ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.
(De um boletim 7 anos passados)
O Campo.
Não é só por amá-lo, mas por buscar entendê-lo que meditei nesse texto. Em minha infância gravei a cena de minha Mamãe tricotando um pulôver, por dias e dias, numa paciência infinita. Na época não havia indústria para confeccioná-los, nem comércio para vendê-los, e se houvesse não se podia chegar lá. Nas cidades habitava 10% de população, enquanto no campo vivia o resto. Se causa espanto o "fervilhar" das grandes metrópoles nos dias de hoje, vocês deveriam ver o fervilhar nas grandes fazendas nos dias de ontem. Antes do Sol nascer era uma azáfama danada, igual a de vocês hoje nos conturbados tráfegos. O tirar leite, o botar fogo nos fogões, prender os cavalos do potreiro para o serviço do campo, o fazer pão, derreter toucinho para fazer banha, bater manteiga, cozinhar o feijão. Olha, só o feijão é uma história, pois ele era feito com a graxa do tutano dos ossos, e não podia ser requentado, o que sobrava era para os cachorros. Vai hoje quebrar ossos e cozinhá-los, para extrair a graxa! A lã era cardada, para passar nos teares, na fabricação dos fios de lãs. Os colchões confeccionados com as crinas dos cavalares, os travesseiros com pena de ganso, isso para os ricos, pois aos empregados era ofertado a lã de ovelha para processá-los. O algodão era plantado antes da chegada dos ovinos em nossas várzeas, e mesmo sendo de fraca produção e qualidade, atendia a necessidade dos tecidos. Esta minha história não vai ter fim, como não terá fim a história das metrópoles de hoje, então, volto à cena da Mamãe tricotando seu pulôver. Sabem por quê? Porque ela é a expressão da CALMA. A expressão de um tempo, em que se vivia com tempo. Exatamente o que não existe hoje. Aprecio meu neto na frente de uma TV, se enervando com jogos violentos, e inimagináveis. O espírito não sabe conviver com a pressa. O corpo humano também não, mas de certa forma se adapta. Nossa existência é longa, tão longa que não é necessário correr, cansar, preocupar, irritar, brigar. Não há razão para antecipar o amanhã. É uma questão de saber esperar, ter calma, mas acima de tudo ter confiança em Deus, que é a nossa única certeza.
As fazendeiras abandonaram o campo, e com elas também foram os maridos. Atrevo-me a vaticinar: o custo e o cheiro da cidade está ficando tão alto, que em breve retornaremos ao campo.