domingo, 21 de março de 2010

Boletim 40

ABRINDO A PORTEIRA.
Desafio.
Outro dia fiquei apreciando uma escorregadela de skate numa super-rampa, onde cada qual fazia mais proeza do que o outro. Lembrei de outras competições, até mesmo aqueles que querem chegar no “topo do mundo”, vencendo montanhas geladas e mortais. Aonde o homem quer chegar? Vencer obstáculos? Mas meu Deus ainda não vencemos o obstáculo de nós mesmos. Nos desconhecemos. Não penetramos em nossos interiores, e passamos uma vida inteira olhando para os outros imitando-os, invejando-os, ou mesmo admirando-os, sem "nos enxergarmos". Ao batermos recordes de desafios o que alcançamos? Vamos vencer outros desafios? Dos muitos, o primeiro que proponho – “Ama teu próximo como a ti mesmo”. O que alcançaremos? - A SONHADA PAZ MUNDIAL e o fim da VIOLÊNCIA. Será que não basta?

GALPÃO.
O Posteiro.
Relato o que sei da profissão de “posteiro”. Ela ocorreu num tempo em que não havia carteira profissional, salário, livro ponto, ou qualquer lei social. O dinheiro pouco circulava, e as pessoas cuidavam apenas de suas vidas. As fazendas não tinham aramados nas divisas com seus vizinhos, e a demarcação era o grande e pesado marco de sesmaria, que consistia em uma pedra circular de mais ou menos quatro metros de comprimento com apenas um metro fora da superfície do solo, e o peso aproximado de uma tonelada. Então a função do posteiro era zelar por aquela linha imaginária e divisória da propriedade de seu patrão. Ele recebia a morada ou rancho, normalmente de pau à pique barreado, ou de leivas, coberto com santafé. Uma lavoura cercada, geralmente de bambu e um rancho mensal de artigos de primeira necessidade. Mas o mais importante era poder criar seu próprio gado junto com os do patrão, e possuindo sua marca de fogo. Então o posteiro Galo Velho não era um empregado, mas um morador da fazenda, merecedor da confiança do patrão. Cuidava para que o gado da fazenda não saísse, assim como evitava que o gado alheio entrasse, salvo aqueles não marcados. Quando se parava rodeio da área aos seus cuidados, ele era o homem indispensável ao lado do patrão, na avaliação e contagem dos animais.
Outra atividade era a carneada na fazenda, quando o posteiro juntamente com sua mulher e filhos, se fossem taludos, iriam ajudar no grande serviço, que levava um dia inteiro. Na tarde do dia anterior a rês era morta, dividida e colocada no quarto da carne para esfriar. No dia se matava um grande porco, e se trabalhava ao redor de uma mesa de madeira, junto de um panelão de ferro sobre fogo forte, aquentando água para a “pelagem” do porco, e que no final ainda serviria para tirar a graxa do tutano dos ossos. O picar da carne da rês e de porco, para moer numa máquina manual acrescentando o tempero, que depois passava ao enchimento nas tripas secas de porco, para a confecção das lingüiças. Depois o preparo das mantas de charque e a sua salga, que ficavam escorrendo na grande prancha inclinada. A escolha dos cortes de primeira para o consumo da casa. Ainda o preparo do toucinho e da banha, artigos indispensáveis nas cozinhas daquele tempo. O posteiro já estaqueara o couro, e preparara os miúdos, que era a cabeça com a língua, mocotós, graxa das tripas, rins, coração, bofes, mondongo, fígado, rabada, pois nada se perdia. Vinha o preparo das tripas daquele porco para a próxima lingüiça, e a confecção da morcilha e o queijo de carne. Então acontecia do posteiro receber um presente de banha, carnes e lingüiças por seus “serviços” que eram prestados de “graça”, pois naquele tempo verdadeiramente, “uma mão lavava a outra”.

HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
A visita do Compadre Tigre.
Certo dia o Compadre Tigre encontrando a Comadre Cobra, de quem era grande amigo, disse a ela: "Sabe amiga vou aprontar pra cima do Compadre Macaco. Acho que descobri uma maneira de me aproximar e acabar com aquela pestinha. Amanhã de manhã a Comadre vai lá no coqueiro, que é a casa dele, para apreciar a cena." Dito e feito, no outro dia lá estava a Comadre Cobra apreciando, enquanto o bicho mau agia. "Oi Compadre Macaco, como vai? Estou aqui para te fazer uma visita, e terminar com a nossa inimizade". O Compadre Macaco muito esperto foi logo desconfiando da conversa respondendo: "Pouco estou acreditando nesta falsa conversa Compadre Tigre. Tu não tem nada de bonzinho, e só pensas em maldades". "Não meu amigo, estou aqui para mostrar que sou teu amigo, e quero entrar em tua casa para conversarmos. Ensina como é que subo até aí". O Compadre Macaco desconfiando foi logo preparando uma grande panela d´água quente no fogão, e respondeu: "Olha Compadre Tigre se realmente queres ser meu amigo, vou te ensinar como se sobe até aqui. Tens que subir de bunda para cima." O Compadre Tigre se posicionou e foi subindo aos poucos. Quando estava quase chegando foi aquele desastre, recebeu na bunda uma panela de água fervendo, se estatelando no chão aos olhos da Comadre Cobra, e botando fogo pelas ventas.

FECHANDO A PORTEIRA.
A Bíblia.

Ainda não sou beato, mesmo assistindo missa todos os domingos. Acontece que a gente se aproxima da "porta final" e vai querendo ficar perto da Sua Presença. Então comprei uma Bíblia, encadernada e fechada com "fecho eclair" (acho que assim se escrevia no outro tempo, hoje deve ter nome diferente), pelo pouco preço de inacreditáveis R$ 18,00. É o livro mais vendido no Mundo inteiro, e as pessoas ainda não descobriram toda a mensagem que ele conduz, nem mesmo os mais estudiosos. Atrevo-me a comentar São João: "e a Luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam". Ele é a LUZ e está presente em tudo, até mesmo nas trevas, que julgo serem aqueles que não o creem, mas o amor d`Ele vencerá, e um dia todos o amarão, e a humanidade será FELIZ. Quando? Rezemos para que não demore. Entristeço, pois não conhecerei a PAZ MUNDIAL.

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”