domingo, 13 de setembro de 2009

Boletim 31

ABRINDO A PORTEIRA
O agosto foi embora, e que ao voltar no próximo ano venha mais calmo, sem levar meus amigos e sem tantas gripes “bichonas”. Meu velho Pai esfregava as mãos em setembro, dizendo que só no outro ano iriam lhe “pegar”. Parecia saber que morreria em agosto, como aconteceu no dia 19 do ano 1977.
Mas aqui vamos abrindo outra porteira do tempo, que corre campo a fora. Aproveitando esta porteira aberta me refiro ao dia 24 de agosto, Dia de São Bartolomeu, ou ao “Massacre da noite de São Bartolomeu” – 24 de agosto de 1572, em Paris, quando os reis da França mandaram matar os protestantes ou huguenotes. Dizem que morreram de 30 a 100 mil protestantes nos quatro meses de matança. Pois esta foi a noite que Getúlio Dornelles Vargas escolheu para botar uma bala no seu coração, em seus aposentos do Palácio do Catete, Rio de Janeiro. Minha família maragata, do Partido Libertado era ligada a UDN, partido de Carlos Lacerda, conhecido como “Derruba Presidentes” causador da queda de Getúlio. Minha gente conservadora não aceitava as reformas do Getúlio, entretanto, vejam quantas e boas ele criou: Ministério do Trabalho; Ministério da Indústria e Comércio; Ministério da Saúde e Ministério da Educação e Cultura. Estabeleceu o primeiro Código Eleitoral do Brasil; a OAB, o Correio Aéreo Nacional; o Departamento de Aviação Civil; a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; a Carteira de Trabalho; o IBGE e a Petrobras. Uma reverência ao mais importante político do século XX. Gaúcho Tchê!

GALPÃO
A luz penetrou no Galpão do Galo Velho.
Foi um grande susto ao saber que um pedaço do telhado havia caído. Lá chegando e apreciando o desastre saltou aos meus olhos: havia luz natural dentro do galpão num raio forte de Sol. Não houve alegria com este fato, mas constatei que, além do teto roído pelo cupim ter caído sobre o forro da cozinha, nada mais de grave. Então toca de limpar a peça, assim como o escritório do João Vigano, e tratar logo de fazer um reparo provisório, o que o Bráulio e o Dejair resolveram no mesmo dia, cobrindo o buraco com lona plástica branca, que ficou além de bem feito, muito forte. A lona plástica continua iluminando o galpão, e fiquei pensando em fazer uma coberta permanente com ela. Por que não? Imaginem a gente ficar apreciando as estrelas durante a noite. Na verdade no verão seria brabo agüentar o calor, e o perigo de um incêndio com aquele fogo sempre aceso. Não iria faltar um gaiato dizer que o galpão virou num viveiro, mas bem que soaria bonito, pois estou dizendo que é Galpão dos Vivos (nem dos mortos, nem dos espertos!)

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 10
Para não republicar velhos boletins, copio suas histórias passadas. (boletim 21)
No início do Século XX começaram a desenvolver o tráfego aéreo no Rio Grande. Primeiro porque não tínhamos estradas, e as distâncias a serem percorridas eram grandes. Como não havia aeroportos como temos hoje, passaram a usar hidroaviões, que desciam e decolavam nas águas da Lagoa dos Patos, próximo das grandes cidades. Assim a Varig inaugurou uma linha aérea ligando Porto Alegre à Pelotas e Rio Grande. Também é necessário esclarecer que entre estas cidades não havia linha férrea. O primeiro hidroavião tinha desenhado em sua fuselagem o prefixo BAAA. Contam até mesmo, que dois gaúchos estavam pescando serenamente na beira da lagoa, quando passou baixo aquele bruto “pássaro voador”, tendo um deles gritado: Baaa! Daí surgindo o nosso dito tão diário do gaúcho – Baaa!
Mas a história é outra. Certo dia um desses hidroaviões navegadores, voava de Pelotas para Porto Alegre, quando teve uma pane num dos motores, descendo na Lagoa do Guaraxaim. Os pilotos, que eram alemães puros, amarraram o dito numa figueira, e saíram campo a fora. Deram numa casinha, e mesmo falando mal a língua, conseguiram saber que perto havia uma grande casa de fazenda. Era a Fazenda da Quinta, propriedade de meus avós, Centeno Pereira da Silva. Ali chegando foram bem recebidos e alojados no “quarto de fora”, onde era costume se hospedar estranhos. Eles perguntaram ao empregado que fora convidá-los para jantar, onde seria servido o mesmo, e informados que seria na casa principal, ali bateram na porta, e para surpresa da família estavam trajando smoking, ou seja, uma roupa de gala. Dá para se imaginar o susto daquelas pessoas, que mesmo ricas eram dotados de grande simplicidade.
A história ainda não termina aí. Dois dias depois meu avô providenciou uma carroça, e gente para levar os pilotos até o avião, já tendo despachado um “próprio” até a vila do Duro para avisar por telegrama à Varig. Susto tiveram os dois pilotos, que chegando onde haviam deixado o avião, não o encontraram. Aconteceu que a Varig já o havia rebocado, após darem falta do mesmo.

Uma charla
Foi um inverno tirano. Creio mesmo que foram três invernos, um no outono, outro no inverno e agora entramos em setembro com o da primavera. A comunidade lavando as mãos toda hora, com medo da tal gripe suína. As guaiacas vazias com a falada crise mundial. O preço do arroz em queda, como careca de jovem. A roubalheira se “espraiando” pelo País, e até mesmo nosso chão gaúcho, que não é dessas coisas ficou impregnado. A barragem do Maria Ulguim parada, porque a prefeitura não tem verba para limpar a área. Os amigos que não estão morrendo com a doença braba, não param de aprontar outras doenças. O asfalto da nossa estrada com Arambaré está mais demorado que enterro de rico. Até nem vou falar de outras coisas menores.
Passo para nova linha, com letra maiúscula, que fala mais forte. Afinal nos resta a ESPERANÇA. Guardei uma frase que nem sei de quem foi: “Se perderes a fortuna terás perdido muito. Se perderes um amigo terás perdido muito mais. Mas, se perderes a ESPERANÇA terás perdido tudo.” Então estamos com tudo! Nossa barragem está cheia, quase derramando pelo ladrão, o que é prenúncio de lavoura bem abastecida. O inverno foi tirano, matando todas as pragas do campo, na certeza de uma colheita farta. Os bancos dizem que estão largando um “navio” de dinheiro para financiar a nova safra. Apesar de atrasados ainda resolverá o problema. Os estoques de arroz até agora já esgotaram 50%, principalmente devido a grande exportação do produto para o mercado internacional, o que é esperança de melhores preços até o final do ano. Os juros bancários estão baixando, e por baixo de pano já se fala em 4% ao ano, em financiamentos de máquinas agrícolas. Eu que estou pagando 4% ao mês! O governo diminui os impostos, e nunca se comprou tanto eletrodomésticos, e automóveis novos. Teimoso como bom libertador continuo com meu Voyage 1988! Afinal é regra, libertador não troca de cavalo, de carro, de casa, de partido e nem de mulher!
No arremate da charla, pesando todos os males e os bens, ficamos com o prato dos bens muito mais significativo. Então estamos realmente com tudo, na PAZ de Deus, no conforto de nossos lares, no amor de nossas famílias, e na certeza do calor de nossos amigos.

2 comentários:

  1. Vô amado, és o meu orgulho, meu exemplo e minha alegria de viver!!! Adoro meu aluno virtual mais exemplar! Admiro o teu empenho e paciência para tudo o que estas disposto a aprender. Este blog é resultado do teu esforço e dedicação, parabéns estou adorando acompanhar tuas escritas e filosofadas!!!
    Mil beijos da neta que te ama mais que tudo!!!

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  2. Luiz Fernando, penso como a tua querida neta. Isto tudo já está prenunciando um livro!! Certamente, incumbência das melhores para o nosso Instituto de Cultura Histórica de Camaquã!
    Quanto ao texto do Presidente Getúlio Vargas, sem dúvida muito bom, teve uma conexão (para mim) ontem, no DC - Diário Catarinense, que publicou alguns dos seus bilhetes fantásticos, que agora estão vinto a público. Espero que estejas acompanhando também esse episódio. Adoro história, como sabes, e muito particularmente aquelas de governos que marcaram fundo o nosso país, como Getúlio e Juscelino. Li TODO o livro A ARTE DA POLÍTICA do respeitável Presidente Fernando Henrique Cardoso. Enfim.... gostos....
    Um grande abraço. Um abraço de gaúcho camaquense, tchê!

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”