domingo, 13 de junho de 2010

Boletim 44

ABRINDO A PORTEIRA.
A criatividade
De um e-mail retirei a frase: "criatividade caminha junto com a falta de grana". Quem pode dar testemunho deste fato? Dou o meu: "quando tinha grana, minha única criatividade era conseguir mais grana". Não sabia fazer mais nada além de ganhar dinheiro, e o pior é que perdi quase tudo com esta minha falta de criatividade. Lembro de certa feita dizer numa roda de amigos - "não será sob um guarda sol em uma praia paradisíaca, com uma cerveja gelada na mão, que irei criar alguma coisa". Ninguém irá contestar esta verdade. Poderei descansar o corpo, já que o espírito não cansa, mas não estarei criando nada, absolutamente nada. Por tal, hoje me sinto mais criativo, com tempo para sentar nesta máquina e escrever para vocês, alguma coisa que dê o que pensar. Criem, para a Verdade interior que habita em cada um de nós.

GALPÃO
Ainda as marcações.
Naquele outro tempo, "quando se amarrava cachorro com linguiça", lembro das marcações na Fazenda da Invernada, de meu avô Ney Xavier de Azambuja. Aquele gado era pouco sadio, pois nossos campos ficavam alagados inverno e verão, e as enchentes levava dois ou três meses para escoar. Percebam que o Arroio Duro desaguava no Banhado do Colégio, que não tendo os drenos do DNOS, hoje AUD, levava muito tempo para fluír nas várias sangas - Jacaré, Santa Rita, Estacada, Peixe e outras. Assim o gado era atacado por parasitoses, e principalmente pela tuberculose. Mas vamos para as marcações, que já me referi no anterior. O peão patieiro levava um carro de mão cheio de marcas para a mangueira, e com ele um monte de gente, pois as fazendas eram muito habitadas, e a vila não. Tinha marca para todo mundo. Os posteiros não existiam mais, entretanto, ainda possuíam suas marcas, no pouco gado que criavam. As crianças tinham marcas, a segunda esposa, Doralice, também possuía a sua, e o Tio Nelson, irmão do Vovô Ney também possuía as suas, sendo sócio e vizinho da Invernada. Tinham que ver o fogaréu e o atrapalho do pobre do marqueiro, que levava gritos pelos ouvidos a toda hora. Dá para lamentar não terem ainda inventado a filmadora, para registrar o momento.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Uma plantação de arroz.
Certamente uma das primeiras da Fazenda da Quinta, junto a sanga dos Capõezinhos, também conhecida como Capão do Trago. Meu tio Lauro Azambuja ali foi morar numa simples casa de madeira, quando casou com a prima Maria Centeno Pereira da Silva, uma das herdeiras da fazenda. Meu pai, Mário era o tratorista, pois na época só dirigia veículo quem tivesse carteira de motorista, o que era um fato raro na região. Lavrando com aquele trator Fordson, que hoje enfeita a Fortral, tracionava um arado de duas aivecas, quando notou o cunhado José Olavo Fay se aproximando e sentando numa valeta, pensativo. Meu pai longo pensou, "o Fay vai aprontar alguma". Não deu outra, pouco tempo depois pediu que Papai parasse o trator, o que era um sofrimento sendo tudo na manivela. Foi logo perguntando, em que marcha estava lavrando, no que foi respondido que numa segunda. Tio Fay continuou: "noto que está sobrando força no trator não é Mário?". "Acho que sim" foi a resposta. "Então Mário vamos colocar uma grade atrás do arado, assim o terreno já fica mais preparado". No que Papai respondeu: "E eu vou colocar um banquinho em cima da grade, e tu já vai semeando. Tá certo?". Pois não é que cinquenta anos passado a tal máquina existe? Ela se chama Cantoni, é italiana e se funciona não sei. Meu tio Fay era um homem muito criativo e inteligente. Ele que inventou as histórias das teimosias dos Azambujas, que já escrevi em boletins anteriores.

FECHANDO A PORTEIRA.
A cremação.
Só quem assistiu para entender o momento solene. Confesso que ao me despedir de um sobrinho da minha Jane fiquei surpreso. Claro que tudo depende da compostura dos familiares, e quero testemunhar a evolução do homem, ao lembrar de um tempo que vivi, quando a morte não era aceita. A cremação foi de um jovem de apenas 35 anos, pessoa serena, tranquila, querida, e não é por ter morrido não. Quem o conheceu testemunha seu carisma. O fato ocorreu numa sala que mais parecia um anfiteatro, em formato meio círculo, com o esquife no centro, e o morto a descoberto. Um padre faz a prece de despedida, o que também é importante pela eloquência e sentimento cristão manifestado. Depois, dois ou três amigos fazem suas despedidas, também curtas e sentidas. O padre pede aos familiares que se aproximem do esquife para a despedida final. Uma música suave enternece os sentimentos de quem sofre. O esquife é fechado, e um sistema de roldana o conduz ao fundo, onde uma parede se abre para recebê-lo. A parede se fecha, e tudo termina. Perguntei como era a conclusão do ato, se tudo era queimado. Disseram que não, que o caixão era devolvido à funerária, as roupas e os objetos particulares devolvidos aos familiares, e que apenas o corpo era queimado e depositado suas cinzas em uma urna. É preciso viver para apreciar a evolução da humanidade.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Boletim 43

ABRINDO A PORTEIRA.
A Prioridade.
Quando o tempo em nossas vidas mostra que já navegamos bastante, temos de optar por uma prioridade, assim como o navio na busca de um porto para seu destino. Qual a nossa prioridade? Muitos esconderão a resposta evidente - o dinheiro. Basta olhar à nossa volta, verificando o afã dos viventes nas suas correrias estressantes, no seus nervos à flor da pele, nas suas irritações e impaciências, para respondermos sem medo de errar, que é o dinheiro. Minha experiência de vida diz, que quanto mais o temos mais o queremos, e quanto mais o ganhamos mais o gastamos. Vamos ultrapassar os desgastados termos - ambição e ganância - e vamos olhar para dentro de nós mesmos, na busca de sabermos utilizar o tempo que ganhamos de Deus, naquilo que nos dá prazer. Ter prazer é um bom negócio, não é mesmo? Já estou cansado de ouvir dizer que trabalho dá prazer. Vou declinar as minhas prioridades - saúde e família. Pensem nas de vocês.

O GALPÃO.
A Marcação.
Não vou me reportar as marcações campo à fora, ou de rodeios, porque não as conheci, apenas ouvi contar. Vou falar das marcações de mangueira, sempre no mês de maio, mas de um tempo em que não haviam inventado os tais bretes. Mangueiras grandes e de pau à pique, com uma só porteira de varas de correr, onde se penduravam couros vacuns para "espantar". Depois do gado emangueirado se formava duas filas de campeiros, a direita e a esquerda da porteira, ficando os guris e os mais maturrangos logo na saída, enquanto os verdadeiros pealadores ficavam mais distantes, pois por eles nada passava. Dois peões entravam a cavalo na mangueira e soltavam os terneiros, um a um é lógico, e olha que eles eram taludos, pois até mesmo de sobre-ano acontecia, por terem escapado da marcação anterior. Derrubado com o pealo, um dos mais fortes pegava da cabeça que era torcida, outro apertava o vazio com o joelho, enquanto outro colocava um laço na pata e esticava. Vinha logo o grito: "Olha a marca marqueiro!" Enquanto ela chegava, aquele que apertava o vazio castrava, se fosse macho, outro assinalava na orelha e aparava a cola. Se a marca não estivesse quente, o marqueiro gritava: "Aperta manheiro". Isto porque marca em brasa não precisa ser apertada. Cenas que assisti criança na Fazenda da Invernada, de meu Avô Ney Xavier de Azambuja.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O campeiro que era "deus".
Certo dia um pobre e ignorante homem cortava o galho de uma árvore, mas estava sentado na parte que cortava. Passava por ali um gaúcho bem pilchado, montado num lindo cavalo zaino, e vendo a cena disse para o homem: "Olha meu amigo, o senhor irá cair quando cortar o galho". O infeliz do homem deu risada e não ligou para o aviso, continuando seu serviço, enquanto o gaúcho ia embora. Algum tempo depois, cortado o galho o pobre do homem se espatifou no chão, dizendo logo a seguir: "Aquele homem é deus", saindo ao seu encalço montado num burrinho. Chegando nele foi logo dizendo: "O senhor é deus, e vai me dizer quando é que vou morrer", ao que o gaúcho respondeu que não era deus coisa nenhuma, e que lhe deixasse em paz. Entretanto, o pobre e ignorante homem insistiu tanto e tanto, que o gaúcho para se ver livre disse que ele morreria, quando o seu burrinho desse o terceiro "pum". O infeliz montou no burro todo assustado, e se tocou para casa, e no caminho o burrinho deu o primeiro "pum", e ele gritou: "Ai, ai, ai, que só falta dois". E bateu na marca, com pressa de chegar, mas quanto mais trotava mais sacudia a barriga do burro, e saiu o segundo "pum". "Ai, ai, ai que só que falta um". Bateu mais na marca louco para chegar em casa, mas correndo aconteceu o terceiro "pum", e o pobre do homem se foi ao chão como morto. Passavam quatro gaúchos, e achando o homem "morto" o estenderam sobre um poncho, pegando nas quatro pontas, e seguiram caminho. Chegaram num rio que não dava vau, pois havia chovido muito, e passaram a discutir onde era o passo. Um é por aqui, outro é mais àcima e se formou uma discussão. Foi quando o "morto" gritou do poncho: "No tempo que eu era vivo o passo era mais pra baixo". Foi um bruto susto ao ouvir o "morto" falar, quando o soltaram dentro d´água, que foi levado pela correnteza, e não se sabe se se salvou ou não. A lição é para as crianças estudarem bastante, e não ficarem burras e ignorantes como aquele infeliz e pobre homem.

FECHANDO A PORTEIRA.
O excepcional.
Não vou tratá-lo como substantivo, simplesmente vou adjetivá-lo como tão bem define o dicionário = "extraordinário, muito bom, excelente". Mas, ele é um excepcional. Não sei seu nome, nunca falei com ele, o conhecendo só de vista. Mas como é agradável vê-lo. Tenho vontade de parar o carro para cumprimentá-lo, olhar sua fisionomia que deve ser serena e boa. Ele está sempre à margem da Federal BR 116, a direita quem vai à Porto Alegre, naquela lomba que dá acesso à Araçá, e o que me encanta são os seus abanos para todos nós, indistintamente quem sejamos. É um cumprimento de amor, é um desejo de paz, é um afago de coração. Que Deus lhe abençoe, e lhe dê em dobro tudo o que nos oferta de amor.

domingo, 18 de abril de 2010

Boletim 42

ABRINDO A PORTEIRA.
Facebook.
Navegando, coisa que pouco faço pois tenho medo de naufragar, encontrei o tal de "facebook", com a foto da minha querida neta Fernanda estampada no dito. Curioso entrei e me cadastrei. Uma verdadeira loucura como diz a Fernanda. Um mundão sem fim. Uma "festa no céu". Para quem ao nascer só conheceu um radião à bateria, e que era ligado apenas no horário do "noticioso", este acontecimento é gratificante. Gratificante pela razão de ter vivido bastante, e navegado neste mundão lindo de Deus, fazendo amigos, amando e sendo amado. Sei que a passagem é curta, mas vale a pena viver intensamente, saboreando a existência que recebemos de graça, e que muitos não aprenderam a valorizar. Espero que vocês vivam muito mais do que eu, e que saibam apreciar a vida com as coisas boas que estão aos nossos olhos. Que Deus nos abençoe.

O GALPÃO.
Meus avós.
É ali no galpão do Galo Velho que mantenho as fotos dos meus quatro avós, com seus nomes completos, e o registro de suas biografias com ascendências e descendências. Vocês conhecem o nome dos quatro avós? Pois isto é muito bom. Faço esta afirmação porque sabemos que o marginal não conhece nem pai nem mãe. Ele não tem "raiz", e é justamente isto que nos "fixa" na sociedade. Quem não tem orgulho do pai e da mãe? Assim mantemos uma continuidade de vida social, na busca de uma superação sócio-econômica. Olhamos para nossos filhos como nossos pais olharam para nós, e se fomos amados certamente sobra amor para dar.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A festa no céu.
Sabe aquele casco da Comadre Tartaruga todo quebradinho? Parecendo que foi colado? Pois foi o Compadre Macaco que fez aquela arte. Conto. Certo dia no bar do Compadre Coelho, a bicharada se encontrava tomando refri numa linda conversa, quando a Comadre Coruja comentou a grande festa no céu, que aconteceria naquela noite. A Comadre Tartaruga disse que gostaria de ir lá, pois sempre ouviu dizer que era um lugar muito lindo. A bicharada protestou, pois não tendo asas ela não poderia voar. A coitada se parou muito triste num canto, pensando e pensando naquela festa. Foi quando olhou para o grande violão da Comadre Águia, e sem pensar duas vezes entrou naquele buraco que ele tem. A tardinha os bichos alados bateram asas para o céu, e lá chegando largaram os instrumentos num canto para descansar, e foi quando a Comadre Tartaruga saiu para a grande festa. Foi lindo de viver. Ela nunca tinha visto festa tão bela e um lugar tão maravilhoso. Dança, comilança, amigos alegres e felizes. Já quase o dia nascendo, a bicharada se preparou para voltar para à Terra tendo a Comadre Tartaruga se escondido novamente no buraco do violão da Comadre Águia mas, esta cansada de tanto tocar, e sentindo o violão pesado o sacudiu deixando a coitada da Comadre Tartaruga cair lá de cima. Caiu, caiu e caiu, e chegando perto da terra ela olhou para baixo, vendo que iria bater numa grande pedra, então gritando: "Abre-te pedra, senão eu te racho". "Abre-te pedra senão eu te racho". Mas rachar o que, quando bateu na pedra ela se quebrou toda, e saiu cascos para todos os lados. Foi quando passando por ali o Compadre Macaco resolveu ajudar a pobrezinha que estava toda quebrada, e foi colando pedacinho por pedacinho do seu casco com a habilidade de suas mãozinhas. Assim é que até hoje quando ela nasce, o casco vem todo quebradinho.

FECHANDO A PORTEIRA.
O assalto.
Minha neta Fernanda foi assalta ontem. Três lobos, uma ovelhinha indefesa, e nenhum cão pastor. O que passa na cabeça da gente neste momento? Sabemos que se tivermos paz no coração ela irá nos acompanhar, mas se tivermos raiva estamos fritos. Fernanda estava em paz, manteve a calma, salvou a vida, perdeu porcarias que se repõe. Permitam que o amor não abandone nossos corações. Quem são os lobos? Assassinos, bandidos, ladrões, estupradores, marginais, mas nossos irmãos. Frutos de uma sociedade podre, da qual todos (lobos, ovelhinhas e cão pastar) fazemos parte. Presos, eles aumentam suas periculosidades num sistema carcerário também podre. Faço parte do Clube do Amor, afirmando que só quem ama será salvo. Morrerei ovelhinha. Sabemos que a solução está na educação e no emprego, mas isto também irá demorar. Que Deus nos proteja.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Boletim 41

ABRINDO A PORTEIRA
A Prioridade
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Outro dia em uma conversa com meu filho recebi de inopino a pergunta: "Qual a tua prioridade?" No mesmo inopino respondi apontando para meu peito e depois para minha cabeça: "Eu e minha mente!" A pergunta se referia àquela coisa material, sabe, aquela coisa tilintante, mas eu estava "noutra", e respondi apontando para Deus que habita dentro da gente. Algum tempo depois tudo ficou esclarecido "materialmente" entre nos dois, mas ainda hoje me interrogo porque apontei para "dentro", na resposta de que ali estava a minha prioridade. Matutando fico na certeza, que se "eu" não for a minha prioridade, nada mais interessará fora de mim. Então, se estou certo somos o centro de tudo, e será que nos amamos e nos respeitamos o suficiente para merecermos a presença de Deus?

O GALPÃO.
O Domador.
Sei que a profissão ainda existe, como também sei que nunca fui domador e não conheço suas regras. Ocorre que hoje a profissão está muito modificada com a tal Doma Racional. Como fui testemunha de muitas domas em um tempo que ficou distante, vou me referir a elas. Era na Fazenda da Invernada, de meu avô Cel. Ney Xavier de Azambuja, certamente há mais de sessenta anos atrás. Uma imensa cavalhada que constituía a riqueza dos fazendeiros da época, pois em tempo de guerra o cavalo era o tanque dos gaúchos. Praticamente toda a peonada domava, uns mais outros menos, mas domavam. Então, depois do potro palanqueado (Deus nos livre colocar cavalo em mangueira, como se faz hoje), o pelego na cara, arreado e bem seguro o peão montava, conferindo se o amadrinhador estava por perto e preparado. Solto campo à fora o Cel Ney ficava apenas cuidando do animal se corcoveava e como corcoveava. Finda a doma o Coronel dava sua sentença, mandando soltar para o campo, ou ficar no potreiro para ser "arrucinado". Soltavam para o campo aqueles cavalos que não corcoveavam, ou corcoveavam mal, pois o bom cavalo tinha que ser "valente", e bom mesmo se derrubasse o ginete! Acho que era puro "machismo" da época, vocês concordam?

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM
O fogo, a água e o Compadre Macaco.
Certo dia, daqueles ensolarados quando céu está azul e o vento cansado de assoprar, o Compadre Macaco sonolento, sesteava à margem do rio depois de um grande banho. Foi quando menos esperava e, ZÁS, foi agarrado pelas unhas afiadas do Compadre Tigre, que com os dentes de fora e bufando fogo, de tanta raiva gritou no ouvido do pobre Compadre Macaco: "Agora vou te matar bichinho danado. Pena que não possa te comer porque estou de barriga cheia por ter comido uma gazela. Mas vou te matar. Tu é que vai escolher como queres morrer, se queimado naquela fogueira, ou se afogado nas águas deste rio." E recebeu de pronto a resposta: "Por favor Compadre Tigre me bota naquela fogueira, que vou espernear, espernear para pular fora do fogo, pois se me jogar no rio estou morto, pois não sei nadar". "Ah! Queres ir para o fogo, pois eu vou te matar afogado danado". E jogou o Compadre Macaco pra dentro do rio, que saiu dando braceadas e fazendo murisqueta com os dedos no nariz, dando gargalhada da cara do Compadre Tigre, que botava fogo pelas ventas de tão brabo.

FECHANDO A PORTEIRA
A intolerância.
Creio que este defeito é o causador de todos os males da humanidade, como a própria guerra. Certas pessoas não tem ouvidos para ouvir, e só escutam o eco dos próprios pensamentos. Parece que a maneira mais fácil de entrar no âmago deste assunto é raciocinarmos ao contrário: A tolerância. Ela é a virtude das pessoas de bom caráter, aquelas que se amam, mas principalmente amam os seus semelhantes. Nosso maior erro é querer "entrar" nas pessoas modificando-as, para não dizer criticando-as. Sabemos que a crítica construtiva é boa, mas quem sabe fazer isto? Esperar o momento para ser escutado. Deixar o antagônico falar e falar, descarregando sua carga, para então quando mais leve tiver condições de nos escutar. O dicionário define tolerância como indulgência, e indulgência é perdão dos pecados. Fácil, para aqueles que querem meditar, melhorando a sua Morada de Deus.

domingo, 21 de março de 2010

Boletim 40

ABRINDO A PORTEIRA.
Desafio.
Outro dia fiquei apreciando uma escorregadela de skate numa super-rampa, onde cada qual fazia mais proeza do que o outro. Lembrei de outras competições, até mesmo aqueles que querem chegar no “topo do mundo”, vencendo montanhas geladas e mortais. Aonde o homem quer chegar? Vencer obstáculos? Mas meu Deus ainda não vencemos o obstáculo de nós mesmos. Nos desconhecemos. Não penetramos em nossos interiores, e passamos uma vida inteira olhando para os outros imitando-os, invejando-os, ou mesmo admirando-os, sem "nos enxergarmos". Ao batermos recordes de desafios o que alcançamos? Vamos vencer outros desafios? Dos muitos, o primeiro que proponho – “Ama teu próximo como a ti mesmo”. O que alcançaremos? - A SONHADA PAZ MUNDIAL e o fim da VIOLÊNCIA. Será que não basta?

GALPÃO.
O Posteiro.
Relato o que sei da profissão de “posteiro”. Ela ocorreu num tempo em que não havia carteira profissional, salário, livro ponto, ou qualquer lei social. O dinheiro pouco circulava, e as pessoas cuidavam apenas de suas vidas. As fazendas não tinham aramados nas divisas com seus vizinhos, e a demarcação era o grande e pesado marco de sesmaria, que consistia em uma pedra circular de mais ou menos quatro metros de comprimento com apenas um metro fora da superfície do solo, e o peso aproximado de uma tonelada. Então a função do posteiro era zelar por aquela linha imaginária e divisória da propriedade de seu patrão. Ele recebia a morada ou rancho, normalmente de pau à pique barreado, ou de leivas, coberto com santafé. Uma lavoura cercada, geralmente de bambu e um rancho mensal de artigos de primeira necessidade. Mas o mais importante era poder criar seu próprio gado junto com os do patrão, e possuindo sua marca de fogo. Então o posteiro Galo Velho não era um empregado, mas um morador da fazenda, merecedor da confiança do patrão. Cuidava para que o gado da fazenda não saísse, assim como evitava que o gado alheio entrasse, salvo aqueles não marcados. Quando se parava rodeio da área aos seus cuidados, ele era o homem indispensável ao lado do patrão, na avaliação e contagem dos animais.
Outra atividade era a carneada na fazenda, quando o posteiro juntamente com sua mulher e filhos, se fossem taludos, iriam ajudar no grande serviço, que levava um dia inteiro. Na tarde do dia anterior a rês era morta, dividida e colocada no quarto da carne para esfriar. No dia se matava um grande porco, e se trabalhava ao redor de uma mesa de madeira, junto de um panelão de ferro sobre fogo forte, aquentando água para a “pelagem” do porco, e que no final ainda serviria para tirar a graxa do tutano dos ossos. O picar da carne da rês e de porco, para moer numa máquina manual acrescentando o tempero, que depois passava ao enchimento nas tripas secas de porco, para a confecção das lingüiças. Depois o preparo das mantas de charque e a sua salga, que ficavam escorrendo na grande prancha inclinada. A escolha dos cortes de primeira para o consumo da casa. Ainda o preparo do toucinho e da banha, artigos indispensáveis nas cozinhas daquele tempo. O posteiro já estaqueara o couro, e preparara os miúdos, que era a cabeça com a língua, mocotós, graxa das tripas, rins, coração, bofes, mondongo, fígado, rabada, pois nada se perdia. Vinha o preparo das tripas daquele porco para a próxima lingüiça, e a confecção da morcilha e o queijo de carne. Então acontecia do posteiro receber um presente de banha, carnes e lingüiças por seus “serviços” que eram prestados de “graça”, pois naquele tempo verdadeiramente, “uma mão lavava a outra”.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A visita do Compadre Tigre.
Certo dia o Compadre Tigre encontrando a Comadre Cobra, de quem era grande amigo, disse a ela: "Sabe amiga vou aprontar pra cima do Compadre Macaco. Acho que descobri uma maneira de me aproximar e acabar com aquela pestinha. Amanhã de manhã a Comadre vai lá no coqueiro, que é a casa dele, para apreciar a cena." Dito e feito, no outro dia lá estava a Comadre Cobra apreciando, enquanto o bicho mau agia. "Oi Compadre Macaco, como vai? Estou aqui para te fazer uma visita, e terminar com a nossa inimizade". O Compadre Macaco muito esperto foi logo desconfiando da conversa respondendo: "Pouco estou acreditando nesta falsa conversa Compadre Tigre. Tu não tem nada de bonzinho, e só pensas em maldades". "Não meu amigo, estou aqui para mostrar que sou teu amigo, e quero entrar em tua casa para conversarmos. Ensina como é que subo até aí". O Compadre Macaco desconfiando foi logo preparando uma grande panela d´água quente no fogão, e respondeu: "Olha Compadre Tigre se realmente queres ser meu amigo, vou te ensinar como se sobe até aqui. Tens que subir de bunda para cima." O Compadre Tigre se posicionou e foi subindo aos poucos. Quando estava quase chegando foi aquele desastre, recebeu na bunda uma panela de água fervendo, se estatelando no chão aos olhos da Comadre Cobra, e botando fogo pelas ventas.

FECHANDO A PORTEIRA.
A Bíblia.

Ainda não sou beato, mesmo assistindo missa todos os domingos. Acontece que a gente se aproxima da "porta final" e vai querendo ficar perto da Sua Presença. Então comprei uma Bíblia, encadernada e fechada com "fecho eclair" (acho que assim se escrevia no outro tempo, hoje deve ter nome diferente), pelo pouco preço de inacreditáveis R$ 18,00. É o livro mais vendido no Mundo inteiro, e as pessoas ainda não descobriram toda a mensagem que ele conduz, nem mesmo os mais estudiosos. Atrevo-me a comentar São João: "e a Luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam". Ele é a LUZ e está presente em tudo, até mesmo nas trevas, que julgo serem aqueles que não o creem, mas o amor d`Ele vencerá, e um dia todos o amarão, e a humanidade será FELIZ. Quando? Rezemos para que não demore. Entristeço, pois não conhecerei a PAZ MUNDIAL.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Boletim 39

ABRINDO A PORTEIRA
Quaresma.
A Páscoa é estabelecida no Hemisfério Sul na 1ª Lua cheia do outono, e este ano incidirá no dia 4/4. Atenção e cuidado, o número quatro simboliza o universo material e aí nos temos dois quatro. Então vamos retroceder 40 dias (olha o quatro novamente) para estabelecer a Quaresma, claro o número só é alcançado com a exclusão dos domingos, para chegarmos na quarta feira de cinzas(mais um quatro). Aqueles que não são católicos ou religiosos, registrem os dados como elemento cultural, que foram extraídos de pesquisa no Google.
40 dias foi o dilúvio; 40 anos a peregrinação do povo judeu pelo deserto; 40 dias de Moisés na montanha; 40 dias que Jesus passou no deserto; 400 anos de estada do povo judeu no Egito. Peço o favor de não incluirem os 40 ladrões do Ali Babá, porque então estaremos entrando no Brasil.
O próprio Jesus comemorava a Páscoa! Aí fiquei cabreiro, pois eu julgava que Ele é que havia "inventado" a Páscoa. O nome se origina do hebraico, e se traduz por "passagem; passar por cima", simbolizando a passagem do povo judeu do Egito à Terra Prometida. Jesus deve ter escolhido a data da Páscoa para sua morte, na simbologia da "libertação do pecado, pelo homem".
A prática da Quaresma acontece desde o século IV, quando se pratica a penitência para renovação de toda a Igreja, com os católicos praticando o jejum e abstinência.

GALPÃO - 7ª Lei
Igualdade.
Falando em Galo Velho falemos em igualdade racial. Nosso Galo Velho era um negro, mas afirmo que ele pouco estava ligando para sua inferioridade social, que na época era tremendamente marcante. Ele conhecia o seu lugar, e assim agia por ser respeitado e até mesmo admirado pelos patrões, por sua candura, habilidade campeira e disciplina. Igualdade social só é conquistada com bom caráter.
Ele nasceu na escravatura e no meio rural, por tal convido vocês para uma viagem: “O negro chegando escravo nas fazendas do Rio Grande do Sul recebeu do patrão um cavalo arreado para montar, e uma faca carneadeira na cintura para courear, pois o couro era a grande riqueza na época. Como chicotear e tratar mal um homem assim? Como agrilhoar um homem sobre o cavalo? Ele era livre, dividindo com o patrão o suor da labuta campeira, se sentindo igual aos brancos, que forçosamente eram seus amigos. Hoje esta amizade acabou, com as leis sociais mal adaptadas ao campo.


HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM
O Compadre Macaco e a Grande Carreirada.
A imaginação do Compadre Macaco era muito grande, e ele sempre aprontava pra cima do Compadre Tigre. Certa feita inventou uma carreira entre os bichos, ofertando uma coroa de rei àquele que fosse o vencedor, o que passou a ser o assunto da bicharada.
Certo dia estando em cima de uma árvore viu o Compadre Tigre passando ali, e foi preparando a jogada: “Olha Compadre Tigre, o senhor é mais corredor dos bichos, e se correr vai ser o vencedor”, ao que o bicho ruim retrucou: “Claro que vou ganhar, pois sou o rei dos animais”. “Mas olha, disse o Compadre Macaco, para correr é obrigado ter um jóquei, e eu sou o melhor de todos, mas já me acertei com o Compadre Guaraxaim”, ao que o Compadre Tigre retrucou: “Pois tu vai ser é o meu jóquei, viu bicho moleque?” O Compadre Macaco fingiu aborrecimento, mas terminou concordando passando a acertar como seria a grande carreira.
No dia da corrida o Compadre Macaco pediu que a bicharada ficasse esperando junto ao rio, na Curva das Tartarugas, pois ali ele iria aparecer montado no Compadre Tigre e dando muito laço nele. Dito e feito, ele começou a preparar o bicho ruim dizendo que teria que colocar a sela de montar, o que foi um sufoco para ele aceitar. Depois tinha que colocar o freio, então a coisa esquentou mais ainda, mas terminou concordando. Quando o Compadre Macaco apareceu com o rebenque foi um griteiro danado, mas se convenceu na afirmação que os outros todos teriam jóquei e com rebenque. Montado no bicho ruim, o Compadre Macaco se firmou nos estribos e nas rédeas, ainda agarrando o seu rabo no rabo do Compadre Tigre. Não é preciso dizer que não haveria carreira nenhuma com os outros bichos. Foram ao tranco até a Curva das Tartarugas, mas ali chegando o Compadre Macaco passou a surrar o Compadre Tigre com seu rebenque, e por mais que ele corcoveasse não conseguia lhe derrubar, e na corrida chegaram à frente da bicharada, que morria de tanto rir, pela grande surra que o bicho ruim estava levando, e pelo fogo que ele botava pelas ventas.

FECHANDO A PORTEIRA.
Sexo.
Deixei para o final porque poucos de vocês chegam até aqui. Sei que vou me quebrar com a maioria, mas fui falar em Sodoma e Gomorra no outro boletim e o assunto ficou bailando. Assim, vou me referir a sexo, que desde milênios é atual e polêmico. Começo com uma sentença: tenho 52 anos de felicidade conjugal! Então aceitem meus erros e meus acertos, mas não deletem sem refletir.
Sexo é uma necessidade fisiológica. Nada mais. Além, lógico, da perpetuação da espécie. Não permitam que ele tome conta de vossas vidas. É como se de repente eu quisesse evacuar o dia inteiro. A vida moderna tem alterado nossos hábitos, com a tv e o computador enchendo espaço e mais espaço com sexo. Não entrem nessa. Façam equilíbrio das atividades sexuais, e principalmente não a exterminem, pois tudo que esgotamos – se acaba! Sei que a imaginação é infinita, mas também sei que ela acaba no trato da coisa física. Confesso que durante toda minha feliz vida conjugal só fiz “papai e mamãe” com minha esposa (só espero que ela não leia isto, e nem que vocês contem para ela, pois não gostará de eu revelar nossa intimidade). Muitos dirão: “Mas que idiota, não sabe o que perdeu”. Respondo: “Nunca esgotamos nossas imaginações, que só vivenciaram o amor, nas carícias de respeito, usando muito mais o coração do que o próprio corpo.
Na minha filosofia maçônica está escrito, que três são os vícios que destroem a alma humana: Orgulho, Ócio e Volúpia. Pensem nisso...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Boletim 38

ABRINDO A PORTEIRA
Férias.
Afinal ninguém é de ferro. Quem não tira férias está com algum problema. Trinta dias é muito tempo, termina dando canseira, e cansar nas férias é desagradável. Vejam nosso desgaste apreciando os dois meses de férias do Brasil. Burocraticamente falando, janeiro e fevereiro ninguém faz nada. Agora, tirar só uma semana também é pouco, mas na crise que vivemos não tem outra maneira. Falando em crise, vejam bem, nasci em 1934, logo após a grande crise de 1930, e por toda a vida sempre ouvi falar nela. Vezes mais, vezes menos, mas sempre em crise, parece que já nos acostumamos. Pois que assim seja, o importante é não perturbarmos nossas mentes, já que ela não nos pertence, pertence a Deus, e Ele não deve ser perturbado.

GALPÃO 6ª Lei
A verdade.
Quando criança apanhava de meu Pai ao mentir, e este ensinamento transmiti aos filhos, que transmitiram aos meus netos, lógico que hoje sem apanhar. Tal fato me fez buscar a VERDADE vida à fora. Creio que assim tenha nascido maçom, sem saber.
Essa virtude é a representação da Divindade, ou seja, o primeiro degrau para se conseguir um bom caráter, podendo com ela cultivar as demais virtudes. Afirmo: "Em todos os defeitos humanos a mentira está inserida". A VERDADE passou a ser uma das leis do Galo Velho, na representação do RESPEITO aos nossos semelhantes. Tanto que na “queima de campo”, ao contarem os causos campeiros, logo se busca pelo Livro, e ali ele é registrado com a assinatura do mentiroso e suas testemunhas. Uma é antológica: "O Sarará, tratador dos bichos da Praça Cel. Sylvio Luiz, certa feita foi pegar um tatu do cativeiro, com a intensão de comê-lo, pois estava bastante gordo. Quando agarrou o bicho ele gritou: 'mamãe'." Apresentou como testemunha o funcionário da justiça federal no Foro local, conhecido por Jardo, e ambos tiveram que assinar no livro.
Ocorre que ali estamos protegidos da maldade, por força da egrégora de luz que protege o ambiente, onde nossas consciências são envolvidas pela bondade e pela verdade.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O Grande Temporal.
O Compadre Macaco, o mais inteligente e esperto de todos os animais, espalhou a notícia que um Grande Temporal iria cair sobre a floresta, matando todos os bicho, o que aconteceria no dia seguinte pela manhã. Passou a ser o assunto da bicharada que só falava no tal temporal, com o medo tomando conta de todos. Aquela história do temporal fazia parte de um plano do Compadre Macaco, que queria dar uma surra no Compadre Tigre, porque no dia anterior ele havia comido o seu amiguinho o Compadre Coelho. Preparou tudo, convocando a bicharada para um encontro no outro dia, junto do pé da grande sequóia, que era a maior árvore da mata. Pegou de um cipó, e subindo nela passou a se amarrar com ele. Em pouco tempo apareceu o Compadre Tigre, que olhando a cena perguntou: "Mas Compadre Macaco o que está fazendo aí?" Ele então contou que haveria um grande temporal, arrancando todas as árvores, e matando a bicharada. "Ouvi esta história, mas porque tu te amarras nesta árvore?". "Ora, respondeu, esta será a única árvore que vai ficar de pé, e eu não quero morrer." O Compadre Tigre que além de mau era muito burro, não pensou duas vezes e foi logo dizendo: "Desce daí sem-vergonha, tu é que vai me amarrar nela, pois eu é que não vou morrer". O Compadre Macaco ainda fez manha, dizendo que não queria, porque não queria, mas depois de muita ofensa e ameaças do outro, terminou concordando, e passou a amarrar o Compadre Tigre na grande árvore. Depois de bem amarrado, ele ficou na frente do Compadre Tigre, e com aquela sua cara malandra disse: "Então bicho ruim estás bem amarrado? Não consegues te mexer?". O bicho malvado ficou quieto, já meio desconfiado, e foi quando o Compadre Macaco gritou para que a bicharada chegasse para perto, e foi dizendo ao Compadre Tigre: "Não vai haver temporal coisa nenhuma bicho ruim. Fiz isto para te dar uma lição. Tu comeste o meu amiguinho Compadre Coelho, e agora vais aprender a não fazer malvadezas, e vais levar a maior surra de tua vida". Com um outro cipó, que havia preparado lhe deu a maior surra do mundo, para alegria de toda a bicharada, enquanto o bicho ruim botava fogo pelas ventas.

FECHANDO A PORTEIRA
Agora é o carnaval. Aquela festa para jovens, pois lembro da minha juventude, e do quanto o apreciava. A idade avança e a gente vai ficando distante do carnaval, até mesmo não o entendendo, nem mesmo as mulheres bonitas que tanto adoçam as imaginações, que envelhecem, ou enfraquecem, e não damos mais importância aos belos e excitantes desfiles carnavalescos. De qualquer forma é um dos costumes brasileiros que mais chama a atenção do Mundo, atraindo grande leva de turistas estrangeiros com seus bolsos cheios de dólares, e são eles a mola mestra dos tempos atuais, que todos os dias nos mostram seus efeitos de alegrias e de desgraças. O Mundo se desequilibra, e se não fizermos alguma coisa, ele passará a se chamar "Sodoma e Gomorra". Fica outra prece, rogando a Deus que a humanidade não tenha muito, nem tão pouco.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Boletim 37

ABRINDO A PORTEIRA
O bolo de aniversário do Galo Velho.
Por vezes a sensibilidade dos convivas do Galpão fica ferida. Foi o que aconteceu no último dia quinze, quando comemoramos o 40º aniversário do Venerável Mestre João Milan, da nossa querida Centenária e Simbólica Loja Maçônica Vanguarda. Então, depois de muita ceva, chimarrão, prosa e graça (chegaram até se engraçar com as pernas do escrevente, só porque com 76 aninhos elas não tem celulite, não viram as varizes, os elogios em excesso me colocaram de costas contra a parede!), depois de muita alegria naquela feliz confraternização, chegou a hora do bolo de Parabéns à Você. Apagada as luzes entrou um Irmão com a vela acesa sobre ele, e a cantoria foi entoada com força, vindo depois o sopro no seu apagamento. Acendida as luzes, foi aquela estupefação - o bolo era de bosta - uma das tradições do galpão! Rústico e simples como ele próprio, além de grande, seco, e sem cheiro. Puro simbolismo, ao qual dou definição: Bosta para nossos campeiro é simbolo da fartura. Quanto maior é porque o bicho conseguiu encher o bucho, e olha que nossos bolos são grandes, até de dois e três andares. Dizem que lá no nordeste eles são pequeninos, pequeninos...
Aí está o acontecido:


GALPÃO
5ª Lei - Mercância.
Deveria dizer comércio, mas não quero ferir meus amigos comerciantes, que tem livre acesso ao Galpão do Galo Velho. Não tenho nada contra os comerciantes, mas é balda do galpão não permitir "mercância" ali dentro. Acho que isto coloca um de frente ao outro, e ali estamos todos ombro a ombro. Certa feita meu amigo Atílio Manzzolli, que além de dono da Manlec é meu vizinho de propriedade, entrou no galpão com seu capataz, e meu ex, Luiz Pires, dizendo que queria olhar uns terneiros para comprar. Disse que entrara em porta errada. Era o lusco-fusco de um sábado, e eu cozinhava uma galinha com arroz. Atílio falou: “Para Fernando, eu estou com pressa”. Retruquei que era ainda pior, pois ali não era lugar de apressado. Mostrei-lhe uma estradinha, dizendo que por ali fosse, quem sabe encontraria o Luis Mário. O homem se parou sério dizendo: “Vai ver que terei de sentar”. Respondi que já estava se comportando melhor. Sentando sentenciou: “Acho que vou tomar um trago de canha”. Foi então hospitaleiramente servido na Taça da Amizade. Algum tempo depois ao se despedir, e sem realizar a tal "mercância", confessou que havia gostado do chão, e que retornaria. Conto o “causo” para entenderem a PAZ do galpão. Chegou apressado e nervoso, certamente pelo negócio, e saiu calmo, tranqüilo, deixando conosco o bem que conduzia em seu coração.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM - 17
O Compadre Folharada.
Certo dia, quando a floresta enfrentava uma forte seca, restava água somente num lagoão. Ali o malvado do Compadre Tigre se parou, dizendo para a bicharada: "Todos podem beber, só quero é pegar o Compadre Macaco, quando ele chegar para matar a sede". A Comadre Tartaruga foi a primeira que chegou, entrando na água meio desconfiada, cuidando daquele bicho brabo pelo rabo do olho. Depois de beber saiu lentamente, naquela marcha cadenciada, para contar ao Compadre Macaco o que estava lhe esperando. O coitado ficou desesperado, pois já estava louco de sede. Depois de muito pensar saiu a procura de uma colméia de abelha, à qual colocou fogo, pondo o enxame em fuga. Pegou do mel e se lambuzou todo, logo após se rolando nas folhas mortas do chão, que ficaram coladas nele. Morto de sede encaminhou-se ao lagoão parecendo um bicho do outro mundo. Logo ao se aproximar foi interrogado pelo Compadre Tigre. "Oi Compadre Folharada, quem é o senhor?". Calado, pois se falasse seria reconhecido, o tal Compadre Folharada chegou na água e chulepe que chulepe, matando a sede desesperadamente. Mas o Compadre Tigre se aproximava cada vez mais, sempre perguntando. "Mas Compadre Folharada de onde o Senhor veio, nunca vi bicho igual". O Compadre Macaco já com a sede aplacada foi pego de surpresa por um forte redemoinho de vento, que lhe tirou as folhas do corpo. Foi então aquela correria. Já te pego, já te largo campo à fora, numa disparada maluca. Quando passaram por uma árvore, já sentindo o bafo do Compadre Tigre na bunda, ele pulou num galho por onde subiu, e lá de cima fazia morisqueta com as duas mãozinhas abertas diante do nariz, sacudindo os dedos. "Oi bobalhão. Tu não vai me pegar nunca, bobalhão". O Compadre Tigre de tão brabo botava fogo pelas ventas.

FECHANDO A PORTEIRA.
Vou fechar falando em maçonaria, para não retornar mais ao assunto. Ela anda ultimamente em evidência, graças ao Dan Brown e sua obra "O Símbolo Perdido". O homem resolveu desvendar nossos segredos, como se eles existissem! O único segredo é sermos uma entidade fechada. O Rotary, Lions e outros também o são, pois lá ninguém pede para entrar, somos nós que escolhemos os sócios, que passam por um crivo terrível, não só na cidade da Loja, mas em todo o Estado. Não necessitamos fazer propaganda de maçonaria, pois as Lojas estão repletas, e cada vez surgem mais e mais Lojas. Aos profanos vou dar uma curta definição: "Maçonaria é uma instituição filosófica, filantrópica e progressista, cujas finalidades principais são: a busca da VERDADE, o estudo da MORAL e a prática da FRATERNIDADE UNIVERSAL". Não é preciso dizer mais nada, mas por favor não levem como propaganda, pois eu com 46 anos de prática maçônica seria expulso.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Boletim 36

ABRINDO A PORTEIRA.
Resignação.
O ano 2009 terminou, e navegamos agora no 2010, depois de darmos uma volta ao redor do Sol, na incrível velocidade de 100.000 quilômetros por hora. Um lindo passeio, sem necessidade de pagarmos embarque em uma nave espacial. Se o tempo nos consome, devemos agradecer ao Grande Arquiteto a oportunidade de vida. Sei que foi muita festa, e eu deveria ter feito uma para o Ano Passado, justamente por ele ter passado. O maula me levou dez amigos(as) em suas águas, e ainda inundou cidades e lavouras. Seu inverno começou em maio só amenizando em outubro. A crise mundial botou lenha na crise brasileira, enquanto o nosso presidentezinho continua dizendo impropérios à sua classe baixa, como se ela pudesse pagar a conta dos mensalões, mst, bolsa família, e outras roubalheiras.
Entro em 2010 clamando aos céus para que as coisas sejam apenas normais, nem muito, nem pouco. Equilíbrio é a gangorra da vida, permitindo os corações baterem compassados, as mentes serenarem, o relógio do tempo bater mais lento, gozarmos de umas férias mais longas, bebermos o amor nos olhos dos entes queridos, mas principalmente para que possamos deixar a resignação de lado. Fui no amansa buscar sua definição - paciência o que acho muito legal - conformismo não gosto deles, nem dos inconformados - coragem para enfrentar as desgraças - creio que ainda não é desgraça, mas se continuar assim será. Que Deus permita deixarmos a resignação da lado.

GALPÃO.
4ª Lei - Porta Aberta.
Não consigo imaginar um galpão fechado. Assim me criei no galpão do meu avô Ney Azambuja, lá na Fazenda da Invernada, e creio ser ele o primeiro símbolo de HOSPITALIDADE. Assim também era o galpão da Quinta, da Santa Tereza e todos os outros que conheci. Imaginem uma madrugada fria e chuvosa, o vento minuano entrando corpo a dentro, e um gaúcho gaudério chegando nas casas. Todo mundo dormindo, e ele sem pensar em pedir pousada entra no galpão com cavalo e tudo, desencilha o pingo soltando-o para o potreiro. Atiça o fogo e nele chega a chaleira, mata a sede e aplaca a fome com seu mate amargo. Depois estende os pelegos perto dele, faz travesseiro do lombilho e, uma Boa Noite.
Assim era num outro tempo. Claro que hoje as coisas são diferentes, e tem muito maleva de “a pé” e mal intencionado. O próprio Galpão do Galo Velho já foi furtado e arrombado várias vezes. Costumo repor as coisas nos seus lugares, perdoar os “mortos de fome” e seguir os mesmos e velhos costumes, para não perder a tradição. Vou mais para bobo do que para esperto, evitando que a esperteza me engula um dia. Tenho rezado ao Criador para me transformar num Galo Velho, conservando a pureza no meu interior, não imaginando que alguém possa lograr minhas boas intenções.
No galpão haverá sempre lenha empilhada, para ser consumida nos dias de chuva. Também uma cuia, bomba, erva, e além das chaleiras, duas cambonas e um trago de canha, mantendo assim o verdadeiro sentimento do gaúcho - hospitalidade.
Antigamente ele era chamado Galpão dos Bichos, pois meu pai criava muita ovelha, e os guachos ali encontravam abrigo e o leite da mangueira. Galpão dos Bichos, Galo Velho, meu Templo Sagrado és minha imagem de carinho, no amor por aqueles que partiram para a Invernada do Esquecimento, aquentando na noite eterna a prece de PAZ e RESPEITO.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM - 16.
Histórias do Compadre Macaco. Elas me foram contadas por meu Pai, eu contei aos meus filhos, e meus filhos aos meus netos. Certamente serão conhecidas de muitos de vocês, mas o que desejo é gravá-las, já que nunca as encontrei em qualquer livro.
O Compadre Folharada.
Havia uma imensa e linda floresta virgem, num tempo em que não havia o homem para cortar e queimar seus galhos. No seu seio corria um rio de águas límpidas, e os animais se comunicavam, vivendo em perfeita harmonia, falando uma linguagem que vamos traduzir para a nossa. De todos os bichos o mais amado era o Compadre Macaco, que por ser o único a possuir mãozinhas, costumava ajudar os demais quando necessitados. Até mesmo o rei dos animais, o Compadre Leão o adorava, pois certa feita tendo um espinho cravada em uma das patas foi o Compadre Macaco, que lhe salvou a vida. O único animal que lhe odiava era o Compadre Tigre, que dele tinha ciúmes e vivia dizendo que iria lhe pegar para comer inteirinho.
Certo dia .... (vou deixar a história para outro boletim, para não roubar espaço).

UMA CHARLA.
Plantando.
Ele era agricultor, e sua lavoura deveria ser plantada no período certo. Chovia, e chovia muito. Tudo estava atrasado, e ele cada vez mais se desesperava. A chuva continuava mais forte. Veio a enchente, inundando sua casa. Ele lembrou da família, que deveria ser removida, enquanto a chuva não parava. Havia perdido a lavoura, e temeu perder a própria família. Só então lembrou de Deus. Ele o príncípio fica em nossos pensamentos somente no fim. Ele a semente espiritual, para os bons frutos em nossos pensamentos, não é adubado, cuidado, amado, enquanto pensamos na matéria, apenas na matéria. Que Ele nos perdoe, e nos abençoe, junto de nossas famílias. Amém.

FECHANDO A PORTEIRA.
Quando me achico, me escondo dentro do peito misturando meus medos e sustos, descobrindo um outro lado da matéria, que sequer foi conquistada com meus esforços. Não dependeram da minha inteligência, das minhas forças, da minha cara e dos meus semelhantes. Recebi de graça numa oferta anônima, resultado do AMOR, da doação, sacrifício, resignação e FÉ. Bastou olhar ao meu redor, como cada um de vocês poderá fazer, enxergando UM LAR SADIO, UMA ESPOSA AMANTE, FILHOS, NETOS, e vários punhados de parentes e amigos. Todos em torno de um presépio de LUZ, na oferta do eterno renascer.
Obrigado SENHOR, nós nos ofertamos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Boletim 35

Abrindo a Porteira.
Deveriam...
O Natal se aproxima, lembrando o nascimento do Menino Jesus, e deveria ser uma data alegre. A Páscoa também deveria ser uma data triste. Deveriam. Sempre as interpretei pelo contrário, e creio que muitos de vocês também. Talvez por rotariano, quando no Natal vamos às praças atender um monte de crianças necessitadas, costumo encarar Natal com tristeza. E a Páscoa? Certamente somos envolvidos por um “feriadão”, e fazemos dela uma festa. Passeamos, fazemos compras, nos divertimos. O comércio com sua "ânsia" nem fecha mais. Pertenço ao tempo em que só se ouvia música fúnebre nos rádios, sendo que a quinta feira também era de “luto fechado”. Imaginem que no Sábado de Aleluia, quando Ele ainda estava morto, fazíamos muita festa com matanças e churrasqueadas. Como não gosto destas interrogações, já que passei uma adolescência com a cabeça cheia delas, busco agora afastá-las da minha velhice. Prefiro pensar em afirmações – No Natal somos envolvidos pelo sentimento da generosidade, coisa rara e difícil, nos levando ao entristecimento, enquanto na Páscoa, com o Seu ressurgimento no terceiro dia, somos levados a uma Nova Vida, esquecendo os dissabores desta terrena. Assim penso, fazendo afirmações.

GALPÃO
Quanto as Leis do Galo Velho
3ª Lei - O Fogo.
Por que o mantemos sempre aceso? Quando o homem era ainda animal peludo, vivendo na idade do gelo, certa feita se encontraram ao redor de uma caça recém abatida, grunhindo e lutando por um pedaço de carne. Foi quando o Senhor dos Mundos armou um grande temporal, caindo dele uma faísca e acendendo uma tora, que se encontrava por perto. Ela ardeu em fortes labaredas de fogo, e eles sentiram que aquilo era bom. Aproximaram-se aquentando os corpos cansados, e aquela foi a primeira reunião social da humanidade, e descobriram que aquilo era bom.
Assim o Galpão do Galo Velho conserva o fogo sempre aceso, buscando reunir os campeiros em torno da chama viva, não só para aquentar os corpos, mas para simbolizar o mais ativo e puro elemento da Terra, que é fonte de energia e purificação. Além de tudo é a representação da luz, que iluminou nosso nascer, e será a chama votiva, que nos acompanhará à uma Nova Vida.

Histórias que me contaram - 15.
Origem da Fazenda da Quinta.
História,com "h" maiúsculo, do meu amigo João Luiz Horta Barbosa, de uma pesquisa sua.
A Fazenda da Quinta foi desmembrada da sesmaria Flor da Praia, e recebida por Faustina Maria Centeno, nascida em 01-07-1804, na Freguesia de Triunfo, filha do Sargento–Mor Boaventura José Centeno e de Dna. Antônia Joaquina Gonçalves da Silva, irmã do Gal. Bento Gonçalves. Faustina era casada com o português João Luiz Pereira da Silva, conhecedor da arte da enxertia, que fez o grande pomar que deu o nome a Fazenda da Quinta. Conhecemos três de seus filhos, ignoramos a existência de outros.
1) Antônio Luiz Pereira da Silva – ainda não pesquisado.
2) Boaventura Luiz Pereira da Silva, nascido em 26-01-1829 em Camaquã, casado com Júlia César Centeno, e por falecimento desta, casou em 2ª núpcias com Isabel Eufrásia de Oliveira Guimarães, nascida em 30-05-1846 no Boqueirão onde também casou em 08-12-1867. Isabel Eufrásia foi a terceira filha de Perpétua (filha do Gal. Bento Gonçalves e Caetana) e de Inácio Oliveira Guimarães. Dos seus quatro filhos destacamos o Cel. Boaventura Luiz Pereira da Silva Júnior, chefe do Estado Maior do Gal. Zeca Netto, e pai de Dona Isabel Silveira da Silva, viúva de Dorval Ribeiro, progenitores do nosso vizinho e amigo Cláudio da Silva Ribeiro e Ieda Ribeiro Karan. Boaventura Júnior faleceu em Camaquã em 29-04-1887, com a idade de 58 anos.
3) Francisco Luiz Pereira da Silva, que aprendeu a arte da enxertia com seu pai e continuou a grande quinta. Casou com Tereza(?), constituindo dois filhos:
A) Adolfo Luiz Pereira da Silva, que casou com Anna América Centeno, proprietários da Fazenda da Quinta, e tiveram quatro filhos: Thereza Centeno Azambuja que casou com o primo Mário Silva Azambuja, pais de Luiz Fernando e Maria de Lourdes: Maria Centeno Azambuja que casou com o primo Lauro Silva Azambuja, sem descendência; Sylvio Luiz Pereira da Silva que casou com Morena Pereira, pais de Gladis Terezinha Pereira da Silva, e seu último filho foi Francisco Luiz Pereira da Silva, que casou com uma irmã de Morena, Ivone Pereira, pais de Marco Antônio e Cesar Augusto.
B) Faustina Pereira da Silva, que casou com o Cel. Ney Xavier Azambuja, proprietário da Fazenda da Invernada, com larga descendência, que será tema de outro boletim.

Uma Charla.
Ainda o Mate
Encontrei no livro de Raul Annes Gonçalves, algumas observações sobre o mate que desejo divulgar.
1.- O chimarrão com leite. Esta eu não conhecia. Ele detalha o mate em roda de mulheres, quando é servido leite quente no lugar da água, sendo que ao leite deve ser acrescidos açúcar, canela e erva doce. Acho mesmo que é de se experimentar, pois deve ficar gostoso, mas só para mulheres.
2.- A pessoa que serve o mate (o cevador) é que deve levar o mate a quem serviu, e até mesmo traze-lo de volta quando o convidado tiver terminado de matear. Particularmente não concordo, pois acho que o cevador deve levar o mate até o convidado, mas quando este termina de matear, deve levantar para devolver.
3.- Quando a cuia fica muito tempo parada, antes de se fazer novo mate, deve-se colocar algumas brasas em seu bojo, e logo em seguida despejar água fria. Tenho presenciado este gesto no Galo Velho, quando o João Vigano vai cevar o mate.
4.- Esta o meu amigo João Vigano costuma repetir no galpão, quando se está aquentando água sobre os tições – “Chaleira sobre o tição, tomará mate ou não!”.
Creio que este assunto do mate não terá fim. Serei contestado, assim como o escritor Annes Gonçalves também será, pois o costume do mate recebe variações de uma região para outra. Sei que já falei em outro boletim do gaúcho de Venâncio Aires, que anda de “moto-home” percorrendo o Rio Grande, divulgando a arte do chimarrão, carregando consigo um arsenal de cuia, bomba e erva, e juntando ao seu redor um amontoado de gente curiosa de como se faz um bom chimarrão. Portanto, peço aos leitores que me auxiliem na divulgação da mais linda das tradições gauchas.

Fechando a Porteira.
Muitos amigos estão curiosos com o que seja o Galpão do Galo Velho. Temo que pensem em algo diferente da sua simplicidade, o que me faz publicar duas fotos do ambiente fumacento. Já descrevi a sua singeleza, quando lembrei poetas. A primeira foto é do abraço de 52 anos de feliz convivência amorosa com a Jane, ladeados pela melhor de nossas construções - Luis Mário, o "Castiano" e o Júnior, o "Magrinho". Na outra foto está o Júnior junto de sua filha Fernanda, minha "Pichirica", primeira neta, mostrando a "parede dos mortos". As fotos datam dos meus 60 anos, em 1994. Mas cuidem, afirmarei sempre: só os que sentem a “egrégora superior” entenderá e saberá apreciar o silêncio e a paz profunda, que reina em suas paredes. Por mais barulho, festa, comilança, beberagem, música e alegria, sempre estaremos envolvidos pela Proteção Superior.



sábado, 7 de novembro de 2009

Boletim 34

Abrindo a Porteira.
Aquela faca atravessada na “passarinha” do Galo Velho, certamente foi um hábito que ele passou a meu Pai, e este passou para mim, e eu para o Luis Mário. Cristino era muito hábil com ela, como fomos com o lápis de ontem, e hoje com o computador. Quando ele não estava carneando depois de sangrar era coureando, pois morria muito bicho no campo, ou guasqueando para os remendos dos arreios, quem sabe picando um fumo em rama, e sovando uma palha de milho para o cigarro, abrindo uma manta de carne para o charque, pelando o couro de um porco para um bom toucinho, churrasqueando, tudo na habilidade de sua faca. Era a ferramenta indispensável do gaúcho, que hoje pouco usamos. Nem se coureia mais, pois os bichos não morrem, e morrendo são enterrados como gente, já que os corvos também desapareceram. Charque nem é bom falar, até mesmo carnear nas fazendas ficou difícil, os bichos são mortos a tiros nas testas, e tudo é desperdiçado. Os mondongos, mocotós, cabeça, miúdos, e mesmo os couros são jogados fora. É duro confessar, mas são coisas de um tempo "moderno".

O Galpão
Quanto as Leis do Galo Velho
2ª Lei - A PAZ.
Será difícil descrevê-la, e para entendê-la é necessário chegar lá, apreciando a simplicidade do Galpão, bebendo um pouco do seu calmo silêncio que se esconde nas paredes enegrecidas pelo picumã. Disse o poeta: “Para que tanta ambição tanta vaidade, procurar uma estrela perdida, se o que nos traz felicidade, são as coisas mais simples da vida”. Creio que nesse verso está explicada a PAZ do Galpão do Galo Velho. Nas suas rústicas paredes encontramos os fluidos benéficos, de quem ali viveu com paz no espírito. Costumo dizer aos amigos que desfrutam de nossa convivência, que são justamente eles que ali deixam a PAZ. Ela jamais será “fabricada” por uma ou duas pessoas, trata-se de um conjunto social, onde todos se doam, na oferta à Deus.


Histórias que me contaram - 14 (Boletim nº 17).
O Ovo Guacho.
Esta história pertence à Bento Martins Azambuja, sobrinho de meu bisavô Ignácio Xavier Azambuja, contada em seu ótimo livro "Recordações Gaúchas" reeditado pelo NPHC. Tio Pio como ele era chamado, residiu e estudou na Fazenda da Invernada de meus ancestrais, no fim do século XIX, tendo participado da Revolução de 93, quando foi ferido. Para quem não sabe, guacho, é o animal que fica órfão de seus pais. Vou fazer um resumo da história que meu parente conta como verdadeira.
Ao se aproximar a época da postura, o avestruz faz seu ninho numa cova de touro, nela pondo alguns raminhos silvestres e ali deposita cerca de trinta e poucos ovos. Antes, entretanto, ela põe dois ou três ovos nas imediações do ninho, que são chamados de ovos quachos. A sua finalidade é muito interessante, pois quando os filhotes desovam, ela os leva até eles que estão podres, e os quebra com a pata, exalando um fétido terrível, o que atrai muitas moscas, que servirão de alimento aos seus avestruzinhos nos primeiros dias de vida.
A infantaria imperial que vinha lutar aqui no Rio Grande era composta de muitos nordestinos, ignorantes de nossa fauna. Certo dia um baiano deparou com um destes ovos guachos, e assustado pelo inusitado de seu tamanho chamou pelos companheiros, que passaram a discutir o fato. Terminaram por chamar um colega de farda e conterrâneo, que por aqui já havia passado, e se dizia conhecedor de nossos hábitos. Então João José (este era seu nome) que nunca tinha visto tal coisa, nem sequer sabia o que fosse uma avestruz, segurou o ovo com uma das mãos, e com o braço estendido formalizou-se, tomando ares de juiz, sentenciando:
-"Ele ovo é, mas não é de ave de pena!... Pelo peso e pelo grandor é de boi ou de cavalo!...
Uma charla.
Na busca da felicidade.
Será uma busca eterna, como buscamos pela presença do Senhor. Creio que a felicidade se mescla com o mistério de Sua própria existência, no simples desejo de sermos felizes. Certamente é tão fácil como alcançarmos nossas próprias sombras. Será que perdemos o sentido da visão, ou que o futuro seja tão distante e impossível de o enxergarmos? Poderá os nossos valores terem se deteriorados? Será esta busca pela matéria "tilintante", que nos desvia do verdadeiro sentido da existência? Sei, são muitas perguntas e de difíceis respostas, mas minha afirmativa é aquela imagens criança das "lindas tardes fagueiras", quando então o tempo existia, correndo lento como a sanga da vida. Só posso afirmar que a felicidade consiste em mantermos as mentes ou consciências serenas, o que sabemos ser difícil no mundo atual, pela constante presença do ódio e da violência, ferindo nossos olhos e ouvidos, mesmo distante das suas cenas, ou pior ainda se presentes a elas.
Vou ofertar aos amigos com carinho, o último verso da poesia, PAZ, de Luna Fernandes (http://humancat.com/SeHa/tantapaz.htm).

Se há tanta PAZ nos corações com fé,
que atrai o bem e afasta as coisas más.
Então oremos juntos, todos de pé,
para que o homem um dia alcance a PAZ.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Boletim 33

Abrindo a porteira
Creio que é esta ânsia de escrever (coisas de Centeno), que me faz procurar o teclado, minha única formação técnica. Quem sabe estou sem o que fazer? Nossos espíritos são criativos, e o meu foi feito a "imagem e semelhança do Senhor", como todos os de vocês, portanto, criemos. Vou lapidando espaços brancos, preenchendo pensamentos, encontrando-me aqui, perdendo-me ali, mas sempre na busca da Eterna Verdade. Sabemos que ela está ao nosso lado, ou à nossa frente, quem sabe vem logo atrás, mas o melhor mesmo é crer que ela está dentro de nós. Estaríamos assim nos aproximando da verdade de Sócrates - "conhece-te a ti mesmo", pois se fomos feitos à Sua imagem, Ele mora dentro de nós, e passaremos a conhecer um pouquinho dEle. Se procurássemos por nós mesmo, sem desprezar os semelhantes, seríamos muito, mas muito mais felizes. Não custa tentarmos, é só aprender a meditar.

O Galpão
Quanto as leis do Galpão do Galo Velho.
1ª Lei - Respeito. Encontrei no "amansa" do Silveira Bueno a definição: "veneração, submissão". Procurei por veneração: "culto". Pronto. Lembrei de quando afixei a placa de PAZ E RESPEITO, ajudado pelo Júlio Machado, naquela parede que chamam "dos mortos". Não tinha ainda percebido a imensa profundidade das duas palavras. Ali realmente é um local de culto, e o maior de todos os cultos que praticamos é o da tradição gaúcha. Por que? Porque dentro dele não rompemos com os costumes dos nossos antepassados. O fogo é no chão; a porta sempre aberta; a chama não apaga; a água é aquentada em cambonas, onde se faz também o café de chaleira; os bancos são de couros rústicos; a roda do mate e a roda da canha une os campeiros ao relincho das éguas encocheiradas. Ali não temos distinção de raça, religião e partido político. Somos todos irmãos, culto ou ignorante, pobre ou rico, branco ou preto, na mescla da amizade forjada na lida do campo, onde o suor do patrão se mistura com o do empregado. Este RESPEITO GAÚCHO surgiu nas refregas guerreira, quando na carga de lança era o patrão que ia à frente, conduzindo na fé de seus ideais, a bandeira da Igualdade, Liberdade e Humanidade, princípios básicos da vida riograndense. RESPEITO é receber com fidalguia aquele que chega pra perto do fogo, dividindo o muito ou o pouco que se possua, acatando quem seja e que idéias tenha. Com o RESPEITO manteremos as amizades, e só com ela o Mundo alcançará a PAZ.

Histórias que me contaram - 13
O Figueirão da Fazenda da Quinta. (Boletim n° 10)
Há um grande figueirão na Fazenda da Quinta, bem junto da cabanha de crioulos do Luis Mário. O fato ocorreu aproximadamente em 1935, quando a Sant`Anna estava nos arremates de sua construção, aos cuidados do Sady Scherer. Plácido era um aguador do Adriano Scherer, casado com uma linda "castiana", mas não iam bem de casamento, pois falavam que ele não "cuidava bem" da mulher. Nestas horas sempre acontece. O Sady passou a "arrucinar" a tal castiana, e terminou acontecendo. Certo dia, Plácido descobrindo o crime, cometeu um crime maior. Enquanto um casal de joão-de-barro se amava num rancho de carinho, ele estrangulava a mulher, pendurando-a depois num caibro da bolanta, simulando suicídio. Foi à Fazenda Sant`Anna ao quarto do Sady, provavelmente para cometer outro crime, mas lá encontrando meu Papai passou a chorar, dizendo que a mulher havia se matado. Minha Mamãe, aficionada de Aghata Christie, depois de conferir a cena do crime afirmou à Papai, que a mulher não havia se matado, pois o banco colocado junto do corpo não estava caído, e encostava nos pés da morta, e morto esperneia ao morrer. Mamãe influenciou o guarda que atendeu a ocorrência, termindo por Plácido confessar o crime, e dizendo que a havia matado por amor. Que Deus tenha piedade de sua alma, pois amor não mata.

Uma charla.
Ainda o mate.
Agora registro realmente as Leis do Mate. Elas existem e devem ser cumpridas.
1ª - Nunca se pede um mate, ele deve ser ofertado. Trata-se de um direito do cevador de matear sozinho. Ninguém deve se ofender quando o mate não lhe é ofertado. Entretanto, na roda de mate ele corre solto, não podendo ser excluido nenhum dos vivente, o que será considerado ofensa. O gaúcho da roda poderá ser desdentado, gripado ou até aidético, que o mate lhe será ofertado. Cabe agradecer, se excluindo de beber naquela roda.
2ª - O "ronco da cuia". Creio ser mais um gesto de educação, que outra coisa qualquer. Ao devolver a cuia para o cevador é necessário fazê-la roncar, demonstrando assim que não se deixou resto na mesma. A vivência campeira diz que roncando, o mate não ficará entupido, ou mesmo pesado ao ser sorvido.
3ª - Salvo quando a roda é íntima, não se deve reclamar do mate, pois cada um faz ao seu gosto, principalmente quanto a temperatura da água. Cabe ao vivente dizer "obrigado", o que quer dizer que não deseja mais se servir do mate.
4ª - Raul Annes Gonçaves diz que a roda do mate é da direita para a esquerda. Não diz com que mão ele é servido, mas logicamente será com a direita. O cevador, destro, segurará a cuia com a esquerda e a térmica ou chaleira com a direita, trocando pois de mão ao servir. Sempre considerei o lado esquerdo do corpo como o positivo, o lado do coração, mas parece que os campeiros assumindo o gesto da direita, ofertam a força, na pujança do Rio Grande do Sul.
5ª -Mexer na bomba. Nunca se deve mexer na bomba do mate, fazendo movimentos com ela, imaginando que assim o mate ficará mais solto. O desastre de um mate entupido piora ao se mexer na bomba. Dou uma dica. Ao entrarem numa roda de mate observem se o vivente que o bebe está fazendo força, então recusem. Para se mexer na bomba de um mate tem de pedir licença ao cevador. Conheci um compadre de meu irmão Alaor Rodrigues, que se arreliava com a sua comadre, que costumava mexer em sua bomba. Certo dia ele "palanqueou" a bomba com um arame ao redor do bojo da cuia, e foi uma graça ver a coitada fazer força em vão.

sábado, 19 de setembro de 2009

Boletim 32

ABRINDO A PORTEIRA
Estamos saindo da Semana Farroupilha e esta porteira é imensa, nos levando à uma inverrnada comprida, quase sem fim. Dizer o que os outros já disseram, ou escrever o que já está escrito? Como esta porteira é meu próprio coração vou dizer o que penso. A Revolução Farroupilha foi o movimento político-social que enraizou o gaúcho no seu solo. Ao proclamarmos uma República meio século antes da República Brasileira, mostramos ao mundo nossos sentimentos de progresso, e de amor à Liberdade, Igualdade e Humanidade. As grandes fazendas, que eram a riqueza do Rio Grande do Sul, ficaram arrasadas com seus proprietários quebrados e a gauchada “esfarrapada”. Este fato nos levou à poderosas virtudes – humildade, simplicidade, resignação, coragem, determinação, estoicismo. Vou resumir tudo na SIMPLICIDADE DO GAÚCHO, que julgo ser uma de nossas mais importantes posturas. Foram os farrapos que com seus sangues irrigaram o solo, de onde nossas raízes alimentam o amor que por ele sentimos. O dicionário diz que simplicidade é singeleza, ingenuidade. Alguns poderão discordar, mas julgo que é justamente isto que nos permitiu desenvolver o “espírito de hospitalidade”, que tanto encanta nossos visitantes, afirmando que aqui vive uma “raça” diferente. Não vamos esquecer que o Rio Grande do Sul, chamado por duzentos anos de Terra de Ninguém, só foi “descoberto” no início do século XVIII, o que nos permite cultivar a “ingenuidade” dos mais jovens. Anotem – estoicismo é uma escola de princípios rígidos de moral, a mais importante qualidade gaúcha, que se destaca principalmente no corrompido cenário político nacional.



GALPÃO
É necessário dizer alguma coisa sobre este negro paraguaio, apelidado de Galo Velho, escravo que aqui chegou após a retomada de Uruguaiana, na Guerra do Paraguai. O apelido se deve a um grito que ele pronunciava, quando começava a juntada do gado para os grandes rodeios, campo à fora. Lembro de meu Pai, capataz da Fazenda da Quinta por muitos anos, contar que seu grito jamais fora imitado por outra pessoa. Imaginem que os gaúchos saíndo da sede, se dirigiam a um determinado rodeio (Figueira Caída, Capoezinho, Capão dos Touros, e outros), alguns chegavam primeiro no local já conduzindo gado, enquanto outros tinham que fazer a volta ao ponto do rodeio, em busca de animais mais distantes. Assim, para que uns não ficassem esperando pelos outros, a “ordem” de começar a recolutada era dada pelo grito do Cristino, daí seu apelido, pois os parceiros diziam: “vamos começar, o Galo Velho gritou”.



HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM 12
A história da cachaça. (Boletim nº 23)
O Companheiro Fábio Tavares, do NPHC nos contou esta linda história, fruto de uma pesquisa, no Museu do Homem do Nordeste.
Para se fazer melados no Brasil de antigamente, os escravos colocavam o caldo da cana de açúcar em um tacho, e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Um dia, porém, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam, e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte encontraram o melado azedo e fermentado. Não pensaram duas vezes, e misturaram o tal melado azedo com o novo, e levaram os dois ao fogo. Resultado, o ‘azedo’ do melado antigo era álcool, que aos poucos foi evaporando, e formou no teto do engenho umas gotículas que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada, que pingava. Daí o nome ‘PINGA’. Foi quando entrou no engenho um escravo com as costas cortadas dos lanhos da chibata do feitor, que recebendo alguns pingos da canha, disse que ardia muito. Então lhe deram o nome de ‘AGUA ARDENTE’.
Algum tempo depois entrou um rapaz que passou a aparar com a boca algumas gotas da “pinga”, dizendo que era gostoso. Notaram que o rapaz continuou bebendo da pinga por algum tempo, passando a dançar e a se alegrar. Os escravos sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo da pinga tomando daquela água ardente.



UMA CHARLA.
O Chimarrão. (Boletim nº 14)
O certo é que muito ainda se dirá sobre ele, hábito milenar em nosso continente. Tudo que escrevo é pessoal, não querendo dizer que seja alguma lei, de cumprimento severo, pois os hábitos são práticas regionais, ou até mesmo pessoais que devem ser respeitadas.
Ao meu gosto considero o mate um momento de descontração. Assim não gosto de ver as pessoas beberem seus mates caminhando em algum evento, como por exemplo, nos rodeios, feiras, etc. Parece quererem mostrar que são gaúchos. Também não gosto de matear dentro de um automóvel, onde mais se faz sujeira que outra coisa qualquer. Claro, que quando de uma viagem longa, se deve é matar a sede, e pode ser com ele. Já vi gente mateando “de a cavalo”, que coisa mais sem gosto. Certa feita em Mello no Uruguay, onde tive uma lavoura de soja, permanecia por algum tempo na cidade, quando vi com meus olhos, e não me chamem de mentiroso – um vivente mateando de bicicleta! Ele tinha um suporte para cuia e térmica junto ao guidão, enchendo o mate com uma mão, e depois bebendo com a outra.
O mate deve ser encarado como um ritual, desde o momento de cevá-lo, até quando se lava a cuia para guardá-la. Ele é o companheiro das horas de reflexões, ou dos encontros galponeiros, jamais devendo ser o companheiro para festas e exibições. Minha memória criança guarda a lembrança das mateadas nas salas, nas sombras das figueiras, nas madrugadas e no entardecer junto ao fogo do galpão, ou seja, sempre nos descansos.





domingo, 13 de setembro de 2009

Boletim 31

ABRINDO A PORTEIRA
O agosto foi embora, e que ao voltar no próximo ano venha mais calmo, sem levar meus amigos e sem tantas gripes “bichonas”. Meu velho Pai esfregava as mãos em setembro, dizendo que só no outro ano iriam lhe “pegar”. Parecia saber que morreria em agosto, como aconteceu no dia 19 do ano 1977.
Mas aqui vamos abrindo outra porteira do tempo, que corre campo a fora. Aproveitando esta porteira aberta me refiro ao dia 24 de agosto, Dia de São Bartolomeu, ou ao “Massacre da noite de São Bartolomeu” – 24 de agosto de 1572, em Paris, quando os reis da França mandaram matar os protestantes ou huguenotes. Dizem que morreram de 30 a 100 mil protestantes nos quatro meses de matança. Pois esta foi a noite que Getúlio Dornelles Vargas escolheu para botar uma bala no seu coração, em seus aposentos do Palácio do Catete, Rio de Janeiro. Minha família maragata, do Partido Libertado era ligada a UDN, partido de Carlos Lacerda, conhecido como “Derruba Presidentes” causador da queda de Getúlio. Minha gente conservadora não aceitava as reformas do Getúlio, entretanto, vejam quantas e boas ele criou: Ministério do Trabalho; Ministério da Indústria e Comércio; Ministério da Saúde e Ministério da Educação e Cultura. Estabeleceu o primeiro Código Eleitoral do Brasil; a OAB, o Correio Aéreo Nacional; o Departamento de Aviação Civil; a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; a Carteira de Trabalho; o IBGE e a Petrobras. Uma reverência ao mais importante político do século XX. Gaúcho Tchê!

GALPÃO
A luz penetrou no Galpão do Galo Velho.
Foi um grande susto ao saber que um pedaço do telhado havia caído. Lá chegando e apreciando o desastre saltou aos meus olhos: havia luz natural dentro do galpão num raio forte de Sol. Não houve alegria com este fato, mas constatei que, além do teto roído pelo cupim ter caído sobre o forro da cozinha, nada mais de grave. Então toca de limpar a peça, assim como o escritório do João Vigano, e tratar logo de fazer um reparo provisório, o que o Bráulio e o Dejair resolveram no mesmo dia, cobrindo o buraco com lona plástica branca, que ficou além de bem feito, muito forte. A lona plástica continua iluminando o galpão, e fiquei pensando em fazer uma coberta permanente com ela. Por que não? Imaginem a gente ficar apreciando as estrelas durante a noite. Na verdade no verão seria brabo agüentar o calor, e o perigo de um incêndio com aquele fogo sempre aceso. Não iria faltar um gaiato dizer que o galpão virou num viveiro, mas bem que soaria bonito, pois estou dizendo que é Galpão dos Vivos (nem dos mortos, nem dos espertos!)

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 10
Para não republicar velhos boletins, copio suas histórias passadas. (boletim 21)
No início do Século XX começaram a desenvolver o tráfego aéreo no Rio Grande. Primeiro porque não tínhamos estradas, e as distâncias a serem percorridas eram grandes. Como não havia aeroportos como temos hoje, passaram a usar hidroaviões, que desciam e decolavam nas águas da Lagoa dos Patos, próximo das grandes cidades. Assim a Varig inaugurou uma linha aérea ligando Porto Alegre à Pelotas e Rio Grande. Também é necessário esclarecer que entre estas cidades não havia linha férrea. O primeiro hidroavião tinha desenhado em sua fuselagem o prefixo BAAA. Contam até mesmo, que dois gaúchos estavam pescando serenamente na beira da lagoa, quando passou baixo aquele bruto “pássaro voador”, tendo um deles gritado: Baaa! Daí surgindo o nosso dito tão diário do gaúcho – Baaa!
Mas a história é outra. Certo dia um desses hidroaviões navegadores, voava de Pelotas para Porto Alegre, quando teve uma pane num dos motores, descendo na Lagoa do Guaraxaim. Os pilotos, que eram alemães puros, amarraram o dito numa figueira, e saíram campo a fora. Deram numa casinha, e mesmo falando mal a língua, conseguiram saber que perto havia uma grande casa de fazenda. Era a Fazenda da Quinta, propriedade de meus avós, Centeno Pereira da Silva. Ali chegando foram bem recebidos e alojados no “quarto de fora”, onde era costume se hospedar estranhos. Eles perguntaram ao empregado que fora convidá-los para jantar, onde seria servido o mesmo, e informados que seria na casa principal, ali bateram na porta, e para surpresa da família estavam trajando smoking, ou seja, uma roupa de gala. Dá para se imaginar o susto daquelas pessoas, que mesmo ricas eram dotados de grande simplicidade.
A história ainda não termina aí. Dois dias depois meu avô providenciou uma carroça, e gente para levar os pilotos até o avião, já tendo despachado um “próprio” até a vila do Duro para avisar por telegrama à Varig. Susto tiveram os dois pilotos, que chegando onde haviam deixado o avião, não o encontraram. Aconteceu que a Varig já o havia rebocado, após darem falta do mesmo.

Uma charla
Foi um inverno tirano. Creio mesmo que foram três invernos, um no outono, outro no inverno e agora entramos em setembro com o da primavera. A comunidade lavando as mãos toda hora, com medo da tal gripe suína. As guaiacas vazias com a falada crise mundial. O preço do arroz em queda, como careca de jovem. A roubalheira se “espraiando” pelo País, e até mesmo nosso chão gaúcho, que não é dessas coisas ficou impregnado. A barragem do Maria Ulguim parada, porque a prefeitura não tem verba para limpar a área. Os amigos que não estão morrendo com a doença braba, não param de aprontar outras doenças. O asfalto da nossa estrada com Arambaré está mais demorado que enterro de rico. Até nem vou falar de outras coisas menores.
Passo para nova linha, com letra maiúscula, que fala mais forte. Afinal nos resta a ESPERANÇA. Guardei uma frase que nem sei de quem foi: “Se perderes a fortuna terás perdido muito. Se perderes um amigo terás perdido muito mais. Mas, se perderes a ESPERANÇA terás perdido tudo.” Então estamos com tudo! Nossa barragem está cheia, quase derramando pelo ladrão, o que é prenúncio de lavoura bem abastecida. O inverno foi tirano, matando todas as pragas do campo, na certeza de uma colheita farta. Os bancos dizem que estão largando um “navio” de dinheiro para financiar a nova safra. Apesar de atrasados ainda resolverá o problema. Os estoques de arroz até agora já esgotaram 50%, principalmente devido a grande exportação do produto para o mercado internacional, o que é esperança de melhores preços até o final do ano. Os juros bancários estão baixando, e por baixo de pano já se fala em 4% ao ano, em financiamentos de máquinas agrícolas. Eu que estou pagando 4% ao mês! O governo diminui os impostos, e nunca se comprou tanto eletrodomésticos, e automóveis novos. Teimoso como bom libertador continuo com meu Voyage 1988! Afinal é regra, libertador não troca de cavalo, de carro, de casa, de partido e nem de mulher!
No arremate da charla, pesando todos os males e os bens, ficamos com o prato dos bens muito mais significativo. Então estamos realmente com tudo, na PAZ de Deus, no conforto de nossos lares, no amor de nossas famílias, e na certeza do calor de nossos amigos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Boletim 30

(agosto/09)
ABRINDO A PORTEIRA
Já com a voz mais grossa, depois do susto de um bisturi, me “entrevero” na vida campeira, buscando pelos amigos e parceiros desta tropeada terrena. Aos trancos e barrancos, misturamos alegrias com as tristezas, pois a vida será sempre uma mescla dos opostos. Uma inverneira tirana levando nossos amigos, sustos e gripe dos porcos, das galinhas, me perguntando, que bicho virá depois?
Os parceiros dos Poetas Livres Vilmo Medeiros estiveram ao lado do Parceiro Júlio Machado, seus filhos e netos, quando da despedida de nossa Parceira, e sua querida esposa Santa, no último dia dez, lá no Cristal. Uma comunidade inteira mostrou o carinho e amor ofertado à sua Santa, pelo reconhecimento da atuação comunitária aos cristalenses. Deixou o pranto de seus familiares, o silêncio respeitoso em seus amigos, mas, sobretudo, deixou o exemplo de dedicada esposa, mãe, avó e amiga daqueles que com ela conviveram. Na despedida no cemitério da cidade, nosso Parceiro Dácio Almeida se pronunciou em nome dos Poetas Livres, em sentidas e emocionadas palavras, quando soube externar a dor dos familiares e amigos ali presentes, deixando uma prece divina, para o descanso eterno de nossa Parceira Santa Machado. Ao Parceiro Júlio deixamos nosso carinho e respeito, ofertando os ombros gaúchos, para empurrarmos a vida para frente, sabendo que o fim não existe, pois estará sempre acontecendo em algum lugar, nesta, ou na existência ultra-terrena, na Paz e no Descanso do Grande Arquiteto do Universo.

O GALPÃO
Este “santuário de fumaças” é realmente meu recanto de meditação, recolhimento espiritual, trabalho, lazer, hospitalidade, comilança, beberagem, mas acima de tudo “meu santuário de saudade”. Saudade é o sentimento que se guarda daqueles que já partiram, pois aqueles que ainda aqui vivem, mais hoje ou mais amanhã matamos suas saudades. Saudade é sentimento eterno, do Eterno, que foi só amor. Saudade porque ele me reporta aos antepassados, que costumo dizer, moram na beira do fogo eterno. Por tal não deixo o fogo apagar, mantendo sempre alguém remunerado para cuidar dele. O fogo é luz, e luz foi a chama divina que iluminou o caminho de Jesus. Luz foi o que nossas Mães nos deram, e luz será o último símbolo de nossa passagem nesta Terra. No Livro Sagrado das Escrituras está escrito: “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a entenderam”. Quem permanece nas trevas, realmente jamais verá a luz, e podemos afirmar que a luz verdadeira existe para as consciências puras, que não guardam ódios, mentiras, orgulhos, vaidades e, buscam a VERDADE FINAL.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 9
Um avião laçado.
A história deste AVIÃO LAÇADO foi publicada na famosa revista Cruzeiro, do Rio de Janeiro, de repercussão nacional, e até mesmo mereceu referência na revista Time, de Nova York, com repercussão internacional.
O fato ocorreu nas imediações da cidade de Santa Maria da Boca do Monte, e muitos pensam ainda hoje que se trata de gabolice de gaúcho, mas é uma História com H maiúsculo. O piloto se chamava Irineu Noal, família tradicional do local, de quem minha irmã Maria de Lourdes era muito próxima, quando lá morou ao casar com o Riograndino Bohrer. Pois este Noal pilotava um avião paulistinha conhecido na época por “Paulistinha Manuel Ribas”. Certo dia se dirigiu rumo a fazenda de Cacildo Pena Xavier, lugar denominado Tronqueiras, e passou a fazer rasantes sobre a mesma, o que realmente era uma gabolices. No alto de uma coxilha o campeiro Euclides Guterres atendia uma novilha doente, e o piloto o vislumbrando passou a assustá-lo com fortes rasantes. Claro que o gaúcho além de não se assustar “com pouca coisa”, resolveu “tirar desforra”. Armou o seu laço de 13 braças, e quando o “pássaro de ferro” se aproximou jogou-o num tiro certeiro o “pegando pelas “guampas”. Largou do laço “para não ser levado pelo avião”, mas na verdade ele já estava cortado pela sua hélice. O piloto todo “borrado” teve que aterrissar na base de Camobi, onde foi multado pelas autoridades aeronáuticas, mais por não ter relatado as verdadeiras razões dos estragos no aparelho (hélice partida).
Interessante relatar as declarações do peão Gutierres: “Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço. Mas aconteceu, paciência”.
Esta façanha, de divulgação nacional e internacional, foi relatada no “Túnel do Tempo” de Zero Hora, espaço de Olyr Zavaschi há poucos dias, onde consta o nome do colaborador – Antônio Goulart, de Porto Alegre.

UMA CHARLA
Procurando um estribo
O cavalo já está encilhado, e nem apertei a cincha no peito, já que a jornada vai ser ao tranco, apreciando a noite calma, buscando pela boieira que guiará meu rumo. Vou procurando por um estribo para esta última recorrida, que nem sei bem qual o caminho, pois o Sol se esconde, e a bruma escura vai tapando o meu horizonte distante. Sei que um luar irá surgir, e as estrelas brilharão descortinando a estrada comprida e desconhecida. De rumo feito vou reboleando o rebenque, pelo dever de casa cumprido, sabendo que nada mais resta fazer, por estar tudo justo e perfeito.
Recolutando o tempo me dou conta que parei um belo rodeio. Não por grande ou bonito, mas por bem trabalhado. Escolhi uma boa coxilha da minha existência, e nela não dei descanso pro pingo, sem esconder minhas rodadas e meus bons tiros de laço. Quebrei muita geada fria, e escondi a cara dos minuanos brabos. Por solto nos bastos consegui estender pelegos para índios xucros e necessitados. Bebi café de cambona, e sorvi a fumaça pura dos cernes das plantas, que beberam a seiva do chão dos meus ancestrais. Ergui tetos de abrigos, e levei curativos de amor aos ranchos dos sofridos. Engraxei a cara com costela gorda, e derramei o líquido alegre da vida, ou da morte se não souber ser bebido. Dancei “arroz com feijão” ajudando a levantar poeira, na felicidade dos entreveros de paz, e também acompanhei jornadas ao último palanque do pingo, fincado 7 palmos do chão, dividindo lágrimas da peonada.
Assim me “prancho” no estendido do chão, olhando as estrelas vivas, buscando novos espaços no etéreo divino, no esparramar de amor e respeito à quem amei e fui amado.

Boletim 29

(agosto/09)
ABRINDO A PORTEIRA
Só quem fica longe de seus amores poderá avaliar o seu tamanho. Sei que o fogo do Galpão continua aceso, e o silêncio constrói sua egrégora. O perfume das éguas encocheiradas, um varrer mal tapeado, o roncar saudoso de um mate na boca de um negro perdido, o olhar estalado de um corujão buscando por um rato, e a minha lembrança viajando nas paredes lambidas pelo picumã enegrecido.
É como diz o Júlio Machado: “Gosto tanto de galpão, que certamente na outra encarnação fui cachorro”. Assim também vou filosofando, pois para se avaliar um amor é necessário ficar longe dele, de quando em quando. É nosso dever valorizar as coisas simples, pequenas, que se vive no dia a dia, e que a constância dos momentos não permite melhor apreciação. Amar as coisas simples, amar a família, amar as origens, a Deus, os amigos, o ar respirado, o farfalhar das árvores, o cheiro da terra, o esvoaçar dos pássaros. Porque? Por que são etéreos, não são concretos. Não são efêmeros, e o Senhor Criador dos Mundos colocou ao nosso alcance para sermos felizes. Tudo isto ao nosso lado, e o homem não vê, buscando o concreto que se esvai, queima, desmorona, roubam, e certamente não servirá de nada para a caminhada final.


O GALPÃO
Vocês desculpem, mas o Galo Velho tem um pouco, ou quem sabe muito de filosofia. Assim, o Patrão Velho, que anda lendo o “estudo da vida” encontrou esta:
“O maior favor que você faz a um inimigo é odiá-lo. Ao odiá-lo ele será arquivado de maneira privilegiada em tua psique. Desse modo dormirá contigo, e perturbará teu sono. Comerá contigo, e estragará teu apetite.”
A sentença é de AUGUSTO CURY, do livro “Doze semanas para mudar uma vida”.
Não levem a mal, mas isto é conversa sim, de Galo Velho, pois é uma mensagem de AMOR. Amemos, para sermos felizes, mas antes de qualquer amor, amemos a nós mesmos, morada Daquele nos fez à sua semelhança.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM - 8
Meu velho Campeiro, Pai e Companheiro (Mário Silva Azambuja).
Sei que a campereada é das brabas, pois vamos voltear a Invernada do Esquecimento. Ao passo lento buscando pelo picaço me treme o bucal na mão, como quem penetra a bruma do tempo. São porteiras pesadas, como a me dizer que entro em campo proibido, mas te encontro na beira do fogão galponeiro, envolto de paz e luz, chimarreando o doce líquido do descanso eterno. Só a força do amor seria capaz de permitir minha aproximação.
Volteamos o rodeio da lembrança de meus primeiros galopes, quando senti tua austeridade paterna. Foi nela que encontrei a têmpera para enfrentar as intempéries da vida. Sei meu companheiro, era outro tempo, quando só havia a força do braço na dura luta pela sobrevivência, que não conhecia cansaços. Mas meu trote infantil se assustava com teus galopes rápidos e destemidos. Aprendi a obediência quando recebi este freio pesado, que a vida na sua ciência, nunca mais me permitiu deixar de lado. Lembrei quando afirmavas que ela é uma luta constante, para aqueles que aceitam o desafio de buscar um ideal. Pois te atropelando na idade, perdi o medo do final, pela linda e profunda trilha que deixaste no varzedo da existência, como um farol a me indicar um destino.
É incrível como tanto tempo depois, ainda me assalta a vontade de dar de rédeas para trás. Não para viver mais, mas para trotar ao teu lado outra vez, mudando o rumo de alguma coisa, ou simplesmente o tom da conversa. Com todo aquele carinho que nos unia, permitimos um “mundão” entre nós dois, esquecendo de desfrutar os bons momentos das descontraídas mateadas, dos tentos frouxos, de uma simples pescaria.
Mas vou sair deste tranco duro, mudar de rumo, falando de coisas boas, esquecendo até mesmo os Niños e os Diablos que se abatem por aqui. Teus dois filhos, três netos, cinco bisnetas, e um bisneto, todos lindos e gordos. Queres mais? Tua verde Sant’Anna, mesmo com toda a luta contra os “leoninos”. Teus muitos Companheiros, amigos e parceiros. Verdade que outro tanto se mudou de querência, quem sabe pela propaganda que fazem desta tua Invernada aí de cima?
Outro dia lembrei de ti, ao ler a lista dos partidos políticos que inventaram. São 29 com as mais misturadas letras, onde encontrei até um P.L. igualzinho ao nosso, mas no nome, pois em ideal só mesmo aquele parlamentarista. Lembro o quanto peleaste ao enterrarem cinco ou seis partidos, dizendo que eram muitos, para fundarem somente dois, matando nosso PL.
Bueno meu Campeiro, Pai e Companheiro, foi uma charla complicada, meio sem começo e será sem fim. Não dá para entender muita coisa, mas não podia deixar passar o cavalo encilhado, sem uma mensagem. Tinha muito mais para te contar, mas me despeço com a certeza que nos aproximamos, encurtando distâncias, onde saberemos sempre fazer amigos, na oferta da fraternidade. Amar não é para quem quer, é para quem soube ser humilde e verdadeiro como tu, para quem mais ofertou do que pediu, para quem mais trabalhou do que descansou, para quem mais se resignou do que reclamou e, principalmente, para quem muito mais amou do que odiou. Assim te guardarei na lembrança, ofertando meu respeito, no pedido de tua benção.
Teu filho
Luiz Fernando Azambuja
(Esta charla foi lida lá na Sant´Anna, no dia do seu centenário de nascimento, 26 de janeiro de 1998, em uma reunião festiva do Rotary Clube de Camaquã).

Boletim 28

(julho/09)
ABRINDO A PORTEIRA
Ando meio “atempado” com as cordas da voz relinchando estranho, eu que não sou cantor. Mas nada que faça a vida parar. Nem chego mais no galpão, e só de quando em quando para uma flor do campo, e um cheiro religioso para os amores que partiram. Lembro dos amigos que não vejo mais. João Vigano anda num trote brabo com seu sogro Rocha, e me diz ao telefone que tem tropeado muito nos últimos dias, mas só em seus sonhos. Júlio Machado também noutra braba com a Parceira Santa, sua querida prenda de tantos anos, que sofre seguidas internações hospitalares. Os Parceiros dos Poetas Livres também não têm se reunidos, por respeito à ela, o que faz a gente ficar longe da música campeira, alimentando tristezas em nossos corações. Imaginem “curtir” este inverno brabo, que recém bate em nossas portas, como se não bastasse o outono gelado. Rodeio é coisa que nem faço visita, eu que costumava acampar neles, para nossas rodas gaúchas desfrutando do convívio campeiro. Não levem esta prosa como lamento, pois isto é coisa que não devemos exercer, visto que um lamento sempre atrai outro. Trata-se de uma identificação com o presente, buscando arrumar as coisas para o amanhã, e uma delas é cumprir com a promessa de visitar o João Vigano e sua estimada família.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 7

GUMERCINDO SARAIVA
Seus feitos são notáveis na Revolução de 1893, combatendo de espada em punho o governo impopular de Júlio de Castilhos. Eis a história que os livros me contaram, assinada por Odilon Abreu.
Corria o mês de fevereiro de 93. O rebuliço no Rio Grande alvoroçava caudilhos e caudilhetes contrários ao governo castilhista. Gumercindo Saraiva era estancieiro forte no Uruguai e Santa Vitoria do Palmar. Filho de pais brasileiros se achava no direito de pelear junto aos federalistas. Com uma tropa bem montada e armada, o caudilho cruzou a fronteira ocultando-se no rincão de Ana Correia, entre os rios Jaguarão e Jaguarão-Chico. Vinha para se encontrar com o Cel. Jóca Tavares, a fim de engrossar as tropas rebeldes, que já andavam por volta de três mil homens.
Quando esse pintor bizarro jogou o Sol no abismo do fim do mundo, começou a colorir o poente, e a tropa se acantonou numa canhada bonita. Gumercindo distribuiu as ordens para o acampamento. Pelo sul um caponete abrigava e ocultava a gente do caudilho. Na chapada que se erguia ao norte, Gumercindo postou uma sentinela para proteger de qualquer surpresa o sossego dos insurretos castelhanos.
- Todo listo, mi comandante! Disse marcialmente o ordenança de Gumercindo, um tipo melenudo, com barba de semana e meia esse ordenança. Dente de ouro exibido na linha de frente da boca. Chapéu com barbicacho de fleco e aba tapeada na testa. O beiço rachado lhe dava uma voz fanhosa. “Todo listo, mi comandante.” De fato, em pouco tempo os vaqueanos já estavam com uma rês a título de requisição guerreira. E nessas ocasiões o puxirão se faz de vereda. Se põe esperto o mais lerdo dos andarengos. Vala grande cavada no chão, as carneadeiras descobrindo os espetos nos galhos retos das guajuviras, lenha farta, fogo grande, carne gorda e caneco de branca de mão em mão. Mate, charla e patacoada. Palas no chão, mão nas cartas, e na ponta da língua os versos debochados do truco. E de repente, atenção! O sentinela firma os olhos e descobre no horizonte um vulto que vem crescendo. Num galope chasqueiro vem um gaudério batendo estribos. Ele dá o aviso: “Se aprochega um cavaleiro Dom Gumercindo” Então, de relancina o chefe forma uma patrulha com dez voluntários. Ordena uma espera na ponta do capão pra deter o intrometido. No lusco-fusque na noite o índio ia passando a lo largo, quando se viu cercado. “La fresca, tô perdido, pensou. E o chasque o patrão não vai chegar ao destino.” Conduzia uma mensagem trocada entre chefes castilhistas. Preso, foi levado à presença do caudilho. Não apeou do cavalo. Tipo miúdo e entroncado, com lenço branco no pescoço e entonado como pica-pau em tronqueira. Um nariz grandalhão e achatarrado, escondendo um eito de bigode esfiapado, sem apuro nem jeito. O mulato meio pendendo pro índio, tinha séria sua cara de lua escarrapachada. Foi logo despido da adaga de quase metro e do nagão quarenta e quatro. Tilintavam as rosetas das esporas de papagaio comprido, abraçando a barriga do flete.
Os homens de Gumercindo se alvorotaram com a petulância do tipo. Foram precisos cinco homens pra desgrudar o taura do lombo do cavalo. E ele quieto. Gumercindo, ex-delegado de polícia em Santa Vitória, no fim do Império, tinha prática num interrogatório. Tanto podia falar castelhano, como muito bem o português, mas este só falava com caudilhos de igual patente. Antes, porém, que Gumercindo começasse a inquirição, o ordenança se antecipou atrevidaço. “Pucha Che, será que sos tan valiente como feo?” E o índio quieto. “Quién eres? De donde vienes? Para donde vás? Que andas haciendo?” Indagou o caudilho. “No le digo porque ando de próprio.” “Sabes com quiém estás hablando?” “Sei. Com o castelhano bandido Gumercindo Saraiva”. “Si yo cayeras em tus manos que harias conmigo?” “Le passava o lenço colorado”. “Maténlo.” Ordena seco Gumercindo. E o índio quieto. A sentença já era de todos conhecida, e o ordenança tirou uma pedrita dos arreios assentando o fio da faca. Lambia os beiços pensando no sangue que ia jorrar de orelha a orelha. As labaredas do fogo iluminavam a cena bárbara. E o índio quieto. O afobamento do ordenança fez com que Gumercindo dissesse: “Párate. Este no es servicio para um boludo como tu.” A coragem do homem fez com que a sentença fosse reformada. “Larguénlo! Le den um buem caballo. Sus armas. E que se vaya juntar a su gente. Porque se matamos a los valientes, los cobardes es que no van defender los ideales.” E o índio quieto. O ordenança de aproxima da cara do índio, e não se contém: “Pucha Che, tu eres mucho más valiente do que feo”.

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”