sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Boletim 55

ABRINDO A PORTEIRA
A Fazenda da Quinta - 2ª - A sede.
Ela foi construída na segunda metade do Século XIX, por meus tetravôs, João Luiz Pereira da Silva e Faustina Maria Centeno, caracterizando-se pelo estilo colonial português, coberto com telhas portuguesas, com a frente para o poente, tendo na fachada uma só porta de entrada, e sete janelas. As paredes são largas, construídas com tijolos em formato duplo, ou seja, quadrados, com 50cm x 50cm. Quando de uma das reformas, colocaram na sua frente, esquina sul, um marco de sesmaria "fincado" na própria calçada, que na fotografia é visível à direita da foto. Estes marcos serviam para as demarcações das propriedades, quando não haviam inventado o aramado, e pesa cerca de uma tonelada, possuindo quatro metros de comprimento, e 50 cm de diâmetro, sendo que na cabeça está entalhado um anel, na própria pedra. No mesmo alinhamento da casa, distante vinte metros, foi construído um grande galpão, constando de dois quartos, sala e banheiro, destinados aos visitantes não familiares, possuindo ainda ampla garagem, que era abrigo das carruagens, e mais três quartos para empregados, com salão, fogo de chão e cozinha. Atrás de tudo isto ficava o lindo arvoredo, com cerca de dois hectares. É necessário dizer que hoje tudo está em ruínas, fazendo lembrar os velhos castelos europeus, onde os proprietários não tinham como mantê-los. Glades Pereira da Silva vendeu a Fazenda da Quinta para a tradicional família camaquense, Bezerra Netto, que nela não reside, e mantém habitável apenas uma casa confortável, construída nos fundos, pela própria Gladis, que foi a primeira a abandonar a grande sede.




GALPÃO.
Uma noite de inverno.
Foi neste galpão da Quinta, que ocorreu um fato marcante em minha vida. Cinco horas da madrugada lá chegava, para pedir uma caçada de marrecão. Dirigia a fazenda minha prima Glades Terezinha, filha do Cel. Sylvio Luiz Pereira da Silva, e que certamente àquela hora estava dormindo. Não era meu propósito acordá-la, queria apenas avisar que iria caçar, então, com o minuano "assobiando", e tiritando de frio, não tendo encontrado alguém acordado, procurei pelo fogo de chão do tradicional galpão, onde para minha surpresa, além de não ter fogo, nem mesmo tinha lenha para "prender um lume". Rezei pelos meus ancestrais, prometendo a eles que no Galpão do Galo Velho, desmembrado daquele galpão ali, jamais iria faltar lenha, e que o fogo também nunca apagaria. Estou cumprindo com minha oração.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A lenda do chimarrão.
Já escrevei, tudo que é velho tem suas baldas, e quanto mais velho então, como é o caso do nosso chimarrão, passa a ter lendas.
"Cansado com as andanças da tribo, um velho índio reusou-se a seguir com ela. A mais jovem de suas filhas, chamada Jary, decidiu permanecer junto dele, vendo seu amor , Pery, perder-se na curva do mato, com o restante da tribo. Certo dia entrou na taba um estranho pagé, que sabendo do gesto da jovem índia, tentava uma recompensa por sua atitude fraterna. Perguntou a ela o que queria para ser feliz, mas ela permaneceu em silêncio nada pedindo. O velho índio respondeu em seu lugar: "quero renovar minhas forças, para retornar à minha tribo, levando minha Jary, para junto de seu noivo Pery". O pagé entregou então ao velho, uma planta de cor muito verde, chamada "caá-y", ensinando aos dois como plantá-la, colher suas folhas, secá-las ao vento, para depois triturar, fazendo com ela uma infusão reconfortante. Em pouco tempo o velho índio renovou suas forças, retornando à tribo.
A bela índia Jary ao passar de duas luas, reencontrou a tribo, e nela seu grande amor, que persiste ainda hoje, nos constantes beijos que ofertamos em nossas bombas do chimarrão.

FECHANDO A PORTEIRA.
O ócio!
No último fim de semana, mais precisamente sábado passado à noite, me encontrava no galpão sismando com os negros velhos da beira do fogo, quando ali entrou cheia de alegria a Eunice Machado, que pescava com meus netos no açude. Plena de vida disse que iria fazer um espinhaço de ovelha com pirão, para a turma "das casas". Ora, seriam mais de dez pessoas, e fiquei pensando exatamente o quanto de trabalho ela teria pela frente, e sozinha na lida. Mais que tudo admirei o amor que habita em seu coração. Lembrei de uma dos ensinamentos da minha Ordem Maçônica - "O ócio é um dos vícios que destrói a alma humana". Incontestável. Acrescento mais: a mente estará tão descansada, quanto mais cansado estiver o corpo.

Um comentário:

  1. Muito bom ! teu conteúdo, que um dia me fez ficar homem, continua a por gente a pensar !
    beijão. Magrinho

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”