sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Boletim 80

ABRINDO A PORTEIRA.
O dinheiro.Há uma quebradeira geral, ou universal. Aqueles que já quebraram alguma vez, sabem bem o que é isto, mas podemos "comparar". Certamente vocês já assistiram os leiteiros derramarem seus produtos nas estradas, e os arrozeiros jogarem seu cereal nas ruas, pois quando as coisas são por demais, não valem nada! Ainda bem que os homens se equiparam com as mulheres, senão perderiam também os seus valores. Então, quanto a esta quebradeira universal, parece que uma solução seria por fogo em algum dinheiro! De tanto que os "homens" possuem, não sabendo mais o que fazer com ele seria bom queimar uma parcela. Certamente imprimiram por demais, já que as máquinas não estão dão conta do serviço, e até mesmo o famoso dolar não querem mais no mercado.

Só existe descanso num banco tosco do Galpão do Galo Velho.

GALPÃO.


Descanso.
Na frente da labareda de um fogo alegre e falante, aquentando a noite fria deste inverno brabo. Um cachorro enroscado junto dele, uma cambona chiando pra um mate bem cevado, o relincho da égua encocheirada, e a mente vagando solta no espaço enfumaçado, na aproximação daqueles que ali habitaram. Um descanso. Melhor somente o "descanso eterno".


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

A história dos galpões.
Contam que as fazendas se originaram dos galpões. Só eles é que existiam, onde a família comungava no dia a dia, a lida campeira. Parece uma verdade, pois até mesmo as cidades se originaram dos acampamentos militares, e os galpões foram acampamentos de trabalhadores, não existindo a Casa Grande. Quando ela foi construída, as mulheres encontraram seu canto, e não mais pediram licença para participar das rodas galponeiras. "Sala grande chão batido, onde passei minha infância, querido Galpão de Estância, que foste um dia meu lar, hoje aqui venho rezar, saudoso do teu afago, Catedral xucra do pago, de joelhos em teu altar". (Jayme Caetano Braun).


FECHANDO A PORTEIRA.

Conselho e opinião.
Conselho só deve ser dado quando pedido. Opinião rola por toda a parte, principalmente nas TVs e nos comentários, como estas que vocês estão lendo. Todos de certa forma são donos da verdade, e poucos conseguem ouvir ou ler aquilo que lhes desagrada, principalmente se forem "preconceituosos". Preconceitos dos homens, ou suas vaidades fazem as desavenças, a quebra social, as guerras. Quem depois de um tapa, oferta o outro lado da cara? Só existiu uma Criatura capaz disso!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Boletim 79

ABRINDO A PORTEIRA.
A obra humana e a divina.
Certo dia, chovendo, visitei o Congresso Americano em Washington DC. Descendo do ônibus da excursão subi os vários degraus, olhando tudo que me mostravam. Vi, mas hoje não sou capaz de descrever nada do que vi. Nada ficou gravado em minha memória. Entretanto, se quiserem que eu descreva o voo da minha "viuvinha", o colorido do meu "verãozinho", ou os passos marciais dos meus "joãos de barro", lá da minha Sant´Anna farei com detalhes. A obra humana não me impressiona. A obra divina grava-se em minha alma, como se eu buscasse por sua perfeição. Tudo que o homem fez ou faz, ele fará melhor, mas tudo que Deus fez, Ele já o fez melhor.

GALPÃO, HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM e FECHANDO A PORTEIRA.

"Más valiente do que feo".
(Creio que estou repetindo. Faltam registros. Vou me organizar.) Os feitos de Gumercindo Saraiva são notáveis, principalmente na Revolução de 1893, sempre combatendo de espada em punho, o governo impopular de Júlio de Castilhos. Eis a história que encontrei nos livros, assinada por Odilon Abreu.
Corria o mês de fevereiro de 93. O rebuliço no Rio Grande alvoroçava caudilhos e caudilhetes contrários ao governo castilhista. Gumercindo Saraiva era estancieiro forte no Uruguai e Santa Vitoria do Palmar. Filho de pais brasileiros se achava no direito de pelear junto aos federalistas. Com uma tropa bem montada e armada, o caudilho cruzou a fronteira ocultando-se no rincão de Ana Correia, entre os rios Jaguarão e Jaguarão-Chico. Vinha para se encontrar com o Cel. Jóca Tavares, a fim de engrossar as tropas rebeldes, que já andavam por volta de três mil homens. Quando esse pintor bizarro jogou o Sol no abismo do fim do mundo, começou a colorir o poente, e a tropa se acantonou numa canhada bonita. Gumercindo distribuiu as ordens para o acampamento. Pelo sul um caponete abrigava e ocultava a gente do caudilho. Na chapada que se erguia ao norte, Gumercindo postou uma sentinela para proteger de qualquer surpresa o sossego dos insurretos castelhanos. - Todo listo, mi comandante! Disse marcialmente o ordenança de Gumercindo, um tipo melenudo, com barba de semana e meia esse ordenança. Dente de ouro exibido na linha de frente da boca. Chapéu com barbicacho de fleco e aba tapeada na testa. O beiço rachado lhe dava uma voz fanhosa. “Todo listo, mi comandante.” De fato, em pouco tempo os vaqueanos já estavam com uma rês a título de requisição guerreira. E nessas ocasiões o puxirão se faz de vereda. Se põe esperto o mais lerdo dos andarengos. Vala grande cavada no chão, as carneadeiras descobrindo os espetos nos galhos retos das guajuviras, lenha farta, fogo grande, carne gorda e caneco de branca de mão em mão. Mate, charla e patacoada. Palas no chão, mão nas cartas, e na ponta da língua os versos debochados do truco. E de repente, atenção! O sentinela firma os olhos e descobre no horizonte um vulto que vem crescendo. Num galope chasqueiro vem um gaudério batendo estribos. Ele dá o aviso: “Se aprochega um cavaleiro Dom Gumercindo” Então, de relancina o chefe forma uma patrulha com dez voluntários. Ordena uma espera na ponta do capão pra deter o intrometido. No lusco-fusque na noite o índio ia passando a lo largo, quando se viu cercado. “La fresca, tô perdido, pensou. E o chasque o patrão não vai chegar ao destino.” Conduzia uma mensagem trocada entre chefes castilhistas. Preso, foi levado à presença do caudilho. Não apeou do cavalo. Tipo miúdo e entroncado, com lenço branco no pescoço e entonado como pica-pau em tronqueira. Um nariz grandalhão e achatarrado, escondendo um eito de bigode esfiapado, sem apuro nem jeito. O mulato meio pendendo pro índio, tinha séria sua cara de lua escarrapachada. Foi logo despido da adaga de quase metro e do nagão quarenta e quatro. Tilintavam as rosetas das esporas de papagaio comprido, abraçando a barriga do flete. Os homens de Gumercindo se alvorotaram com a petulância do tipo. Foram precisos cinco homens pra desgrudar o taura do lombo do cavalo. E ele quieto. Gumercindo, ex-delegado de polícia em Santa Vitória, no fim do Império, tinha prática num interrogatório. Tanto podia falar castelhano, como muito bem o português, mas este só falava com caudilhos de igual patente. Antes, porém, que Gumercindo começasse a inquirição, o ordenança se antecipou atrevidaço. “Pucha Che, será que sos tan valiente como feo?” E o índio quieto. “Quién eres? De donde vienes? Para donde vás? Que andas haciendo?” Indagou o caudilho. “No le digo porque ando de próprio.” “Sabes com quiém estás hablando?” “Sei. Com o castelhano bandido Gumercindo Saraiva”. “Si yo cayeras em tus manos que harias conmigo?” “Le passava o lenço colorado”. “Maténlo.” Ordena seco Gumercindo. E o índio quieto. A sentença já era de todos conhecida, e o ordenança tirou uma pedrita dos arreios assentando o fio da faca. Lambia os beiços pensando no sangue que ia jorrar de orelha a orelha. As labaredas do fogo iluminavam a cena bárbara. E o índio quieto. O afobamento do ordenança fez com que Gumercindo dissesse: “Párate. Este no es servicio para um boludo como tu.” A coragem do homem fez com que a sentença fosse reformada. “Larguénlo! Le den um buem caballo. Sus armas. E que se vaya juntar a su gente. Porque se matamos a los valientes, los cobardes es que no van defender los ideales.” E o índio quieto. O ordenança de aproxima da cara do índio, e não se contém: “Pucha Che, tu eres mucho más valiente do que feo”.

sábado, 30 de julho de 2011

Boletim 78

ABRINDO A PORTEIRA.
Nossa idade.

Creio que esta realidade acompanha a maioria de nós, velhos, que são aqueles que mais me leem. Uma preocupação constante! Ainda pouco assistia o treino de classificação da F1, constatando o esforço daqueles que chegaram lá. Creio que nós, os mais velhos, estamos nessa. Chegando aqui na máquina encontrei um e-mail, dizendo que os chineses chegam lá, porque "comem a metade, caminham o dobro e riem o triplo". Não estou contestando esta verdade, mas faço minhas considerações. O quanto vivemos não é o principal, o principal é como vivemos. Somos felizes? Então, viveremos melhor e mais, do que aqueles que chegaram lá, sem serem felizes. Não sou dono da verdade, mas precisamos nos afastar da violência, que toma conta do mundo. Meu filho Magrinho me ensinou muitas na vida, e uma delas foi não mais assistir os "jornais" da TV, e neste horário ouvir uma boa música. Pensem nisto.



GALPÃO.

Conversa de galpão.

Aqui vivemos na simplicidade de um fogo de chão, sem preocupação do amanhã. Lembrei: "Minhas batalhas são as vésperas de hoje, na projeção imprevisível do amanhã" (Apparício da Silva Rillo), no que realmente devemos meditar. O termo 'véspera de hoje', nos reporta a um preparo de vida, um projeto de existência, que poucos o fazem. A maioria 'deixa a vida me levar' como se aqui houvéssemos chegado sem compromissos. Uma vida tem imensos compromissos - com nossos familiares, com nossos amigos, a sociedade que nos acolhe, mas o principal de todos é conosco mesmo, com a Criatura que nos criou, e nos espera para uma 'prestação de contas final'.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

Minha mana Dinha.

Uma das belas lembranças, que guardo de minha mana Maria de Lourdes, é este título de Histórias Que Me Contaram, que ela dizia ser de um livro que nunca publicou. Nem mesmo sei se fez algum rascunho. São tantas as histórias de nossas vidas, que peço aos parentes que me leem trazerem à tona, para que não se percam no tempo. Já escrevi várias lá atrás, tenho muitas de minhas primas Marila Azambuja, Ivette Centeno e seu filho José Vitor, que pedirei permissão para publicar aqui. Minha Dinha tinha só 1/4 de sangue Centeno, por tal não publicou nada. Dirão que tenho o mesmo sangue, mas meu quarto é forte! Esta veia dos Centeno é escritora e irrequieta. Lembro do meu tempo de criança, quando inquieto nas mesas de refeições, era corrigido por minha Mãe - pára Tio Centeno!


FECHANDO A PORTEIRA.

Será da idade?

Vasculhando meus "guardados" encontrei o texto abaixo, que não sei se já foi publicado.

"Outro dia fazendo 3/4 de séculos perfumei o galpão, aticei o fogo, me impregnei de oração, rezando à quem amei e fui amado. Aquele amor de meus velhos rudes era puro, e muitas vezes não o entendia por sua dureza, mas sei que queriam o meu bem, buscando por mim até ao me corrigirem erradamente. Sofria, mas o sofrimento também constroi, o que só se descobre na velhice. Já notaram que esta porteira aí é meu próprio coração. Abrindo-a busco lembranças de um passado que foi lindo, brincando à sombra das figueiras, respirando ar puro, apreciando invernos que se distinguiam dos verões, curtindo enchentes que duravam meses, vendo o escoar de suas águas mansamente, pois o homem não possuía máquinas para afundar a terra. Os tahãs cantavam aos bandos, nidificando nos banhadais, enquanto o tempo, como as águas, custava a passar. O homem aprendia a meditar no silêncio de si mesmo, na falta do que fazer, naquele mundo calmo e puro, construindo um interior voltado à natureza, que amava sem poder agredi-la. Os "gringos" não haviam descoberto os venenos, e se houvessem, não haviam descoberto o Brasil. Não havia aviões agrícolas para metralhar a terra. Não havia sequer aramados, impedindo o ir e vir dos homens e das avestruzes. A natureza sorria, num nascer pleno de sol, onde o homem na sua "bendita" ignorância, ainda não havia descoberto "as benesses" do dinheiro, com o qual hoje tenta comprar a própria felicidade, como se ela fosse um bem material exposto nas prateleiras dos modernos "botecos".

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Boletim 77

ABRINDO A PORTEIRA.
As medidas do amor.
Tenho um livro com este título, e já fizeram um filme com o mesmo nome, mas ainda não descobriram "o aparelho" para conseguir estas medidas. Posso afirmar que todos nós amamos. Os bandidos também amam. O desequilíbrio está na consciência de cada um. Amamos o objeto, ou o abstrato? Quem conseguirá responder? Aqueles que souberem responder, digam o quanto do objeto e o quanto do abstrato. Mais ou menos um percentual. Ficará mais fácil uma conclusão.
Lembram que lá no boletim 75 citei Gregg Braden, na sua afirmação "Não somos matéria. O núcleo de um átomo também é 'energia condensada'. Estamos conectados através de nossas vibrações". Gostaria de dizer ao autor que não se trata de vibrações, e sim de amor! Vocês tirem suas próprias conclusões, pois eu já tirei a minha.

GALPÃO.
Ainda o amor.
Vamos deixar de lado esta dura filosofia, e entrar no "Meu santuário de fumaça, onde as vezes desencilho. Faço um altar de lombilho, do fogo à reminiscência, e cultuo a dor da ausência, no oratório do passado. Galpão onde fui fedelho, corpeando tala de relho, tirando raspa de tacho, onde os avós se reuniram, e de onde a cavalo partiram, pra um cruzada de macho. Aqui me curvo e me agacho, me inclino e as vezes me ajoelho, desato o breve à oração, revendo de um lado e de outro, quando o Rio Grande era potro e os que domaram meu chão" (Balbino Marques da Rocha). Aqui chegando despidos de preconceitos, vaidades e orgulhos, na mescla da poeira de um chão batido, curtindo relinchos da eguada, latidos da cuscada, reverenciando o passado, fica mais fácil entender a vida, na simplicidade com que o Menino Jesus se fez gente, derramando amor pelos séculos e séculos.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda conto..


Passei cinco anos no interior do Rio de Janeiro, no Vale do São João, município de Cabo Frio, plantando arroz irrigado. Coisa de maluco, mas a vida também tem disso. Não digo que saiu todo errado, pois aprendi muito da vida. Então, frequentava o Rotary Club de Rio das Ostras, da cidade do mesmo nome, onde tinha uma casa alugada. Lugar paradisíaco, só aposentados ou vagabundos, coisa que lá no Rio tem muito. Trabalhar num lugar lindo como aquele só mesmo gaúcho. Numa das reuniões do clube, que era nas segundas feiras, um Companheiro do meu lado disse que ainda não conhecia o Rio Grande do Sul. Louco de saudade, e orgulhoso da terra, fiz propaganda. Vou quinta feira próxima, me disse ele. Quando foi na outra segunda, lá estava ele, com o nariz vermelho. Perguntei: "Não foste na minha terra"? Recebi de resposta: "Fui, já voltei, e nunca mais volto lá. Num só dia peguei verão, primavera, inverno e outono. Fiquei dois dias no hotel gripado". Conto a história, porque outro dia ocorreu o mesmo comigo. Coisas de gaúcho.



FECHANDO A PORTEIRA.


A história de uma amiga do peito. Conversamos muito e eu sinto o quanto é infeliz. Não consegue ver nada fora do lugar, e não aceita os erros do dia a dia. Perfeccionista. O Mundo não é perfeito. A natureza, expressão maior de Deus, não é perfeita. O que pensar dos tussunamis, dos vulcões? Parece que para haver equilíbrio temos de conviver com o certo e o errado. Mais do que conviver, aceitar o errado, como algo tão certo, como a própria morte. Creio até que os perfeccionistas não aceitam a morte, como se ela fosse alguma coisa errada. Pensem, reflitam, e aprendam a conviver com o errado, tirando lições dele é lógico.

domingo, 3 de julho de 2011

Boletim 76

ABRINDO A PORTEIRA.
O frio do Rio Grande do Sul.

O ano de 2011 ficará na história por seu forte inverno, fazendo os mais velhos lembrar de outros tempos, de "priscas eras". Não existiam aquecedores além do fogo campeiro, e os fogões caseiros alimentados à lenha, quase todos eram colocados no centro das cozinhas, tamanha as lidas às suas voltas. Ali, como ainda hoje em alguns lares, era a peça mais ocupada pela família. Os campeiros sofriam muito, pois a riqueza daquele tempo era o couro vacum, e uma das obrigações era courear, principalmente no inverno, quando aumentava o número de mortes dos animais. A melhor "coberta" para aqueles brabos minuanos era o churrasco gordo e a cachaça, e o melhor de tudo, os doutores não haviam descoberto o mal, que estas duas coisas boas faziam para a saúde.

GALPÃO.
O frio nos galpões.
A hospitalidade, ou sociabilidade gaúcha, muito deve ao rigor de nossos invernos. Ao redor de um fogo de chão é que o atavismo de nossa raça desperta, com o calor das labaredas nos cernes que buscaram seivas no chão da pátria gaúcha. Em boletim anterior contei, que na era glacial, os homens peludos disputavam uma caça, quando o Criador dos Mundos jogou uma faísca sobre um toco de árvore seca, incendiando-o, e aqueles bárbaros sentiram que era bom, formando a primeira reunião social da Terra. Assim são as nossas reuniões gaúchas, quando os sentimentos de tradição desperta, reconhecendo que somos um só, na Liberdade, Igualdade e Humanidade de nossos anseios.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM .
Vou contando...
Na década de 90 passei cinco anos trabalhando no interior do Rio de Janeiro, plantando uma grande lavoura de arroz irrigado. Pra início de conversa, eles não usam fogo nunca, "um prum lado o outro pra outro". Levei muito gaúcho para lá, e contratei outro tanto de carioca. Certo dia um me disse: "O senhor é o primeiro patrão que me aperta a mão. Gaúcho é mesmo diferente". O homem já era bem mais velho que eu, mas lhe respondi: "Claro que somos diferentes. Lá o que é ruim e não trabalha morre no inverno, enquanto vocês aqui criam qualquer porcaria. Basta um chinelo de dedos, uma camisa física e um calção. Mas não te ilude meu amigo, o patrão gaúcho aperta a mão do empregado, para saber se ele é trabalhador, apalpando os calos de suas mãos".

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o frio...
Ando com muito frio, ou meu sangue perde as forças. Então, quando a gente abre o jornal não dá outra, é só frio e geada fina. Chegam a falar em bater o record dos -7º no Estado. O brabo não é a mínima, é a máxima ficar entre 7 e 11º, frio dia e noite. Pois fui falar que isto é bom, então "guentemos, como dizia Honório Lemos".

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Boletim 75

ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.
A espiritualização.
(Tenho certeza que meu negro velho, Cristino Gonçalves, dirá que isto não é conversa de galpão...)

No boletim 71 escrevi mais ou menos assim "a humanidade está evoluindo materialmente, restando evoluir espiritualmente". Esta frase originou um comentário, assinado por Magrinho, em data de 25 de abril passado, questionado o nascimento de tantas almas. Se o mundo começou com as duas de Adão e Eva, como agora temos sete bilhões de almas? Tentarei lá no final concluir alguma coisa, mas antes, desejo citar Gregg Braden, cientista americano, geólogo chefe da Phillips Petroleum, que me foi apresentado pelo próprio Magrinho. As frases entre aspas são de sua obra.



- "Não somos matéria, somos espírito. O núcleo de um átomo é apenas uma energia condensada, não é matéria". Então - "tudo é vibração, tudo é feito de energia condensada. Nossos corpos são feitos a partir da vibração da energia que emanamos constantemente. Estamos todos conectados através de nossas vibrações".


Este cientista, em certo momento de sua obra, cita o Código de Isaías. "A descoberta do grande Código de Isaías, nas cavernas do Mar Morto, em 1946, revelou as chaves sobre nosso papel na criação. Ali se encontra um modelo 'perdido' de oração, que a ciência quântica moderna sugere que tenha poder de curar nossos corpos, trazer paz duradoura a nosso mundo e, talvez, prevenir as grandes tragédias que poderia enfrentar a humanidade".


"A ciência quântica diz que tudo que imaginamos, encontra-se disponível, e só devemos 'atrair' o que desejamos através do pensamento. A ciência prova que o pensamento é energia, e que energia é vibração, e que a vibração cria o mundo material. Nossos corpos, e todo o restante ao redor, foi e continua sendo criado através das nossas mentes coletivas".


"Muitas pessoas se exercitam, vão a academia, bebem muita água, comem alimentos saudáveis, mas vivem com raiva ou pessimismo. Assistem sempre noticiários negativos, adoram filmes de guerra, drama e violência, conversam sobre doenças, crises financeiras, guerras - estas pessoas geralmente não entendem porque ficam doentes e deprimidas. As emoções são o alimento da alma, e este alimento influencia a nossa saúde e o nosso destino completamente".


"PENSAMENTO, SENTIMENTO e EMOÇÃO devem estar alinhados. Se se moverem em direções diferentes o resultado é uma dispersão de energia, e a sua oração não será recebida por você".


"Quanto mais AMOR deixarmos fluir por nossos corpos, mais adaptados estaremos para enfrentar o que possa acontecer em nossas vidas. E podemos conduzir TODO NOSSO PLANETA, mediante nossos pensamentos positivos, em conjunto, para o melhor futuro possível."

Extraído do livro "A wakenning to zero Point" de Gregg Braden.



Faço minha imberbe conclusão. Acreditando em Gregg Braden e na "ciência quântica", absorvo o fato de que sou puro espírito. Creio em Deus, e que Ele me fez a sua semelhança, portanto, deixo de ser matéria putrefata, para me tornar um ser imortal. Daí, se morrer "esta coisa" que me envolve, se retorno para cá, ou fico em outro espaço, pouco estarei me importando. O importante é estar EVOLUINDO, e tenho certeza que só o farei com FÉ EM DEUS.

Qual o tamanho de nossas almas? Do tamanho de DEUS.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Boletim 74

ABRINDO A PORTEIRA.
O computador.

Não adianta você ser bom piloto, se o carro é ruim. Não sou dos melhores, mas como lido desde muito com essa máquina, já devia entender do seu interior. Mas não entendo nada. Fiquei mais de mês sem escrever no blog do Galo Velho, porque não conseguia "desblogar". Pode? Pois tanto pode que aconteceu. Assim perdi a "embocadura", e terei de recomeçar. Tenho certeza que o Paulo Santana tem aquela facilidade, porque escreve todo santo dia. Vocês perdoem o principiante.

GALPÃO.
Um entardecer frio.

Foi o que aconteceu outro dia, no Galpão do Galo Velho. Era o nosso Minuano assoprando gelado, enrijecendo meus dedos, penetrando as roupas, e fazendo me aproximar do fogo forte. Um "pai de fogo" crepitava, como num grito ao se transformar em cinzas. Um velho pé de eucalipto, se transformava em cinzas, plantado que fora, pelas mãos de meu velho Pai, e alimentado pela seiva da terra, que também me criou. Tudo será cinza um dia. As Torres Gêmeas viraram cinzas, a própria terra é cinza, expelida pelo fogo dos vulcões. Só na velhice entenderemos o significado da vida, que passou despercebido por toda nossa existência. A lei diz que na natureza tudo se transforma, e nada se perde. Nós nos transformaremos, mas não nos perderemos, estando com Deus em nossos corações.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Esta eu conto.

Termino me transformando em contador de histórias. Godofredo Fay de Macedo foi meu professor de português, nos idos de 1950, quando o Colégio Farroupilha se localizava na Av. Alberto Bins, em Porto Alegre, onde hoje está o Hotel Plazza São Rafael. Eu saíra formado no ginasial, no Colégio São João Batista, aqui em Camaquã, com o segundo lugar da turma, e ainda orador. Lembro o quanto me senti importante, ainda mais que foi de toga e beca, me fazendo crer que não precisava me formar em mais nada, tanto que daí, só consegui o diploma de datilógrafo. Voltando ao Godô, em uma aula ele passou uma redação, que esqueci o título. Quando distribuiu as provas com as notas, a minha nota foi 3, em 10. Ela só tinha duas correções. Olhei para meu colega do lado, pois as classes eram de dois lugares, e ele tinha a prova vermelha de tantos erros, mas sua nota fora 8. Godô perguntou se havia reclamações. Timidamente levantei o dedo, e ele me fez passar à frente da classe. Disse: "Eu sabia desta reclamação. Essa redação só tem dois erros de ortografia, mas pergunto se vocês já comeram uma laranja chocha, daquelas que a gente chupa e não sai nada. Pois esta redação é assim. Creio que minha nota foi muito alta." Por tal, faço força para dar conteúdo no que escrevo para vocês.



FECHANDO A PORTEIRA.

Corpus Cristi.

Esta expressão se traduz por "Corpo de Cristo", e é celebrado na quinta feira, após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. Ela foi instituída em 1264, pelo Papa Urbano IV. Conta a história que um sacerdote chamado Pedro de Praga, vivia angustiado por dúvidas da presença de Cristo na Eucaristia. Fez então uma peregrinação ao túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma, mas ao passar por Bolsena, na Itália, enquanto celebrava a Santa Missa, foi novamente acometido da dúvida, mas na hora da Consagração recebeu a resposta em forma de milagre: a Hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal, os sangüineos e as toalhas do altar, sem manchar as mãos do sacerdote, e a parte da Hóstia que estava em suas mãos conservou as características de pão ázimo. (Pesquisa no Google - Wikipedia)

Conto esta história por não entender, como nossa cidade de Camaquã, suprimiu este importante feriado de Corpus Cristis.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Boletim 73

ABRINDO A PORTEIRA.
O "bem-estar".
Olhem, depois de me deparar com o termo "bem-estar", lembrando do outro tempo criança ao ouvir seguidamente sua pronúncia, fui no Google e fiquei confuso. Psicologia é um negócio complicado. Li tudo e não entendi nada, faltou "massa cefálica". Bem-estar para mim é aquilo que me faz feliz. É estar de bem com a vida. Não que eu não tenha problemas. Muito pelo contrário estou repleto deles, mas estou de "bem-estar" comigo. Lógico é tudo comigo mesmo, e vou repetindo: tudo é de dentro para fora. Ser feliz ou ser infeliz está dentro de mim, não está lá fora, nas outras pessoas, ou nos problemas que me rodeiam. Então nestes momentos difíceis que estamos passando é necessário meditarmos, mas principalmente acreditarmos nAquele que nos fez à sua semelhança. Que o bem-estar habite em todos nós. Amém.

GALPÃO.
A Fazenda Sant´Anna. III
Enquanto a Fazenda Sant`Anna continuava arrendada ao Tio Adolfo, a vida corria plácida na Chácara da Vila Thereza, ou no casarão, como passou a ser chamada sua sede. Minha mana Maria de Lourdes e eu estudávamos no Colégio São João Batista, das Irmãs Bernardinas, recebendo a boa continuação da educação de nosso lar. Minha Mana, para quem a conheceu, era uma "flor de mulher", pois era além de linda, muito inteligente, culta e educada. Meus Pais eram adorados na sociedade local, por suas simplicidades, e solidariedades. Por quatro legislaturas meu Velho Mário foi vereador, e por duas vezes Presidente da Câmara Municipal de Vereadores, quando não recebiam "salários", apenas o esforço por seus ideais políticos - velhos e bons tempos! Minha Mamãe que era "homeopata" distribuía sua benemerência na população carente, e como na época não havia nenhuma "entidade beneficente", além da Igreja Católica, ali ela se fazia presente a serviço de Deus. Pois Ele necessitou de seus serviços junto de si, chamando-a em 1948, com a idade de apenas 45 anos. Começava então um novo capítulo, para mim com 14 anos, e minha Mana com 18.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O grande arvoredo.
Esta aconteceu comigo.
A chácara possuía um grande e bom arvoredo, e as formigas já eram inimigas naquele tempo. A gente as combatia com uma geringonça de máquina, que era um cubo de ferro terminado em cone, com um furo na ponta, onde se colocava brasa viva, e sobre a mesma se despejava algumas gramas de "arsênico", um veneno terrível. Sobre este cone havia um fole, que soprava dentro dele, levando a fumaça para o miolo do formigueiro. Eu era o ajudante de meu Papai. Até aí tudo bem, mas minha Mamãe sempre controlando as coisas, como todas as mamães, "me pegou" chupando uma laranja após o serviço. Foi um Deus nos acuda. "Estás envenenado, e tens que vomitar imediatamente". Quebrou o primeiro ovo, separou a gema e me fez engolir a clara. Claro que a clara não desceu. Veio a segunda, e com aquela autoridade suprema e gritada fez ela descer. Que coisa terrível! Veio a terceira, a quarta e a quinta, tudo "escorregando lentamente guela abaixo", mas o vômito não veio. Claro, que não morri nem do arsênico, nem da clara, mas até hoje me arrepia ao comer até ovo frito.

FECHANDO A PORTEIRA.
Aquele "outro tempo".
Aquele meu amigo que me perdoe, mas vou "decantar" o outro tempo. Aí atrás disse que lá não havia entidades beneficentes. Vocês serão capazes de contar quantas existem hoje? Até de proteção de animais! Meu amigo, naquele tempo a gente conseguia se defender. Hoje é guerra e estamos desarmados. Só o Estado, que nos toma, nos toma, tem arma e munição para distribuir, distribuir, enquanto nos enterram vivos. Perdoem os outros, estou falando dos agricultores. Um amigo me disse certa vez, "como vamos competir com os americanos, que só têm o imposto de renda. Um produtor de lá quando colhe 100 sacos de arroz por hectare, que é o custo, não paga imposto algum, enquanto aqui se colhermos apenas um, teremos todo o imposto embutido". Perdoem, estou fechando a porteira, e debruçado no mestre, chorando...

ATENÇÃO.
No boletim 71 recebi um COMENTÁRIO do Magrinho, que esperei contestações. Peço a atenção de vocês, já que darei a minha oportunamente.

domingo, 1 de maio de 2011

Boletim 72

ABRINDO A PORTEIRA.
Vencer a morte.
Primeiro isto não deveria ser uma luta, apenas um encontro, mas meu ritual insiste na eterna contenda. Vencer a morte é entender que apenas o corpo material se transformará em pó, enquanto a alma, sendo alimentada pelo amor, subirá aos céus, para o encontro "do pelego da paz". Lá no Galpão do Galo Velho criei a imagem da "Invernada do Esquecimento", designando o além, no sentido que mais hoje ou mais amanhã, seremos esquecidos. Vencer a morte é em primeiro lugar não ter medo dela, já que costumo afirmar que só o medo mata. Vencer a morte é ter certeza na continuação, na ressurreição. Pois que assim seja, e que possamos ressurgir, para promovermos o bem à Humanidade.

GALPÃO.
Fui falar na morte, pois quero agora falar na vida. Lá no galpão do Galo Velho a vida existe na luz eterna, que tremula do fogo de chão, já que não deixo o cujo apagar. Na imagem da Nossa Senhora da Conceição, para quem não sabe a padroeira dos Azambuja, a vida das flores do campo perfumam a placa de "Paz e Respeito", sobre a qual está a foto do meu velho amigo e pai Mário, ainda sobre a foto o distintivo do seu Partido Libertador.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Meu pai costumava me contar a devoção à Nossa Senhora da Conceição. No tempo que a Vila do Duro, hoje cidade de Camaquã, nem hospital possuía, só o Dr. Ataualpa Irineu Cibils com seu cavalo, para atender o interior. A Vovó Faustina, esposa do Vovô Ney gestou 13 filhos na Fazenda da Invernada. Como chamar um médico a cavalo, na hora "h"? Só as negras velhas e muita água quente, ou morna. Papai sempre se referia que sua parteira fora N.S. da Conceição, à qual se abraçava no glorioso momento. Acho que escrevo glorioso, principalmente por ser hoje o Dia das Mães, que reverencio às demais, na imagem de minha Vovó Faustina Pereira da Silva Azambuja. Todos os filhos foram devotos dela, e meu Tio Lauro construiu uma verdadeira igreja em Santa Rita do Sul, com o nome dela, a pedido da sua esposa Maria, que também era sobrinha de Faustina.

FECHANDO A PORTEIRA.
A certeza do impossível!
Será possível que exista isto? Pois depois de conferir vários resultados de meus jogos na Mega Sena, onde o máximo que atingi foi dois acertos, creio que a "certeza do impossível" existe, já que continuo jogando. Não se preocupem, não jogo em todas, e quando o faço é apenas cinco jogos no escuro, coisa de míseros dez reais, mas fui somar e me dei conta, que seria uma bela quantia em meu bolso hoje. Sou um otário, em busca do impossível. Espero que vocês não sejam iguais a mim.

sábado, 16 de abril de 2011

Boletim 71

ABRINDO A PORTEIRA.
Feliz Páscoa.
Desde os tempos que não se perdem na minha memória, a Páscoa era uma das melhores festas do ano. Claro, eu era criança, e inocente, ainda não contaminado com as mazelas do mundo profano. Sabíamos, crianças, que os ninhos estavam escondidos no grande jardim. Era só eu e minha mana, e os ninhos deveriam ser iguais, pois aquele que achasse o primeiro, não tinha como trocar com o outro. Uma festa, linda festa, por sermos crianças, quando sabíamos alimentar sonhos. Depois de achado o ninho, apreciado sua imensidão, navegávamos na contemplação do grande ovo do coelho, olhando por um vidrinho, e lá dentro extasiávamos com as mais lindas figuras do mundo. Eu custava a comer os chocolates, mas minha mana devorava os seus rapidamente, quando partia para cima dos meus. Quase uma luta corporal.
Bem, eu voltei às minhas distantes Páscoas, e certamente os mais velhos me acompanharam.

GALPÃO.
A fazenda Sant´Anna.
Como já disse lá atrás, a Fazenda Sant´Anna foi desmembrada da Fazenda da Quinta em 1930. Naquela primeira metade do século XX o arroz irrigado tomava conta das atividades rurais. A pecuária camaquense sofria com a tuberculose de seus rebanhos, pelo fato de nossos campos passarem inverno e verão encharcados, pela falta de drenagem. Fato que só foi solucionado na segunda metade do século, com a drenagem do DNOS. Meu pai Mário partiu então para o plantio do arroz, construindo uma taipa e represando bom volume d´água, mas infelizmente não possuía boa bacia de captação. Suas lavouras sofreram com a falta d´água. Minha mana Maria de Lourdes nasceu em 1930 e sete anos após necessitou de escola. As Irmãs Bernardinas inauguravam sua escola São João Batista, e lá ela foi internada. Eu logo segui atrás, e foi impossível minha mãe se separar dos dois filhos. Meu velho que iniciava suas atividades de fazendeiro, foi obrigado a arrendar a Sant´Anna para o irmão Adolfo, comprando uma chácara na periferia da cidade, hoje chamada de Vila Dona Thereza, cuja sede abriga agora o prédio da Survel Veículos. Mais uma vez meu Pai não foi feliz, ao optar por construir um matadouro de bovinos na referida chácara. Era o que ele mais conhecia, como homem campeiro, mas estava muito longe de ser um industrialista. Piorou com a fiscalização do Ministério da Agricultura, condenando uma barbaridade de gado, por tuberculose.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O coelhinho.


Ainda a velha Páscoa. A história contada para as crianças daquele tempo, não tem nada com a história real da ressurreição de Cristo. Era puramente a história do coelhinho que botava ovinhos de chocolate. Pode? Claro que pode, na cabeça de inocentes crianças. Hoje as crianças não são mais inocentes, parecendo mesmo que já nascem sabendo, principalmente de computadores. Então, não são mais crianças, já nascem com os olhos abertos. Eu nasci e fui enrolado nos "cueiros", ficando sete dias num quarto escuro. Pode? Querem saber o que é melhor? Ontem ou hoje? Respondo sem medo de errar - hoje, pois a humanidade está evoluindo, só restando evoluir espiritualmente.




FECHANDO A PORTEIRA.

Alegria. Alegria
Aleluia. Aleluia.
Esta é a mensagem de Páscoa. Alegria, alegria, alegria. Cristo renasceu, alimentando em nossos corações a imagem da vida eterna. Nossos corpos poderão morrer, mas nossas almas renascerão para uma vida divina, cumprida as leis de Deus. Esta é a mensagem verdadeira da Páscoa.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Boletim 70

ABRINDO A PORTEIRA. Fundação da Várig. No dia 27 de janeiro de 1927 surgia no Rio Grande do Sul, o sonho de um transporte mais rápido na zona sul do Estado, onde não tínhamos a linha férrea, a qual foi o marco de desenvolvimento da zona norte. Foi mais fácil vencer as montanhas, do que o monte de rios de nossa várzea sulina. Este sonho foi concretizado com a compra do hidroavião Dornier Wal, o "Atlântico", quando Otto Ernst Meyer, ex-oficial da Força Aérea Alemã na I Guerra Mundial, viajou à Alemanha, firmando acordo com a Condor Syndikat no fretamento do Atlântico. Naquele dia 27 de janeiro ele amerissou (a gente sabe que o Guaíba não é mar, mas vai assim mesmo) no estuário do Guaíba, para espanto dos portoalegrenses. Sete dias depois, ou seja, no dia 3 de fevereiro o Atlântico fez sua primeira viagem à Rio Grande, com apenas dois passageiros, Guilherme Gastal e João Oliveira Goulart, e algumas malas postais. O voo consistia numa escala em Pelotas. A equipe consistia de um mecânico e segundo piloto, Franz Nuelle e um engenheiro Max Sauer. * Dados colhidos no "Almanaque Gaúcho" do jornal a Zero Hora de 15.o3.2011.

GALPÃO.
A história do "Baaaa!" gaúcho.
Vou repetir lá de um boletim passado, afinal velho está sempre repetindo... Aquele hidroavião Atlântico àcima descrito, fazia a rota Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande, que eram na época as cidades mais populosas do Estado. Considere-se ainda que a região é muito alagada, além da Lagoa dos Patos, outras pequenas lagoas e vários rios, onde o Atlântico facilmente desceria. Por uma questão de segurança e economia de voo, o Atlântico voava a pouca altura, sempre sobre a Lagoa dos Patos. Contam então, que dois gaúchos pescavam tranquilamente à margem da lagoa, quando passou baixo aquele bruto "pássaro voador", portando o prefixo BAAA, tendo um deles gritado "Baaaa!". Desde então a gauchada se acostumou a usar o "baaa!".

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Mais histórias do Atlântico. Também é repetição, hoje estou impossível! Certo dia o Atlântico voava de Pelotas à Porto Alegre, quando sofreu uma pane no seu motor, descendo na Lagoa do Guaraxaim. Os dois pilotos alemães o amarraram numa árvore, saindo a procura de gente. Deram num rancho, onde foram informados, que havia uma grande fazenda ali perto, para onde foram conduzidos numa carroça. Era a Fazenda da Quinta, propriedade de meus avôs maternos, Centeno Pereira da Silva. Depois da recepção e identificações num "portukes" medonho, foram alojados no "quarto de fora", onde era costume se hospedar estranhos. Quando um empregado chegou convidando-os à jantarem, perguntaram onde seriam servidos, e informados que seria na Casa Grande, ali bateram à porta, e para a surpresa da família estavam trajando smooking. Imaginem o susto daqueles meus parentes, que mesmo sendo ricos eram dotados de grande simplicidade. Mas a história só terminou dois dias depois, quando foram conduzidos ao local que haviam deixado o Atlântico, e para espanto de todos ele lá não se encontrava mais. Roubo! Só se acalmaram, quando o "próprio", que fora enviado à Vila São João de Camaquã, retornou com a notícia que a Varig havia rebocado o avião para Porto Alegre, após darem falta do mesmo.

FECHANDO A PORTEIRA. Deixo a porteira aberta... É tanta história, que vou deixar a história da Fazenda Sant´Anna para o próximo boletim.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Boletim 69

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda Sant´Anna - Formação.
Com a morte de minha avó materna, Anna América Centeno Pereira da Silva, no ano de 1929, viúva de Adolfo Luiz Pereira da Silva, a Fazenda da Quinta foi dividida entre seus quatro filhos - Thereza, minha mãe já casada com meu pai Mário, Sylvio Luiz, Maria e Francisco Luiz. Minha avó paterna, Faustina Pereira da Silva Azambuja, e irmã de Adolfo Luiz, recebeu a metade, ou seja, cinco mil hectares, que compuseram a Fazenda da Santa Tereza. Meu Pai separou a sua parte de aproximadamente um mil e duzentos hectares, iniciando suas atividades rurais, justamente no ano de 1930, no auge da grande crise econômica mundial, com o "crack" da bolsa americana.

GALPÃO.
Cópia antiga - Reverência ao passado.
"Sala grande chão batido, onde passei minha infância. Querido Galpão de Estância, que foste um dia meu lar. Hoje aqui venho rezar, saudoso do teu afago, catedral xucra do pago, de joelhos em teu altar". Assim poetizou o grande Jayme Caetano Braum. Assim me justifico na reverência ao Galpão do Galo Velho, como um templo de RESPEITO, onde acendo lumes para clarear a bruma do tempo, perfumando espaços, no deleite e descanso dos que partiram, ofertando orações na busca de aplainar o longo caminho do ocaso eterno. O gesto final de depositar flores do campo, junto à foto da Mamãe é símbolo da natureza, expressão do Criador dos Mundos, e a imensidão da várzea que a criou, junto da família Centeno Pereira da Silva, da Fazenda da Quinta.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda meu alegre tio Lauro.
O guasqueiro surdo mudo, Ato Azambuja Barbosa, costumava passar vários dias na Santa Tereza, trabalhando as cordas dos campeiros, mas também os "correames" das jardineiras, carroças e carroções de granja. Era muito serviço. Certo dia meu tio preparou uma brincadeira. Sabendo do quarto onde ele dormia, com a cama junto da parede da casinha, que era então de tábua, mediu exatamente a posição do rosto do mudo, e fez um furo com a pua na parede, preparando ainda um tampão da mesma cor da madeira. Quando o guasqueiro deitou após o almoço para a sesta (ela era tão sagrada naquele tempo, que alguns usavam até pijama para o ato) tio Lauro espiou a cara do mudo dormindo e se utilizando de um canudo, encheu a boca d´água, e esborrifou na sua cara, tampando o buraco. Foi um "deus nos acuda", com o Ato correndo porta à fora, e pronunciando a única palavra que conseguira aprender na vida: "ivigonha", ou seja, sem vergonha. Mas o que mais lhe aturdia era saber como fora molhado. Meu tio nunca contou da sua "engenharia".
Sou testemunha do fato.

FECHANDO A PORTEIRA.
A alegria do "outro tempo".
Quem viveu os "dois tempos" pode fazer uma comparação. A mim parece que o mundo de hoje perdeu a alegria. Poderia me atrever dizendo que perdeu o conteúdo de vida. Materializamos demais. O desenvolvimento da tecnologia fez o homem se fechar em casa, além de procurar abrigo da violência das ruas. Não temos tempo para visitar os amigos, e até mesmo os parentes. Escrevo relembrando as brincadeiras do meu Tio Lauro, e tantas outras, naquela tranquilidade de antanho. Costumo receber críticas verbais de um amigo, que não permite comparar as coisas, dizendo que hoje é muito melhor. Concordo. Hoje se vive melhor, mas só materialmente. Antigamente tínhamos muito pouco, mas muito mais de calor humano. Espiritualmente as igrejas de hoje estão vazias, comparando com o outro tempo, quando tínhamos 20% da população de agora. Sim, eu sei que as igrejas dos gritões desesperados estão repletas, mas aquilo não é fé, é desespero por um milagre, que jamais acontecerá. Só fará milagre no bolso dos seus "donos". Cada um cuida só de sí, ou do seu dinheiro. Deixamos de amar o próximo, enquanto nossos próximos irmãos de São Lourenço do Sul estão necessitando de muito calor humano.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Boletim 68

ABRINDO A POREIRA.
Fazenda Sant´Anna - 1
Mesmo antes de falar da minha Fazenda Sant´Anna quero fazer um "mapa", da situação atual daquela área, que foi a Fazenda da Quinta. Os irmãos Bezerra, Luiz Antônio, José Augusto e Ana Maria, são proprietários da sede antiga, e deteem aproximadamente 800 hectares de terra no entorno da mesma. A Fazenda Sant´Anna, com sua sede e as duas casas dos filhos, mantém aproximadamente 400 hectares. A fazenda Santa Tereza, do primo Ney Artur Azambuja, com sua sede, possui cerca de 2.500 hectares de campo. A Fazenda do Posto, do primo Cesar Augusto Luiz Pereira da Silva, com sua sede, tem aproximadamente 800 hectares de terra. A prima Rosa Maria Carmona, ex-esposa do falecido primo, Marco Antônio Luiz Pereira da Silva, possui uma área de campo de aproximadamente 300 hectares, e o primo Luiz Alberto Azambuja possui uma sede, com a área de 100 hectares aproximadamente. Somando os herdeiros da Quinta temos mais ou menos 3.200 ha, pouco menos de 1/3 daquela área de dez mil hectares. Os outros 2/3 estão com a Pontal Agropecuária, Eduardo Corbeta, Evandro Verza, Leopoldo Bartz, Adão Cláudio da Silveira e outros. Estes dados forneço de "ouvido", e espero contestações.

GALPÃO.
Pois o tempo passou, ou melhor, as férias passaram, quando os netos retornaram às suas atividades normais. Não é normal a Sant´Anna ficar sem as suas presenças. Não posso me queixar, pois até eu mesmo pouco ali parei. Verdade que por motivo de uma cirurgia de hérnia inguinal. Vamos considerar que as sedes das fazendas tendem a desaparecer, salvo se o fazendeiro não tiver residência na cidade, e morar definitivamente no campo. Lembro de meu avô Ney dizer: "Gaúcho tem de ter apenas uma cama". Sei que a referência era para não terem "filiais", mas pergunto: Quantas camas vocês teem? Só a renda do campo comporta isso? Atrevo-me a responder que não.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Meu Tio Lauro era um homem muito alegre, antes de adoecer, e me contavas as brincadeiras que fazia com os amigos, pregando "peças" à eles. Sady Scherer, por seu espírito também alegre, era o que mais sofria. O "guasqueiro" das fazendas era um parente nosso, Ato Azambuja Barbosa, surdo-mudo, que "parava" em um quarto da "casinha", aquela anexa à sede principal da Fazenda Santa Tereza, e o Sady, assim como outros convidados, parava no quarto maior dela. Certa noite, Tio Lauro pediu ao Sady que fizesse cócegas nos pés do Ato. Brincalhão, ele topou, e chegando na cama do Ato, procurando por seus pés, disse - Lauro, o surdo não está na cama, não acho os pés dele. Acontece que Tio Lauro o havia avisado, que Sady iria lhe coçar os pés, no que o surdo pegou de um "rabo-de-tatu", encolhendo os pés, e ficando na espera. Tio Lauro insistiu com o Sady, para que continuasse, pois o Ato estava na cama. Não deu outra, o Ato sabendo da coisa esperou o momento certo para aplicar uma chicotada nas suas costas. Sady nem gritou, e muito quieto retornou ao quarto. Tudo estava no lusco-fusco, pois não havia luz elétrica, e tateando no escuro, no ardido de suas costas, ele encontrou a cama, mas ao deitar nela, uma bacia cheia d´água esperava por ele.
Naquele "tempo" havia tempo até para se brincar...

FECHANDO A PORTEIRA.
As perguntas...
Sou um homem mal informado. Ponto final. Não costumo fazer perguntas, e quando as faço, tenho o máximo de cuidado. Considero que perguntando estou me intrometendo na intimidade do outro. Quanto maior a amizade, maior o respeito com a intimidade do outro. Claro, que se um amigo me confidenciar algum problema, serei atento e sigiloso. Na maioria das vezes, quando alguém nos confidencia um problema, é no éco de suas próprias palavras, que encontrará a sua solução. Dificilmente o confidente dará o conselho acertado, pois, por mais amigo que seja não conhece o "íntimo" do outro. Agindo assim, serei mais "eu", deixando o outro mais "tu".

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Boletim 67

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza - 4.
Permitam que comece com Balbino Marques da Rocha, no seu poema "Laço de quatro tentos", que diz lá no meio: "Do arreio fez o seu trono, da crença xucra o destino, abarbarado e teatino, mais teimoso que um gavião. Foi mais solto do que os ventos, mais livre que os pensamentos, mais sem dono do que o chão". Assim foi o grande gaúcho Lauro Azambuja, que em 1958 sofria um AVC, um edema pulmonar agudo e, mais uma embolia, tudo em menos de uma semana. Pois resistiu, e ao se recuperar, com o carinho da enfermeira Lili, encontrou nela a sua segunda esposa. Impossibilitado de trabalhar, felizmente encontrou no irmão e sócio, Cel. Dário Silva Azambuja, o amigo na hora difícil, passando a Fazenda da Santa Tereza à sua administração, e quando de sua morte, em 27 de novembro de 1973, não tendo deixado herdeiros diretos, Dário assumiu a posse da fazenda, após a partilha dos seus bens, entre os herdeiros colaterais.

GALPÃO.
Tio Dário no Galpão.
Esta visita está registrada lá num dos livros do Galo Velho, em data que já se perde no tempo. Ele entrou com um rebenque na mão direita, seguro pelo dedo "Pai de Todos", dizendo que assim seu pai, e meu avô Ney o carregava. Presenteou-me aquela peça preciosa, feitio do velho Ato Azambuja Barbosa, e que hoje faz parte do acervo das peças campeiras do meu filho, Luis Mário. Naquela mesma oportunidade contou-me no galpão, que o primeiro aramado construído no município de Camaquã, foi na Fazenda Flor da Praia, propriedade de Bellinho Netto, filho do caudilho Zeca Netto, e construído por um tal de Taborendengui.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Malaquias 3:3 - Uma história da Bíblia.
"E assentar-se-á como o fundidor e purificador da prata..."
Uma mulher de um grupo de Etudos Bíblicos dispô-se a descobrir aquele processo de refinamento da prata. Fez então contato com um ouríves, e foi assisti-lo a trabalhar.
Pegando um pedaço de prata, ele deixou-o a esquentar, explicando que deveria mantê-lo no centro da chama, onde é mais quente. Ela pensou em Deus, que muitas vezes nos expõe a situações quentes. Perguntou ainda ao artesão se ele precisava mesmo ficar sentado todo tempo na frente do fogo. Ele disse que sim, que além de segurar a prata, tinha que manter os olhos nela todo o tempo, pois poderia ser destruída. Ela fez nova pergunta: "Como você vai saber que a prata está totalmente refinada?" Sorrindo ele disse: "Ah, isso é fácil. É quando eu vejo a minha imagem refletida nela."
Lembre-se, que os olhos de Deus estão sobre você, e que Ele vai ficar cuidando de você, até que Ele veja a Sua imagem em você.

FECHANDO A PORTEIRA.
Segurando o amor.
É preciso que vocês prestem atenção no que vou escrever.
-Ele a ama. Ama profundamente, mas não lhe entrega aquele imenso amor que carrega dentro do peito. Pode? Eu vi, pois presto atenção na vida. Coisas de velho. Não é só ele. É um monte de gente, e espero que vocês não se encontrem entre elas. Certas pessoas julgam "preservar" dentro delas, aquilo que sabem ser "ouro alquímico", e que julgam sua propriedade. A diferença é que o amor não tem dono. Não nos pertence. Vejam que estou falando do verdadeiro amor, aquele sem egoísmo, portanto, de algo que é propriedade do outro, pois por direito, deve ser recebido por ele, que "construiu" aquele amor dentro de nós. Quem escreve viveu no tempo do "puro machismo", quando a arrogância e o egoísmo predominavam nas relações humanas. Sejam humildes, pois a entrega de nossos sentimentos não nos fará falta. Quanto mais se dá, mais se recebe. Uma lição de Cristo, que a humanidade está esquecendo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Boletim 66

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza - 3 -
Após a finalização da II Guerra Mundial, com o mundo desabastecido e destruído, os produtos primários tiveram bons preços, e a agropecuário gaúcha desenvolveu-se no cenário nacional e mundial. Corria o ano de 1946 quando a firma Luiz @ Azambuja absorvia o passivo de Adriano Scherer, e em 10 de julho de 1948 criava a grande firma Arrozeira Camaquense, juntamente com outros sócios. Então, acompanhei meu tio Lauro, a quem chamava de Pado, desenvolver seus negócios, principalmente da criação do gado hereford, marca principal da Fazenda Santa Tereza, que ainda hoje meus primos, Ney Artur e Paulo Azambuja, aprimoram cada vez mais. A vida, entretanto, com suas surpresas, no ano de 1949 tirava a vida da sua esposa Maria, com a idade de 44 anos. O casal, que não tinha filhos, residira sempre na Santa Tereza, naquela faina diária de um fazendeiro exponencial, e uma companheira dedicada ao lar. Lauro viúvo estabeleceu residência em Camaquã, já contando com a participação do irmão Dário, que comandava na época a 1ª Divisão de Levantamento em Porto Alegre, no posto de Coronel.

GALPÃO.
Dentro de mim.
Sei que o tema não é galponeiro, mas só tenho este espaço. Acabo de ler um livro, cujo título é oposto ao meu, e ali vi o estrago interior em uma pessoa, que não sabe amar. A autora inclusive questiona a definição do que seja o amor, e diz claramente que não consegue atingir a essência do amor. Perdoem que este "imberbe" dê sua opinião sobre o amor entre duas pessoas, já que existem outros, e muitos outros amores.
Da maneira mais material possível, o que já é um erro, amor é uma sociedade entre duas pessoas. São 100 cotas, onde cada um deve colocar 50 cotas. Mantendo este equilíbrio viverão felizes por toda a vida. Quando um tiver colocado 75 cotas, deixando ao outro só as 25 restante, acenderá uma luz vermelha.
Parece fácil, mas não é. Parto do princípio que Deus habita em mim, e eu não poderia desmerecer o seu amor, doando a quem quer que seja, mais do que a minha metade. Creio mesmo que a Ele pertencem todas as minhas 100 cotas. Será por esta razão, que os padres católicos devem permanecer em celibato?

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
"Férias hospitalares".
Esta eu conto, pois aconteceu comigo. Operei uma hérnia inguinal no Hospital Mãe de Deus. Mãe de Deus, que atendimento de primeiro mundo! Posso dizer que é um hotel de muitas estrelas. Claro, é necessário vencer aquele "medinho", que nos assalta, quando pelados sob aquele avental mal fechado. Mas afirmo, não há risco, quando a coisa é pequena. Mas conto. Na entrada muitas perguntas e questionários a serem respondidos, como fazem os hotéis. Depois da operação vamos à peça de "recuperação", muito movimentada e até divertida, se estivermos acordados com uma raquianestesia. Claro que se passa fome nas primeiras 24 horas, comendo só gelatina. Gelatina se come? Depois é descansar, logicamente, se nos sentirmos à salvo.

FECHANDO A PORTEIRA.
Cada um, cada um!
Sobre este título deveria começar falando em RESPEITO, mas vou me referir àquilo que acontece no nosso dia a dia. Quantas e quantas vezes nos defrontamos com nossos semelhantes, principalmente nossos parentes e amigos mais próximos, querendo que eles sejam diferente daquilo que se nos apresentam. Quantas vezes, um gesto ou uma opinião, nos faz entrar em conflito com o outro. Acontece comigo, não deve ser diferente de vocês. Será que se RESPEITARMOS aquele gesto ou aquela opinião, as coisas não ficariam mais fáceis? Muitos me retrucarão - e a minha personalidade onde fica? Meu silêncio pode representar concordância. Pois creio que exatamente podemos dizer - não concordo contigo, mas te respeito. Isto irá fazer bem ao outro, mas muito mais a nós mesmos.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Boletim 65


ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza nº 2 - A sede.
Lauro Azambuja, pouco antes da 2ª Grande Guerra Mundial, construiu a atual sede da Fazenda Santa Tereza, beneficiado pela parceria agrícola com Adriano Scherer, e a firma Luiz & Azambuja, da qual detinha 1/3 de suas cotas. Foi seu construtor André Lempek, contando com o trabalho de dois amigos, Sady Scherer, e um alemão, que só lembro ser chamado de Becker. Enquanto a obra evoluía, morou com a esposa Maria, na "casinha", que ainda hoje existe, no mesmo alinhamento da Casa Grande. Lauro caracterizava-se por ser um homem sensato. Tanto, que o pai, Cel. Ney, deixou com ele a administração da grande fazenda. Era um exímio cavaleiro, como todo o Azambuja, principalmente no "pealo", arte campeira de grande utilidade, pois não havendo bretes, era nele que se imobilizavam os animais nas saídas das mangueiras. Minha formação moral deve muito a este homem, com quem convivi por muitos anos, lado a lado, e seus ensinamentos foram riquezas muito maior, do que toda herança que me aquinhoou.

Esta é a sede da Fazenda Santa Tereza, única que possuo, quando de uma reunião do Cite 9 - Cel. Dário Silva Azambuja, em 2001.


GALPÃO.
A visita do "Dono do chão".
Assim ele foi apelidado por não arredar pé do Galpão do Galo Velho, e amá-lo tanto quanto eu - João da Silva Vigano, meu capataz por 30 anos, e meu amigo pra vida inteira. Pois "veraneou" por lá, abrigado na casa do Ercílio, que agora passou a se chamar casa do João e Noeli. No seu costado a companheira amiga de sempre, Dona Noeli Rocha Vigano, acarinhados pelos netos - João Vitor, Jéssica e Bruna. Faltaram as crianças grandes - Jones, Liandra, Jussara e José Luiz, mas ficaram de voltar. João virou num engenheiro, inventando um banco desarticulado, que presenteou o galpão, e mais um queimador de incenso, verdadeiro presépio do Menino Jesus.
- João, o Galo Velho te abençoa, junto de teus familiares.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Férias.
Pois me contaram, que a maior incapacidade do homem é não descansar. Isto quer dizer não tirar férias. E agora José? Como tirar férias numa "roseta" dessas? Ainda não podemos nos queixar, pois as chuvas têm sido razoavelmente distribuídas, e nossas lavouras, mesmo com alguns problemas, ainda nos dão esperanças. "Só se perde tudo, quando se perde a esperança". Então, vamos tirar férias, mas o problema é que não se descansa "em cima" do serviço, temos que sair para o mais longe possível. Distante dos problemas, certo? Que seja! O resto que se dane, em primeiro lugar a saúde e a família.

FECHANDO A PORTEIRA.
Não vou reclamar!
Ultimamente esta tem sido minha mais difícil missão. Não vou reclamar de mais nada! Dei-me conta, que as minhas reclamações faziam mal apenas para mim. Meu interior sofria, sem produzir resultado algum em meus contendores. Vou fazer algumas considerações:
1- Com minha esposa, de 53 anos de felicidade conjugal. "As minhas reclamações produziam fortes argumentos por parte dela, acabando sempre em discussão".
2- Com meus filhos de forte amizade, de mais de cinquenta anos. "Por estar velho e considerado fora do tempo, minhas reclamações não têm fundamentos, pois os filhos estão sempre com a razão".
3- Com meus netos. "Aí não existe nenhuma reclamação. Não entendo como tudo é tão fácil"!
4- Com meus amigos de velhas amizades. "Perdi alguns por minhas reclamações fortes, e alguns também me perderam pelo mesmo motivo".
5- Com os gerentes de bancos. "Minhas reclamações nunca surtiram efeito,nunca surtem e nem nunca surtirão. Nunca resolvi, e eles nunca terão soluções".
6- No trânsito com uma carteira de mais de cinquenta anos. "Só ouvi desaforo, e ainda agradeço não ter recebido nenhum tapa, ou tiro".
Agora objetivamente:
Fiz um trato com minha esposa - Os erros serão por culpa de nós dois. Um irá assumir o erro do outro. Não façam perguntas, estamos nas preliminares...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Boletim 64

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Santa Tereza - nº1
A Fazenda da Santa Tereza foi desmembrada da Fazenda da Quinta, por herança de Faustina Pereira da Silva Azambuja, casada com o Cel. Ney Xavier Azambuja, proprietário por sua vez, da Fazenda da Invernada. Ela se compunha originalmente de dez mil hectares de campo, sendo que Anna América, viúva de Adolfo Luiz Pereira da Silva ficou com a metade, e a outra metade com o Cel. Ney. A Quinta foi dividida por uma linha reta, no prolongamento do canal de irrigação, que alimenta o levante d´água da Búfalo Agropecuária, denominado levante da Sant´Anna.
Quando da morte de Adolfo Luiz Pereira da Silva em 1920, aproximadamente, a fazenda passou a ser administrada pelo cunhado, Cel. Ney, pois os quatro filhos - Sylvio Luiz, Francisco Luiz, Maria e Thereza eram menores, sendo ela se manteve indivisível. Para capataz do campo chamou o filho mais velho, Mário, e para iniciar na incipiente lavoura de arroz, chamou o segundo filho mais velho, Lauro, que se instalou no Guaraxaim Velho, no local que hoje chamam de Capão do Trago, junto a ponte do arroio Guaraxim, divisa com a Fazenda do Brejo, de propriedade de Eduardo Corbetta. Sua primeira morada foi uma "bolanta" de granja, onde viveu os primeiros anos de seu casamento com Maria, a rica herdeira da Fazenda da Quinta.

GALPÃO.
O Terno de Reis.
No último dia 4 de janeiro, nossa Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros, organizou um Terno de Reis, denominado "Os Devotos", para "tirarmos um reis", na residência do amigo Odir Deantoni, na cidade de Arambaré. Noite enluarada e estrelada, com o brilho da Estrela Guia, levamos Belchior, Baltazar e Gaspar, e a presença do Menino Jesus, à residência daquele amigo, na mensagem de fé e esperança, no Ano Novo que se inicia, com prenúncios de Paz e Amor. Abaixo deixamos a imagem do Terno Os Devotos e o acolhimento dos familiares Deantoni. Já foi dito em outro boletim, que esta é a verdadeira tradição gaúcha, trazida pelos nossos ancestrais açorianos, e que deve ser cultivada para sempre. Eles não aceitam dinheiro, somente alimento e um "bom trago", para afinarem a voz, pois cantam por mais de uma hora.












Deixo alguns versos dos mais de duzentos que compõe o cancioneiro.

Saímos lá de tão longe, por ver a noite bonita.
Pra cantar o Santo Reis, e fazer uma visita".

Ao chegar no seu terreiro, com gaita e tambor na mão,
este Terno é dos amigos, cantamos por devoção.

Viemos lhe cantar o Reis, e também lhe visitar,
onde mora o Bom Jesus, onde Deus veio habitar.

Meu senhor dono da casa, escorado no portal,
mande-nos entrar pra dentro, licença peço ao casal.

Há certo improviso, já que perguntam se tem aniversariante, o nome das pessoas, e outros fatos para rimarem, naquele linguajar simples e campeiro.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda os Reis Magos. - (Wikipédia).
Belchior era um velho de setenta anos, cabelos e barba branca, da terra dos Caldeus. Gaspar,
era moço, de vinte anos, robusto e partiu da região montanhosa do Mar Cáspio, e Baltasar, era um negro mouro, de barba cerrada com quarenta anos, árabe. Eles não eram reis, talvez astrólogos ou astrônomos, pois seguiram a Estrela Guia até o Menino Jesus, aonde chegaram no dia 6 de janeiro. Ao entrarem em Jerusalém procuraram pelo Rei Herodes, perguntando pelo Menino Jesus, que seria o Rei de Israel. Herodes se assustou, e disse que assim que o encontrasse, dissessem do local, pois queria "adorá-lo", quando na verdade, sua intenção era matá-lo. Chegando ao estábulo, Belchior lhe presenteou com ouro, símbolo da realeza; Gaspar ofertou-lhe incenso, símbolo da fé e espiritualidade, e Baltasar deu-lhe mirra, uma resina, que foi usada no embalsamento do corpo de Jesus, simbolicamente representando a eternidade da alma.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o dia 6 de jeneiro.
Não gosto das tais "correntes", mas tenho vontade de formar uma, perpetuando a data dos Reis Magos. Muitos dirão que é fantasia, mas pergunto: "Essa nossa incessante troca de presentes no Natal, não é uma fantasia"? E essa fantasia não nos reporta ao dia 6 de janeiro, quando os Reis Magos ofertaram presentes ao Menino Jesus? Cultuamos os nossos parentes e amigos, e muitos se esquecem de orar pelo Menino Jesus. No dia 25 de dezembro deveríamos ofertar preces. Apenas preces, no presente de ouro, insenso e mirra à Jesus. Então no dia 6 de janeiro, "fantasiados" de Reis Magos, sem neve e sem trenó, deveríamos presentear os amigos e parentes. Sonho meu ...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Boletim 63

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 10ª - A grande divisão.
A Fazenda da Quinta fez parte da grande sesmaria da Flor da Praia, herança de Faustina Maria Centeno, filha do Sargento Mór Boaventura José Centeno. Por morte de Anna América Centeno Pereira da Silva, em 1930, viúva de Adolfo Luiz Pereira da Silva e neto de Boaventura, ela foi dividida entre seus filhos: Thereza, casada com meu pai Mário Azambuja; Sylvio Luiz; Francisco Luiz, e Maria, casada com Lauro Azambuja. Ela constava de dez mil hectares, pertencentes a Adolfo e sua irmã Faustina, casada com Ney Azambuja. Por morte de Anna América, sua sogra e tia, meu Pai separou seu quinhão, de aproximadamente 1.200 ha. constituindo a Fazenda Sant´Anna, enquanto Sylvio, Francisco e Lauro, criaram a firma Luiz & Azambuja, mantendo seus campos indivisíveis e contínuos, no qual Lauro incorporou os campos da esposa Maria. Retrocedendo no tempo, quando da morte de meu avô materno, Adolfo Luiz, meu avô paterno, Ney Azambuja, casado com a sua irmã Faustina, recebeu de herança a Fazenda Santa Tereza, com aproximadamente cinco mil hectares, administrada pelo filho Lauro Azambuja, casado com a prima Maria. Eram os casamentos entre primos, realizados com muito gosto pelos fazendeiros, por manterem seus campos "em família".


GALPÃO.
A inauguração do "matadouro".
Na grande reforma do Galpão do Galo Velho, o Luis Mário construiu um verdadeiro "matadouro". O quarto da carne já existia, peça indispensável em todo o galpão de fazenda, mas a coisa evoluiu, e mesmo faltando alguns detalhes, ele foi inaugurado na véspera deste Natal, quando nosso "Castiano" matou um boi preto de 470 quilos, com apenas dois anos de idade. Um colosso, quando trabalhamos aquela carne na divisão de seus cortes, e na limpeza dos mesmos. Foi uma "baita" lida, mas nada de pesada, pois é tradição, e tradição nunca cansa.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Esta eu conto: Fazendeiro poeta.
De certa feita, conversando com meu vizinho Eduardo Corbetta, ouvi dele a seguinte frase: "Fernando o campo não tem mais lugar para fazendeiro poeta". Foi uma bofetada no lado da minha cara, e humildemente ofertei o outro lado, tamanha a assertiva de sua afirmação. O campo hoje é uma "casa de negócios", e quem não souber negociar está frito. Eu trago ainda experiência de um outro tempo, quando o campo tinha rendas. Tanta renda que mesmo errando a gente ganhava. Os tempos mudaram, quando os bancos descobriram o nosso filão, e ficaram com a maior parte dele. Só sobreviverá quem não desfrutar do "ar condicionado" dos bancos. Afirmo e assino.

FECHANDO A PORTEIRA.
Um novo Ano Novo.
Termina mais um ano dos muitos já vividos. Mas logo ali, como um dia novo nascendo, surge um novo Ano Novo, alimentando nossas esperanças de dias melhores. Dias melhores? Mas o que queremos? O que nos falta, se Deus nos dá de graça, tudo aquilo que o dinheiro não compra! -"Que mais tu queres Quero Quero louco? Achas que o que tu tens é pouco, bichinho gritador? Já não te basta esta fralda de coxilha, onde se aviva o verde da flechilha, na quarela dos bibis em flor, por onde o Sol se embreta, enciumado, quando a Estrela Boieira pisca o olho pra noite que vem vindo logo ali. Que mais tu queres Quero Quero triste? Que mais te falta para ser feliz? Porque ainda neste grito insistes, se ninguém sabe o que este grito diz? -Amigos, este coração que a gente traz dentro do peito, não riam se eu vos disser - é outro Quero Quero insatisfeito, que nunca sabe o que ele quer". Da poesia Quero Quero, de Apparício da Silva Rillo.
Um feliz Ano Novo aos amigos e amigas.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Boletim 62

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 9ª.
Francisco Luiz ao participar da vida social de Camaquã iluminou sua intelectualidade, investindo na Gráfica Camaquense, fundadora do jornal "O Camaquã", tonando-se ali um de seus cronistas, com textos fortes na área política. Este é o jornal onde o NPHC busca a história de Camaquã, e que na época era o único da cidade. Já o Coronel Sylvio Luiz, com seu espírito aventureiro, projetou-se nas "canchas retas" de todo o Estado, onde nas patas de seus cavalos e no "perfume" de suas potrancas, jogou boa parte da fortuna da Fazenda da Quinta. Entretanto, homem de personalidade forte, e correto no trato de seus negócios, se fez amar por seus amigos e conterrâneos, projetando-se também na política municipal, tendo sido prefeito por duas gestões. Enquanto a Quinta era administrada por gerentes, eles se deslocavam regularmente até ela, por caminhos que ainda não eram estradas, buscando rumos que ainda hoje os fazendeiros não encontraram.


GALPÃO.
Meus ancestrais.
Já escrevi, que no Galpão do Galo Velho cultivamos a imagem da nossa ancestralidade, pendurada no quarto do "Vô Mário". Assim deixo a foto de meus quatro avós, e abaixo um poema de Apparício da Silva Rillo.










Vovô Ney Xavier Azambuja e vovó Fustina Pereira da Silva Azambuja, meus avós paternos. Na outra foto, vovô Adolfo Luiz Pereira da Silva e vovó Anna América Centeno da Silva, meus avós maternos.

Sucessão.
Ser não é ter sido, ou perceber-se na estampa dos retratos dos avós.
É estar além do vidro das molduras, numa projeção muito além do próprio ser.

Guardo armas no meu íntimo armorial, brasões de sangue do meu velho clã.
Minhas batalhas são as vésperas de hoje, na projeção imprevisivel do amanhã.

Ter sido não é ser, ou apegar-se ao veio e as raízes dos avós.
É ser a rama que brotaram deles, para dar sombra aos que virão de nós.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A morte do Compadre Tigre.
Das histórias do Compadre Tigre havia esquecido dessa.
-Uma certa feita, o Compadre Tigre, que só tinha violência no corpo procurou a Comadre Cobra, sua grande amiga e lhe disse: "Sabe Comadre achei uma maneira de pegar o maldito do Compadre Macaco. Tu vai espalhar na mata que eu morri, e que estou sendo velado aqui na minha gruta." Ele então se deitou num grande banco de pedra, enquanto a Comadre Cobra com a Comadre Hiena passaram a espalhar a notícia entre a bicharada. Os bichos não gostavam dele, mas por curiosidade foram ao velório. Convidaram então o Compadre Macaco, que chegando na entrada da gruta, muito desconfiado, mas muito inteligente perguntou alto: "Ele já deu o último pumm?" O Compadre Tigre ao ouvir a pergunta passou a se espremer. O Compadre Macaco concluiu: "Se ele não deu o último pumm é porque ainda está vivo", no que foi apoiado pela bicharada presente. Então, depois de muito esforço, o infeliz e burro do Compadre Tigre, soltou um grande pumm. Minha gente, foi uma correria porta à fora, e o Compadre Tigre saiu pega que te larga no bafo da bunda do Compadre Macado, que saltando numa árvore fez figa para ele dizendo: "Olha bandido e malvado, tu nunca vais me pegar". E o Compadre Tigre soltava fogo pelas ventas de tão brabo.


FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o Natal.
Com meu votos de SAÚDE, SAÚDE, SAÚDE, deixo para vocês a poesia de Apparício da Silva Rillo, intitulada "Natal".

-Fui apresentado à Papai Noel quando tinha três anos,
e já me considerava um cidadão do Mundo. Do meu Mundo, que era quintal com laranjeiras,
galo, galinha carijó, cachorro e uma reboleira de mato onde brincava com terra.

Papai Noel foi meu primeiro medo. O segundo, imenso, foi o de cair
pelo burraco de acento da casinha, e me afundar naquela massa escura lá no fundo.
Outros vieram depois, e muitos ainda me acompanham
com um diabo de guarda, comigo pelo Mundo.

Mamãe dizia que Papai Noel era bonzinho. Gostava muito de minha Mamãe,
mas não podia acreditar. Para me dar um aviãozinho vermelho duas asas,
Papai Noel passou-me um sermão maior do que suas barbas,
só porque eu matara um pinto, afogado na bacia d`água.

O aviãozinho despertou-me, pois foi depois dele que associei Natal,
pinheirinho, presépio, missa do galo, peças de um estranho ritual,
que se armava a cada ano, quando as cigarras, do meu céu de laranjas maduras,
rechinavam ao meu ouvido: Verão... Verão...

Missa do Galo nunca me sentou. Primeiro porque nunca vi o galo na Igreja,
depois era aquela vontade enorme de dormir, principalmente naquela noite,
para acordar no outro dia cedinho, com aquela bola de couro,
que me encantara por seis meses de espera na vitine.

Numa certa noite envelheci. Acordei com meu Pai entrando em meu quarto, pé entre pé,
mais sério que frade de filme, e pela fresta minguinha do olho,
vi quando deixou sob minha cama alguns pacotes.

No outro dia, meu Pai, minha Mãe e minhas Tias mentindo. Que lindos presentes
Papai Noel te trouxe. Aos oito ou nove anos recebia minha primeira lição de cinismo.
Porque meu Pai não me dissera que os havia comprado com seu dinheiro,
que mal e mal dava para pagar o armazém da esquina?

Então, compreendi que Natal consiste nesta mentira, de fazer as crianças entenderem,
que os presentes caem do céu, como as laranjas maduras, os passarinhos mortos.
Mas já era muito tarde.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Boletim 61

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da quinta 8ª - O grande salto 4.
Tenho boa lembrança de quando, por volta de 1950, já estudando em Porto Alegre vinha nas férias para a Sant`Anna, e apreciava o Padrinho, assim chamava meu tio Francisco Luiz, calçando seus tamancos, e diariamente num belo carro "rabo de peixe", que só lembro ser da marca Ford, dirigir-se ao Guaraxaim na administração das grandes empresas, Arrozeira Camaquense e Luiz @ Azambuja. Já contava com o auxílio do "guarda livros" Albino Júlio Gollo, vindo de Caxias, e também morador do Guaraxaim. Vocês mais jovens, não poderão mesmo acreditar - não havia inflação! A não inflação real, não esta de hoje, escondida atrás de números "oficiais". Era um mar de tranquilidade, onde as famílias moravam nas fazendas. Foi então que aconteceu, assim como em todas as fazendas - as crianças necessitaram de escolas. Afirmo sempre, que meu único título adquirido, o de datilógrafo, e a formação de professora de minha irmã, custaram 1.000 hectares de campo ao meu Papai. Lá da Quinta a Glades foi a primeira, depois o Cesinha e o Marco Antônio. Tio Sylvio e o Padrinho compraram casas na cidade, montaram escritório no centro de Camaquã, passaram a viver comunidade. Tio Sylvio na política, foi prefeito por duas gestões, e o Padrinho na comunidade fundou o Rotary Club de Camaquã, o Sindicato Rural, o Camaquã Tênis Clube. E o campo? Bem não vão me dizer que o velho ditado: "O olho do dono é que engorda o boi" acabou...

GALPÃO.
A Querência dos Poetas Livres Vilmo Medeiros.
No último dia 15 de novembro, o Galpão do Galo Velho recebeu esta Querência, que é sui gêneris em nossa tradição campeira. Primeiro porque não temos tesoureiro, eliminando assim a droga do dinheiro, que sempre atrapalha o passo do gaúcho. Depois nosso princípio é AMIZADE, elemento de união e fraternidade. Três parceiros custeiam a "bóia" que é prato campeiro. Depois da refeição é lida a ata, elemento indispensável em qualquer entidade, para preservar sua história, e logo após, vem a Tertúlia Galponeira, o ponto alto do encontro, quando a palavra roda pela esquerda. Temos verdadeiros artistas, e quem não é artista é poeta, porque tão poeta como o que faz a poesia, é aquele que gosta de ouvir a poesia.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Adriano Scherer. Esta eu presenciei.
Foi na década de quarenta, quando ainda não haviam pontes nos arroios do município. O pior cruzo era o do Jacaré, por sua forte correnteza e grande volume d`água. Então Adriano não se conformava em depender do demorado transporte dos barcos. Ele já possuía um Ford "club-coupê" (confesso que nem sei mais como se escreve) e então construiu sobre o arroio duas calhas. Cravadas as estacas, sobre elas pregou tábuas de 30, e nas laterais protegeu com guias de 15, fazendo com que as calhas ficassem no alinhamento das rodas de seu carro. Meu amigo Negro Velho, que nasceu Wilson Scherer Dias, sobrinho de Adriano, filho de sua irmã Mocinha, conta que muitas vezes pescando no Jacaré, assistiu Adriano passar com seu Ford "a mil", sem descer do carro para "alinhar". Tenho buscado fotografias destas calhas, para adicionar ao acervo do Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, mas não tenho conseguido.

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o Natal.
O Espírito do Natal não morre, assim como nosso próprio espírito, que será eterno. Ele representa Deus, que nos fez a sua semelhança, e habita em nós. Representa o nascimento do Menino Jesus, que cultuamos há mais de dois mil anos. Já escrevi em algum lugar, que Natal deveria ser expressão de alegria, pelo nascimento de Cristo, mas para mim é tristeza. Por que nos aproximamos dos necessitados, ofertando neste dia nossa benemerência? Ela não deveria ser ofertada todos os dias? Mais ainda, porque aquele nascimento numa manjedoura é o símbolo da pobreza, e nos dias de hoje nos afastamos deste simbolismo, buscando e nos matando pela riqueza. Um bom Natal a todos, na simplicidade de Jesus Cristo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Boletim 60

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta 7ª - O grande salto 3.
No dia 10 de julho de 1948, sob a liderança de Francisco Luiz Pereira da Silva, a firma Luiz & Azambuja, e mais uma plêiade de homens de negócios, criou a firma Arrozeira Camaquense S.A., com sede na então Vila do Guaraxaim, hoje Santa Rita do Sul. Esta firma veio a assumir o passivo de Adriano Scherer junto ao Banco do Brasil, depois deste banco tentar por três ou quatro anos administrar aquela lavoura, na direção do Dr. Pasquier. Um dos fatores relatados por meu Papai e tios, é que Adriano, residindo no Rio de Janeiro, alertava o Dr. Pasquier para fechar a Barrinha, canal que liga a Lagoa do Guaraxaim à Lagoa dos Patos, evitando o perigo da água salgada. Este conselho não foi seguido, e o banco viu uma safra inteira perdida pela salinização da Lagoa do Guaraxaim, fato que fez o banco a se retirar do negócio de plantio de arroz. Assim a firma Luiz & Azambuja constituiu 37 parceiros agrícolas para o plantio do arroz, sendo ela própria um dos plantadores, sob a gerência do Senhor Pedrinho Castro, cunhado de Sylvio e Francisco Luiz. Assistimos então o período áureo daquela região, quando o mundo num pós-guerra necessitava repor seus estoques de arroz.


GALPÃO.
A cachaça.
Não há como negar que esta bebida sempre "habitou" nos galpões gaúchos. Num clima frio como o nosso, não podemos proibir, que o campeiro esquente o corpo num trago de canha, ao chegar do campo por vezes todo molhado e "encarangado". Assim o Galpão do Galo Velho ainda mantém um pequeno barril de 5 litros, do puro carvalho, com cachaça, e o seu conteúdo só é proibido no horário de serviço. Está escrito lá no livro do galpão: "Cachaça é o líquido alegre da vida, ou da morte, se não souber ser bebido".
Assim Jayme Caetano Braun descreve em sua poesia "Canha". Apenas dois versos:


Remédio de uso caseiro, sempre a jeito noite e dia.
Milagrosa anestesia, de muito guasca doutor.
Foste disfarce pra dor, de tanto caudilho macho,
e mamadeira de guacho, nas orfandades do amor.


Mas porém já não me iludo, com teu líquido sereno,
porque na essência és veneno, maldito licor gaudério,
destruidor sem critério, que na armada do gargalo,
vai enchendo pealo a pealo, os bretes do cemitério.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Ainda o Senhor Adriano Scherer.
Ouvi esta história de meu próprio Papai. Adriano residindo no Rio de Janeiro, e lá tentando o plantio de arroz na Baixada Fluminense, hoje parte do Grande Rio, foi procurado por um importante escritório de advocacia aqui do Rio Grande do Sul, levando uma proposta para entrarem com uma ação reivindicatória de perdas e danos contra o Banco do Brasil. Entre muitas alegações, uma era não terem considerado os prejuízos causados pela II Grande Guerra Mundial. Entabularam as negociações, que durou certo tempo, quando num certo dia Adriano fez a seguinte pergunta aos advogados: "O que ocorrerá com aqueles que hoje estão plantando nas terras da Luiz & Azambuja?". A resposta: "Tudo ficará paralisado, até a decisão judicial!". Adriano se posicionou contra a ação, dizendo que nada faria para prejudicar aqueles amigos, proprietários das terras, que sempre lhe acolheram com honradez.
Concluo: "Atitude de um outro tempo, pois hoje o dinheiro, tem mais valor do que as virtudes".


FECHANDO A PORTEIRA.
O Natal gaúcho.
O Natal se aproxima, e quero me reportar ao gaúcho, nascido e criado no interior de nossos campos, distante do conforto das cidades, carregando a riqueza da agropecuária riograndense. Além da singeleza de sua vida campeira, desfruta das geadas finas das madrugadas cinzentas, que enfeita o pampa sulino. Desconhece a neve, e nunca olhou um trenó. Então ao mirar um Papai Noel suando em bicas, num dezembro escaldante, assustando a piazada campeira, ele só pode arrepiar o pêlo, perguntando de onde veio aquele velho vermelho.
Cultura "nórdica", que aqui chegou para alimentar a insatisfação dos comerciantes, que não fazem parte de nossa cultura gaúcha.
O que nosso homem do campo cultiva é a tradição do "Terno de Reis", que nossos ancestrais portugueses trouxeram para o Brasil. Assim na homenagem simples àqueles que amam e cultivam nossas raízes, deixamos apenas um verso, dos mais de duzentos, que compõem o Terno de Reis.

"Vimos lhe cantar os Reis. Ó de casa, casa santa.
E também lhe visitar. Ó de casa, casa santa.
Aonde Deus veio habitar. Onde mora o bom Jesus.
Onde Deus fez sua morada, com a hóstia consagrada".

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Boletim 59

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 6ª - O grande salto 2.
Então é necessário botar nossas imaginações a funcionar. Centenas de empregados foram contratados, numa época que não haviam leis sociais, contratos de trabalho, carteira profissional, insalubridade, e tudo mais que "complica" os dias de hoje no campo, pois as leis da cidade não foram adaptadas à ele. Imaginem a quantidade de "paseiros" cavando milhares e milhares de metros cúbicos. Depois era o plantio de 2.000 hectares de lavoura de arroz, e principalmente sua colheita, feita toda ela à foice, na força do braço humano. Adriano construiu "elementarmente" a primeira ceifadeira de arroz, e com o auxílio do Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, estou publicando sua foto abaixo, assim como os tratores à querosene, que com sua falta pela 2ª Grande Mundial, ele adaptou os "gazogênios", que pela combustão da lenha nos mesmos, acionava seus motores. Imaginem a mão de obra para construir, depósitos, casas, secadores, calhas e trapiches, numa época que não haviam máquinas como hoje, e o transporte do material era todo pela Lagoa dos Patos, pois também não haviam estradas.
Obs. = Para visualizar as fotos aumentem o zoom para 150.










Os tratores trabalhando com "gazogênio", e na outra, o Senhor Adriano, na sua "automotriz"

GAPÃO.
A igualdade e a cuia.
No Galpão do Galo Velho não existe patrão nem empregado, nem branco nem preto, nem pobre nem rico. Ali somos todos iguais, sem distinção, sem preconceitos sociais. Assim se comunga na mesma cuia de mate, "misturando salivas" como diz Apparício da Silva Rillo em uma de suas belas poesias - "Cuia".

Cuia morena queimada, confeccionada "a lo bruto",
rude cálice matuto das amarguentas comunhões.
Na tradição campechana, serves o vinho que irmana,
o dono da estância e os peões.

Velho utensílio crioulo, da utilidade nativa,
que misturando salivas, no ritual dos chimarrões,
estarreces gente estranha, que não sabe a campanha,
desconhece convenções.

E quando recebes em teu bojo, a erva pro chimarrão,
e da tua carnação, verde o sangue se desata,
me entristeço imaginando, que és um coração sangrando,
por uma artéria de prata.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
"Esta eu conto para vocês".
Lembram que contei haver no arvoredo da Quinta, alguns pés de café e algodão. Não assisti suas colheitas, eles já eram improdutivos, mas ajudei a torrar café nos tachos de cobre, que depois eram "pilados", até ficarem "moidos". A banha era produzida nas fazendas, única gordura com que se cozinhava, além da "graxa dos tutanos", com que se fazia o feijão, o qual nunca podia ser requentado. O pão, as bolachas, as broas, e tudo o mais era produzido nas fazendas, para não falar na quantidade de gente para ser alimentada. Então, as fazendeiras levantavam de madrugada, e quando deitavam também não descansavam. Um mundo que vivi. Hoje vivo num outro mundo onde não tem mais fazendeiras. Lá elas ficam depressivas, com o nada por fazer. Tudo está pronto, e o que não está pronto, as máquinas aprontam. Mesmo, não tem mais gente nas fazendas, e se tem, eles que façam as suas comidas.

FECHANDO A PORTEIRA.
A riqueza e a felicidade.
Recebi e-mail de uma amiga, onde Max Gehringer se refere à livros e artigos, com receitas para se ficar rico, que contesta, inteligentemente. Relata que se não tivesse comido suas muitas pizzas, bebidos os milhares de cafezinhos, feito suas múltiplas viagens, comprado seus vários supérfluos, teria 500 mil reais em sua conta bancária, conluindo, que aquele dinheiro só serviria para fazer tudo o que fez, promovendo a sua felicidade. Não quero contestá-lo, quero adicionar minha vivência. Conheço centenas de amigos, que são imensamente felizes, e sequer conhecem Porto Alegre, nunca comeram pizzas, nem tomaram cafezinhos em balcões, ou compraram supérfluos. Felicidade consiste em amar a si próprio. Traduzo: "si próprio" é Deus.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Boletim 58

ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Quinta - 5ª - O grande salto 1.
Nada melhor que um dia depois do outro. Os opostos da vida, são como as ondas do mar. Assim no ano de 1933, o Senhor Adriano Scherer assumia como parceiro agrícola, instalando-se em uma erma coxilha, junto a Lagoa do Guaraxaim, onde hoje está situada a Vila Santa Rita do Sul, antigamente chamada de Guaraxaim, 2º Distrito do Município de Arambaré. Nasci em 1934, mas tenho presente os "lances épicos" deste desbravador. Construiu uma vila de casas para empregados, uma bela morada para si próprio, que ainda hoje existe, secadores e depósitos para o cereal, trapiche, onde aportavam as "gazolinas", que transportavam o arroz para Pelotas e Porto Alegre, instalou um locomóvel à vapor, movimentando as bombas para o recalque d`água, e fornecendo luz elétrica para a vila. Muito mais que isto foi o que fez nas terras arrendadas. Tudo era banhado de "tiriricas" e "macegas estraladeiras", que ele drenou, e construiu mais de dez quilômetros de canais de irrigação, além dos aterros (estradas) para escoar a produção. Tudo feito "à pá", na força do braço humano. Para se ter idéia, o dreno que chamamos ainda hoje de "Quatorze", tem o nome porque possui "quatorze braças de boca", cada braça tem 2,20 m portanto eram mais de trinta metros de largura, cavados com três turmas de cada lado do valo, onde uma atirava a terra para a outra, até a superfície. Quando o Banco do Brasil assumiu a lavoura com a quebra de Adriano, ficou a direção com o agrônomo Dr. Pasquier, que pela primeira vez fez uso dos teodolitos, quando os técnicos não acreditaram que Adriano houvesse marcado aquele valo, no "olho", acertando além do seu traçado, na largura necessária para drenar a grande várzea.


GALPÃO.
Meu santuário de fumaça.
Passado o Dia dos Mortos, quando reverenciei suas memórias "agachado" no Galpão do Galo Velho, contemplando o dançar das labaredas do fogo, e sismando com o tempo grande que passou, reporto-me novamente à Balbino Marques da Rocha, que foi o mestre do imortal Jayme Caetano Braum, com seu verso "Galpão do Rio Grande". Fica apenas o primeiro verso.


Meu santuário de fumaça, onde as vezes desencilho.
Faço um altar de lombilho, do fogo a reminiscência,
e cultuo a dor da ausência, no oratório do passado.
Galpão onde eu fui fedelho, corpeando cabo de relho,
tirando rapa de tacho, onde os avós se reuniram,
e a cavalo partiram para uma cruzado de macho.
Aqui me curvo e me agacho, me inclino e as vezes me ajoelho.
Desato o breve à oração, revendo de um lado e de outro,
quando o Rio Grande era potro, e os que domaram meu chão.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O grande locomóvel Wolf.
Podemos afirmar que este foi o maior lance de Adriano Scherer. Como a primeira necessidade de uma lavoura de arroz é a água, ele logo tratou de comprar a moderna máquina à vapor, que chamavam de locomóvel estacionável, fabricado na Alemanha. Esta máquina se encontrava na Divisa, aqui no município de Camaquã, e o seu transporte foi uma verdadeira odisséia. Não posso precisar quanto tempo ele levou, no grande percurso de arrasto. Eram dois tratores, pasmem, de esteiras, e quarenta juntas de bois. Dizem que ainda hoje existem os "buracos" onde esta máquina ficou atolada por dias. A região não era drenada, e tudo era banhado. Estes fatos me foram contados por meu Pai, que certa feita foi chamado em alta madrugada, para auxiliar numa das atoladas. Constatou que estavam faltando boieiros. Pediu que Adriano providenciasse quarenta homens com aguilhadas, quando então subiu na máquina, dizendo que ao seu grito todos teriam que aguilhoar sua junta de bois ao mesmo tempo, enquanto os tratores já estivessem na tração. Assim conseguiu realizar a "desatolada".


FECHANDO A PORTEIRA.
Minha grande riqueza.
Noutro dia "arranhando idéias" com minha Jane, ela se exasperava com a falta de dinheiro, e as contas acumuladas, quando concluiu - "Estamos pobres!". Então num sopetão retruquei: "Minha riqueza só Deus tira. Os homens não me roubam mais, pois ela é a minha saúde, da minha família e de meus amigos". Agora, depois de meditar muito sobre o acontecido, posso afirmar, que é muito mais agradável administrar o pouco que possuo, do que o muito que já tive. Não estou pedindo que vocês desprezem o muito que tenham, mas que tenham cuidado, pois ele não é o principal em vossas vidas.

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”