ABRINDO A PORTEIRA.
Dá vontade de não ter.
Quando meu computador começou a dar problema, senti vontade de nunca tê-lo comprado. Claro que é rebeldia de velho, que viveu um tempo de calmaria, quando não havia nem mesmo rádio. Nada estragava, não havia máquinas, se andava de jardineira e carroça, e na maioria das vezes à cavalo, com um horizonte sem fim na frente da gente. Desculpem vocês de hoje, mas ontem era mais legal! O tempo não corria como agora, as coisas custavam a acontecer, até mesmo um pouco monótono, mas se vivia "mais largo". Então, quando a gente se compromete com o computador, com mensagens recebidas e expedidas, com blogs por fazer, e-mails engasgados, boletins parados, o face book sem contato, a gente se dana, e tem vontade de não ter computador. Será que vocês estão pensando: "dá vontade de não ter carro; não ter TV; máquina de lavar; barbeador elétrico; forno; ar condicionado; roupa - voltando à selvageria... Epa! Já é demais. Apaguem minha rebeldia. Sabem, deixem as máquinas estragarem. Retifico: o tempo atual é muito, mas muito mais legal. Vamos viver cuidando da saúde e da família.
GALPÃO.
A reforma.
Coisa velha o bom mesmo é jogar no chão e fazer tudo de novo. Pois três meses após o começo da reforma, o Galpão do Galo Velho continua em reforma. Nem luz tem, só a do fogo de chão que não apaga nunca, o que para mim basta. Fica até um ambiente elevado, quando a gente se ilumina pelas fortes labaredas de velhos troncos plantados por Papai e Mamãe. Espiritualmente a presença deles fica mais forte, e a gente mentaliza o etéreo, revive o passado e se purifica das mazelas do Mundo Moderno.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Histórias de galpão, contadas pelo Galo Velho.
"Creio que vocês não entenderão meu tempo. Será necessário viajar muito para trás. Um tempo difícil em que tudo era na força do braço. Hoje vocês manejam a vida por botões. Então, fiquem aqui junto do meu cavalete, olhando encilhar meu picaço. Xergão, carona, bastos, travessão com a cincha, um apertão no látego, os pelegos e um apertinho na sobre-cincha. Depois de colocar o laço, aperto as esporas nas velhas botas, presente do Patrão. Pego do mango, o meu bom chapelão de feltro, e confirmo a faca afiada. A barra do dia mal desponta, e já montado me paro esperando pelos companheiros.
A coisa só começa com a chegada do Patrão Mário, bem aperado no colorado Bico Branco, e depois da saudação, grita: "Zé Grande, tá com o mosquetão e as balas?" Eu sei que aquilo não é para pelear, pois a revolução já terminou há quatro anos, lá em 1932, quando os Patrões amarraram os cavalos num tal de obelisco, no Rio de Janeiro na última revolução à cavalo. Sei que é para limpar campo!
Explico: Cavalo já não vale mais nada, e a eguada é muito grande, mais de 500, não existindo negócio para elas. O boi passou a valer alguma plata e a vacagem tem aumentado muito nos últimos tempos. Então toca de limpar campo à bala de mosquete. "Zé Grande, aquela é velha, esta não presta, aquele é aporreado, aquele outro é velho demais. ". Zé Grande não erra tiro, e a corvalhada fica mais faceira que ganso em taipa de açude. Sei que é difícil de vocês crerem, mas eu testemunhei este fato.
FECHANDO A PORTEIRA.
O Computador.
Depois de execrar o danado lá na Abertura da Porteira, venho novamente com ele. Meu filho Júnior me passou um e-mail com o anexo de Porto Alegre Antiga, o qual já havia assistido, mandado por ele mesmo. Ao abri-lo chamei a Jane para perto, e ela deu as costas dizendo que já o assistira. Alimentei minha emoção, revendo tudo outra vez até o fim, pois ali vivi a felicidade de muitos anos de minha juventude. Relatei este fato a ele num outro e-mail, e recebi com resposta, que sua esposa Márcia havia agido da mesma maneira que a Jane. Tirei como conclusão que elas sentem um profundo ciúme de nossas máquinas, e não gostam nem de chegar perto. Será que estarei errado? Primeiro devemos confessar nossa culpa em dedicar tempo demais à eles, e creio que isto é universal. Então devemos buscar o equilíbrio. Pensem nisto.
terça-feira, 6 de julho de 2010
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Galo Velho
- Galpão do Galo Velho
- Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
- Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”
Estive por aqui lendo tudo!!!
ResponderExcluirQuero que agente se veja logo, ando sentindo tua falta no meu coraçãozinho!!!
TE AMO !
Minha Pichirica.
ResponderExcluirQuando ficares velha saberá "sentir falta" de quem amas. Claro que para isto é necessário "perder amores" - perder para sempre! Quando o amor está presente, mesmo que distante, a gente passa a se conformar com a falta, sabendo que ele está bem. Teu Vô está bem, e tu também estás muito bem. Isto é tudo.
Minha bênção.