segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Boletim 62

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 9ª.
Francisco Luiz ao participar da vida social de Camaquã iluminou sua intelectualidade, investindo na Gráfica Camaquense, fundadora do jornal "O Camaquã", tonando-se ali um de seus cronistas, com textos fortes na área política. Este é o jornal onde o NPHC busca a história de Camaquã, e que na época era o único da cidade. Já o Coronel Sylvio Luiz, com seu espírito aventureiro, projetou-se nas "canchas retas" de todo o Estado, onde nas patas de seus cavalos e no "perfume" de suas potrancas, jogou boa parte da fortuna da Fazenda da Quinta. Entretanto, homem de personalidade forte, e correto no trato de seus negócios, se fez amar por seus amigos e conterrâneos, projetando-se também na política municipal, tendo sido prefeito por duas gestões. Enquanto a Quinta era administrada por gerentes, eles se deslocavam regularmente até ela, por caminhos que ainda não eram estradas, buscando rumos que ainda hoje os fazendeiros não encontraram.


GALPÃO.
Meus ancestrais.
Já escrevi, que no Galpão do Galo Velho cultivamos a imagem da nossa ancestralidade, pendurada no quarto do "Vô Mário". Assim deixo a foto de meus quatro avós, e abaixo um poema de Apparício da Silva Rillo.










Vovô Ney Xavier Azambuja e vovó Fustina Pereira da Silva Azambuja, meus avós paternos. Na outra foto, vovô Adolfo Luiz Pereira da Silva e vovó Anna América Centeno da Silva, meus avós maternos.

Sucessão.
Ser não é ter sido, ou perceber-se na estampa dos retratos dos avós.
É estar além do vidro das molduras, numa projeção muito além do próprio ser.

Guardo armas no meu íntimo armorial, brasões de sangue do meu velho clã.
Minhas batalhas são as vésperas de hoje, na projeção imprevisivel do amanhã.

Ter sido não é ser, ou apegar-se ao veio e as raízes dos avós.
É ser a rama que brotaram deles, para dar sombra aos que virão de nós.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A morte do Compadre Tigre.
Das histórias do Compadre Tigre havia esquecido dessa.
-Uma certa feita, o Compadre Tigre, que só tinha violência no corpo procurou a Comadre Cobra, sua grande amiga e lhe disse: "Sabe Comadre achei uma maneira de pegar o maldito do Compadre Macaco. Tu vai espalhar na mata que eu morri, e que estou sendo velado aqui na minha gruta." Ele então se deitou num grande banco de pedra, enquanto a Comadre Cobra com a Comadre Hiena passaram a espalhar a notícia entre a bicharada. Os bichos não gostavam dele, mas por curiosidade foram ao velório. Convidaram então o Compadre Macaco, que chegando na entrada da gruta, muito desconfiado, mas muito inteligente perguntou alto: "Ele já deu o último pumm?" O Compadre Tigre ao ouvir a pergunta passou a se espremer. O Compadre Macaco concluiu: "Se ele não deu o último pumm é porque ainda está vivo", no que foi apoiado pela bicharada presente. Então, depois de muito esforço, o infeliz e burro do Compadre Tigre, soltou um grande pumm. Minha gente, foi uma correria porta à fora, e o Compadre Tigre saiu pega que te larga no bafo da bunda do Compadre Macado, que saltando numa árvore fez figa para ele dizendo: "Olha bandido e malvado, tu nunca vais me pegar". E o Compadre Tigre soltava fogo pelas ventas de tão brabo.


FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o Natal.
Com meu votos de SAÚDE, SAÚDE, SAÚDE, deixo para vocês a poesia de Apparício da Silva Rillo, intitulada "Natal".

-Fui apresentado à Papai Noel quando tinha três anos,
e já me considerava um cidadão do Mundo. Do meu Mundo, que era quintal com laranjeiras,
galo, galinha carijó, cachorro e uma reboleira de mato onde brincava com terra.

Papai Noel foi meu primeiro medo. O segundo, imenso, foi o de cair
pelo burraco de acento da casinha, e me afundar naquela massa escura lá no fundo.
Outros vieram depois, e muitos ainda me acompanham
com um diabo de guarda, comigo pelo Mundo.

Mamãe dizia que Papai Noel era bonzinho. Gostava muito de minha Mamãe,
mas não podia acreditar. Para me dar um aviãozinho vermelho duas asas,
Papai Noel passou-me um sermão maior do que suas barbas,
só porque eu matara um pinto, afogado na bacia d`água.

O aviãozinho despertou-me, pois foi depois dele que associei Natal,
pinheirinho, presépio, missa do galo, peças de um estranho ritual,
que se armava a cada ano, quando as cigarras, do meu céu de laranjas maduras,
rechinavam ao meu ouvido: Verão... Verão...

Missa do Galo nunca me sentou. Primeiro porque nunca vi o galo na Igreja,
depois era aquela vontade enorme de dormir, principalmente naquela noite,
para acordar no outro dia cedinho, com aquela bola de couro,
que me encantara por seis meses de espera na vitine.

Numa certa noite envelheci. Acordei com meu Pai entrando em meu quarto, pé entre pé,
mais sério que frade de filme, e pela fresta minguinha do olho,
vi quando deixou sob minha cama alguns pacotes.

No outro dia, meu Pai, minha Mãe e minhas Tias mentindo. Que lindos presentes
Papai Noel te trouxe. Aos oito ou nove anos recebia minha primeira lição de cinismo.
Porque meu Pai não me dissera que os havia comprado com seu dinheiro,
que mal e mal dava para pagar o armazém da esquina?

Então, compreendi que Natal consiste nesta mentira, de fazer as crianças entenderem,
que os presentes caem do céu, como as laranjas maduras, os passarinhos mortos.
Mas já era muito tarde.

3 comentários:

  1. Ganhei meu dia com a morte do cumpadre tigre!!! Ai como eu adorava essas histórias, posso escutalas inumeras vezes que vou sempre adorar!!!
    Sei que estou te devendo o combinado...preciso de tempopara fazer tudo o que quero para ti!!!
    Te amo meu sujeitinho!!!

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”