ABRINDO E FECHANDO A PORTEIRA.
26 de janeiro de 1898.
Nascia o primogênito do casal, Cel. Ney Xavier Azambuja e Faustina Pereira da Silva Azambuja, na Fazenda da Invernada. Foi o primeiro dos treze filhos do casal, e no ano seguinte a Marieta, e os outros lhe seguiram, sempre um por ano. Era outro tempo, quando não se fazia conta do tempo. Contavam apenas os anos, hoje se conta os minutos.
Achei um velho escrito do seu centenário, inserido abaixo. É longo. Eu não leio nada longo, assim dispenso vocês.
Meu velho Campeiro, Pai e
Companheiro Mário Silva Azambuja. Escrito no teu centenário de nascimento – 26
de janeiro de 1998.
Sei que a campeirada é das brabas, pois vamos voltear a Invernada do
Esquecimento. Ao passo lento, buscando pelo picaço, me treme o bucal na mão,
como quem penetra a bruma do tempo. São porteiras pesadas, como a me dizer que
entro em campo alheio, mas te encontro na beira do fogão galponeiro, envolto de
paz e luz, chimarreando o doce líquido do descanso eterno. Só a força do amor
seria capaz de permitir minha aproximação.
Volteamos o rodeio da lembrança de meus primeiros galopes, quando senti
tua austeridade paterna. Foi nela que encontrei a têmpera para enfrentar as
intempéries da vida. Sei meu companheiro, era outro tempo, quando só havia a
força do braço na dura luta pela sobrevivência, que não conhecia cansaços. Mas
meu trote infantil se assustava com teus galopes rápidos e destemidos. Aprendi
a obediência quando recebi este freio pesado, que a vida na sua ciência, nunca
mais me permitiu deixar de lado. Lembrei quando afirmavas que ela é uma luta
constante, para aqueles que aceitam o desafio de buscar um ideal. Pois te
atropelando na idade, perdi o medo do final, pela linda e profunda trilha que
deixaste no varzedo da existência, como um farol a me indicar um destino.
É incrível como tanto tempo depois, ainda me assalta a vontade de dar de rédeas
para trás. Não para viver mais, mas para trotar ao teu lado outra vez, mudando
o rumo de alguma coisa, ou simplesmente o tom da conversa. Com todo aquele
carinho que nos unia, permitimos um “mundão” entre nós dois, esquecendo de
desfrutar os bons momentos das descontraídas mateadas, dos tentos frouxos de
uma pescaria, e de um simples dizer: “Eu te amo”.
Mas vou sair deste tranco duro, mudar de rumo, falando de coisas boas,
esquecendo até mesmo os Niños e os Diablos que se abatem por aqui. Teus dois
filhos, três netos, cinco bisnetas, e um bisneto, todos lindos e gordos. Queres
mais? Tua verde Sant’Anna, mesmo com toda a luta contra os “leoninos”. Teus
muitos Companheiros, amigos e parceiros. Verdade que outro tanto se mudou de
querência, quem sabe pela propaganda que fazem desta tua Invernada aí de cima.
Outro dia lembrei de ti ao ler a lista dos partidos políticos que
inventaram. São 29 com as mais misturadas letras, onde encontrei até um P.L.
igualzinho ao nosso, mas só no nome, pois em ideal só mesmo aquele
parlamentarista. Lembro o quanto peleaste ao enterrarem cinco ou seis partidos,
dizendo que eram muitos, para fundarem somente dois, matando nosso PL.
Bueno meu Campeiro, Pai e Companheiro, foi uma charla complicada, meio
sem começo e será sem fim. Não dá para entender muita coisa, mas não podia
deixar passar o cavalo encilhado, sem uma mensagem. Tinha muito mais para te
contar, mas me despeço com a certeza que nos aproximamos, encurtando
distâncias, onde soubemos fazer amigos, na oferta da fraternidade. Amar
não é para quem quer, é para quem soube ser humilde e verdadeiro como tu, para
quem mais ofertou do que pediu, para quem mais trabalhou do que descansou, para
quem mais se resignou do que reclamou e, principalmente, para quem muito mais
amou do que odiou. Assim te guardarei na lembrança, ofertando meu respeito, no
pedido de tua benção.
Teu filho
Luiz Fernando Azambuja
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