segunda-feira, 15 de abril de 2019

Boletim 488


ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.

GALPÃO.

Nosso Galo Velho, que nasceu Cristino Gonçalves, era filho de escravos dos descendentes do General Bento Gonçalves, quando da retomada de Uruguaiana na Guerra do Paraguai. Homem simples do campo, mas de uma bondade infinita. Foram várias as nossas charlas em rodas galponeira, quando ele "tenteava" um churrasco gordo, no brasedo do fogo de chão. Ele costumava me chamar de menino, e lembro de uma conversa nossa:
"Menino, no meu tempo de criança, na Fazenda do Cristal, assisti meu pai apanhar muito. Depois, quando ele chegava no rancho dizia pra gente: 'Eles podem machucar o meu corpo, mas minha alma não irão machucar nunca.' Foi preciso deixar o tempo passar, para entender o que ele queria dizer - que não guardava ódio daqueles que lhe feriam. Eu hoje aprendi a perdoar os que tentam me machucar, pois mesmo não sendo escravo, desde que o Cel. Ignácio Xavier Azambuja nos comprou do filho do Gal. Bento Gonçalves, ainda sofro agressões por ser negro".
A mensagem desse negro chegou em minha lembrança, exato em plena Páscoa, quando Cristo sofreu os grilhões da crucificação,  e  lá do alto da cruz perdoou todos nossos pecados. 







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”