sexta-feira, 19 de abril de 2019

Boletim 490.

ABRINDO A PORTEIRA.

AINDA O JOÃO DA SILVA VIGANO.

(do boletim nº 19, que não foi publicado)

       O ano de 2008 amanheceu nublado, densas nuvens encobriram a luz da perpetuação da vida. O campo entristeceu e os animais se calaram, até o fogo custou a acender no chão do Galo Velho. O João Vigano e a dona Noeli estão fazendo as malas, para irem embora da Sant´Anna. O Chão Sagrado ficará sem o seu dono. Na verdade eu lembro bem do dia em que ele emalou seus trens, levando embora do galpão. Naquele dia senti que alguma coisa não estava no seu lugar. Um gaúcho quando carrega seus arreios é porque deixa de vez a querência.
         Mas João Vigano, o Galo Velho te manda uma mensagem. Diz que tua presença permanecerá entre nós, e que ninguém irá tirar daqui aquilo que construíste, com tanto amor e suor, na construção de um futuro que não nos pertence, mas aos nossos filhos e netos. Lembro do meu piá Castiano aprendendo as primeiras lidas  campeiras ao teu costado. Lembro de tua dedicação ao serviço, dos teus sustos ao lado dos doutores veterinários, principalmente de minha filha Márcia. E os nossos rodeios? Nossos “regabofes” galpão à fora, acampamentos ao livre do campo? Enquanto isto as crianças se criando, e nós dois contemplando o passar do tempo nos levando. O importante é viver feliz, o local pouco importa. Sempre ao lado de nossas prendas, com os corações cheios de amor para dar, e em nossas lembranças, repassando de quando em quando, as recordações de um tempo que nunca se acabará.
         “Que a PAZ e o RESPEITO te acompanhe, com a Benção de Deus, são os votos do Galo Velho”.

GALPÃO.
                                                                                                                                  
                                                                                     


                               Uma cena daquele encontro do dia 26 de janeiro, que foi coincidência ser a data natalícia, de 110 anos do fundador, o campeiro Mário  Silva Azambuja. O João que tem o “bicho carpinteiro” no corpo, não se para nunca, e a gente sempre o fotografa em pé, parecendo que não gosta de aquentar banco. Naquele dia se saracoteou a noite inteira, em volta da panela de ferro, cozinhando o espinhaço com arroz, que dizem por lá, que nunca mais fará outro igual. A mosquitama só deixou a turma parar, quando o Uilson queimou bosta seca dos seus cavalos, na entrada da porta. Vamos repetir que não foi uma noite de despedida, pois a gente só se despede daqueles que não voltarão nunca mais, e logo logo estaremos juntos novamente, pois nossos corações estão trançados, numa corda forte que nunca irá rebentar.
            Teria muito mais para contar nestas folhas, mas fica esperando que nos números seguintes, irei contar os acontecidos, as nossas jornadas, que tanta alegria deu para o nosso existir. Quero terminar te dizendo João, que o “fim não existe”. Estará sempre acontecendo em algum lugar, e nós estaremos ajudando sempre. 

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”