(agosto/09)
ABRINDO A PORTEIRA
Já com a voz mais grossa, depois do susto de um bisturi, me “entrevero” na vida campeira, buscando pelos amigos e parceiros desta tropeada terrena. Aos trancos e barrancos, misturamos alegrias com as tristezas, pois a vida será sempre uma mescla dos opostos. Uma inverneira tirana levando nossos amigos, sustos e gripe dos porcos, das galinhas, me perguntando, que bicho virá depois?
Os parceiros dos Poetas Livres Vilmo Medeiros estiveram ao lado do Parceiro Júlio Machado, seus filhos e netos, quando da despedida de nossa Parceira, e sua querida esposa Santa, no último dia dez, lá no Cristal. Uma comunidade inteira mostrou o carinho e amor ofertado à sua Santa, pelo reconhecimento da atuação comunitária aos cristalenses. Deixou o pranto de seus familiares, o silêncio respeitoso em seus amigos, mas, sobretudo, deixou o exemplo de dedicada esposa, mãe, avó e amiga daqueles que com ela conviveram. Na despedida no cemitério da cidade, nosso Parceiro Dácio Almeida se pronunciou em nome dos Poetas Livres, em sentidas e emocionadas palavras, quando soube externar a dor dos familiares e amigos ali presentes, deixando uma prece divina, para o descanso eterno de nossa Parceira Santa Machado. Ao Parceiro Júlio deixamos nosso carinho e respeito, ofertando os ombros gaúchos, para empurrarmos a vida para frente, sabendo que o fim não existe, pois estará sempre acontecendo em algum lugar, nesta, ou na existência ultra-terrena, na Paz e no Descanso do Grande Arquiteto do Universo.
O GALPÃO
Este “santuário de fumaças” é realmente meu recanto de meditação, recolhimento espiritual, trabalho, lazer, hospitalidade, comilança, beberagem, mas acima de tudo “meu santuário de saudade”. Saudade é o sentimento que se guarda daqueles que já partiram, pois aqueles que ainda aqui vivem, mais hoje ou mais amanhã matamos suas saudades. Saudade é sentimento eterno, do Eterno, que foi só amor. Saudade porque ele me reporta aos antepassados, que costumo dizer, moram na beira do fogo eterno. Por tal não deixo o fogo apagar, mantendo sempre alguém remunerado para cuidar dele. O fogo é luz, e luz foi a chama divina que iluminou o caminho de Jesus. Luz foi o que nossas Mães nos deram, e luz será o último símbolo de nossa passagem nesta Terra. No Livro Sagrado das Escrituras está escrito: “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a entenderam”. Quem permanece nas trevas, realmente jamais verá a luz, e podemos afirmar que a luz verdadeira existe para as consciências puras, que não guardam ódios, mentiras, orgulhos, vaidades e, buscam a VERDADE FINAL.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 9
Um avião laçado.
A história deste AVIÃO LAÇADO foi publicada na famosa revista Cruzeiro, do Rio de Janeiro, de repercussão nacional, e até mesmo mereceu referência na revista Time, de Nova York, com repercussão internacional.
O fato ocorreu nas imediações da cidade de Santa Maria da Boca do Monte, e muitos pensam ainda hoje que se trata de gabolice de gaúcho, mas é uma História com H maiúsculo. O piloto se chamava Irineu Noal, família tradicional do local, de quem minha irmã Maria de Lourdes era muito próxima, quando lá morou ao casar com o Riograndino Bohrer. Pois este Noal pilotava um avião paulistinha conhecido na época por “Paulistinha Manuel Ribas”. Certo dia se dirigiu rumo a fazenda de Cacildo Pena Xavier, lugar denominado Tronqueiras, e passou a fazer rasantes sobre a mesma, o que realmente era uma gabolices. No alto de uma coxilha o campeiro Euclides Guterres atendia uma novilha doente, e o piloto o vislumbrando passou a assustá-lo com fortes rasantes. Claro que o gaúcho além de não se assustar “com pouca coisa”, resolveu “tirar desforra”. Armou o seu laço de 13 braças, e quando o “pássaro de ferro” se aproximou jogou-o num tiro certeiro o “pegando pelas “guampas”. Largou do laço “para não ser levado pelo avião”, mas na verdade ele já estava cortado pela sua hélice. O piloto todo “borrado” teve que aterrissar na base de Camobi, onde foi multado pelas autoridades aeronáuticas, mais por não ter relatado as verdadeiras razões dos estragos no aparelho (hélice partida).
Interessante relatar as declarações do peão Gutierres: “Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço. Mas aconteceu, paciência”.
Esta façanha, de divulgação nacional e internacional, foi relatada no “Túnel do Tempo” de Zero Hora, espaço de Olyr Zavaschi há poucos dias, onde consta o nome do colaborador – Antônio Goulart, de Porto Alegre.
UMA CHARLA
Procurando um estribo
O cavalo já está encilhado, e nem apertei a cincha no peito, já que a jornada vai ser ao tranco, apreciando a noite calma, buscando pela boieira que guiará meu rumo. Vou procurando por um estribo para esta última recorrida, que nem sei bem qual o caminho, pois o Sol se esconde, e a bruma escura vai tapando o meu horizonte distante. Sei que um luar irá surgir, e as estrelas brilharão descortinando a estrada comprida e desconhecida. De rumo feito vou reboleando o rebenque, pelo dever de casa cumprido, sabendo que nada mais resta fazer, por estar tudo justo e perfeito.
Recolutando o tempo me dou conta que parei um belo rodeio. Não por grande ou bonito, mas por bem trabalhado. Escolhi uma boa coxilha da minha existência, e nela não dei descanso pro pingo, sem esconder minhas rodadas e meus bons tiros de laço. Quebrei muita geada fria, e escondi a cara dos minuanos brabos. Por solto nos bastos consegui estender pelegos para índios xucros e necessitados. Bebi café de cambona, e sorvi a fumaça pura dos cernes das plantas, que beberam a seiva do chão dos meus ancestrais. Ergui tetos de abrigos, e levei curativos de amor aos ranchos dos sofridos. Engraxei a cara com costela gorda, e derramei o líquido alegre da vida, ou da morte se não souber ser bebido. Dancei “arroz com feijão” ajudando a levantar poeira, na felicidade dos entreveros de paz, e também acompanhei jornadas ao último palanque do pingo, fincado 7 palmos do chão, dividindo lágrimas da peonada.
Assim me “prancho” no estendido do chão, olhando as estrelas vivas, buscando novos espaços no etéreo divino, no esparramar de amor e respeito à quem amei e fui amado.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
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Galo Velho
- Galpão do Galo Velho
- Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
- Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”
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