sábado, 25 de julho de 2015

Boletim 233.

ABRINDO A PORTEIRA.
As chuvaradas.
Aqui parece que as coisas não evoluíram nada. Lembro de sessenta anos passados, quando não tínhamos estradas para chegar na Vila. Verdade que as enchentes não tinham fim, pela falta dos drenos, que hoje existem, mas as estradas continuam não existindo. Fico assustado por não conseguirmos chegar nas granjas. Sessenta anos se passaram! Depois querem que o campo produza mais e mais, para matar a fome de uma população que não pára de crescer. Não lembro de quem disse: Destruam as cidades e deixem os campos intactos, que as cidades se reerguerão. Destruam os campos, que as cidades perecerão. Uma verdade que será eterna. 

GALPÃO.
Penca do N.C.C.C.C. (um escrito esquecido).
                    Dia vinte e três de maio de 2004, nas barrancas do Rio Camaquã, no Passo da Pacheca, aconteceu a Primeira Penca de Cavalos Crioulos Puros, organizada pelo Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Camaquã (N.C.C.C.C.). O palco foi a perfeita cancha reta do local, na boa organização e, na salutar amizade dos crioulistas que registramos: “Lote”, nascido Roberto Crespo; “Dado”, nascido Luiz Eduardo Centeno; “Teteco”, nascido Carlos Antônio Oliveira; “Castiano”, nascido Luis Mário Azambuja;  “Toni Blair”, nascido Rubem Carlos Serafini Machado, “Porquinho”, nascido Juliano Röedel, Elder Longaray; Rodrigo Machado, Marcos Coutinho e Cristiano Martins, com uma plêiade de amigos ao redor.
                   Os animais inscritos: Roseta da Sant´Anna, de Luis Mário Azambuja; Jornada da Nascente, de Luiz Eduardo Centeno; Garoa da Nascente, de Luiz Eduardo Centeno; Onça do Capão Grande, de Rodrigo Machado; Gavião do Itapevi de Daruiza Oliveira e, Chispa da Capororoca, de Marcos Coutinho.
                  Os julgadores foram Lauro Vargas e Ariovaldo Arena. Apareceu um alemão esperto e ágil, coisas raras nesta raça, que foi o desenvolto leiloeiro. O Penqueiro do encontro foi o N.C.C.C.C.
                   Os finalistas foram: Roseta que derrotou o Gavião. Garoa que derrotou a Onça e, Jornada que derrotou a Chispa. Quando na disputa do terno final, saiu vencedora a égua Jornada da Nascente, do alegre Dado, fazendo a festa crioulista. A égua Roseta da Sant`Anna, do Castiano, chegou em segundo lugar, e em terceiro a Garoa do Nascente, também do Dado.
                   Um lindo e poético local. O grande Rio, o barranco alto e a verde mataria, moldurando o agitado dos parelheiros, e o nervoso dos tratadores e jóqueis. Uma pulperia fazia a alegria do lugar, no comando da Dona Cici, que indiferente à idade, se agitava no serviço doméstico, atendendo aos amigos com fidalguia. Até mesmo o “relampiar de um osso”, na improvisada cancha, em mãos de jogadores pouco experientes. Mas, sobretudo um momento de profunda contemplação, quando da necessidade da “casinha”. Na pressa da construção não houve tempo de colocar a porta da frente, virada para o grande rio. Então, naquele trono de igualdade e meditação, se ouvia o cantar dos pássaros, e lá embaixo o correr forte do caudaloso Camaquã, como querendo marcar o tempo. O tempo das carreiradas dos fins de semanas, nas canchas retas das amizades. Ali era momento de se confraternizar, festejar encontros e comemorar aniversários, como o da Majô Chagas Azambuja no dia de hoje, entre seus amigos crioulistas. É necessário viver, e por tal, foi com alegria que se constatou Centenos e Crespos matando a sede com refris. Só um Azambuja manteve o atavismo da raça, saudando os antepassados no líquido alegre da vida, ou da morte se não souberem bebê-lo. 

Um julgador atento à chegada dos parelheiros.
                   
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.

Marcações VII.
Retorno àquele escrito, quando a peonada matava a fome com a carne de uma novilha. Certamente não seria das grandes, e provavelmente uma mamona, pois eles não precisariam de tanta carne assim. Porque uma novilha? Ainda hoje persiste a crença de que a carne da fêmea é melhor que a do macho, mas aqueles que conhecem a lida campeira, sabem que macho é desfrute certo, e dinheiro no bolso. Fêmea é descarte. Isto num outro tempo. Não esqueçam que sempre estou falando de outro tempo. Hoje a fêmea toma respeito. Parece que isso começou com as mulheres. Na verdade a raça está se "apurando", e assim tudo passa a ter valor. Então minha gente, quando quiserem fazer um churrasco na estância, por vezes é melhor comprar no açougue, do que fazer uma carneada em casa, com tanto estrago. Estrago dos mocotós, cabeça, couro, e toda a "miudama". Para não falar naquela trabalheira danada, e ter de presentear os "operadores". Estamos vivendo outro tempo, mas afirmo, muito melhor. Evoluímos.


FECHANDO A PORTEIRA.
Muita escrita para pouco tempo de leitura. Vou melhorar.

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Galo Velho

Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”