segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Boletim 60

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 7ª - O grande salto 3.
No dia 10 de julho de 1948, sob a liderança de Francisco Luiz Pereira da Silva, a firma Luiz & Azambuja, e mais uma plêiade de homens de negócios, criou a firma Arrozeira Camaquense S.A., com sede na então Vila do Guaraxaim, hoje Santa Rita do Sul. Esta firma veio a assumir o passivo de Adriano Scherer junto ao Banco do Brasil, depois deste banco tentar por três ou quatro anos administrar aquela lavoura, na direção do Dr. Pasquier. Um dos fatores relatados por meu Papai e tios, é que Adriano, residindo no Rio de Janeiro, alertava o Dr. Pasquier para fechar a Barrinha, canal que liga a Lagoa do Guaraxaim à Lagoa dos Patos, evitando o perigo da água salgada. Este conselho não foi seguido, e o banco viu uma safra inteira perdida pela salinização da Lagoa do Guaraxaim, fato que fez o banco a se retirar do negócio de plantio de arroz. Assim a firma Luiz & Azambuja constituiu 37 parceiros agrícolas para o plantio do arroz, sendo ela própria um dos plantadores, sob a gerência do Senhor Pedrinho Castro, cunhado de Sylvio e Francisco Luiz. Assistimos então o período áureo daquela região, quando o mundo num pós-guerra necessitava repor seus estoques de arroz.


GALPÃO.
A cachaça.
Não há como negar que esta bebida sempre "habitou" nos galpões gaúchos. Num clima frio como o nosso, não podemos proibir, que o campeiro esquente o corpo num trago de canha, ao chegar do campo por vezes todo molhado e "encarangado". Assim o Galpão do Galo Velho ainda mantém um pequeno barril de 5 litros, do puro carvalho, com cachaça, e o seu conteúdo só é proibido no horário de serviço. Está escrito lá no livro do galpão: "Cachaça é o líquido alegre da vida, ou da morte, se não souber ser bebido".
Assim Jayme Caetano Braun descreve em sua poesia "Canha". Apenas dois versos:


Remédio de uso caseiro, sempre a jeito noite e dia.
Milagrosa anestesia, de muito guasca doutor.
Foste disfarce pra dor, de tanto caudilho macho,
e mamadeira de guacho, nas orfandades do amor.


Mas porém já não me iludo, com teu líquido sereno,
porque na essência és veneno, maldito licor gaudério,
destruidor sem critério, que na armada do gargalo,
vai enchendo pealo a pealo, os bretes do cemitério.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Senhor Adriano Scherer.
Ouvi esta história de meu próprio Papai. Adriano residindo no Rio de Janeiro, e lá tentando o plantio de arroz na Baixada Fluminense, hoje parte do Grande Rio, foi procurado por um importante escritório de advocacia aqui do Rio Grande do Sul, levando uma proposta para entrarem com uma ação reivindicatória de perdas e danos contra o Banco do Brasil. Entre muitas alegações, uma era não terem considerado os prejuízos causados pela II Grande Guerra Mundial. Entabularam as negociações, que durou certo tempo, quando num certo dia Adriano fez a seguinte pergunta aos advogados: "O que ocorrerá com aqueles que hoje estão plantando nas terras da Luiz & Azambuja?". A resposta: "Tudo ficará paralisado, até a decisão judicial!". Adriano se posicionou contra a ação, dizendo que nada faria para prejudicar aqueles amigos, proprietários das terras, que sempre lhe acolheram com honradez.
Concluo: "Atitude de um outro tempo, pois hoje o dinheiro, tem mais valor do que as virtudes".


FECHANDO A PORTEIRA.
O Natal gaúcho.
O Natal se aproxima, e quero me reportar ao gaúcho, nascido e criado no interior de nossos campos, distante do conforto das cidades, carregando a riqueza da agropecuária riograndense. Além da singeleza de sua vida campeira, desfruta das geadas finas das madrugadas cinzentas, que enfeita o pampa sulino. Desconhece a neve, e nunca olhou um trenó. Então ao mirar um Papai Noel suando em bicas, num dezembro escaldante, assustando a piazada campeira, ele só pode arrepiar o pêlo, perguntando de onde veio aquele velho vermelho.
Cultura "nórdica", que aqui chegou para alimentar a insatisfação dos comerciantes, que não fazem parte de nossa cultura gaúcha.
O que nosso homem do campo cultiva é a tradição do "Terno de Reis", que nossos ancestrais portugueses trouxeram para o Brasil. Assim na homenagem simples àqueles que amam e cultivam nossas raízes, deixamos apenas um verso, dos mais de duzentos, que compõem o Terno de Reis.

"Vimos lhe cantar os Reis. Ó de casa, casa santa.
E também lhe visitar. Ó de casa, casa santa.
Aonde Deus veio habitar. Onde mora o bom Jesus.
Onde Deus fez sua morada, com a hóstia consagrada".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”