ABRINDO A PORTEIRA.
As chuvaradas.
Aqui parece que as coisas não evoluíram nada. Lembro de sessenta anos passados, quando não tínhamos estradas para chegar na Vila. Verdade que as enchentes não tinham fim, pela falta dos drenos, que hoje existem, mas as estradas continuam não existindo. Fico assustado por não conseguirmos chegar nas granjas. Sessenta anos se passaram! Depois querem que o campo produza mais e mais, para matar a fome de uma população que não pára de crescer. Não lembro de quem disse: Destruam as cidades e deixem os campos intactos, que as cidades se reerguerão. Destruam os campos, que as cidades perecerão. Uma verdade que será eterna.
GALPÃO.
Penca do N.C.C.C.C. (um escrito esquecido).
Dia vinte e três de maio de
2004, nas barrancas do Rio Camaquã, no Passo da Pacheca, aconteceu a Primeira
Penca de Cavalos Crioulos Puros, organizada pelo Núcleo de Criadores de Cavalos
Crioulos de Camaquã (N.C.C.C.C.). O palco foi a perfeita cancha reta do local,
na boa organização e, na salutar amizade dos crioulistas que registramos:
“Lote”, nascido Roberto Crespo; “Dado”, nascido Luiz Eduardo Centeno; “Teteco”,
nascido Carlos Antônio Oliveira; “Castiano”, nascido Luis Mário Azambuja; “Toni Blair”, nascido Rubem Carlos Serafini
Machado, “Porquinho”, nascido Juliano Röedel, Elder Longaray; Rodrigo Machado,
Marcos Coutinho e Cristiano Martins, com uma plêiade de amigos ao redor.
Os animais inscritos: Roseta
da Sant´Anna, de Luis Mário Azambuja; Jornada da Nascente, de Luiz Eduardo
Centeno; Garoa da Nascente, de Luiz Eduardo Centeno; Onça do Capão Grande, de
Rodrigo Machado; Gavião do Itapevi de Daruiza Oliveira e, Chispa da Capororoca,
de Marcos Coutinho.
Os julgadores foram Lauro Vargas e
Ariovaldo Arena. Apareceu um alemão esperto e ágil, coisas raras nesta raça,
que foi o desenvolto leiloeiro. O Penqueiro do encontro foi o N.C.C.C.C.
Os finalistas foram: Roseta
que derrotou o Gavião. Garoa que derrotou a Onça e, Jornada que
derrotou a Chispa. Quando na disputa do terno final, saiu vencedora a égua Jornada da Nascente, do alegre
Dado, fazendo a festa crioulista. A égua Roseta da Sant`Anna, do
Castiano, chegou em segundo lugar, e em terceiro a Garoa do Nascente,
também do Dado.
Um lindo e poético local. O
grande Rio, o barranco alto e a verde mataria, moldurando o agitado dos
parelheiros, e o nervoso dos tratadores e jóqueis. Uma pulperia fazia a alegria
do lugar, no comando da Dona Cici, que indiferente à idade, se agitava no
serviço doméstico, atendendo aos amigos com fidalguia. Até mesmo o “relampiar
de um osso”, na improvisada cancha, em mãos de jogadores pouco experientes.
Mas, sobretudo um momento de profunda contemplação, quando da necessidade
da “casinha”. Na pressa da construção não houve tempo de colocar a porta da
frente, virada para o grande rio. Então, naquele trono de igualdade e
meditação, se ouvia o cantar dos pássaros, e lá embaixo o correr forte do
caudaloso Camaquã, como querendo marcar o tempo. O tempo das carreiradas dos
fins de semanas, nas canchas retas das amizades. Ali era momento de se confraternizar,
festejar encontros e comemorar aniversários, como o da Majô Chagas Azambuja no
dia de hoje, entre seus amigos crioulistas. É necessário viver, e por tal, foi
com alegria que se constatou Centenos e Crespos matando a sede com refris. Só
um Azambuja manteve o atavismo da raça, saudando os antepassados no líquido
alegre da vida, ou da morte se não souberem bebê-lo.
Um julgador atento à chegada dos parelheiros.
HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM.
Marcações VII.
Retorno àquele escrito, quando a peonada matava a fome com a carne de uma novilha. Certamente não seria das grandes, e provavelmente uma mamona, pois eles não precisariam de tanta carne assim. Porque uma novilha? Ainda hoje persiste a crença de que a carne da fêmea é melhor que a do macho, mas aqueles que conhecem a lida campeira, sabem que macho é desfrute certo, e dinheiro no bolso. Fêmea é descarte. Isto num outro tempo. Não esqueçam que sempre estou falando de outro tempo. Hoje a fêmea toma respeito. Parece que isso começou com as mulheres. Na verdade a raça está se "apurando", e assim tudo passa a ter valor. Então minha gente, quando quiserem fazer um churrasco na estância, por vezes é melhor comprar no açougue, do que fazer uma carneada em casa, com tanto estrago. Estrago dos mocotós, cabeça, couro, e toda a "miudama". Para não falar naquela trabalheira danada, e ter de presentear os "operadores". Estamos vivendo outro tempo, mas afirmo, muito melhor. Evoluímos.
FECHANDO A PORTEIRA.
Muita escrita para pouco tempo de leitura. Vou melhorar.