quarta-feira, 27 de maio de 2015

Boletim 224.

ABRINDO A PORTEIRA.
 
Amor e Admiração.
Outro dia um amigo, um grande amigo, me disse que não existe amor sem a admiração. Fiquei matutando. Não posso afirmar, mas acho que temos um arquivo, desses dos computadores, em alguma parte de nossos cérebros, que guarda o amor, ou o ódio, que recebemos na vida. Então quanto mais recebemos, mais temos para dar. Assim posso amar um paraplégico e meu estranho, como posso odiar um parente ou amigo.
A técnica desta área não me pertence. Estou falando apenas com o coração.  
 
GALPÃO.
 
Madrugada.

 (foto da Internet)
 
Escrevi a história abaixo em primeiro lugar, e fiquei com a madrugada na cabeça, lembrando de uns belos versos do Apparício Silva Rillo:
 
No poncho morno das cinzas, dorme o fogo de galpão, e ao escasso calor de seus carvões, a cuscada se entrevera com os peões, partilhando uma sobra de pelego.
- Vai pro diabo excomungado!
Enquanto o gaipeca se amoita pra outro lado, fazendo volta e meia, um peão vai bombear se já clareia a barra vermelha da saia do céu.
- Tá na hora pessoal!
Lava a cara na gamela de água fria, enxuga as mãos ao comprido da melena, enche o porongo, atiça o fogo e grita pra um índio mais dorminhoco:
- Levanta cara de loco!
Enquanto a cambona chia, coberta de picumã, emponchada no brilho da alvorada, boleia a perna a Dona Madrugada, pra abrir a cancela da manhã.

 
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
 
As marcações III
 
Vou retornando as histórias do meu Papai, para ver se as termino.
 
Dia de marcação era verdadeiramente um dia comprido, tanto que ele começava as quatro horas da madrugada, quando a carne já estava assada no fogo de chão, e acompanhada de um café de chaleira. O pão daquela gente era a carne. A cavalhada dormia toda na mangueira redonda, que hoje chamam de redondel, com a diferença que aquela era muito grande, e essa eu conheci, era de pau à pique. A cavalhada ao grito de "forma, forma" se posicionava com a cabeça virada para o centro, e a anca colada na mangueira. Uma técnica, que permitia os muitos campeiros, reconhecerem as suas montarias pela cabeça, já que a noite era um breu. Aliás, cabeça é uma coisa que não tem duas iguais, só a dos gêmeos, e eu não conheço cavalo gêmeo. Encilhados era hora de bolear a perna, e sair campo à fora para a recolhida do gado. É necessário focar as grandes distâncias. Uns tinham de sair na frente, para buscar o gado mais distante, enquanto outros buscavam os mais próximos. Aí surgiu o apelido do meu Galo Velho, que sempre recolhia os mais distantes, e os mais próximos diziam: Vamos começar, pois o Galo Velho gritou. Era uma técnica (aquela gente antiga também tinha técnica, viu Dr. Magrinho!), para que no rodeio chegassem todos mais ou menos juntos.  Meu Papai dizia que o Cristino tinha um grito especial, que nunca fora imitado por outra pessoa.
 
Soltei das rédeas. Vou terminar outra hora...  
 
FECHANDO A PORTEIRA.
 
Eu sei. Sou um conversador, e metido a escrevinhador. 

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”