quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Boletim 58

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 5ª - O grande salto 1.
Nada melhor que um dia depois do outro. Os opostos da vida, são como as ondas do mar. Assim no ano de 1933, o Senhor Adriano Scherer assumia como parceiro agrícola, instalando-se em uma erma coxilha, junto a Lagoa do Guaraxaim, onde hoje está situada a Vila Santa Rita do Sul, antigamente chamada de Guaraxaim, 2º Distrito do Município de Arambaré. Nasci em 1934, mas tenho presente os "lances épicos" deste desbravador. Construiu uma vila de casas para empregados, uma bela morada para si próprio, que ainda hoje existe, secadores e depósitos para o cereal, trapiche, onde aportavam as "gazolinas", que transportavam o arroz para Pelotas e Porto Alegre, instalou um locomóvel à vapor, movimentando as bombas para o recalque d`água, e fornecendo luz elétrica para a vila. Muito mais que isto foi o que fez nas terras arrendadas. Tudo era banhado de "tiriricas" e "macegas estraladeiras", que ele drenou, e construiu mais de dez quilômetros de canais de irrigação, além dos aterros (estradas) para escoar a produção. Tudo feito "à pá", na força do braço humano. Para se ter idéia, o dreno que chamamos ainda hoje de "Quatorze", tem o nome porque possui "quatorze braças de boca", cada braça tem 2,20 m portanto eram mais de trinta metros de largura, cavados com três turmas de cada lado do valo, onde uma atirava a terra para a outra, até a superfície. Quando o Banco do Brasil assumiu a lavoura com a quebra de Adriano, ficou a direção com o agrônomo Dr. Pasquier, que pela primeira vez fez uso dos teodolitos, quando os técnicos não acreditaram que Adriano houvesse marcado aquele valo, no "olho", acertando além do seu traçado, na largura necessária para drenar a grande várzea.


GALPÃO.
Meu santuário de fumaça.
Passado o Dia dos Mortos, quando reverenciei suas memórias "agachado" no Galpão do Galo Velho, contemplando o dançar das labaredas do fogo, e sismando com o tempo grande que passou, reporto-me novamente à Balbino Marques da Rocha, que foi o mestre do imortal Jayme Caetano Braum, com seu verso "Galpão do Rio Grande". Fica apenas o primeiro verso.


Meu santuário de fumaça, onde as vezes desencilho.
Faço um altar de lombilho, do fogo a reminiscência,
e cultuo a dor da ausência, no oratório do passado.
Galpão onde eu fui fedelho, corpeando cabo de relho,
tirando rapa de tacho, onde os avós se reuniram,
e a cavalo partiram para uma cruzado de macho.
Aqui me curvo e me agacho, me inclino e as vezes me ajoelho.
Desato o breve à oração, revendo de um lado e de outro,
quando o Rio Grande era potro, e os que domaram meu chão.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O grande locomóvel Wolf.
Podemos afirmar que este foi o maior lance de Adriano Scherer. Como a primeira necessidade de uma lavoura de arroz é a água, ele logo tratou de comprar a moderna máquina à vapor, que chamavam de locomóvel estacionável, fabricado na Alemanha. Esta máquina se encontrava na Divisa, aqui no município de Camaquã, e o seu transporte foi uma verdadeira odisséia. Não posso precisar quanto tempo ele levou, no grande percurso de arrasto. Eram dois tratores, pasmem, de esteiras, e quarenta juntas de bois. Dizem que ainda hoje existem os "buracos" onde esta máquina ficou atolada por dias. A região não era drenada, e tudo era banhado. Estes fatos me foram contados por meu Pai, que certa feita foi chamado em alta madrugada, para auxiliar numa das atoladas. Constatou que estavam faltando boieiros. Pediu que Adriano providenciasse quarenta homens com aguilhadas, quando então subiu na máquina, dizendo que ao seu grito todos teriam que aguilhoar sua junta de bois ao mesmo tempo, enquanto os tratores já estivessem na tração. Assim conseguiu realizar a "desatolada".


FECHANDO A PORTEIRA.
Minha grande riqueza.
Noutro dia "arranhando idéias" com minha Jane, ela se exasperava com a falta de dinheiro, e as contas acumuladas, quando concluiu - "Estamos pobres!". Então num sopetão retruquei: "Minha riqueza só Deus tira. Os homens não me roubam mais, pois ela é a minha saúde, da minha família e de meus amigos". Agora, depois de meditar muito sobre o acontecido, posso afirmar, que é muito mais agradável administrar o pouco que possuo, do que o muito que já tive. Não estou pedindo que vocês desprezem o muito que tenham, mas que tenham cuidado, pois ele não é o principal em vossas vidas.

7 comentários:

  1. Gostei muito e compartilho do sentimento. Vou mais longe: a cousa está além inclusive da saúde. Já me despedi de amigos em Uti, desencarnando, portanto "sem saúde (física) e que estavam literalmente iluminados. A maior riqueza, além dos verdadeiros amigos, é a fé com lucidez, a coragem, a paciência e a unidade com o Criador. Ou seja, tudo exatamente como disseste - e muito bem. Saudades do amigo, primo e irmão.

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  2. Los hermanos falam em
    conversar com mis adentros;
    que imagem bela de galpão profundo,
    caverna interior,
    refúgio,
    paz ou guerra,
    ma A Casa
    verdadeira definição de Ética

    Seu Ético quando adentro
    abrindo as portas do meu Galpão

    E o meu Galpão tem fogo e portas abertas,
    assim como o do Galo Velho,
    conexão espiritual,
    fé de crenças guerreiras,
    de respeito aos Ancestrais.

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  3. Tu sempre escreve tudo o que eu quero ler na hora que eu quero ler!!!
    Eu te amo infinito meu vozinho do coração!!!

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  4. Tu sempre escreve tudo o que eu quero ler na hora que eu quero ler!!!
    Eu te amo infinito meu vozinho do coração!!!
    Fernanda

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  5. Meu tio-irmão, tua postura e força diante dos ganhos e perdas é o que fizeram tua irmã e teu sobrinho ti amar e ter orgulho pelo privilégio de compartilhar contigo um pouquinho desta vida. Ela, lá do alto, com certeza emana boas energias pelo senhor. Eu, enquanto não pego carona no próximo sopro da vida, agradeço pelo seu exemplo de tio-irmão. Três fortes abraços, Mauro.

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  6. Meu sobrinho,Ir.´. Mauro.
    Pediram que eu não fizesse comentários, dos comentários de vocês, mas tive problema com meu HD e perdi teu e-mail, e teu telefone não atende. Faz contato comigo por de-mail
    Abraços

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”