quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Boletim 54

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 1ª - Origem.
A Fazenda da Quinta foi desmembrada da Sesmaria Flor da Praia, quando Faustina Maria Centeno, filha do Sargento-Mor Boaventura José Centeno e de Dona Antônia Joaquina Gonçalves da Silva, irmã do Gal. Bento Gonçalves, recebeu como herança, mais de dez mil hectares de campo. Faustina veio a casar com o português João Luiz Pereira da Silva, um experto na arte da enxertia, que construiu um pomar tão grande e perfeito, que deu nome à Fazenda da Quinta. Transmito uma idéia do que foi este pomar. Sob a ramada do parreiral, percorria-se um longo caminho, até chegar à taipa do açude, onde havia um excelente local de banho, e pescaria. Dos dois lados deste parreiral, desenvolviam-se as mais diversas espécies de árvore frutíferas da região, onde também conheci alguns pés de café e algodão. O velho tear também é de minha lembrança, onde se confeccionava o tecido para as peças de roupa, já que na época não havia ovelha na região, e o café ali não chegava. Não é preciso dizer que ambos eram de péssima qualidade, e pouca produtividade, devido às geadas. Conheci também um imenso pé de pinheiro, que chamavam de pinheiro imperial, mas não sei dar sua origem. As palmeiras imperiais eram abundantes, e ainda hoje existem na região, alguns de seus "filhos", que vieram procedentes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Do casamento de João Luiz com Faustina conhecemos dois filhos - Boaventura Luiz Pereira da Silva, que com Izabel Eufrásia, neta do Gal. Bento Gonçalves (aquela gente viajava muito pouco) , teve um filho chamado de Cel. Boaventura Luiz, chefe do Estado Maior do Gal. Zeca Netto, e pai de Dona Izabel Silveira da Silva, casada com o saudoso amigo Dorval Ribeiro. O outro filho, foi Francisco Luiz Pereira da Silva, conhecido por Vô Chico, casado com Tereza(?) com quem constituiu dois filhos: Adolfo Luiz Pereira da Silva, casou com Anna América Centeno, que com ela teve quatro filhos: Thereza, casada com o primo Mário; Maria, com outro primo Lauro; Sylvio, com Morena e, Francisco Luiz, conhecido como Luizinho, com Ivone. A outra filha do Vô Chico foi Faustina, que casou com o Cel. Ney Xavier Azambuja, proprietário da Fazenda da Invernada, e tiveram treze filhos, mas sobreviveram apenas oito: Mário, que casou com a prima Thereza; Mariá, com Tito Paranhos Barcellos; Lauro, com Maria; Marieta, com José Olavo Fay; Ney, com Nilda Souza; Marcolina com Romeu Luiz Pereira da Silva; Cel. Dário, com Maria de Lourdes Vilamil e, finalmente Adolfo, que casou com Zilda Souza.
No próximo tentarei dar a descendência deles.

GALPÃO.
Sou originário dos dois galpões - Fazenda da Quinta e Fazenda da Invernada - que não tiveram suas histórias gravadas. Creio que poucas fazendas o tem. Assim vou me esforçando para que o passado não se acabe. Não esqueçam, o hoje, logo será um passado também.

HÍSTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A hospitalidade gaúcha.
Um dia de verão, em plena canícula do pós meio dia, quando até as aves calam seus cantos, e o gado busca o abrigo de uma sombra, o Cel. Ney Azambuja também buscava a sombra da frondosa figueira da Quinta. Estendendo a vista pela grande várzea, avistou o carroção toldado, tracionado por duas juntas de lerdos bois.
- Imagina, disse o sisudo Cel., aquele pobre boieiro com todo este calor, sem buscar um abrigo para descansar. Vai lá Galo Velho, pelegueia o petiço, e manda aquele pobre cristão se chegar "pras casas". Avisa Sia Mosa que tem mais um peão para o almoço.
Cumprida a ordem, o carroção retornou pelo trilho da estrada, mas ao parar junto da cancela da fazenda, desceu de dentro dele mais de dez homens. Era uma "turma de granja" para a moderna lavoura de arroz dos Irmãos Centeno, lá da Pacheca. Ao caudilho Cel. não restou outro recurso senão sorrir, e saudando o pessoal, pediu que passassem ao galpão, onde seria servido o almoço.
- Galo Velho, volta na cozinha e diz pra botarem mais água no feijão, e leva um trago de canha e uns mates, pra acabar logo com a sede desta gente.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda a carreta de bois.
Reportando-me àquela carreta de bois, com a turma de granja, fiquei sismando na cena, que o modernismo apagou do cenário gaúcho. Apparício Silva Rillo retrata muito bem a carreta, num de seus mais lindos versos. Para não alongar, registro apenas dois.

Foste a patrulha avançada,
do batalhão do progresso,
e na incerteza do regresso,
ao passo lerdo dos bois,
apontavas novas rotas,
e nos rastro das cambotas,
brotavam vilas depois.

Velha carreta esquecida,
desengonçada e capenga.
Foste a maior andarenga,
que o Rio Grande conheceu.
quase a ninguém hoje importas.
No museu das coisas mortas,
o Progresso te esqueceu.

Um comentário:

  1. Coloca mais POESIA no blog ! Acho que ficaria legal! Daria mais tempero, ilustraria à muitos, e serveria de fonte de pesquisa. Sabes de idéia, que eu sei ! Magrinho

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”