ABRINDO A PORTEIRA.
AINDA O JOÃO DA SILVA VIGANO.
(do boletim nº 19, que não foi publicado)
O ano
de 2008 amanheceu nublado, densas nuvens encobriram a luz da perpetuação da
vida. O campo entristeceu e os animais se calaram, até o fogo custou a acender no
chão do Galo Velho. O João Vigano e a dona Noeli estão fazendo as malas, para
irem embora da Sant´Anna. O Chão Sagrado ficará sem o seu dono. Na verdade eu
lembro bem do dia em que ele emalou seus trens, levando embora do galpão.
Naquele dia senti que alguma coisa não estava no seu lugar. Um gaúcho quando
carrega seus arreios é porque deixa de vez a querência.
Mas
João Vigano, o Galo Velho te manda uma mensagem. Diz que tua presença
permanecerá entre nós, e que ninguém irá tirar daqui aquilo que construíste, com tanto amor e suor, na construção de um futuro que
não nos pertence, mas aos nossos filhos e netos. Lembro do meu piá Castiano
aprendendo as primeiras lidas campeiras ao teu costado. Lembro de tua dedicação ao
serviço, dos teus sustos ao lado dos doutores veterinários, principalmente de
minha filha Márcia. E os nossos rodeios? Nossos “regabofes” galpão à fora,
acampamentos ao livre do campo? Enquanto isto as crianças se criando, e nós
dois contemplando o passar do tempo nos levando. O importante é viver feliz, o
local pouco importa. Sempre ao lado de nossas prendas, com os corações cheios
de amor para dar, e em nossas lembranças, repassando de quando em quando, as
recordações de um tempo que nunca se acabará.
“Que a
PAZ e o RESPEITO te acompanhe, com a Benção de Deus, são os votos do Galo
Velho”.
GALPÃO.
Uma cena daquele encontro
do dia 26 de janeiro, que foi coincidência ser a data natalícia, de 110 anos do
fundador, o campeiro Mário Silva Azambuja. O João que tem o “bicho carpinteiro” no corpo, não se
para nunca, e a gente sempre o fotografa em pé, parecendo que não gosta de
aquentar banco. Naquele dia se saracoteou a noite inteira, em volta da panela
de ferro, cozinhando o espinhaço com arroz, que dizem por lá, que nunca mais
fará outro igual. A mosquitama só deixou a turma parar, quando o Uilson queimou
bosta seca dos seus cavalos, na entrada da porta. Vamos repetir que não foi uma
noite de despedida, pois a gente só se despede daqueles que não voltarão nunca
mais, e logo logo estaremos juntos novamente, pois nossos corações estão
trançados, numa corda forte que nunca irá rebentar.
Teria muito mais para contar nestas folhas, mas fica esperando que nos números
seguintes, irei contar os acontecidos, as nossas jornadas, que tanta alegria
deu para o nosso existir. Quero terminar te dizendo João, que o “fim não
existe”. Estará sempre acontecendo em algum lugar, e nós estaremos ajudando
sempre.