quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Boletim 202.

ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.
Procurando um estribo.

O cavalo já está encilhado, e nem apertei a cincha no peito, já que a jornada vai ser ao tranco, apreciando o calmo da noite, buscando pela boieira que guiará meu rumo. Vou procurando por um estribo para a última recorrida, que nem sei bem qual o caminho, pois o Sol se esconde, e a bruma escura vai tapando o meu horizonte distante. Sei que um luar surgirá, e as estrelas brilharão descortinando a estrada comprida e desconhecida. De rumo feito vou reboleando o rebenque, pelo dever de casa cumprido, sabendo que nada mais resta fazer, por estar tudo justo e perfeito.
Recolutando o tempo me dou conta que parei um belo rodeio. Não por grande ou bonito, mas por bem trabalhado. Escolhi uma boa coxilha na minha existência, e nela não dei descanso pro pingo, sem esconder minhas rodadas e os bons tiros de laço. Quebrei muita geada fria, e não escondi a cara dos minuanos brabos. Por solto nos bastos consegui estender pelegos para muitos índios xucros e necessitados. Bebi café de cambona, e sorvi a fumaça pura dos cernes das plantas, que beberam a seiva do chão que alimentaram meus ancestrais. Ergui tetos de abrigos, e levei curativos de amor aos ranchos dos sofridos. Engraxei a cara com costela gorda, e derramei o líquido alegre da vida, ou da morte se não souber ser bebido. Dancei “arroz com feijão” ajudando a levantar poeira na felicidade dos entreveros de paz, e também acompanhei jornadas ao último palanque do pingo, fincado 7 palmos do chão, dividindo lágrimas da peonada.
Assim me “prancho” no estendido do chão, olhando as estrelas vivas, buscando novos espaços no etéreo divino, no esparramar de amor e respeito à quem amei e fui amado.


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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”