seguinte pergunta aos advogados: "O que ocorrerá com aqueles que hoje estão plantando nas terras da Luiz & Azambuja?". A resposta: "Tudo ficará paralisado, até a decisão judicial!". Adriano se posicionou contra a ação, dizendo que nada faria para prejudicar aqueles amigos, proprietários das terras, que sempre lhe acolheram com honradez.
Concluo: "Atitude de um outro tempo, pois hoje o dinheiro, tem mais valor do que as virtudes".


FECHANDO A PORTEIRA.
O Natal gaúcho.
O Natal se aproxima, e quero me reportar ao gaúcho, nascido e criado no interior de nossos campos, distante do conforto das cidades, carregando a riqueza da agropecuária riograndense. Além da singeleza de sua vida campeira, desfruta das geadas finas das madrugadas cinzentas, que enfeita o pampa sulino. Desconhece a neve, e nunca olhou um trenó. Então ao mirar um Papai Noel suando em bicas, num dezembro escaldante, assustando a piazada campeira, ele só pode arrepiar o pêlo, perguntando de onde veio aquele velho vermelho.
Cultura "nórdica", que aqui chegou para alimentar a insatisfação dos comerciantes, que não fazem parte de nossa cultura gaúcha.
O que nosso homem do campo cultiva é a tradição do "Terno de Reis", que nossos ancestrais portugueses trouxeram para o Brasil. Assim na homenagem simples àqueles que amam e cultivam nossas raízes, deixamos apenas um verso, dos mais de duzentos, que compõem o Terno de Reis.

"Vimos lhe cantar os Reis. Ó de casa, casa santa.
E também lhe visitar. Ó de casa, casa santa.
Aonde Deus veio habitar. Onde mora o bom Jesus.
Onde Deus fez sua morada, com a hóstia consagrada".

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Boletim 59

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 6ª - O grande salto 2.
Então é necessário botar nossas imaginações a funcionar. Centenas de empregados foram contratados, numa época que não haviam leis sociais, contratos de trabalho, carteira profissional, insalubridade, e tudo mais que "complica" os dias de hoje no campo, pois as leis da cidade não foram adaptadas à ele. Imaginem a quantidade de "paseiros" cavando milhares e milhares de metros cúbicos. Depois era o plantio de 2.000 hectares de lavoura de arroz, e principalmente sua colheita, feita toda ela à foice, na força do braço humano. Adriano construiu "elementarmente" a primeira ceifadeira de arroz, e com o auxílio do Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, estou publicando sua foto abaixo, assim como os tratores à querosene, que com sua falta pela 2ª Grande Mundial, ele adaptou os "gazogênios", que pela combustão da lenha nos mesmos, acionava seus motores. Imaginem a mão de obra para construir, depósitos, casas, secadores, calhas e trapiches, numa época que não haviam máquinas como hoje, e o transporte do material era todo pela Lagoa dos Patos, pois também não haviam estradas.
Obs. = Para visualizar as fotos aumentem o zoom para 150.










Os tratores trabalhando com "gazogênio", e na outra, o Senhor Adriano, na sua "automotriz"

GAPÃO.
A igualdade e a cuia.
No Galpão do Galo Velho não existe patrão nem empregado, nem branco nem preto, nem pobre nem rico. Ali somos todos iguais, sem distinção, sem preconceitos sociais. Assim se comunga na mesma cuia de mate, "misturando salivas" como diz Apparício da Silva Rillo em uma de suas belas poesias - "Cuia".

Cuia morena queimada, confeccionada "a lo bruto",
rude cálice matuto das amarguentas comunhões.
Na tradição campechana, serves o vinho que irmana,
o dono da estância e os peões.

Velho utensílio crioulo, da utilidade nativa,
que misturando salivas, no ritual dos chimarrões,
estarreces gente estranha, que não sabe a campanha,
desconhece convenções.

E quando recebes em teu bojo, a erva pro chimarrão,
e da tua carnação, verde o sangue se desata,
me entristeço imaginando, que és um coração sangrando,
por uma artéria de prata.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
"Esta eu conto para vocês".
Lembram que contei haver no arvoredo da Quinta, alguns pés de café e algodão. Não assisti suas colheitas, eles já eram improdutivos, mas ajudei a torrar café nos tachos de cobre, que depois eram "pilados", até ficarem "moidos". A banha era produzida nas fazendas, única gordura com que se cozinhava, além da "graxa dos tutanos", com que se fazia o feijão, o qual nunca podia ser requentado. O pão, as bolachas, as broas, e tudo o mais era produzido nas fazendas, para não falar na quantidade de gente para ser alimentada. Então, as fazendeiras levantavam de madrugada, e quando deitavam também não descansavam. Um mundo que vivi. Hoje vivo num outro mundo onde não tem mais fazendeiras. Lá elas ficam depressivas, com o nada por fazer. Tudo está pronto, e o que não está pronto, as máquinas aprontam. Mesmo, não tem mais gente nas fazendas, e se tem, eles que façam as suas comidas.

FECHANDO A PORTEIRA.
A riqueza e a felicidade.
Recebi e-mail de uma amiga, onde Max Gehringer se refere à livros e artigos, com receitas para se ficar rico, que contesta, inteligentemente. Relata que se não tivesse comido suas muitas pizzas, bebidos os milhares de cafezinhos, feito suas múltiplas viagens, comprado seus vários supérfluos, teria 500 mil reais em sua conta bancária, conluindo, que aquele dinheiro só serviria para fazer tudo o que fez, promovendo a sua felicidade. Não quero contestá-lo, quero adicionar minha vivência. Conheço centenas de amigos, que são imensamente felizes, e sequer conhecem Porto Alegre, nunca comeram pizzas, nem tomaram cafezinhos em balcões, ou compraram supérfluos. Felicidade consiste em amar a si próprio. Traduzo: "si próprio" é Deus.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Boletim 58

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 5ª - O grande salto 1.
Nada melhor que um dia depois do outro. Os opostos da vida, são como as ondas do mar. Assim no ano de 1933, o Senhor Adriano Scherer assumia como parceiro agrícola, instalando-se em uma erma coxilha, junto a Lagoa do Guaraxaim, onde hoje está situada a Vila Santa Rita do Sul, antigamente chamada de Guaraxaim, 2º Distrito do Município de Arambaré. Nasci em 1934, mas tenho presente os "lances épicos" deste desbravador. Construiu uma vila de casas para empregados, uma bela morada para si próprio, que ainda hoje existe, secadores e depósitos para o cereal, trapiche, onde aportavam as "gazolinas", que transportavam o arroz para Pelotas e Porto Alegre, instalou um locomóvel à vapor, movimentando as bombas para o recalque d`água, e fornecendo luz elétrica para a vila. Muito mais que isto foi o que fez nas terras arrendadas. Tudo era banhado de "tiriricas" e "macegas estraladeiras", que ele drenou, e construiu mais de dez quilômetros de canais de irrigação, além dos aterros (estradas) para escoar a produção. Tudo feito "à pá", na força do braço humano. Para se ter idéia, o dreno que chamamos ainda hoje de "Quatorze", tem o nome porque possui "quatorze braças de boca", cada braça tem 2,20 m portanto eram mais de trinta metros de largura, cavados com três turmas de cada lado do valo, onde uma atirava a terra para a outra, até a superfície. Quando o Banco do Brasil assumiu a lavoura com a quebra de Adriano, ficou a direção com o agrônomo Dr. Pasquier, que pela primeira vez fez uso dos teodolitos, quando os técnicos não acreditaram que Adriano houvesse marcado aquele valo, no "olho", acertando além do seu traçado, na largura necessária para drenar a grande várzea.


GALPÃO.
Meu santuário de fumaça.
Passado o Dia dos Mortos, quando reverenciei suas memórias "agachado" no Galpão do Galo Velho, contemplando o dançar das labaredas do fogo, e sismando com o tempo grande que passou, reporto-me novamente à Balbino Marques da Rocha, que foi o mestre do imortal Jayme Caetano Braum, com seu verso "Galpão do Rio Grande". Fica apenas o primeiro verso.


Meu santuário de fumaça, onde as vezes desencilho.
Faço um altar de lombilho, do fogo a reminiscência,
e cultuo a dor da ausência, no oratório do passado.
Galpão onde eu fui fedelho, corpeando cabo de relho,
tirando rapa de tacho, onde os avós se reuniram,
e a cavalo partiram para uma cruzado de macho.
Aqui me curvo e me agacho, me inclino e as vezes me ajoelho.
Desato o breve à oração, revendo de um lado e de outro,
quando o Rio Grande era potro, e os que domaram meu chão.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O grande locomóvel Wolf.
Podemos afirmar que este foi o maior lance de Adriano Scherer. Como a primeira necessidade de uma lavoura de arroz é a água, ele logo tratou de comprar a moderna máquina à vapor, que chamavam de locomóvel estacionável, fabricado na Alemanha. Esta máquina se encontrava na Divisa, aqui no município de Camaquã, e o seu transporte foi uma verdadeira odisséia. Não posso precisar quanto tempo ele levou, no grande percurso de arrasto. Eram dois tratores, pasmem, de esteiras, e quarenta juntas de bois. Dizem que ainda hoje existem os "buracos" onde esta máquina ficou atolada por dias. A região não era drenada, e tudo era banhado. Estes fatos me foram contados por meu Pai, que certa feita foi chamado em alta madrugada, para auxiliar numa das atoladas. Constatou que estavam faltando boieiros. Pediu que Adriano providenciasse quarenta homens com aguilhadas, quando então subiu na máquina, dizendo que ao seu grito todos teriam que aguilhoar sua junta de bois ao mesmo tempo, enquanto os tratores já estivessem na tração. Assim conseguiu realizar a "desatolada".


FECHANDO A PORTEIRA.
Minha grande riqueza.
Noutro dia "arranhando idéias" com minha Jane, ela se exasperava com a falta de dinheiro, e as contas acumuladas, quando concluiu - "Estamos pobres!". Então num sopetão retruquei: "Minha riqueza só Deus tira. Os homens não me roubam mais, pois ela é a minha saúde, da minha família e de meus amigos". Agora, depois de meditar muito sobre o acontecido, posso afirmar, que é muito mais agradável administrar o pouco que possuo, do que o muito que já tive. Não estou pedindo que vocês desprezem o muito que tenham, mas que tenham cuidado, pois ele não é o principal em vossas vidas.

sábado, 30 de outubro de 2010

Boletim 57

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 4ª - A grande crise.
Deveria incluir este capítulo em Histórias Que Me Contaram, porque me foi contado por meu pai Mário. Quando da grande crise de 1930, com a quebra do Banco Pelotense, a economia mundial, mais especificamente a gaúcha, ficou de pernas para o alto, ou de cabeça para baixo, como queiram. A Fazenda da Quinta, como tantas outras, parou suas atividades, e meu Pai me contava, que passaram dois ou três invernos jogando solo, pois não tinham sequer como chegar na vila do Duro. Ele, meu Pai, ainda morava lá, já casado com a herdeira Thereza, e com minha irmã Maria de Lourdes nascida. Minha avó Anna América falecera naquele mesmo ano. Era um verdadeiro caos, econômico e familiar, pois a fazenda deveria ser dividida entre os quatro filhos: Thereza(Mário), Maria(Lauro), Sylvio e Francisco Luiz. Este último sempre considerado o cérebro da família, jogou tudo na emergente lavoura de arroz, considerando a boa água da Lagoa do Guaraxaim, capaz de fechamento da sua barra, evitando assim a água salgada da Lagoa dos Patos, como também, na boa qualidade de suas terras. Assim convenceu o outro irmão e o cunhado Lauro, a procurarem um parceiro agrícola, que encontraram na pessoa do Senhor Adriano Scherer. Meu Pai, entretanto, não quis participar da firma Luiz & Azambuja, separando suas terras, e formando a Fazenda Sant`Anna.

GALPÃO.
Uma homenagem ao Galo Velho.
Em 2 de julho de 2005, três dias antes das Bodas de Pratas do Galpão, meu Parceiro e amigo Júlio Macedo Machado dedicou àquele negro velho, esquecido e pelegueando lá na Invernada do Esquecimento, os dois versos abaixo.

Lembrança do Galo Velho,
na Fazenda da Sant`Anna,
alma pura e soberana.
Peão campeiro e de coragem,
deixou seus gritos na imagem,
e na lembrança do Patrão.
Galo Velho este galpão,
foi feito em tua homenagem.

Este galpão tem história.
Eu trago dentro do peito,
onde a Paz e o Respeto,
é o lema do bom Patrão.
Lareira, fogo de chao,
não apaga noite e dia,
com a sua caloria,
aquece qualquer peão.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O fogo de chão do galpão da Quinta.
Em uma conversa com meu primo e amigo Cesar Augusto Luiz Pereira da Silva, que nasceu e se criou na Fazenda da Quinta, filho de Francisco Luiz Pereira da Silva e de Ivone Pereira, contou-me que o fogo de chão, do galpão da fazenda, não apagava nunca. Tinha certa lembrança disto, mas não podia afirmar. Era uma tradição nas fazendas antigas, e meus tios Sylvio e Luiz mantiveram esta tradição, enquanto a administraram. Já relatei anteriormente, que os campeiros eram muitos, os invernos tiranos, e o galpão sempre com o fogo aceso aquentava os corpos, matava a sede nos fartos chimarrões, descansava os corpos nos estirados pelegos, alegrava nos tragos de canha e, alimentava com o bom churrasco, pois a carne era farta "às pampas".

FECHANDO A PORTEIRA.
Quando você não consegue.
Quando você não consegue o objetivo final, o que resta? Apenas duas coisas - se conformar, ou se revoltar. Parece, mas não é uma questão de opção, pois se analisarmos profundamente será uma questão de caráter. Quantas perdemos? Quantas ganhamos? E tudo continua igual, pois tudo passa. Vejam que não estou falando em nada material, pois matéria não é nada, é pó. Estou falando de sentimento. Amores perdidos, amizades arranhadas, lares desfeitos. Tudo passa, e tudo se refaz, quando se tem amor a Deus, fé nas suas mensagens, esperança e caridade, que na sua essência é amor aos nossos semelhantes. Li em Fernando Lucchesi: "Só quem se preocupa em fazer a felicidade dos outros, alcança sua própria felicidade". Meditem, e sejam felizes.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Boletim 56

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 3ª - A família.
Meu avô materno, Adolfo Luiz Pereira da Silva, um de seus proprietários, faleceu com pouco mais de tinta anos de idade, na década de vinte, do século passado, deixando os filhos: Thereza, Sylvio, Maria e Luiz, ainda crianças. Meu pai, Mário, que era seu sobrinho e depois seu genro, costumava me contar que ele era um homem grande e forte, e certa feita retornando do campo todo molhado pela chuva, a sua esposa, Anna América, lhe esperava com um chá quente mostrando preocupação, quando ele disse ser muito forte, dando dois socos "nos peitos", passando a tossir logo em seguida. Trinta dias após estava morto, por uma "tuberculose galopante".
Meu avô paterno, Ney Xavier Azambuja, casado com a irmã de Adolfo, Faustina Pereira da Silva, assumiu a administração da grande fazenda, trazendo como capataz o filho mais velho, Mário, e como agricultor, na incipiente lavoura de arroz, o outro filho, Lauro, terminando o primeiro por casar com a prima Thereza, e o último com a outra prima Maria.
Anna América veio a falecer em 1930, quando então a fazenda foi dividida. Entretanto, Sylvio e Luiz, fizeram sociedade com o primo e cunhado Lauro, constituindo uma importante firma, Luiz & Azambuja, responsável pelo desenvolvimento da Vila Santa Rita do Sul, ao trazerem como parceiro agrícola o Senhor Adriano Scherer.


GALPÃO.

Meus olhos ainda alcançaram, quando naquela Fazenda da Quinta, em uma mangueira de pau à pique, os cavalares ao serem encerrados na madrugada, ao grito de "forma, forma" ficavam com suas ancas encostadas na paliçada, e as cabeças voltadas para o centro da mangueira. A explicação é muito simples, pois devido ao escuro da quase noite, seria difícil identificar os animais por seus campeiros, o que só seria possível por suas cabeças. Todos sabemos que cada cabeça é uma cabeça, não é mesmo? Antevejam que eram muitos campeiros, e lógico, muitos cavalos, já que eles eram a riqueza das fazendas, pelos constantes combates guerreiros.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

O prazer.

Ouvi esta história do próprio Galo Velho, quando lhe questionei como era o salário naquele "outro tempo".

"Menino. A gente trabalhava por prazer. Tínhamos orgulho de encilhar bem nossos bons cavalos, trazendo os aperos cuidados, principalmente nossos laços. O serviço era campo à fora, pois não tínhamos as mangueiras de hoje. Imagina tratar aqueles animais quase selvagens, quando era preciso dois laçadores ao derrubá-los, para serem curados. Pouco se castrava, já que quase tudo era ao natural, e os touros mais fortes predominavam nos rodeios. O cuidado maior era com as grandes manadas de cavalares, a riqueza do campo, juntamente com os couros. Então se cuidava das domas, das castrações dos mais fracos, pois os próprios reprodutores evitavam a consanguinidade de suas manadas. Os trabalhadores eram tratados como da própria família, e nada faltava para seu bem estar. A comida era a mesma do patrão, as roupa eram boas, mesmo sendo usadas, boa coberta e atendimento de saúde pelo próprio médico da família. Dinheiro não tinha utilidade, pois nada havia para se comprar. Foi realmente um outro mundo".

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o prazer.

Esta conversa com o Galo Velho, contando que se trabalhava por prazer, faz lembrar outras atividades que também não eram remuneradas, e muito melhor desempenhadas que as de hoje em dia. Meu Pai foi vereador em Camaquã por três ou quatro administrações, e nada recebia em troca de seus serviços, que desempenhava por amor ao seu partido político, o PL, Partido Libertador. Os jogadores de futebol também nada recebiam, e seus esforços eram por amor aos seus clubes. Fico me perguntando se o dinheiro "engoliu" os ideais.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Boletim 55

ABRINDO A PORTEIRA
A Fazenda da Quinta - 2ª - A sede.
Ela foi construída na segunda metade do Século XIX, por meus tetravôs, João Luiz Pereira da Silva e Faustina Maria Centeno, caracterizando-se pelo estilo colonial português, coberto com telhas portuguesas, com a frente para o poente, tendo na fachada uma só porta de entrada, e sete janelas. As paredes são largas, construídas com tijolos em formato duplo, ou seja, quadrados, com 50cm x 50cm. Quando de uma das reformas, colocaram na sua frente, esquina sul, um marco de sesmaria "fincado" na própria calçada, que na fotografia é visível à direita da foto. Estes marcos serviam para as demarcações das propriedades, quando não haviam inventado o aramado, e pesa cerca de uma tonelada, possuindo quatro metros de comprimento, e 50 cm de diâmetro, sendo que na cabeça está entalhado um anel, na própria pedra. No mesmo alinhamento da casa, distante vinte metros, foi construído um grande galpão, constando de dois quartos, sala e banheiro, destinados aos visitantes não familiares, possuindo ainda ampla garagem, que era abrigo das carruagens, e mais três quartos para empregados, com salão, fogo de chão e cozinha. Atrás de tudo isto ficava o lindo arvoredo, com cerca de dois hectares. É necessário dizer que hoje tudo está em ruínas, fazendo lembrar os velhos castelos europeus, onde os proprietários não tinham como mantê-los. Glades Pereira da Silva vendeu a Fazenda da Quinta para a tradicional família camaquense, Bezerra Netto, que nela não reside, e mantém habitável apenas uma casa confortável, construída nos fundos, pela própria Gladis, que foi a primeira a abandonar a grande sede.




GALPÃO.
Uma noite de inverno.
Foi neste galpão da Quinta, que ocorreu um fato marcante em minha vida. Cinco horas da madrugada lá chegava, para pedir uma caçada de marrecão. Dirigia a fazenda minha prima Glades Terezinha, filha do Cel. Sylvio Luiz Pereira da Silva, e que certamente àquela hora estava dormindo. Não era meu propósito acordá-la, queria apenas avisar que iria caçar, então, com o minuano "assobiando", e tiritando de frio, não tendo encontrado alguém acordado, procurei pelo fogo de chão do tradicional galpão, onde para minha surpresa, além de não ter fogo, nem mesmo tinha lenha para "prender um lume". Rezei pelos meus ancestrais, prometendo a eles que no Galpão do Galo Velho, desmembrado daquele galpão ali, jamais iria faltar lenha, e que o fogo também nunca apagaria. Estou cumprindo com minha oração.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A lenda do chimarrão.
Já escrevei, tudo que é velho tem suas baldas, e quanto mais velho então, como é o caso do nosso chimarrão, passa a ter lendas.
"Cansado com as andanças da tribo, um velho índio reusou-se a seguir com ela. A mais jovem de suas filhas, chamada Jary, decidiu permanecer junto dele, vendo seu amor , Pery, perder-se na curva do mato, com o restante da tribo. Certo dia entrou na taba um estranho pagé, que sabendo do gesto da jovem índia, tentava uma recompensa por sua atitude fraterna. Perguntou a ela o que queria para ser feliz, mas ela permaneceu em silêncio nada pedindo. O velho índio respondeu em seu lugar: "quero renovar minhas forças, para retornar à minha tribo, levando minha Jary, para junto de seu noivo Pery". O pagé entregou então ao velho, uma planta de cor muito verde, chamada "caá-y", ensinando aos dois como plantá-la, colher suas folhas, secá-las ao vento, para depois triturar, fazendo com ela uma infusão reconfortante. Em pouco tempo o velho índio renovou suas forças, retornando à tribo.
A bela índia Jary ao passar de duas luas, reencontrou a tribo, e nela seu grande amor, que persiste ainda hoje, nos constantes beijos que ofertamos em nossas bombas do chimarrão.

FECHANDO A PORTEIRA.
O ócio!
No último fim de semana, mais precisamente sábado passado à noite, me encontrava no galpão sismando com os negros velhos da beira do fogo, quando ali entrou cheia de alegria a Eunice Machado, que pescava com meus netos no açude. Plena de vida disse que iria fazer um espinhaço de ovelha com pirão, para a turma "das casas". Ora, seriam mais de dez pessoas, e fiquei pensando exatamente o quanto de trabalho ela teria pela frente, e sozinha na lida. Mais que tudo admirei o amor que habita em seu coração. Lembrei de uma dos ensinamentos da minha Ordem Maçônica - "O ócio é um dos vícios que destrói a alma humana". Incontestável. Acrescento mais: a mente estará tão descansada, quanto mais cansado estiver o corpo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Boletim 54

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 1ª - Origem.
A Fazenda da Quinta foi desmembrada da Sesmaria Flor da Praia, quando Faustina Maria Centeno, filha do Sargento-Mor Boaventura José Centeno e de Dona Antônia Joaquina Gonçalves da Silva, irmã do Gal. Bento Gonçalves, recebeu como herança, mais de dez mil hectares de campo. Faustina veio a casar com o português João Luiz Pereira da Silva, um experto na arte da enxertia, que construiu um pomar tão grande e perfeito, que deu nome à Fazenda da Quinta. Transmito uma idéia do que foi este pomar. Sob a ramada do parreiral, percorria-se um longo caminho, até chegar à taipa do açude, onde havia um excelente local de banho, e pescaria. Dos dois lados deste parreiral, desenvolviam-se as mais diversas espécies de árvore frutíferas da região, onde também conheci alguns pés de café e algodão. O velho tear também é de minha lembrança, onde se confeccionava o tecido para as peças de roupa, já que na época não havia ovelha na região, e o café ali não chegava. Não é preciso dizer que ambos eram de péssima qualidade, e pouca produtividade, devido às geadas. Conheci também um imenso pé de pinheiro, que chamavam de pinheiro imperial, mas não sei dar sua origem. As palmeiras imperiais eram abundantes, e ainda hoje existem na região, alguns de seus "filhos", que vieram procedentes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Do casamento de João Luiz com Faustina conhecemos dois filhos - Boaventura Luiz Pereira da Silva, que com Izabel Eufrásia, neta do Gal. Bento Gonçalves (aquela gente viajava muito pouco) , teve um filho chamado de Cel. Boaventura Luiz, chefe do Estado Maior do Gal. Zeca Netto, e pai de Dona Izabel Silveira da Silva, casada com o saudoso amigo Dorval Ribeiro. O outro filho, foi Francisco Luiz Pereira da Silva, conhecido por Vô Chico, casado com Tereza(?) com quem constituiu dois filhos: Adolfo Luiz Pereira da Silva, casou com Anna América Centeno, que com ela teve quatro filhos: Thereza, casada com o primo Mário; Maria, com outro primo Lauro; Sylvio, com Morena e, Francisco Luiz, conhecido como Luizinho, com Ivone. A outra filha do Vô Chico foi Faustina, que casou com o Cel. Ney Xavier Azambuja, proprietário da Fazenda da Invernada, e tiveram treze filhos, mas sobreviveram apenas oito: Mário, que casou com a prima Thereza; Mariá, com Tito Paranhos Barcellos; Lauro, com Maria; Marieta, com José Olavo Fay; Ney, com Nilda Souza; Marcolina com Romeu Luiz Pereira da Silva; Cel. Dário, com Maria de Lourdes Vilamil e, finalmente Adolfo, que casou com Zilda Souza.
No próximo tentarei dar a descendência deles.

GALPÃO.
Sou originário dos dois galpões - Fazenda da Quinta e Fazenda da Invernada - que não tiveram suas histórias gravadas. Creio que poucas fazendas o tem. Assim vou me esforçando para que o passado não se acabe. Não esqueçam, o hoje, logo será um passado também.

HÍSTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A hospitalidade gaúcha.
Um dia de verão, em plena canícula do pós meio dia, quando até as aves calam seus cantos, e o gado busca o abrigo de uma sombra, o Cel. Ney Azambuja também buscava a sombra da frondosa figueira da Quinta. Estendendo a vista pela grande várzea, avistou o carroção toldado, tracionado por duas juntas de lerdos bois.
- Imagina, disse o sisudo Cel., aquele pobre boieiro com todo este calor, sem buscar um abrigo para descansar. Vai lá Galo Velho, pelegueia o petiço, e manda aquele pobre cristão se chegar "pras casas". Avisa Sia Mosa que tem mais um peão para o almoço.
Cumprida a ordem, o carroção retornou pelo trilho da estrada, mas ao parar junto da cancela da fazenda, desceu de dentro dele mais de dez homens. Era uma "turma de granja" para a moderna lavoura de arroz dos Irmãos Centeno, lá da Pacheca. Ao caudilho Cel. não restou outro recurso senão sorrir, e saudando o pessoal, pediu que passassem ao galpão, onde seria servido o almoço.
- Galo Velho, volta na cozinha e diz pra botarem mais água no feijão, e leva um trago de canha e uns mates, pra acabar logo com a sede desta gente.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda a carreta de bois.
Reportando-me àquela carreta de bois, com a turma de granja, fiquei sismando na cena, que o modernismo apagou do cenário gaúcho. Apparício Silva Rillo retrata muito bem a carreta, num de seus mais lindos versos. Para não alongar, registro apenas dois.

Foste a patrulha avançada,
do batalhão do progresso,
e na incerteza do regresso,
ao passo lerdo dos bois,
apontavas novas rotas,
e nos rastro das cambotas,
brotavam vilas depois.

Velha carreta esquecida,
desengonçada e capenga.
Foste a maior andarenga,
que o Rio Grande conheceu.
quase a ninguém hoje importas.
No museu das coisas mortas,
o Progresso te esqueceu.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Boletim 53

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Invernada - 5ª - "A periferia".
Para concluir a história da Invernada, que na verdade não teria fim, finalizo descrevendo sua periferia. Um verdadeiro banhadal, transitável só por carroças e principalmente por cavaleiros, que eram os grandes "andantes" da época, até chegarem na grande coxilha, onde ficava a sede da fazenda. Então a fauna e a flora estavam intocadas, e só aos olhos de quem assistiu, para ainda hoje se extasiar com aquelas distantes imagens. Bandos e mais bandos de tahãs, com seus gritos alucinantes, dia e noite. Depois todo o tipo de animal, que hoje estão quase extintos - veados, com suas galhadas, porcos do banhado, que eram caçados à laço pelos campeiros. Jacarés, "às pampas", assustando os banhistas do açude perto das casas. Não me lembro de cobras venenosas, pois parece que elas não gostam de terrenos úmidos. Bandos de colhereiros, com seus voos desengonçados, cor de rosas, silenciosos, mas majestosos. Maçarico Real, que hoje não se vê mais, mas costumavam pousar nas cabeças dos mourões dos aramados. Revoadas de Marrecões da Patagônia, marrecas de todos os tipos, aves abundantes, enfeitando terra e céu. Uma estrada formada por dois trilhos, alagados, no "chape-chape" do andar das cavalgaduras. Uma vida sem pressa. Um tempo lindo e comprido, que pertenceu a uma gente, que não temia pelo amanhã.

GALPÃO.
A varanda e a "parrilla"
Finalmente dia 26 passado foi inaugurada, lá no Galpão do Galo Velho, a varanda e a "parrilla", pelo meu filho Luis Mário, vulgo "Castiano". Por sugestão da Anamiss estou anexando as fotos, que ela diz, acertadamente, fazerem parte da história, e eu afirmo mais, "encurta o escrever". Além do escrevente e a sua Jane, de 52 anos de bela vida matrimonial, lá estavam o Rubem Carlos Serafini Machado com a sua "expedita" Eunice, além do Luis Mário com a sua amada esposa Majô, e o filho mais moço, o pescador e campeiro Ramiro. A filha mais velha deles, Roberta, a pianista e cantora, ficara em Camaquã, curtindo uma festa de aniversário, e já tomando conta da casa. Que coisa linda!
Grupo clicado pelo Rubem Machado




O grupo clicado pela Eunice Machado

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A terapia do abraço.
Esta não é bem uma história, pois está aí na intenet, e me chegou às mãos pelo Irmão Eduardo Huber.
Pois é, durante muito tempo estivemos a procura de alguma coisa que nos rejuvenescesse, que prolongasse nosso bom humor, que nos protegesse contra as doenças, que curasse nossa depressão, e nos aliviasse do estresse.
E encontramos!... o remédio já havia sido descoberto e já estava a nossa disposição. E continua ao alcance de nossas mãos. E não custa nada.
É o abraço! O abraço é milagroso. É medicina realmente muito forte. O abraço, como sinal de afetividade e de carinho pode nos ajudar a viver mais tempo, proteger-nos contra doenças, curar depressões, fortificar os laços conjugais e familiares. O Abraço é um excelente tônico. Hoje sabemos que a pessoa deprimida é bem mais suscetível à doenças. O abraço diminui a depressão e revigora o sistema imunológico da pessoa.
O abraço injeta nova vida nos corpos cansados e fatigados, e a pessoa abraçada se sente muito mais jovem e vibrante. O uso regular do abraço prolonga a vida, sara a depressão e estimula a vontade de viver e crescer na vida. Não há como dá-lo, sem ganhá-lo de volta!
Recebam o Abraço do Galo Velho!


FECHANDO A PORTEIRA.
A Paciência.
Pois fiquei matutando nela. Paciência é uma qualidade de quem é bom. Digo mais, é o primeiro degrau da felicidade. O paciencioso é um ser esperançoso, pois não conheço nenhum que seja pessimista. Ele tem a propriedade da resignação, ou seja, aceita os reveses da vida, na paciência de que tudo passará. Nada melhor que um dia depois do outro. Pensem nos velhos ditados: "A pressa é inimiga da perfeição" e, "De vagar se vai ao longe". Certamente ninguém lhes dá mais os devidos valores, só os velhos como eu. Assim fico assistindo os apressados de hoje, ou impacientes de hoje, correrem adoidados, na busca de alguma coisa, que nunca perderam. Não perderam em lugar algum, e o pior, não sabem, que tudo está dentro deles mesmos, bem ali, onde mora o Criador de Todas as Coisas. Pensem mais - nas mortes dos apressados no trânsito, e nos apressados no acelerar os batimentos cardíacos. Vamos ficar calmos, pacientes, esperançosos, resignados. Parece ser muito difícil, mas não é. Afirmo, até mesmo, que é muito fácil. É só "matutar".

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Boletim 52

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Invernada - 4ª - "A roda do mate".
Vocês não fazem idéia de como se mateava naquele tempo. O primeiro deles era na madrugada, pois a gente deitava "com as galinhas". Sem luz, no escuro, nada o que fazer, além de filhos. Depois vinha o mate do "tira fome", às onze horas da manhã, e se o tempo estivesse ruim se mateava o dia inteiro, mas o mais disputado era o mate do "entardecer", quando a grande família se reunia na frente da casa, num pátio bem varrido, sob a ramada de uma figueira. O mate corria solto pela direita, servido pelo cevador, numa grande chaleira de ferro, com água fervendo. Fervendo mesmo, não há exagero, sou testemunha, pois "tocava" aos guris fazer a troca das chaleiras. Custei a descobrir o porquê - era para "espantar" as mulheres e os jovens da roda do mate! Machismo minha gente. Como havia machismo naquele tempo.

GALPÃO.
Ainda as conversas com o Galo Velho.
Recordo de uma conversa com o Galo Velho, quando perguntei da sua origem paraguaia.
"Meu pai era paraguaio. Eu nasci na Fazenda da Invernada, onde ele se juntou com uma querida negra de nome Maria, de quem eu nasci. Só sei contar o que ouvi dele nas rodas galponeiras, que eram histórias de tristezas. A gente sabe que se nosso tempo está difícil, o dele foi muito mais. Ele contava das muitas lutas, e do ódio tirano que reinava entre a gauchada da época, quando os homens mais se paravam no campo de batalha, do que junto de suas famílias. Então o assunto era como se morria, e como se matava. Meu pai veio como escravo para a Fazenda do Cristal, dos filhos do Gal. Bento Gonçalves, quando da tomada de Uruguaiana pelas tropas imperiais brasileiras. Sendo aprisionado ele passou a escravo do conquistador, como era hábito naquele tempo. Naquela luta ele perdeu a primeira mulher, que ali lhe acompanhara, e dizia que não tivera filhos com ela. Lembro que ele era um homem triste, mesmo tendo um patrão amigo como o Capitão Ignácio Xavier Azambuja, que o comprara dos Gonçalves. Agora parece que a vida está mais amena, as revoluções terminaram, e o ódio político chegando ao fim, permitindo que a gente atenda melhor o serviço e a família".

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM
O primeiro aramado de Camaquã.
Esta história me foi contada pelo Tio Dário Silva Azambuja, quando de uma visita que fez ao Galpão do Galo Velho. Procurei o registro do acontecido nos livros, mas ainda não encontrei. Sei que lá está gravado, já que os "causos" galponeiros, assim como as visitas, estão ali escritos. Bem, meu Tio Dário contou que o primeiro aramado que se tem notícias em Camaquã, foi na Fazenda da Flor da Praia, quando de propriedade do caudilho Gal. Zeca Netto. Não confundir com o Gal. José Antônio Netto, lá da Revolução Farroupilha e bageense, que era tio daquele. Estou falando do pai do Senhor Florisbelo Netto conhecido como Belinho, pai do José Cândido de Godoy Netto. Certamente mais uma bela fazenda sem história. Escrevam a história de vocês, não deixem as coisas morrerem! Mas voltemos ao tal aramado. Ele foi executado pelo cidadão Taborendengui. Receio errar até mesmo seu nome, que era de um capitalista, que "cruzou" por Camaquã, quando aqui foi sócio de Hildebrando José Centeno, numa grande charqueada, lá nas margens do Rio Camaquã, onde trabalhavam mais de quinhentos homens. Esta história também não está escrita. Contar história é uma coisa, outra coisa é escrever a história.

FECHANDO A PORTEIRA.
As intenções.
O título me faz reportar as orações, que a maioria dos cristãos, executa "nas intenções" aos seus santos favoritos. Por vezes são intenções ao Santo Antônio, o santo casamenteiro, dando vez a mil e uma intenções. Coitado do fiel. Fica rezando, na certeza que "alguém" está lhe ajudando, quando na verdade quem deve se ajudar é o próprio fiel. Não importa nossas intenções, o que importa são nossas ações. Recordo do meu tempo de jovem, quando ajoelhado junto ao Padre Walter Hanquet, confessava meus pecados: "padre pequei por pensamentos, obras e ações". Santo Deus de Misericórdia, quanto às minhas obras e ações eu sei responder por elas, mas meus pensamentos! Quanto pecado! Imperdoáveis, portanto, não mereço o céu. Pois ainda hoje, já velho, pratico "A Prova Quádrupla" do Rotary, onde está escrito: (do que pensamos, dizemos e fazemos) - 1º - É a Verdade? 2º - É Justo para todos os interessados? 3º - Criará Boa Vontade e Melhores Amizades? e, 4º Será Benéfico para todos os interessados? Bem, aí a coisa não é tão material, nos projetando ao terreno espiritual, mas aqueles meus pecados, "por pensamentos", eram materiais sim...

domingo, 12 de setembro de 2010

Boletim 51

ABRINDO A PORTIRA.
Fazenda da Invernada - 3ª - "Café da manhã".
A mesma mesa do jantar, agora no horário das 8 horas. Os homens encilharam na madrugada, levando seus "fiambres" para o almoço. O velho caudilho não encilhava mais, ou melhor, só não encilhava os cavalos. O café era farto, como se prezava em fazenda rica. Pão caseiro, broa de milho, bolo e batata doce. Bolacha égua, que ali chegava em barricas, e alguns biscoitos caseiros. O leite vinha fervendo lá da cozinha, junto com o bule de café preto. Então, eu tirava aquela nata que se forma sobre o café com leite, quando o tirano perguntou, o que eu estava fazendo. Disse que tirava a pequena nata, mas ele insistiu, perguntando se eu gostava de nata. Descobri depois de tinha uma prima "mexeriqueira", que nos entregava ao velho. Dei uma resposta evasiva, que não me importava muito com a nata. Ele calou, e o café terminou tranquilo. Ao sairmos ele me chamou. "Lavou a boca hoje de manhã?". Sim Vovô. "Então abra a boca para eu conferir". Foi o que fiz, quando entrou uma colher cheia de nata na minha boca, e nos meus ouvidos - "Coma para aprender!" Claro que não aprendi, pois 70 anos passados ainda detesto nata. Mas, aprendi obediência e respeito, coisa que os jovens de hoje desconhecem.

GALPÃO.
As carreteadas.
Já falei em outro boletim, o quanto a Fazenda da Invernada, e mais ainda a Fazenda da Quinta, ficavam distantes da Vila do Duro, por tal, eram abastecidas da Vila da Pacheca, que recebia mercadorias de Rio Grande, onde moravam meus bisavós, e também de Pelotas. Muitas vezes vi o carroção toldado, tracionado por duas juntas de bois, sair em viagem, quando além do boeiro sentado na boléia, vinha um peão a cavalo com aguilhada comprida, cavalgando ao lado. Imaginem que as fazendas mandavam, por um "próprio", os seus pedidos aos parentes de Rio Grande, já que lá residia o vovô Ignácio Xavier Azambuja. Estas cartas eram transportadas em barcos a vapor, que vinham à Pacheca buscar lenha, da mataria do Rio Camaquã, o grande "combustível" da época. Pacheca era uma vila muito mais próspera, que a própria Vila do Duro.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Meu amigo Claudio Roberto Ribeiro (claudioribeirors@brturbo.com.br) contou-me sua história, que nunca imaginei fosse tão campeira. Hoje um homem realizado, chefe de uma linda família, integrado na nossa sociedade, aposentado do BB, e principalmente avô do "colorado" Theo.

"O isqueiro matou o 'fósfro', e a luz matou o isqueiro. Os caminhões mataram as tropas, e a saudade matou o tropeiro!" (Autor desconhecido)

"O corredor das Tropas".
"Começa a chegar a Semana Farroupilha e, mais uma vez, sinto-me meio deslocado, menino de cidade.
Morei a poucas quadras do "Corredor das Tropas", caminho que faz a ligação entre o Bairro das Três Vendas e o Porto de Pelotas, onde estavam localizados os matadouros dos grandes frigoríficos - Swift, Anglo, Armour. Em outras palavras: o caminho entre o Hipódromo da Tablada e o Solar da Baronesa, no Areal.
Vi passarem tropas tão grandes que a gurizada sentava-se à beira da estrada para assistir.
Muita poeira, muito barulho de casco, latido de cachorro, gritaria de gente e... muito mugido triste.
O cheiro doce/podre nos locais de matança é algo que adere ao nariz e à memória.
Também trabalhei numa ferraria, ferrando cavalos, batendo malho pra fazer os aros das rodas de carroça. Pata do animal apoiada no meu joelho, muito casco aplainei (que fedor!) pra colocar as ferraduras ainda meio quentes. Lembro das ferraduras fininhas para os cavalos parelheiros...
Também ajudei o verdureiro da chácara que ficava na frente da nossa casa. Encilhei muito cavalo para a carroça/charrete do reparte.
Meu pai foi motorista de estancieiro, motorista de "barraca" de lãs. Menino, antes do primeiro emprego formal aos quatorze anos, fui muito para Bagé, Hulha Negra, Pedras Altas, Herval... Temporadas invernais em lugares que até Deus duvida que tenha criado... Muito galpão, muitos cavalos... e todo tipo de comida à base de carne de ovelha. Meu Deus, como tem ovelha no mundo!
"Desculpem, não tive tempo de ser gaúcho."

FECHANDO A PORTEIRA.

A Querência dos Poetas Livres.

Pois vou falar de um movimento campeiro. Diferente de todos os demais, sem fugir da cultura de nossas tradições. Apenas quatro reuniões anuais, em meses estabelecidos e nas terças feiras à noite, começando as 20hs e terminando as 23hs impreterivelmente. No rancho ou galpão de um parceiro, com a janta e bebida "patrocinada" por três Parceiros. Tudo na simplicidade do gaúcho, comida campeira, chimarrão, ceva ou vinho dependendo da temperatura ambiente. Não temos tesoureiro, pois dinheiro e mulher são os maiores problemas gaúchos, entretanto, as esposas dos Parceiros, também chamadas de Parceiras, participam ativamente. Não temos Regimentos, apenas 12 artigos de um Regulamento, sem outra obrigatoriedade que a moral e o respeito. Nem mesmo somos obrigados da frequência, vai quem gosta e quer.

sábado, 28 de agosto de 2010

Boletim 50

ABRINDO A PORTEIRA
Fazenda da Invernada - 2ª - "Sala de jantar".
Uma grande mesa oval, numa sala retangular, com três janelas para um pátio interno, e iluminada com três lampiões aladim. Na cabeceira o vovô caudilho Ney Xavier Azambuja, depois por ordem hierárquica (afinal aquilo era um quartel), até a outra cabeceira, onde sentavam os piás, pobres piás. Tudo começava com o retumbo de sua voz: "Na mesa se come, na sala se conversa e na cama se dorme". Vai dormir com um barulho destes! Ninguém podia abrir o bico, principalmente os piás, algum mais velho ainda passava. Cozinheira e camareira tinha "às pampas", mas o serviço na mesa era também por ordem hierárquica, e quando a costela chegava no prato dos piás, já estava fria. E naquele silêncio sepulcral, o piá não tinha como se socorrer da "mamãe", era tudo com ele, naquele garfo e faca tão grandes. As refeições eram demoradas, num ritual salutar e de respeito, numa mesa que nunca baixava de quinze pessoas. Quando então numa mesa de café - mas isto é assunto para o próximo boletim.

GALPÃO.
Matutei no Galpão do Galo Velho.
Uma madrugada muito fria, como só o gaúcho sabe apreciar o frio, fez aproximar meu banco pra perto do fogo forte, sorvendo o amargo do meu mate e soltando o pensamento, na várzea do passado. O silêncio bom me envolveu, e são momentos em que a gente se sente solto, como no lombo do cavalo, galopando ao vento. Então um pressentimento me disse que não estava só, e que um diálogo flutuava no ar, na busca de uma aproximação. Tantos que se foram, que fica difícil uma identificação, mas fica a paz e o sentimento bom da calma, que compassou o bater do meu coração. É preciso amar. Não só o meu próximo conhecido, mas até mesmo aqueles que me foram desconhecidos, e que partiram, estando no aguardo de um breve encontro.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O Cel. Ney Xavier Azambuja.
O sobrenome Azambuja, provém da vila de Azambuja, em Portugal, que é cabeça de conselho, localizada no distrito e patriarcado de Lisboa, pertencendo à comarca de Cartaseo. Era abundante na região uma árvore de boa madeira, chamada de "zambujo".
O Cel. Ney descende desta tradicional família, e nasceu na Fazenda da Invernada no dia 25 de agosto de 1865, filho de Ignácio Xavier de Azambuja e de Marcolina de Jesus Centeno. Era ainda tataraneto do capitão Francisco Xavier de Azambuja e de Rita de Menezes, que era filha de Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos, proprietários da sesmaria que deu origem a Porto Alegre.
Casou o Cel. Ney em primeiras núpcias com Faustina Centeno Pereira da Silva, proprietária da Fazenda da Quinta, pois era irmã de Adolfo Luiz Pereira da Silva. Deste casamento surgiram 13 filhos, mas só oito sobreviveram - Mário, casado com a prima Thereza; Marieta, casada com José Olavo Fay; Mariá, casada com Tito Paranhos; Lauro, casado com a prima Maria; Ney Filho, casado com Nilda Souza; Dário, casado com Lourdes Vilamil; Marcolina, casada com Romeu Luiz Pereira da Silva, e Adolfo, casado com Zilda Souza. O Cel. Ney teve como irmãos - Estácio, radicado em Bagé e seu companheiro de revolução, Amália, Palmira, Caio, Cândido, Nelson, Hipólita, José e Marcolino. (aquela gente não tinha outra coisa que fazer...)

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda a Fazenda da Invernada.
Pois ao voltar ao passado tão distante, fico buscando conclusões, do que ficou plantado dentro de mim, com aquela educação tão rígida. O velho austero, rude, azedo, e as vezes mal educado caudilho, Cel. Ney Xavier Azambuja, era um homem de escondida ternura. Afirmo isto porque quando das nossas despedidas, a emoção tomava conta daquele homem duro, e as lágrimas escorriam pelo enrugado de sua face, e mesmo sem ofertar um beijo ou um abraço, externava a dor da partida, por aqueles a quem amava. Então se hoje cultivo a virtude da humildade, do respeito e da ordem, tenho de agradecer aos momentos difíceis de uma infância, passada ao lado daquele caudilho, que não aprendi a amar, ou não me deixou amá-lo. Resta o reconhecimento de gratidão.

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”