quarta-feira, 20 de maio de 2015

Boletim 223.

ABRINDO A PORTEIRA.
 Cachorrada.
Não sei porque o dito popular, "fizeste uma cachorrada". Cachorro é sabido o melhor amigo do homem, então não pode fazer cachorrada. Agora minha vivência.
Moro em um edifício cercado de boas casas, na sua maioria de fazendeiros. Nada mais natural que eles tragam para a cidade os seus  cães, como guarda de suas moradas. São tantos, e de diferentes tons de latidos, que passei a prestar atenção nos seus significados. Um late chorando, certamente de saudade de sua mãe e irmãos. Outro late desesperado, de saudade de sua liberdade, e assim vou identificando seus "linguajares". Agora chegou um novo cão vizinho, num pátio dois por três, que late brabo, num linguajar forte, rouco, contínuo. Custei um pouco, mas terminei identificando, ele late raivoso com seu dono amigo - "que cachorrada fizeste comigo".
 
GALPÃO.
Meu chão sagrado.
Vocês não reparem, mas sinto muita saudade do meu galpão. Hoje mesmo estive lá, e nem consegui chegar nele, de tanta correria. Este mundo anda cão (olha aí outra injustiça com os coitados). Então, colo uma foto abaixo, com meus dois filhos amigos, numa churrascada, com égua encocheirada, chaleira preta, bota secando ao fogo, uma chairada, e a paleta de um cão, num momento de 30 anos passados. Como é lindo assistir a vida passar...
 
 
 
 
 
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
 
Reproduzo o que recebi de um grande amigo.
 
A Estranha.
Quando nasci meu pai conheceu uma estranha, recém chegada em nossa pequena cidade, ficando fascinado por ela, tanto, que a convidou para viver conosco, e até hoje vive lá em casa.

Meus pais eram professores e me ensinaram a obedecer, mas a estranha era nossa narradora. Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias, sabendo tudo de política, história ou ciência.

 Conhecia o passado, o presente e até predizia o futuro!
 Levou minha família ao primeiro jogo de futebol. Fazia-me rir, e me fazia chorar. A estranha nunca parava de falar. Meu pai não se importava. Minha mãe se levantava cedo e calada, crendo mesmo que ela tenha rezado, para que a estranha fosse embora. Fomos criados com certas convicções morais, mas a estranha não as obedecia, fazendo meus pais se ruborizarem.

Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool, mas a estranha nos ensinou a tenta-lo, assim como nos mostrou o inofensivo do cigarro. Falava livremente sobre sexo, com comentários vergonhosos.

Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência, pela estranha.

 Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para nossa família. Desde então mudou muito, e já não é tão fascinante como era no princípio.
 
Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida de meus pais, ainda a encontraria sentada em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu nome?
 Bom... nós a chamamos
TELEVISÃO. Agora ela tem um esposo que se chama Computador, e um filho que se chama Celular..

 
FECHANDO A PORTEIRA.
Prometo e juro que no próximo não escrevo tanto.


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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”