(janeiro/09)
ABRINDO A PORTEIRA
A imagem do negro velho aí do lado, com toda a sua simplicidade me fez meditar do que seja a verdadeira felicidade. Certamente não é a riqueza. Convivi com ele no dia a dia, e posso afirmar o quanto era feliz. Muitos dirão que era por sua ignorância e pobreza, desconhecendo os prazeres do mundo moderno. Os prazeres do mundo moderno dá felicidade? Creio que justamente sua busca é o que nos transforma em seus prisioneiros. Quanto mais se tem, mais se deseja. Conheço gente rica que tem tudo, mas continuam insatisfeitos, procurando por algo mais que ainda não tenham comprado. Lembro de um verso, que faz parte de um samba, e que o seu autor me desculpe, mas não lembro seu nome: “Para que tanta ambição, tanta vaidade? Procurar uma estrela perdida, se o que nos traz felicidade, são as coisas mais simples da vida”. Não estou afirmando que deixemos a ambição de lado, esquecendo do conforto para nossas famílias, o que digo é que necessitamos urgentemente de EQUILÍBRIO. Não estamos conseguindo dominar nossas emoções, e os prazeres mundanos estão nos desvirtuando. Os valores sociais e morais não podem ser esquecidos, e peço que permitam ouvir um coração de ¾ de séculos, ao afirmar – Mesmo que a felicidade não seja perene, ela só será “constante” àqueles que souberem cultuar e cultivar as suas virtudes.
O GALPÃO
O Jayme Caetano Braum poetiza assim: “Sala grande chão batido, onde passei minha infância. Querido galpão de estância, que foste um dia meu lar. Hoje aqui venho rezar saudoso do teu afago, catedral xucra do pago, de joelhos em teu altar”. Assim me justifico na reverência ao Galpão do Galo Velho, como um templo de RESPEITO, acendendo lume para clarear a bruma do tempo, perfumando espaços no deleite e descanso dos que partiram, ofertando orações na busca de aplainar o longo caminho do ocaso eterno. O gesto final de depositar flores do campo, junto à foto da Mamãe é símbolo da natureza, expressão do Criador dos Mundos, e a imensidão da várzea que a criou, junto da família Centeno Pereira da Silva, da Fazenda da Quinta.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM – 5
Ainda conto histórias que “irão contar”, pois esta também aconteceu comigo. Já é sabido que perdi minha Mamãe de “sopetão” como diz o índio do meu pago. Criança de 14 anos, que 60 anos atrás era muito mais criança, que as de hoje. Poucos meses depois ao me preparar para viajar a POA onde iria estudar no Colégio Farroupilha, morando no Hotel Metrópole, em um quarto sombrio e solitário recebi a visita de uma tia, Mariá Azambuja Paranhos, irmã de meu Pai e amiga íntima de minha Mamãe. Ela era a carola e dona da Igreja Matriz São João Batista. Mandava e desmandava, e creio, mais que o próprio padre. Quando o assunto era religião católica a sua palavra era lei. Então esta minha tia veio me dizer, que eu tinha de rezar muito por Mamãe, porque ela não estava no céu, pois havia morrido em pecado mortal. A terra se abriu aos meus pés, faltou ar nos meus pulmões e o sangue coagulou no meu corpo. Deus passou a não existir, pela maldita rejeição a quem era minha própria vida. Meu erro foi crer nas palavras da tia carola, sem qualquer questionamento. Algum tempo depois ao interrogá-la descobri, que o pecado mortal da Mamãe fora “evitava filhos”. Pecado mortal cometia minha própria Igreja Católica, e creio que ainda hoje continua cometendo outros sérios pecados mortais. Daí passei a ser um ateu. Pior, blasfemador. Não permitia que alguém me falasse em nome de Deus. Quando casei dez anos depois, as famílias fizeram com que me “confessasse” para tomar a santa comunhão. A confissão ao padre Barlen foi um desastre. Aconteceu assim: “Padre não roubei e não matei, o resto o senhor pode debitar na minha conta”. Quase fui expulso da igreja. O homem só acalmou quando contei a história da minha heresia, e da “pouca prática” da tia carola. Ele terminou me abençoando e me ofertando o corpo de Cristo, mas suas palavras não me convenceram. Continuei ateu. Em 1964 entrei para a Maçonaria, ocasião em que fiz contato com a mais linda das ritualísticas, e num primeiro contato com a frase: “Conhece-te a ti mesmo”. Depois aquela pergunta: “Nos momentos de maior perigo em sua vida, em quem mais confias?”. Respondi que em Deus! Aí acendeu minha VERDADEIRA LUZ. Lembro que alguns dias após minha iniciação, num domingo, estando sob uma linda ramada de minha casa em Camaquã, olhei para minha bela esposa Jane e meus dois filhos sadios, e me interroguei: “Mas que Deus malvado é este, que depois de todas minhas blasfêmias, me oferta a família que tenho, e a vida feliz que levo?”. Naquele momento convidei minha Jane para irmos à missa, e desde então sou eu quem a convida para nosso recolhimento espiritual. Depois desta longa e cansativa história, desejo fazer um arremate, me transportando aos dias de hoje, sessenta anos passados. Creio ser necessário focarmos duas ou três gerações para concluirmos, que felizmente não existe mais aquele “tacão” sobre as cabeças das crianças. Para quem não sabe, tacão é o salto de uma bota, por exemplo, comprimindo um inocente pescoço infantil. Era a força do braço, único e indispensável sustento para a sobrevivência da época. Depois a outra força mais destruidora, a da autoridade eclesiástica. Só quem viveu naquele tempo, para dar um testemunho de vida.
Hoje observo a personalidade de meus netos, e os mais jovens poderão observar dos seus filhos, na conclusão indiscutível que as coisas melhoraram, e em muito, pois apesar do medo da violência e do desequilíbrio social, estamos nos encaminhado para um futuro promissor, aonde a ciência e a técnica conduzirão o homem a um estágio mais elevado na civilização.
Certamente restará temer os falsos profetas, que surgem nas esquinas de nossas cidades, explorando a ignorância de alguns, incutindo o medo do tal de inferno, além da ganância financeira e do enriquecimento de certos “bispos”.
Ainda tememos pelo nosso pouco preparo cultural, o desmantelo da família pela falta da presença dos pais em seus lares, o descaso das autoridades públicas com o analfabetismo e a saúde pública. Nem tão difíceis, estes males terão solução, muito mais difícil será a solução do “medo psíquico”.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
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Galo Velho
- Galpão do Galo Velho
- Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
- Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”
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