domingo, 3 de julho de 2011

Boletim 76

ABRINDO A PORTEIRA.
O frio do Rio Grande do Sul.

O ano de 2011 ficará na história por seu forte inverno, fazendo os mais velhos lembrar de outros tempos, de "priscas eras". Não existiam aquecedores além do fogo campeiro, e os fogões caseiros alimentados à lenha, quase todos eram colocados no centro das cozinhas, tamanha as lidas às suas voltas. Ali, como ainda hoje em alguns lares, era a peça mais ocupada pela família. Os campeiros sofriam muito, pois a riqueza daquele tempo era o couro vacum, e uma das obrigações era courear, principalmente no inverno, quando aumentava o número de mortes dos animais. A melhor "coberta" para aqueles brabos minuanos era o churrasco gordo e a cachaça, e o melhor de tudo, os doutores não haviam descoberto o mal, que estas duas coisas boas faziam para a saúde.

GALPÃO.
O frio nos galpões.
A hospitalidade, ou sociabilidade gaúcha, muito deve ao rigor de nossos invernos. Ao redor de um fogo de chão é que o atavismo de nossa raça desperta, com o calor das labaredas nos cernes que buscaram seivas no chão da pátria gaúcha. Em boletim anterior contei, que na era glacial, os homens peludos disputavam uma caça, quando o Criador dos Mundos jogou uma faísca sobre um toco de árvore seca, incendiando-o, e aqueles bárbaros sentiram que era bom, formando a primeira reunião social da Terra. Assim são as nossas reuniões gaúchas, quando os sentimentos de tradição desperta, reconhecendo que somos um só, na Liberdade, Igualdade e Humanidade de nossos anseios.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM .
Vou contando...
Na década de 90 passei cinco anos trabalhando no interior do Rio de Janeiro, plantando uma grande lavoura de arroz irrigado. Pra início de conversa, eles não usam fogo nunca, "um prum lado o outro pra outro". Levei muito gaúcho para lá, e contratei outro tanto de carioca. Certo dia um me disse: "O senhor é o primeiro patrão que me aperta a mão. Gaúcho é mesmo diferente". O homem já era bem mais velho que eu, mas lhe respondi: "Claro que somos diferentes. Lá o que é ruim e não trabalha morre no inverno, enquanto vocês aqui criam qualquer porcaria. Basta um chinelo de dedos, uma camisa física e um calção. Mas não te ilude meu amigo, o patrão gaúcho aperta a mão do empregado, para saber se ele é trabalhador, apalpando os calos de suas mãos".

FECHANDO A PORTEIRA.
Ainda o frio...
Ando com muito frio, ou meu sangue perde as forças. Então, quando a gente abre o jornal não dá outra, é só frio e geada fina. Chegam a falar em bater o record dos -7º no Estado. O brabo não é a mínima, é a máxima ficar entre 7 e 11º, frio dia e noite. Pois fui falar que isto é bom, então "guentemos, como dizia Honório Lemos".

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”