sábado, 4 de dezembro de 2010

Boletim 61

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da quinta 8ª - O grande salto 4.
Tenho boa lembrança de quando, por volta de 1950, já estudando em Porto Alegre vinha nas férias para a Sant`Anna, e apreciava o Padrinho, assim chamava meu tio Francisco Luiz, calçando seus tamancos, e diariamente num belo carro "rabo de peixe", que só lembro ser da marca Ford, dirigir-se ao Guaraxaim na administração das grandes empresas, Arrozeira Camaquense e Luiz @ Azambuja. Já contava com o auxílio do "guarda livros" Albino Júlio Gollo, vindo de Caxias, e também morador do Guaraxaim. Vocês mais jovens, não poderão mesmo acreditar - não havia inflação! A não inflação real, não esta de hoje, escondida atrás de números "oficiais". Era um mar de tranquilidade, onde as famílias moravam nas fazendas. Foi então que aconteceu, assim como em todas as fazendas - as crianças necessitaram de escolas. Afirmo sempre, que meu único título adquirido, o de datilógrafo, e a formação de professora de minha irmã, custaram 1.000 hectares de campo ao meu Papai. Lá da Quinta a Glades foi a primeira, depois o Cesinha e o Marco Antônio. Tio Sylvio e o Padrinho compraram casas na cidade, montaram escritório no centro de Camaquã, passaram a viver comunidade. Tio Sylvio na política, foi prefeito por duas gestões, e o Padrinho na comunidade fundou o Rotary Club de Camaquã, o Sindicato Rural, o Camaquã Tênis Clube. E o campo? Bem não vão me dizer que o velho ditado: "O olho do dono é que engorda o boi" acabou...

GALPÃO.
A Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros.
No último dia 15 de novembro, o Galpão do Galo Velho recebeu esta Querência, que é sui gêneris em nossa tradição campeira. Primeiro porque não temos tesoureiro, eliminando assim a droga do dinheiro, que sempre atrapalha o passo do gaúcho. Depois nosso princípio é AMIZADE, elemento de união e fraternidade. Três parceiros custeiam a "bóia" que é prato campeiro. Depois da refeição é lida a ata, elemento indispensável em qualquer entidade, para preservar sua história, e logo após, vem a Tertúlia Galponeira, o ponto alto do encontro, quando a palavra roda pela esquerda. Temos verdadeiros artistas, e quem não é artista é poeta, porque tão poeta como o que faz a poesia, é aquele que gosta de ouvir a poesia.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Adriano Scherer. Esta eu presenciei.
Foi na década de quarenta, quando ainda não haviam pontes nos arroios do município. O pior cruzo era o do Jacaré, por sua forte correnteza e grande volume d`água. Então Adriano não se conformava em depender do demorado transporte dos barcos. Ele já possuía um Ford "club-coupê" (confesso que nem sei mais como se escreve) e então construiu sobre o arroio duas calhas. Cravadas as estacas, sobre elas pregou tábuas de 30, e nas laterais protegeu com guias de 15, fazendo com que as calhas ficassem no alinhamento das rodas de seu carro. Meu amigo Negro Velho, que nasceu Wilson Scherer Dias, sobrinho de Adriano, filho de sua irmã Mocinha, conta que muitas vezes pescando no Jacaré, assistiu Adriano passar com seu Ford "a mil", sem descer do carro para "alinhar". Tenho buscado fotografias destas calhas, para adicionar ao acervo do Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, mas não tenho conseguido.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o Natal.
O Espírito do Natal não morre, assim como nosso próprio espírito, que será eterno. Ele representa Deus, que nos fez a sua semelhança, e habita em nós. Representa o nascimento do Menino Jesus, que cultuamos há mais de dois mil anos. Já escrevi em algum lugar, que Natal deveria ser expressão de alegria, pelo nascimento de Cristo, mas para mim é tristeza. Por que nos aproximamos dos necessitados, ofertando neste dia nossa benemerência? Ela não deveria ser ofertada todos os dias? Mais ainda, porque aquele nascimento numa manjedoura é o símbolo da pobreza, e nos dias de hoje nos afastamos deste simbolismo, buscando e nos matando pela riqueza. Um bom Natal a todos, na simplicidade de Jesus Cristo.

2 comentários:

  1. Srº Luis Fernando,me chamo MAria. Sou caxiense por natureza e Santaritense por adoção. Coordeno o Projeto ASEMA de Santa Rita e gostaria muito de saber mais da história deste lugar e poder passar mais informações a todas as crianças do projeto. Soube de sua pessoa, através do menino Rogério, filho do seu Castelar e da dona Leda.
    Se possível for, entre em contato comigo pelo fone 3676 9041 de segunda a quarta- feira das 8:30 às 17:00 e as quintas-feiras dás 8:00 às 13:30 ou pelo email: mrlvr725@Gemail.com
    Grande abraço e até logo!

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  2. Que pena não poder estar num sarau desses "GALPÃO-A Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros" Ainda mais que conheço O GALPÃO, pra aumentar a ânsia. Se tivesse junto, eu pediria para ler um poema do inesquecível Jayme Caetano, que acabo de repescar no tem tudo Google:

    CEMITÉRIO DE CAMPANHA

    Cemitério de campanha,
    Rebanho negro de cruzes
    Onde à noite estranhas luzes
    Fogoneiam tristemente
    Até o próprio gado sente
    No teu mistério profundo
    Que és um pedaço de mundo
    Noutro mundo diferente
    Pouso certo dos humanos
    Fim de calvário terreno,
    Onde o grande e o pequeno
    Se irmanam num mundo só.
    E onde os suspiros de dó
    De nada significam
    Porque em ti os viventes ficam
    Diluídos no mesmo pó.
    Até o ar que tu respiras
    Morno, tristonho e pesado,
    Tem um cheiro de passado
    Que foi e não volta mais.
    A tua voz, são os ais
    Do vento choramingando
    Eternamente rezando
    Gauchescos funerais.
    Coroas, tocos de velas
    De pavios enegrecidos
    Que em Terços mal concorridos
    Foram-se queimando a meio
    Cruzes de aspecto feio
    De alguém que viveu penando
    E depois de andar rolando
    Retorna ao chão de onde veio.
    Mas que importa a diferença
    Entre uma cruz falquejada
    E a tumba marmorizada
    De quem viveu na opulência?
    Que importa a cruz da indigência
    A quem já não vive mais,
    Se somos todos iguais
    Depois da existência?
    Que importa a coroa fina
    E a vela de esparmacete?
    Se entre os varais do teu brete
    Nada mais tem importância?
    Um patrão, um peão de estância
    Um doutor, uma donzela?
    Tudo, tudo se nivela
    Pela insignificância.
    Por isso quando me apeio
    Num cemitério campeiro
    Eu sempre rezo primeiro
    Junto a cruz sem inscrição,
    Pois na cruz feita a facão
    Que terra a dentro se some
    Vejo os gaúchos sem nome
    Que domaram este Chão.
    E compreendo, cemitério,
    Que és a última parada
    Na indevassável estrada
    Que ao além mundo conduz
    E aqueces na mesma luz
    Aqueles que não tiveram
    E aqueles que não quiseram
    No seu jazigo uma Cruz.
    E visito, de um por um,
    No silêncio, triste e calmo,
    Desde a cruz de meio palmo
    Ao mais rico mausoléu,
    Depois, botando o chapéu
    Me afasto, pensando a esmo:
    Será que alguém fará o mesmo
    Quando eu for tropear no Céu???

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”