sábado, 30 de março de 2013

Boletim 125

ABRINDO-GALPONEANDO-NA HISTÓRIA E FECHANDO.

O Perdão.



Nosso Galo Velho, que nasceu Cristino Gonçalves, era filho de escravos, dos descendentes do General Bento Gonçalves, quando da tomada de Uruguaiana na Guerra do Paraguai. Homem simples do campo, mas como escrevi em boletim anterior, de uma bondade infinita. Foram várias as nossas charlas em rodas campeiras, enquanto ele "tenteava" um churrasco gordo, no brasedo vermelho do fogo de chão. Sempre me chamava de menino, e lembro de uma conversa que tivemos, mais ou menos assim:
"Menino, no meu tempo de criança, na Fazenda do Cristal, assisti meu pai apanhar muito. Depois, quando ele chegava no rancho dizia pra gente: 'Eles podem machucar o meu corpo, mas minha alma não irão machucar nunca.' Foi preciso deixar o tempo passar, para que hoje eu entenda o que ele queria dizer - que não guardava ódio daqueles que lhe feriam. Assim também aprendi a perdoar aos que tentam me machucar. Não sou mais escravo, desde que o Cel. Ignácio Xavier Azambuja nos comprou do filho do Gal. Bento Gonçalves, mas mesmo não mais apanhando, a gente sofre agressões, por ser negro, pois isto ainda tem um preço alto".
A mensagem desse negro escravo chegou em minha lembrança, justamente em plena Páscoa, quando Cristo sofreu os grilhões da crucificação,  e  lá do alto da cruz perdoou todos nossos pecados. Certamente porque não guardou ódio daqueles que feriam seu corpo.
Espero que vocês também possam me perdoar, mas eu não imagino ofertar meu outro lado da face, àqueles que esbofetearem o lado oposto. Vocês conseguem? 



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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”