ABRINDO A PORTEIRA.
A Prioridade.
Quando o tempo em nossas vidas mostra que já navegamos bastante, temos de optar por uma prioridade, assim como o navio na busca de um porto para seu destino. Qual a nossa prioridade? Muitos esconderão a resposta evidente - o dinheiro. Basta olhar à nossa volta, verificando o afã dos viventes nas suas correrias estressantes, no seus nervos à flor da pele, nas suas irritações e impaciências, para respondermos sem medo de errar, que é o dinheiro. Minha experiência de vida diz, que quanto mais o temos mais o queremos, e quanto mais o ganhamos mais o gastamos. Vamos ultrapassar os desgastados termos - ambição e ganância - e vamos olhar para dentro de nós mesmos, na busca de sabermos utilizar o tempo que ganhamos de Deus, naquilo que nos dá prazer. Ter prazer é um bom negócio, não é mesmo? Já estou cansado de ouvir dizer que trabalho dá prazer. Vou declinar as minhas prioridades - saúde e família. Pensem nas de vocês.
O GALPÃO.
A Marcação.
Não vou me reportar as marcações campo à fora, ou de rodeios, porque não as conheci, apenas ouvi contar. Vou falar das marcações de mangueira, sempre no mês de maio, mas de um tempo em que não haviam inventado os tais bretes. Mangueiras grandes e de pau à pique, com uma só porteira de varas de correr, onde se penduravam couros vacuns para "espantar". Depois do gado emangueirado se formava duas filas de campeiros, a direita e a esquerda da porteira, ficando os guris e os mais maturrangos logo na saída, enquanto os verdadeiros pealadores ficavam mais distantes, pois por eles nada passava. Dois peões entravam a cavalo na mangueira e soltavam os terneiros, um a um é lógico, e olha que eles eram taludos, pois até mesmo de sobre-ano acontecia, por terem escapado da marcação anterior. Derrubado com o pealo, um dos mais fortes pegava da cabeça que era torcida, outro apertava o vazio com o joelho, enquanto outro colocava um laço na pata e esticava. Vinha logo o grito: "Olha a marca marqueiro!" Enquanto ela chegava, aquele que apertava o vazio castrava, se fosse macho, outro assinalava na orelha e aparava a cola. Se a marca não estivesse quente, o marqueiro gritava: "Aperta manheiro". Isto porque marca em brasa não precisa ser apertada. Cenas que assisti criança na Fazenda da Invernada, de meu Avô Ney Xavier de Azambuja.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
O campeiro que era "deus".
Certo dia um pobre e ignorante homem cortava o galho de uma árvore, mas estava sentado na parte que cortava. Passava por ali um gaúcho bem pilchado, montado num lindo cavalo zaino, e vendo a cena disse para o homem: "Olha meu amigo, o senhor irá cair quando cortar o galho". O infeliz do homem deu risada e não ligou para o aviso, continuando seu serviço, enquanto o gaúcho ia embora. Algum tempo depois, cortado o galho o pobre do homem se espatifou no chão, dizendo logo a seguir: "Aquele homem é deus", saindo ao seu encalço montado num burrinho. Chegando nele foi logo dizendo: "O senhor é deus, e vai me dizer quando é que vou morrer", ao que o gaúcho respondeu que não era deus coisa nenhuma, e que lhe deixasse em paz. Entretanto, o pobre e ignorante homem insistiu tanto e tanto, que o gaúcho para se ver livre disse que ele morreria, quando o seu burrinho desse o terceiro "pum". O infeliz montou no burro todo assustado, e se tocou para casa, e no caminho o burrinho deu o primeiro "pum", e ele gritou: "Ai, ai, ai, que só falta dois". E bateu na marca, com pressa de chegar, mas quanto mais trotava mais sacudia a barriga do burro, e saiu o segundo "pum". "Ai, ai, ai que só que falta um". Bateu mais na marca louco para chegar em casa, mas correndo aconteceu o terceiro "pum", e o pobre do homem se foi ao chão como morto. Passavam quatro gaúchos, e achando o homem "morto" o estenderam sobre um poncho, pegando nas quatro pontas, e seguiram caminho. Chegaram num rio que não dava vau, pois havia chovido muito, e passaram a discutir onde era o passo. Um é por aqui, outro é mais àcima e se formou uma discussão. Foi quando o "morto" gritou do poncho: "No tempo que eu era vivo o passo era mais pra baixo". Foi um bruto susto ao ouvir o "morto" falar, quando o soltaram dentro d´água, que foi levado pela correnteza, e não se sabe se se salvou ou não. A lição é para as crianças estudarem bastante, e não ficarem burras e ignorantes como aquele infeliz e pobre homem.
FECHANDO A PORTEIRA.
O excepcional.
Não vou tratá-lo como substantivo, simplesmente vou adjetivá-lo como tão bem define o dicionário = "extraordinário, muito bom, excelente". Mas, ele é um excepcional. Não sei seu nome, nunca falei com ele, o conhecendo só de vista. Mas como é agradável vê-lo. Tenho vontade de parar o carro para cumprimentá-lo, olhar sua fisionomia que deve ser serena e boa. Ele está sempre à margem da Federal BR 116, a direita quem vai à Porto Alegre, naquela lomba que dá acesso à Araçá, e o que me encanta são os seus abanos para todos nós, indistintamente quem sejamos. É um cumprimento de amor, é um desejo de paz, é um afago de coração. Que Deus lhe abençoe, e lhe dê em dobro tudo o que nos oferta de amor.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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Galo Velho
- Galpão do Galo Velho
- Camaquã, Rio Grande do Sul, Brazil
- Fundado em 05/07/1980, assim foi escrito em sua 1ª página do 1º Livro: “O que importa neste GALPÃO é que cada um saiba ser irmão do outro. Aqui terminou o patrão e o empregado; o pobre e o rico, o branco e o preto; o burro e o inteligente; o culto e o ignorante. Aqui é a INVERNADA DA AMIZADE e tem calor humano como tem calor de fogo. Nosso Galpão nem porta têm, está sempre aberto para quem buscar um abrigo. Neste Galpão os corpos cansados da lida diária encontrarão sempre um banco para descansar, e um mate amargo para a sede matar. Aqui o frio do Minuano não encontra morada, temos toda a Sant’Anna irmanada. A cada nascer de uma madrugada há de encontrar alguém aquentando fogo, buscando nas cinzas do passado, o Galo Velho que será, quando partir para a Invernada do Esquecimento. Ninguém será esquecido, se passar nesta vida vivendo como o nosso “Galo Velho” viveu, a todos querendo, sem nunca ter o mal no coração.”
És meu ídolo numero 1, como eu gosto de ler qualquer linha escrita por ti!!!
ResponderExcluirTe amo vô do meu coração!!!
É claro que gostas do que escrevo, porque gostas de mim. Caso contrário detestaria minhas linhas. Na verdade escrevo para mim, como uma necessidade interior, algo que me impele a registrar o passado, cansado que ando de assistir o mundo sumir aos meus olhos, como os muitos amigos que se foram ao longo da minha caminhada. Rogo a Deus que "alguém" me substitua.
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