Aquela faca atravessada na “passarinha” do Galo Velho, certamente foi um hábito que ele passou a meu Pai, e este passou para mim, e eu para o Luis Mário. Cristino era muito hábil com ela, como fomos com o lápis de ontem, e hoje com o computador. Quando ele não estava carneando depois de sangrar era coureando, pois morria muito bicho no campo, ou guasqueando para os remendos dos arreios, quem sabe picando um fumo em rama, e sovando uma palha de milho para o cigarro, abrindo uma manta de carne para o charque, pelando o couro de um porco para um bom toucinho, churrasqueando, tudo na habilidade de sua faca. Era a ferramenta indispensável do gaúcho, que hoje pouco usamos. Nem se coureia mais, pois os bichos não morrem, e morrendo são enterrados como gente, já que os corvos também desapareceram. Charque nem é bom falar, até mesmo carnear nas fazendas ficou difícil, os bichos são mortos a tiros nas testas, e tudo é desperdiçado. Os mondongos, mocotós, cabeça, miúdos, e mesmo os couros são jogados fora. É duro confessar, mas são coisas de um tempo "moderno".
O Galpão
Quanto as Leis do Galo Velho
2ª Lei - A PAZ.
Será difícil descrevê-la, e para entendê-la é necessário chegar lá, apreciando a simplicidade do Galpão, bebendo um pouco do seu calmo silêncio que se esconde nas paredes enegrecidas pelo picumã. Disse o poeta: “Para que tanta ambição tanta vaidade, procurar uma estrela perdida, se o que nos traz felicidade, são as coisas mais simples da vida”. Creio que nesse verso está explicada a PAZ do Galpão do Galo Velho. Nas suas rústicas paredes encontramos os fluidos benéficos, de quem ali viveu com paz no espírito. Costumo dizer aos amigos que desfrutam de nossa convivência, que são justamente eles que ali deixam a PAZ. Ela jamais será “fabricada” por uma ou duas pessoas, trata-se de um conjunto social, onde todos se doam, na oferta à Deus.
Histórias que me contaram - 14 (Boletim nº 17).
O Ovo Guacho.
Esta história pertence à Bento Martins Azambuja, sobrinho de meu bisavô Ignácio Xavier Azambuja, contada em seu ótimo livro "Recordações Gaúchas" reeditado pelo NPHC. Tio Pio como ele era chamado, residiu e estudou na Fazenda da Invernada de meus ancestrais, no fim do século XIX, tendo participado da Revolução de 93, quando foi ferido. Para quem não sabe, guacho, é o animal que fica órfão de seus pais. Vou fazer um resumo da história que meu parente conta como verdadeira.
Ao se aproximar a época da postura, o avestruz faz seu ninho numa cova de touro, nela pondo alguns raminhos silvestres e ali deposita cerca de trinta e poucos ovos. Antes, entretanto, ela põe dois ou três ovos nas imediações do ninho, que são chamados de ovos quachos. A sua finalidade é muito interessante, pois quando os filhotes desovam, ela os leva até eles que estão podres, e os quebra com a pata, exalando um fétido terrível, o que atrai muitas moscas, que servirão de alimento aos seus avestruzinhos nos primeiros dias de vida.
A infantaria imperial que vinha lutar aqui no Rio Grande era composta de muitos nordestinos, ignorantes de nossa fauna. Certo dia um baiano deparou com um destes ovos guachos, e assustado pelo inusitado de seu tamanho chamou pelos companheiros, que passaram a discutir o fato. Terminaram por chamar um colega de farda e conterrâneo, que por aqui já havia passado, e se dizia conhecedor de nossos hábitos. Então João José (este era seu nome) que nunca tinha visto tal coisa, nem sequer sabia o que fosse uma avestruz, segurou o ovo com uma das mãos, e com o braço estendido formalizou-se, tomando ares de juiz, sentenciando:
-"Ele ovo é, mas não é de ave de pena!... Pelo peso e pelo grandor é de boi ou de cavalo!...
Uma charla.
Na busca da felicidade.
Será uma busca eterna, como buscamos pela presença do Senhor. Creio que a felicidade se mescla com o mistério de Sua própria existência, no simples desejo de sermos felizes. Certamente é tão fácil como alcançarmos nossas próprias sombras. Será que perdemos o sentido da visão, ou que o futuro seja tão distante e impossível de o enxergarmos? Poderá os nossos valores terem se deteriorados? Será esta busca pela matéria "tilintante", que nos desvia do verdadeiro sentido da existência? Sei, são muitas perguntas e de difíceis respostas, mas minha afirmativa é aquela imagens criança das "lindas tardes fagueiras", quando então o tempo existia, correndo lento como a sanga da vida. Só posso afirmar que a felicidade consiste em mantermos as mentes ou consciências serenas, o que sabemos ser difícil no mundo atual, pela constante presença do ódio e da violência, ferindo nossos olhos e ouvidos, mesmo distante das suas cenas, ou pior ainda se presentes a elas.
Vou ofertar aos amigos com carinho, o último verso da poesia, PAZ, de Luna Fernandes (http://humancat.com/SeHa/tantapaz.htm).
Se há tanta PAZ nos corações com fé,
que atrai o bem e afasta as coisas más.
Então oremos juntos, todos de pé,
para que o homem um dia alcance a PAZ.
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