sábado, 30 de julho de 2011

Boletim 78

ABRINDO A PORTEIRA.
Nossa idade.

Creio que esta realidade acompanha a maioria de nós, velhos, que são aqueles que mais me leem. Uma preocupação constante! Ainda pouco assistia o treino de classificação da F1, constatando o esforço daqueles que chegaram lá. Creio que nós, os mais velhos, estamos nessa. Chegando aqui na máquina encontrei um e-mail, dizendo que os chineses chegam lá, porque "comem a metade, caminham o dobro e riem o triplo". Não estou contestando esta verdade, mas faço minhas considerações. O quanto vivemos não é o principal, o principal é como vivemos. Somos felizes? Então, viveremos melhor e mais, do que aqueles que chegaram lá, sem serem felizes. Não sou dono da verdade, mas precisamos nos afastar da violência, que toma conta do mundo. Meu filho Magrinho me ensinou muitas na vida, e uma delas foi não mais assistir os "jornais" da TV, e neste horário ouvir uma boa música. Pensem nisto.



GALPÃO.

Conversa de galpão.

Aqui vivemos na simplicidade de um fogo de chão, sem preocupação do amanhã. Lembrei: "Minhas batalhas são as vésperas de hoje, na projeção imprevisível do amanhã" (Apparício da Silva Rillo), no que realmente devemos meditar. O termo 'véspera de hoje', nos reporta a um preparo de vida, um projeto de existência, que poucos o fazem. A maioria 'deixa a vida me levar' como se aqui houvéssemos chegado sem compromissos. Uma vida tem imensos compromissos - com nossos familiares, com nossos amigos, a sociedade que nos acolhe, mas o principal de todos é conosco mesmo, com a Criatura que nos criou, e nos espera para uma 'prestação de contas final'.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

Minha mana Dinha.

Uma das belas lembranças, que guardo de minha mana Maria de Lourdes, é este título de Histórias Que Me Contaram, que ela dizia ser de um livro que nunca publicou. Nem mesmo sei se fez algum rascunho. São tantas as histórias de nossas vidas, que peço aos parentes que me leem trazerem à tona, para que não se percam no tempo. Já escrevi várias lá atrás, tenho muitas de minhas primas Marila Azambuja, Ivette Centeno e seu filho José Vitor, que pedirei permissão para publicar aqui. Minha Dinha tinha só 1/4 de sangue Centeno, por tal não publicou nada. Dirão que tenho o mesmo sangue, mas meu quarto é forte! Esta veia dos Centeno é escritora e irrequieta. Lembro do meu tempo de criança, quando inquieto nas mesas de refeições, era corrigido por minha Mãe - pára Tio Centeno!


FECHANDO A PORTEIRA.

Será da idade?

Vasculhando meus "guardados" encontrei o texto abaixo, que não sei se já foi publicado.

"Outro dia fazendo 3/4 de séculos perfumei o galpão, aticei o fogo, me impregnei de oração, rezando à quem amei e fui amado. Aquele amor de meus velhos rudes era puro, e muitas vezes não o entendia por sua dureza, mas sei que queriam o meu bem, buscando por mim até ao me corrigirem erradamente. Sofria, mas o sofrimento também constroi, o que só se descobre na velhice. Já notaram que esta porteira aí é meu próprio coração. Abrindo-a busco lembranças de um passado que foi lindo, brincando à sombra das figueiras, respirando ar puro, apreciando invernos que se distinguiam dos verões, curtindo enchentes que duravam meses, vendo o escoar de suas águas mansamente, pois o homem não possuía máquinas para afundar a terra. Os tahãs cantavam aos bandos, nidificando nos banhadais, enquanto o tempo, como as águas, custava a passar. O homem aprendia a meditar no silêncio de si mesmo, na falta do que fazer, naquele mundo calmo e puro, construindo um interior voltado à natureza, que amava sem poder agredi-la. Os "gringos" não haviam descoberto os venenos, e se houvessem, não haviam descoberto o Brasil. Não havia aviões agrícolas para metralhar a terra. Não havia sequer aramados, impedindo o ir e vir dos homens e das avestruzes. A natureza sorria, num nascer pleno de sol, onde o homem na sua "bendita" ignorância, ainda não havia descoberto "as benesses" do dinheiro, com o qual hoje tenta comprar a própria felicidade, como se ela fosse um bem material exposto nas prateleiras dos modernos "botecos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”