sexta-feira, 5 de junho de 2015

Boletim 225.

ABRINDO A PORTEIRA.
Lembranças.
Temos lembranças boas e ruins. Outro dia fui assaltado por uma lembrança boa, muito boa. Claro, todos nós temos isso de quando em quando. Fiquei matutando nas outras muitas e muitas lembranças boas que esqueci. Esqueci. Cheguei a esquecer daquelas de minha Mamãe, que perdi aos quatorze anos de idade. Sabem de uma coisa, creio que é bom a gente esquecer das lembranças boas, elas doem. Conheço gente que se alimenta de lembranças. Imaginem remoer todos os dias as lembranças ruins.
Esqueçam! Vivam o presente!

GALPÃO.
O pealo.
Nunca pealei, Certamente por ter sido pealado há 58 anos, por uma linda prenda que não me sai dos costados. O pealo é uma arte muito difícil, primeiro porque tem de ser executado bem próximo do animal que passa correndo na sua frente. Depois jogar o laço com tal habilidade, que deve prender suas duas mãos, quando então com um tirão, ele é jogado ao solo. Abaixo fica a foto de um pealo feito pelo Maneca Terra, lá num rodeio da Sant`Anna, no ano de 1984. Maneca está atrás do boi charolês, e pode-se notar a armada do laço na frente de suas duas mãos.
 
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
 As marcações IV.
Agora estamos com o rodeio cerrado. Não consigo projetar o número de animais, assim como o número de campeiros para mantê-lo fechado, mas eram muitos. É necessário entender que estes rodeios necessariamente não eram só para as marcações, pois também se destinavam ao aparte dos animais gordos para descarte às charqueadas. Aqui em Camaquã na foz do Rio Camaquã tínhamos uma grande charqueada, de Hildebrando José Centeno, com mais de 500 empregados. Mas vamos ao rodeio. O patrão, juntamente com o capataz entrava no meio do gado para suas apreciações, e com dois outros empregados experientes, determinava a ordem dos animais que iriam "sair" para serem marcados, ou apartados. No aparte eles formavam um outro pequeno rodeio, pois iriam para a mangueira da fazenda. No caso da marcação, não havia pealo, eram laçados pelas guampas ou pescoço, e depois outro peão colocava laço na pata, ficando imobilizado. Quando o laço pegava só uma pata, ele ficava em pé, sendo necessário um peão dar um forte puxão no rabo para ser derrubado, permitindo assim o serviço.
Obs. - Esta história me foi contado pelo meu Papai, que morreu há quase quarenta anos, então pode perfeitamente haver alguma falha de memória.  
FECHANDO A PORTEIRA.
Não consigo. Ando linguarudo. Desculpem.


Um comentário:

Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”