ABRINDO A PORTEIRA.
Fazenda da Invernada - 1ª - "Sala de visitas".
Um passeio lá por 1940, quando eu teria meus sete anos. A sala enorme, que só era enorme para as crianças como eu, era local dos "serões" da grande família, pois meu avô Cel. Ney Xavier Azambuja fizera treze filhos na bendita Vovó Faustina, que não cheguei a conhecer, já que aquela gente morria muito cedo, ainda mais dando tanta cria. Então o velho caudilho, que nem era tão velho assim, só para os olhos da criança que habitava em mim, após o jantar sentava "patronalmente" num canto, e na sua esquerda os sofás de couro abrigavam os filhos e pessoas mais velhas, enquanto na direita, algumas cadeiras duras abrigavam os vários piás como eu. "Sentem aqui, para ouvirem os mais velhos falarem, e aprenderem alguma coisa" era a voz dura do tirano. Ora Santo Deus, o velho cometer aquela heresia, justamente naquela noite de luar, com o açude ali pertinho, pedindo uma pescaria, e a gurizada naquela imobilidade, ouvindo histórias, que hoje lamento não ter escutado. As mulheres tinham sua roda no outro canto da sala, tricotando e falando da vida alheia como ainda hoje o fazem, ouvindo o velho caudilho dizer - "as criança menores tem de ir para a cama, pois esta é a hora de vocês descansarem". Um baita conselho, mas tinha criança menor, que não era menor, e não costumava dormir àquela hora, mas Deus o livre, como contrariar aquele azedume! Bueno, o que vocês tinham de assistir era o ocorrido na mesa de refeições, mas isto é história para o próximo boletim.
GALPÃO.
Ainda a reforma.
As coisas demoradas é que são boas. Olhem só aqueles namoros compridos, as longas refeições, e os passeios com as rédeas no chão, mas principalmente a "longa vida", quando se tem boa visão de um horizonte grande, que ficou para trás. Então, a reforma do Galpão do Galo Velho por demorada está linda de viver. Lembram quando contei que "entrou luz no galpão"? Pois outro dia me dei conta que a luz continua a entrar no galpão. O Luis Mário colocou algumas telhas de plástico transparente no teto novo, e a luz, que foi deus no antigo Egito, purifica o chão, esparramando o brilho do Sol e das estrelas celestes. Vocês verão. No verão.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Caminheiro - O amigo João Moacir Ferreira(jmoacir@viavale.com.br) é o autor dessa história.
Seria um baile qualquer. No interior, era assim, bem perto da estrebaria, retirava-se o milho, formava-se uma sala e com o espargir das gotas de velas de cera, as tábuas ficavam cada vez mais lisas. O Gaiteiro um mulato preguiçoso, num canto, dormia sobre o teclado de uma gaita piana. Lá longe, no vivenciar caprichoso da serra, um cachorro disfarçado de gente, uivava para sentir o seu latido, vibrar entre os montes.
Foi quando Ela entrou salão adentro, viva, lépida, faceira. E eu com um jeito de cachorro desconfiado, fui a seu encontro, mais tarde, agarrado a sua cintura, conduzia a leveza daquele vestido de chita, sonhando um dia, tê-la para mim, eternamente minha.
Foi quando o Mulato Juvêncio gritou para o salão inteiro:
- Marca das Damas Pessoal! Separem-se os pares. Os homens para um lado e as mulheres para o outro!
Cada taura foi-se, então para um canto. Silêncio geral no salão. Um cachorro sardento e magro, adentrou no salão e saiu-se esganiçando porta a fora, atiçado por uma ponta de bota. E eu ali, olhando aquela pinguancha, mais ao lado, linda e maravilhosa, separado dela, eu sabia, mas por apenas alguns momentos. Sabia eu, que seria sua escolha, naquela Marca das Damas. E foi o sanfoneiro, abrir a gaita que lá veio ela, linda faceira... uma deusa! Mas, de repente, não sei como foi, ela passou por mim e foi-se com outro... que a levou em seus braços. Estava ainda mais linda! E eu ali quedei-me a um canto, sentindo o fel amargo do desengano. Saí, porta a fora, escutando o farfalhar ainda das saias rendadas, rodando pelo salão.
E eu, parti noite adentro, sem saber onde ir.
Por isso, sou o que sou, até hoje, um caminheiro de destino incerto!
FECHANDO A PORTEIRA.
O Cérebro e a Mente.
Certamente não seria eu a pessoa abalizada para escrever este artigo. Ele deve ser escrito por meu primo, Ney Artur Azambuja, que lida diariamente com um cérebro aberto, vencendo a morte, mas se apoiando além da sua habilidade médica, na força de vida que ali habita, origem de nossas existências. "No princípio era o verbo, e o verbo era Deus" está lá nas Escrituras Sagradas, portanto, o Supremo Criador habita no centro da palavra, localizada em algum lugar do cérebro, que só o Ney Artur sabe. Gostaria de conhecer mais, comunicar mais, mas minha ignorância me obriga a calar. Fica a mensagem, para que alguém me conteste, ou me ajude, já que desejo minha mente limpa e pura, quando chegar a hora de "um até breve" para vocês todos.
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sábado, 21 de agosto de 2010
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Galo Velho
- Galpão do Galo Velho
- Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
- Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”