(junho/09)
ABRINDO A PORTEIRA
Outro dia fazendo ¾ de século perfumei o Galpão, aticei o fogo, me impregnei de oração e rezei a quem amei. Aquele amor de meus velhos rudes era puro. Muitas vezes não o entendia por sua dureza, mas eles queriam apenas o meu bem buscando por mim, e erradamente me corrigiam. Sofria. O sofrimento também constrói, e só se descobre isto depois de velhos. Já notaram que esta porteira aí é o meu próprio coração. Abrindo-o busco lembranças, de um passado que foi lindo, brincando à sombra das figueiras, respirando ar puro, apreciando invernos que se distinguiam dos verões, curtindo enchentes que duravam meses, vendo o escoar de suas águas mansamente, pois o homem não possuía máquinas para afundar a terra. Os tahãs cantavam aos bandos, nidificando nos banhadais, enquanto o tempo, como as águas, custava a escoar. O homem aprendia a meditar no silêncio de si mesmo, na falta do que fazer, naquele mundo calmo e puro, construindo um interior voltado à natureza, que amava sem poder agredi-la. Os “gringos” não haviam descoberto os venenos, e se houvessem, não haviam descoberto o Brasil. Não havia aviões agrícolas para metralhar a terra. Não havia sequer aramados, impedindo o ir e vir das avestruzes. A natureza sorria, num nascer pleno de sol, onde o homem na sua “bendita” ignorância não havia descoberto “as benesses” do dinheiro, com o qual hoje tenta “comprar” a própria felicidade, como se ela fosse um bem material, exposto nas prateleiras dos modernos “botecos”.
O GALPÃO
Por ser casa, abrigo e cozinha, a gente confunde galpão com o lar. Já li em algum lugar que a cozinha das fazendas, nos tempos de antanho era nos galpões. A gente sabe que o local mais agradável dos nossos lares é a cozinha. Minhas duas moradas costumam receber as visitas na cozinha, que é a entrada das casas. Assim o Galpão do Galo Velho é meu lar. O Júlio Macedo Machado meu poeta do coração diz numa de suas poesias: “Este galpão tem história, e eu trago dentro do peito, onde a Paz e o Respeito é o lema do bom patrão. Lareira, fogo de chão, não apaga noite e dia, e com a sua caloria, aquenta qualquer peão.” Resta curvar nossas frontes ante a reverência do grande poeta, e dos homens que amam a vida rural, principalmente nossos galpões. Então eu me recolho a insignificância do meu presente, na homenagem àqueles que viveram ao pé do fogo de chão, curtindo invernos nos seus desconfortos, sem lamentações, apenas sonhando com um melhor porvir aos filhos. Busco no silêncio do meu Galpão os riscos de sombra dos meus ancestrais, perdidos na Invernada do Esquecimento.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 6
Acho que o título deve ser modificado para “histórias que irão contar”, já que estou contando fatos que ocorreram comigo.
A noite que me tornei homem. Não tem nada a ver com o que estão pensando, em “primeira noite de um homem”. É um fato verídico que ocorreu comigo, quando tinha apenas 14 anos.
Existia na cidade um homem conhecido apenas por Barbosa. Bêbado contumaz percorria as ruas noite e dia, vivendo da caridade alheia, e com ela encharcando seus sonhos na maldita cachaça. Ninguém sabia de onde viera, apenas que era um ninguém. Loiro, olhos azuis, estampa com elegância natural, portava um corpo bonito, naquele resto de maltrapilho, não fazendo mal a ninguém.
Minha Mamãe recém havia falecido em 1948, e eu morava sozinho naquele casarão da rua Cap. Adolfo Castro, onde hoje é a firma Survel. Meu Pai administrando a fazenda Sant´Anna, lá passava vários dias. Certa noite fui ao cine Coliseu, do saudoso Bukowski, quando deparei com o filme de terror, “A voz do túmulo”, com Boris Karloff (botei dois “ff” para complicar, pois nem sei como se escreve mais seu nome). No final do filme, com a alma tremendo me dirigi à chácara, que ficava num arrabalde, longe da cidade. Nas primeiras ruas contei com a presença de alguns amigos. Negro Velho (Wilson Dias) era um deles, e foi o último a me deixar na rua Inácio Dias, onde morava seu avô, Senhor Joaquim Dias. Segui sozinho, com o coração batendo forte de medo. Noite escura e tenebrosa. Ao me aproximar do bueiro do arroio Passinho, numa das curvas dele, ouvi brotar do chão aquele “Aiiii”. Dei de volta apavorado de medo, mas não havia outro caminho era obrigado atravessar o bueiro. No Colégio São João Batista, das Irmãs Bernardinas, ninguém me ganhava na corrida dos 100 metros rasos. Saquei dos sapatos e passei voando pelo tal bueiro. Chegando no casarão não me conformei. Já não acreditava em alma do outro mundo, pois muito havia pedido que minha Mamãe me aparecesse, nunca tendo visto alguma coisa. Dei volta. Chegando perto do bueiro, novo “Aiiii”. Enfrentei o medo, e chegando junto do arroio encontrei o Barbosa, enterrado na areia até a cintura. Dali o tirei, como tirei os falsos medos de meu coração.
UMA CHARLA
Recebi do meu primo José Vitor Centeno Rodrigues, que sei não é conversa de galpão, mas por filosofia, faz parte dele. Ela é assinada por Bárbara Elias. "Ausência do tempo".
O tempo esvai-se... chegou a hora fina e sintética de seu recolhimento. Nascido de um Big Bang da mente do Pai atravessou camadas dimensionais, gerou campos de luz e não luz na engenharia da matéria terrestre...
O tempo daqui não é o mesmo de tua estrela interna...
O tempo traz-nos o movimento fricativo, o aprender pelos choques do conflito no circuito da nossa biosfera humana. A harmonia do não-tempo espelha-se pela densidade do túnel da existência temporal.
Agora o chamado para a sua dissolução em nossos códigos civilizacionais a cada dia fica mais presente, mais coerente, mais prenhe de Novo.
É o momento de aprendermos a fluir como a água, a borbulhar como o fogo, a bailar como o vento, a trasmitir como a madeira e concentrar como o metal. O Éter Azul está saturado de gotas do Éden Maior e as brumas do apego já sabem que partirão para sempre do perímetro do Planeta. Sinta em ti mesmo como a relação que tens com a vida já não é há muito o que reconhecias como tua identidade de ação e reação...
O tempo é isso: ação vinculada a reação... um módulo, um chip obsessor... uma matriz de dor para o Despertar. Enquanto somos o tempo e sua atuação não observamos, não trasmutamos o ilusório, não migramos para a pureza de sermos apenas instantes cósmicos numa frequência terrena. E assim vivemos adormecidos... a vida do não tempo é Viagem Criativa... é abandonarmos a mortalidade e seu peso... leves como Budas cotidianos abençoamos e somos abençoados pela liberdade de existir sem lutar, sem reagir a tudo o que nos pressiona ou confronta.
Se uma pedra te encontra com sua prova específica, torne-se fluidez e inclusão... sem tensão... e o mistério do desperto será em ti um exemplo clarividente da alquimia do Amor-Sabedoria. Ainda que as ondas da involução causem tantas dissonâncias agudas em nossos sistemas de vida... não reagir a esse volume de ignorância ou inconsciência é o pocesso da redenção do supra-mental.
Afirme os planaltos da respiração intuitiva... o poder da aceitação constrange as iniciativas da violência. Agora, apenas para as mentes desatentas passará despercebido o Sinal de que o D.N.A do tempo já não pode germinar novas ilusões no mar psíquico de cada um de nó. E mesmo que ainda não saibas ou sintas isso em ti, ainda assim, a Verdade te espera com sua bonança quando decidires atravessar as provas da fé na Hierarquia.
A cura cósmica e seu Hierofante somos nós... Kírons da Pax Maior.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Galo Velho
- Galpão do Galo Velho
- Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
- Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário