ABRINDO A PORTEIRA
Creio que cabe explicações para aqueles, que não leram os primeiros números: Porque faço tais boletins? Simplesmente porque depois de passar a trabalhar no NPHC entendi o significado de HISTÓRIA. Ela não existirá enquanto estiver apenas em nossas memórias, em nossas gavetas, roída pelas traças e pelo esquecimento. Assim busco registrar o passado...
Lauro Silva Azambuja foi uma criatura ímpar. No número oito fiz a sua biografia, mas relendo constatei que não “desenhei” a sua personalidade. Ele era despido de egoísmo, vivendo para auxiliar o próximo, sem medir os sacrifícios. Quando acometido de um AVC, que lhe tolheu a palavra, obrigando-o a se recolher muitos meses em recuperação costumava me dizer: “O que mais sofro é não enfrentar os problemas da família, ficando nesta imobilidade”. Isto porque ele era o líder e confidente de todos os irmãos, irmãs e cunhados. Também era o filho de confiança do patriarca, Ney Xavier deAzambuja, que por velho entregava a ele todos os problemas a serem resolvidos. Tinha a virtude da ponderação e da justiça, mas mais que tudo, era moderador, ajustando o interesse de todos, sem nunca pensar em sua própria pessoa. Lamento apenas que não tenha deixado descendentes, o que certamente faria com que não caísse no esquecimento das pessoas. Penitencio-me por não ter correspondido a amizade que sempre me dedicou. Resta-me não esquecê-lo.
O GALPÃO
Balbino Marques da Rocha poetiza assim: “Meu santuário de fumaça, onde às vezes desencilho. Faço um altar de lombilho, do fogo a reminiscência, e cultuo a dor da ausência no oratório do passado. Galpão onde eu fui fedelho corpeando tala de relho, tirando rapa de tacho. Templo de fogo vermelho, onde os avós se reuniram e de onde a cavalo partiram para uma cruzada de macho...”. Pois é ali que cultuo o respeito, pela ausência daqueles que partiram. Não encontro dor, e creio que isto é pelo fato de ter sofrido muito, quando me despedi da Mamãe com apenas quatorze anos de idade. Não entendia das coisas, pois só quando se fica velho, na aproximação da porta final é que perdemos a dor pela morte, entendendo que ela nada mais é do que a passagem para um novo tempo. Sabem aquelas fotos de família antigas, grandes, desbotadas e com as molduras corroídas? Pois elas estão lá no Galpão do Galo Velho, moldurando uma parede que chamam de Parede dos Mortos, que para mim é dos vivos, pois eles olham para os olhos da gente, numa permanente busca de comunicação. Então, acendo perfumes, deposito flores do campo, e faço orações. Não há medo, há respeito. Fixo-os sabendo que um dia eu também irei fixar vocês, com muito amor, respeito e proteção.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM - 4
Não quis mudar o título, mas a história que conto abaixo sou testemunha, junto de meu Pai, portanto é história que eu conto.
Meu Pai tinha um automóvel de marca Taurus. Isto mesmo, igual a marca do melhor dos revólveres nacionais. Parece que era de fabricação alemã, mas muito pequeno, quase imprestável. Então íamos para a Sant´Anna em um fim de dia. A estrada real (dizem que tem este nome porque pertencia ao Rei. Imagina!) estava bem patrolada, e o carro desenvolvia boa velocidade, quando passamos sobre uma galinha. Papai parando o carro olhou para os lados, não vendo ninguém pegou do cadáver e o carregamos conosco. Lembro que a cozinheira não conseguiu aproveitar o dito, de tão amassado. Dois dias depois retornávamos à cidade, quando assisti meu Pai buscar no galinheiro uma outra galinha, que depositou no mesmo local em que havia “roubado” aquele cadáver.
Estes fatos aconteciam amiúde, pois era realmente outro tempo, em que havia tempo para pensar, agir e se fazer o bem. De outra feita também retornávamos à Sant´Anna, quando um cavalo que se encontrava sobre um barranco saltou na frente do carro. Numa reação natural ele coiceou com a aproximação do automóvel, atingindo o farol esquerdo, que ficou quebrado, assim como a canela do pobre bicho, com fratura exposta. Ele me alcançou seu revólver pedindo que o matasse, mas não consegui, e ele nem mesmo tentou. Pouco mais à frente encontramos um homem ao lado de sua carroça, acampado para o pernoite. Depois de perguntar se o tal cavalo era seu, Papai contou do ocorrido pedindo ao carroceiro que o matasse, já que não teria mais serventia, mas que no dia seguinte passasse na sua fazenda Sant´Anna, que era conhecida do carroceiro, para ali levar um outro cavalo para seu serviço.
Imaginem um fato destes nos dias de hoje! Haveria polícia, ocorrência na delegacia, ação penal, e o pior: indenização. Não sou contra os dias de hoje, onde acredito que melhorou muita coisa, mas que por vezes sinto saudades de antanho, sinto.
UMA CHARLA.
Ao receber esta foto do meu primo José Vitor Centeno Rodrigues disse a ele: Certamente foi o melhor dos presentes que recebi em 2008. Trata-se de minha Mamãe. Sempre a chamei assim, pela singeleza de tê-la conhecido só até os quatorze anos. Fiz a sua biografia que está no boletim nº 4, onde registrei seu nascimento em 1903, e o falecimento em 1948, em conseqüência de uma embolia pulmonar, devido a uma cirurgia por queda de útero, coisa que hoje nem operam mais. Faleceu na Beneficência Portuguesa em POA, ao lado dos melhores médicos (Dr. Odonne Marsiaj), mas na época não haviam descoberto os anti-coagulantes. Era 10 de julho, um sábado, e a Arrozeira Camaqüense seria inaugurada no dia seguinte, mas devido ao sucesso da operação já haviam matado cinco vacas para o churrasco. Imaginem o desastre.
Como o Luiz Fernando acabou descobrindo, eu guardava esta foto com carinho e respeito. Ela foi a minha madrinha de batismo, e a segunda mãe da minha mãe Ivette Centeno Rodrigues. Sinto que ela continua minha madrinha até hoje.
ResponderExcluirCara! Tu és a própria superação E VIDA ! Tuas atitudes sempre me estimularam a seguir em frente ! Tuas conquistas me dão o norte e orgulho de poder compartilhar contigo o gosto das vitórias. Tua modernidade te projeta no amanhã sem nunca te afastando dos teus valores e ensinamentos do passado. Sou teu fã por tudo que és...pelo teu caráter e pelo o amor que espalhas aos que chamas de amigo, "irmão", "companheiro" e "parceiro". Te amo meu amigo ! - Luiz Fernando Júnior
ResponderExcluirLuiz Fernando !
ResponderExcluirÉs para mim um exemplo de vida, um grande homem com valores que quase não encontramos mais.Uma pessoa jovem na convivencia,insentivador,uma alma de amor, um amigo certo para todas as horas, companheiro, sábio,solidário,um grande pai, avo,esposo e o mais lindo padrinho.
Te amo meu padrinho ! Te desejo tudo de bom que mereces....
Ledi Perez Rodel
camaquã,16 de setembro de 2009.