ABRINDO A PORTEIRA
Estamos saindo da Semana Farroupilha e esta porteira é imensa, nos levando à uma inverrnada comprida, quase sem fim. Dizer o que os outros já disseram, ou escrever o que já está escrito? Como esta porteira é meu próprio coração vou dizer o que penso. A Revolução Farroupilha foi o movimento político-social que enraizou o gaúcho no seu solo. Ao proclamarmos uma República meio século antes da República Brasileira, mostramos ao mundo nossos sentimentos de progresso, e de amor à Liberdade, Igualdade e Humanidade. As grandes fazendas, que eram a riqueza do Rio Grande do Sul, ficaram arrasadas com seus proprietários quebrados e a gauchada “esfarrapada”. Este fato nos levou à poderosas virtudes – humildade, simplicidade, resignação, coragem, determinação, estoicismo. Vou resumir tudo na SIMPLICIDADE DO GAÚCHO, que julgo ser uma de nossas mais importantes posturas. Foram os farrapos que com seus sangues irrigaram o solo, de onde nossas raízes alimentam o amor que por ele sentimos. O dicionário diz que simplicidade é singeleza, ingenuidade. Alguns poderão discordar, mas julgo que é justamente isto que nos permitiu desenvolver o “espírito de hospitalidade”, que tanto encanta nossos visitantes, afirmando que aqui vive uma “raça” diferente. Não vamos esquecer que o Rio Grande do Sul, chamado por duzentos anos de Terra de Ninguém, só foi “descoberto” no início do século XVIII, o que nos permite cultivar a “ingenuidade” dos mais jovens. Anotem – estoicismo é uma escola de princípios rígidos de moral, a mais importante qualidade gaúcha, que se destaca principalmente no corrompido cenário político nacional.
GALPÃO
É necessário dizer alguma coisa sobre este negro paraguaio, apelidado de Galo Velho, escravo que aqui chegou após a retomada de Uruguaiana, na Guerra do Paraguai. O apelido se deve a um grito que ele pronunciava, quando começava a juntada do gado para os grandes rodeios, campo à fora. Lembro de meu Pai, capataz da Fazenda da Quinta por muitos anos, contar que seu grito jamais fora imitado por outra pessoa. Imaginem que os gaúchos saíndo da sede, se dirigiam a um determinado rodeio (Figueira Caída, Capoezinho, Capão dos Touros, e outros), alguns chegavam primeiro no local já conduzindo gado, enquanto outros tinham que fazer a volta ao ponto do rodeio, em busca de animais mais distantes. Assim, para que uns não ficassem esperando pelos outros, a “ordem” de começar a recolutada era dada pelo grito do Cristino, daí seu apelido, pois os parceiros diziam: “vamos começar, o Galo Velho gritou”.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM 12
A história da cachaça. (Boletim nº 23)
O Companheiro Fábio Tavares, do NPHC nos contou esta linda história, fruto de uma pesquisa, no Museu do Homem do Nordeste.
Para se fazer melados no Brasil de antigamente, os escravos colocavam o caldo da cana de açúcar em um tacho, e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Um dia, porém, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam, e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte encontraram o melado azedo e fermentado. Não pensaram duas vezes, e misturaram o tal melado azedo com o novo, e levaram os dois ao fogo. Resultado, o ‘azedo’ do melado antigo era álcool, que aos poucos foi evaporando, e formou no teto do engenho umas gotículas que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada, que pingava. Daí o nome ‘PINGA’. Foi quando entrou no engenho um escravo com as costas cortadas dos lanhos da chibata do feitor, que recebendo alguns pingos da canha, disse que ardia muito. Então lhe deram o nome de ‘AGUA ARDENTE’.
Algum tempo depois entrou um rapaz que passou a aparar com a boca algumas gotas da “pinga”, dizendo que era gostoso. Notaram que o rapaz continuou bebendo da pinga por algum tempo, passando a dançar e a se alegrar. Os escravos sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo da pinga tomando daquela água ardente.
Para se fazer melados no Brasil de antigamente, os escravos colocavam o caldo da cana de açúcar em um tacho, e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Um dia, porém, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam, e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte encontraram o melado azedo e fermentado. Não pensaram duas vezes, e misturaram o tal melado azedo com o novo, e levaram os dois ao fogo. Resultado, o ‘azedo’ do melado antigo era álcool, que aos poucos foi evaporando, e formou no teto do engenho umas gotículas que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada, que pingava. Daí o nome ‘PINGA’. Foi quando entrou no engenho um escravo com as costas cortadas dos lanhos da chibata do feitor, que recebendo alguns pingos da canha, disse que ardia muito. Então lhe deram o nome de ‘AGUA ARDENTE’.
Algum tempo depois entrou um rapaz que passou a aparar com a boca algumas gotas da “pinga”, dizendo que era gostoso. Notaram que o rapaz continuou bebendo da pinga por algum tempo, passando a dançar e a se alegrar. Os escravos sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo da pinga tomando daquela água ardente.
UMA CHARLA.
O Chimarrão. (Boletim nº 14)
O certo é que muito ainda se dirá sobre ele, hábito milenar em nosso continente. Tudo que escrevo é pessoal, não querendo dizer que seja alguma lei, de cumprimento severo, pois os hábitos são práticas regionais, ou até mesmo pessoais que devem ser respeitadas.
Ao meu gosto considero o mate um momento de descontração. Assim não gosto de ver as pessoas beberem seus mates caminhando em algum evento, como por exemplo, nos rodeios, feiras, etc. Parece quererem mostrar que são gaúchos. Também não gosto de matear dentro de um automóvel, onde mais se faz sujeira que outra coisa qualquer. Claro, que quando de uma viagem longa, se deve é matar a sede, e pode ser com ele. Já vi gente mateando “de a cavalo”, que coisa mais sem gosto. Certa feita em Mello no Uruguay, onde tive uma lavoura de soja, permanecia por algum tempo na cidade, quando vi com meus olhos, e não me chamem de mentiroso – um vivente mateando de bicicleta! Ele tinha um suporte para cuia e térmica junto ao guidão, enchendo o mate com uma mão, e depois bebendo com a outra.
O mate deve ser encarado como um ritual, desde o momento de cevá-lo, até quando se lava a cuia para guardá-la. Ele é o companheiro das horas de reflexões, ou dos encontros galponeiros, jamais devendo ser o companheiro para festas e exibições. Minha memória criança guarda a lembrança das mateadas nas salas, nas sombras das figueiras, nas madrugadas e no entardecer junto ao fogo do galpão, ou seja, sempre nos descansos.
Ao meu gosto considero o mate um momento de descontração. Assim não gosto de ver as pessoas beberem seus mates caminhando em algum evento, como por exemplo, nos rodeios, feiras, etc. Parece quererem mostrar que são gaúchos. Também não gosto de matear dentro de um automóvel, onde mais se faz sujeira que outra coisa qualquer. Claro, que quando de uma viagem longa, se deve é matar a sede, e pode ser com ele. Já vi gente mateando “de a cavalo”, que coisa mais sem gosto. Certa feita em Mello no Uruguay, onde tive uma lavoura de soja, permanecia por algum tempo na cidade, quando vi com meus olhos, e não me chamem de mentiroso – um vivente mateando de bicicleta! Ele tinha um suporte para cuia e térmica junto ao guidão, enchendo o mate com uma mão, e depois bebendo com a outra.
O mate deve ser encarado como um ritual, desde o momento de cevá-lo, até quando se lava a cuia para guardá-la. Ele é o companheiro das horas de reflexões, ou dos encontros galponeiros, jamais devendo ser o companheiro para festas e exibições. Minha memória criança guarda a lembrança das mateadas nas salas, nas sombras das figueiras, nas madrugadas e no entardecer junto ao fogo do galpão, ou seja, sempre nos descansos.
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