quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Boletim 398.

ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.
26 de janeiro de 1898.
Nascia o primogênito do casal, Cel. Ney Xavier Azambuja e Faustina Pereira da Silva Azambuja, na Fazenda da Invernada. Foi o primeiro dos treze filhos do casal, e no ano seguinte a Marieta, e os outros lhe seguiram, sempre um por ano. Era outro tempo, quando não se fazia conta do tempo. Contavam apenas os anos, hoje se conta os minutos.
Achei um velho escrito do seu centenário, inserido abaixo. É longo. Eu não leio nada longo, assim dispenso vocês.


Meu velho Campeiro, Pai e Companheiro Mário Silva Azambuja. Escrito no teu centenário de nascimento – 26 de janeiro de 1998.



Sei que a campeirada é das brabas, pois vamos voltear a Invernada do Esquecimento. Ao passo lento, buscando pelo picaço, me treme o bucal na mão, como quem penetra a bruma do tempo. São porteiras pesadas, como a me dizer que entro em campo alheio, mas te encontro na beira do fogão galponeiro, envolto de paz e luz, chimarreando o doce líquido do descanso eterno. Só a força do amor seria capaz de permitir minha aproximação.          
Volteamos o rodeio da lembrança de meus primeiros galopes, quando senti tua austeridade paterna. Foi nela que encontrei a têmpera para enfrentar as intempéries da vida. Sei meu companheiro, era outro tempo, quando só havia a força do braço na dura luta pela sobrevivência, que não conhecia cansaços. Mas meu trote infantil se assustava com teus galopes rápidos e destemidos. Aprendi a obediência quando recebi este freio pesado, que a vida na sua ciência, nunca mais me permitiu deixar de lado. Lembrei quando afirmavas que ela é uma luta constante, para aqueles que aceitam o desafio de buscar um ideal. Pois te atropelando na idade, perdi o medo do final, pela linda e profunda trilha que deixaste no varzedo da existência, como um farol a me indicar um destino.
É incrível como tanto tempo depois, ainda me assalta a vontade de dar de rédeas para trás. Não para viver mais, mas para trotar ao teu lado outra vez, mudando o rumo de alguma coisa, ou simplesmente o tom da conversa. Com todo aquele carinho que nos unia, permitimos um “mundão” entre nós dois, esquecendo de desfrutar os bons momentos das descontraídas mateadas, dos tentos frouxos de uma pescaria, e de um simples dizer: “Eu te amo”.
Mas vou sair deste tranco duro, mudar de rumo, falando de coisas boas, esquecendo até mesmo os Niños e os Diablos que se abatem por aqui. Teus dois filhos, três netos, cinco bisnetas, e um bisneto, todos lindos e gordos. Queres mais? Tua verde Sant’Anna, mesmo com toda a luta contra os “leoninos”. Teus muitos Companheiros, amigos e parceiros. Verdade que outro tanto se mudou de querência, quem sabe pela propaganda que fazem desta tua Invernada aí de cima.
Outro dia lembrei de ti ao ler a lista dos partidos políticos que inventaram. São 29 com as mais misturadas letras, onde encontrei até um P.L. igualzinho ao nosso, mas só no nome, pois em ideal só mesmo aquele parlamentarista. Lembro o quanto peleaste ao enterrarem cinco ou seis partidos, dizendo que eram muitos, para fundarem somente dois, matando nosso PL.
Bueno meu Campeiro, Pai e Companheiro, foi uma charla complicada, meio sem começo e será sem fim. Não dá para entender muita coisa, mas não podia deixar passar o cavalo encilhado, sem uma mensagem. Tinha muito mais para te contar, mas me despeço com a certeza que nos aproximamos, encurtando distâncias, onde soubemos fazer amigos, na oferta da fraternidade. Amar não é para quem quer, é para quem soube ser humilde e verdadeiro como tu, para quem mais ofertou do que pediu, para quem mais trabalhou do que descansou, para quem mais se resignou do que reclamou e, principalmente, para quem muito mais amou do que odiou. Assim te guardarei na lembrança, ofertando meu respeito, no pedido de tua benção.
Teu filho
Luiz Fernando Azambuja

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”